Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 14

                     

Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico



Pgs. 519-554


"CAPÍTULO 14: "Consumação, Consagração e Destruição da “Mão Invisível"

 

408 - Coloca o subtítulo "a Economia Neoclássica do Bem-estar".  


409 - Economia política é troca! Cada vez mais, a teoria neoclássica lembrava o escolasticismo medieval, com muitos estudiosos trabalhando incessantemente para aperfeiçoar, desenvolver, elaborar e embelezar a interpretação utilitarista de uma sociedade formada por maximizadores da utilidade numerosos, pequenos, relativamente fracos e racionais, que repetiam, incessantemente, o mesmo processo social harmonioso.


410 - A principal realização de Pareto foi reformular as ideias de Walras em termos das “curvas de indiferença”, que tinham sido formuladas pela primeira vez pelo inglês Francis Y. Edgeworth (1845-1926).


Maximização da Utilidade e Maximização do Lucro

 

411 - Vantagem ideológica das curvas de indiferença: O uso das curvas de indiferença permite que as análises sobre a utilidade marginal da maximização da utilidade pelo consumidor deixem de lado a hipótese de que a utilidade possa ser quantificada. Basta que o consumidor seja capaz de listar, segundo um escalonamento de preferências, as diferentes mercadorias. Isso representa apenas uma quantificação ordinal (ou escalonamento) de utilidade e dispensa comparações interpessoais de utilidade, que, conforme argumentamos, são conceitualmente impossíveis.


412 - A explicação não tem novidades em relação ao livro de microeconomia básica. (...) Portanto, no ponto K, para esse consumidor, a relação (UMa/UMb) = (Pa/Pb) tem de ser verdadeira, ou, o que equivale à mesma coisa, (UMa/Pa) = (UMb/Pb). Vemos, então, que o ponto K satisfaz a condição de maximização da utilidade formulada por Jevons e Walras.


413 - Maximização do lucro é a mesma história da maximização da utilidade...



414 - ...Por isso, todas as firmas produzirão em um ponto como o ponto J, em suas curvas de isoquanta. A inclinação da linha de isocusto é PL/PC (ou a razão entre o preço do trabalho – os salários – e o preço do capital – os juros). A inclinação da isoquanta é MPL/MPC (ou a razão entre o produto marginal do trabalho e o produto marginal do capital). Portanto, em equilíbrio, para cada firma, a relação (MPL/MPC) = (PL/PC) é verdadeira.


A Visão Beatífica e a Felicidade Eterna

 

415 - A taxa marginal de transformação de A e B bem como a razão entre as utilidades marginais de A e B, para cada consumidor, refletem a razão de preços de A e B. Do contrário, ainda haveria troca benéfica a ser feita na estrada da maximização. Cada ponto na fronteira de possibilidade de utilidade representa uma situação na qual nenhuma mudança na produção e nenhuma quantidade adicional de mercadorias trocadas poderiam fazer com que um indivíduo melhorasse, sem piorar a posição de outro. (Dada certa distribuição inicial de dotações). Enfim... Tudo a ver com o "ótimo de Pareto".


416 - Por que o utilitarismo "a la Thompson" é problemático? Vale lembrar: É, na opinião da maioria dos economistas neoclássicos, meramente uma questão de inclinação ou preconceito pessoal o fato de uma pessoa preferir uma distribuição mais igual ou menos igual da riqueza. Não é uma questão de “economia científica”.


Teoria Microeconômica, Economia Neoclássica e Economia do Bem-estar


417 - Para os economistas neoclássicos, a teoria microeconômica (isto é, a economia do bem-estar) permeia todo subcampo teórico de especialização e toda conclusão teórica, prática e voltada para a política econômica a que chegam.


418 - De fato, na ausência de uma situação ótima, esses termos não têm sentido algum. Só passam a ter sentido quando os economistas neoclássicos, primeiro, postulam a existência de um ponto ótimo de Pareto; depois, por definição, diz-se que todos os agentes de troca auferem vantagens, que os recursos são “alocados eficientemente”, que os preços são “racionais” e que, por isso, levam a avaliações exatas – em bases utilitaristas – dos custos e benefícios sociais de vários projetos do governo.


Bases Hedonistas da Economia do Bem-estar

 

419 - O desenvolvimento e o refinamento das premissas comportamentais da economia do bem-estar, na última metade do século, representam tentativas de remediar as objeções ao hedonismo psicológico e, ao mesmo tempo, continuar tirando conclusões idênticas às que se tinha chegado por intermédio de teoria que caíra em descrédito. As curvas de indiferença permitem a substituição da quantificação cardinal pela quantificação ordinal da utilidade. Além disso, a palavra utilidade é quase sempre omitida em favor da palavra preferência.


420 - ...Crítica de Hunt: ...é claro que a observação empírica sempre mostrou o que o bom senso deveria ter mostrado a esses economistas – que as escolhas não têm este tipo de coerência. (...) A economia do bem-estar ignora o fato de que os desejos dos indivíduos são produto de um processo social específico e do lugar que o indivíduo ocupa neste processo.


421 - Outro problema? As externalidades. As externalidades causadas por interdependências de ordenamentos de preferência (quer dizer, o consumo considerado uma atividade social) só podem ser tratadas como exceções isoladas (que analisaremos a seguir)


Natureza Essencial da Norma do Ótimo, de Pareto


422 - O aspecto mais significativo a ser observado na regra de Pareto é seu caráter consensual conservador. Todas as situações de conflito são, por definição, deixadas de lado.


Valores Sociais Subjacentes à Economia do Bem-estar

 

423 - Decorrências do utilitarismo: Fica, portanto, óbvio que todo indivíduo, inclusive os fanáticos, os lunáticos, os sádicos, os masoquistas e os mentalmente incapazes, as crianças e até os recém-nascidos sempre são os melhores juízes do seu próprio bem-estar. (É possível acrescentar também que todas as decisões teriam de ser tomadas individualmente e nunca simplesmente por chefes de família ou líderes de outros agrupamentos sociais.)


424 - De modo geral, vão lançando argumentos no sentido de contestar a soberania do consumidor.


Premissas Analíticas e Empíricas da Economia do Bem-estar


425 - Aqui identificam outro problema: Além de não existir nada no sistema que garanta o crescimento econômico sem sobressaltos, equilibrado e com pleno emprego, a questão essencial de o que maximiza o bem-estar numa economia em crescimento também não está clara. Será a maximização da taxa de crescimento, a maximização do lucro, a maximização do consumo total ou a maximização do consumo por pessoa? Além disso, nenhuma das respostas propostas a essas perguntas ajuda a resolver a questão relativa à natureza e ao significado de um método para se considerar ou atribuir um peso ao bem-estar das gerações futuras, que está sendo decisivamente afetado pelas atuais decisões de consumo e investimento. Cada critério possível para julgar o bem-estar, em uma economia em crescimento, não tem, necessariamente, qualquer ligação com a economia neoclássica do bem-estar, nem é coerente com as premissas da teoria estática. O critério neoclássico de Pareto simplesmente não pode resolver esses problemas. Ele constitui, por sua própria natureza, uma teoria estática, que não pode ser ampliada de modo a descrever uma economia em crescimento ou em modificação.


A Economia Neoclássica do Bem-estar como Guia para a Formulação de Políticas


426 - Aqui critica fortemente a noção, mas, a meu ver, sem nada explicar.


Economia do Bem-estar e Externalidades 


427 - Ótimo de Pareto: ...afirma-se que esse método é apenas uma aproximação tolerável da realidade.


428 - Colocam que as externalidades não são mera exceção que confirma a regra: Com o reconhecimento da presença das externalidades em toda parte, a solução do tipo imposto-subsídio é claramente percebida como uma fantasia. Essa solução exigiria, literalmente, centenas de milhões de impostos e subsídios (somente nos Estados Unidos).


429 - A questão das novas externalidades geradas por "inveja" e "simpatia", que eles lançaram, não sei se entendi.


430 - Colocam que eficiência alocativa implica uma série de simplificações/suposições problemáticas ou mesmo irrealistas: ...se supusermos que haja concorrência perfeita, se supusermos um conhecimento perfeito por parte de todos os produtores e consumidores e se supusermos que não existam custos de transação (por exemplo, se as vítimas de um agente poluidor de uma empresa pudessem organizar-se para negociar com a empresa sem custo), então poderíamos demonstrar que a “alocação inicial dos direitos de propriedade não teria efeito algum sobre a eficiência alocativa”.


431 - ...Se supusermos o homem econômico maximizador da economia utilitarista e se supusermos que o governo estabelece direitos de propriedade e mercados para esses direitos sempre que se descobre uma deseconomia externa, cada pessoa pode, intencionalmente, impor certas deseconomias externas a outras, sabendo que a negociação no novo mercado que o governo logo estabelecerá certamente fará com que ela fique em melhor situação. Seria o "pé invisível". (Enfim, não sei se tiraram isso da teoria dos jogos, mas tem que ser analisado.)


A Crítica Normativa da Análise de Pareto

 

432 - A economia neoclássica do bem-estar aceita como critérios éticos últimos do valor social os desejos pessoais existentes, gerados por instituições, valores e processos sociais da sociedade existente e ponderados pelas distribuições de renda, riqueza e poder existentes.


433 - Afirmam, ainda, que os desejos são manipulados no capitalismo.


434 - As noções de eficiência, de Pareto, estão por trás (1) da teoria das vantagens comparativas, na teoria do comércio internacional; (2) da maioria das conclusões normativas da teoria neoclássica das finanças públicas; (3) de quase todas as análises de custo-benefício e (4) de quase todas as outras áreas em que a economia neoclássica afeta as recomendações de políticas.


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