Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 18

                        

Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico



Pgs. 673-700


"CAPÍTULO 18: "Economia Contemporânea II"


541 - A síntese de Samuelson: Uma das realizações significativas de Paul Samuelson foi tornar supérflua a luta entre os partidários dessas duas perspectivas teóricas nos corações e mentes dos economistas, convencendo-os de que a economia neoclássica (agora conhecida como teoria microeconômica) e a economia keynesiana (que passou a ser conhecida como teoria macroeconômica) não eram concorrentes. (...) Nem todos ficaram satisfeitos com esta conciliação. Na verdade, desde o início ela foi atacada por muitos defensores da economia neoclássica e também por seus críticos.


542 - Coloca que, ironicamente, algum dos primeiros ataques a Keynes partiram de um socialista "walrasiano", digamos assim. Oskar Lange. Não explica bem, porém. Parece ser isso: Muitos economistas começaram a ver a economia keynesiana como um simples caso especial da economia neoclássica. Ou seja, no geral o laissez-faire funciona muito bem. 


A Economia Institucionalista de Clarence E. Ayres

 

543 - Colocam que o ser humano de Veblen era muito maleável. 


544 - Clarence Ayres e a economia institucionalista: Em seu primeiro posto de magistério, no Amherst College, ele foi muito influenciado por Walton Hamilton, um jovem e brilhante economista que cunhou o termo institucionalismo. Ayres estudara a economia neoclássica padrão e foi designado assistente de ensino de Hamilton.


545 - Algumas afirmações são meio "sensacionalistas": Ayres de fato concluiu que a teoria neoclássica não tinha sentido. Reconheceu que o conceito de utilidade e a teoria de que no capitalismo de mercado os indivíduos maximizadores de utilidade automaticamente criam uma situação ótima era o centro intelectual da economia neoclássica. Também reconheceu a natureza oca, tautológica, dos fundamentos dessa teoria.


546 - Ayres colocava: "Está certo dizer que o preço é a medida da utilidade. Mas se não temos uma medida independente da utilidade (e não há nenhuma) isso só quer dizer que igualamos preço e utilidade por definição?"


547 - Veblen meio que atacava, por exemplo, a soberania do consumidor (Ayres discorda parcialmente do exemplo a seguir, por sinal...): O ponto de partida de Ayres foi o exame que Veblen faz das razões que levam às rápidas mudanças de estilo no vestuário. Veblen argumentava que o vestuário dos ricos visava separá-los claramente dos pobres. A motivação dos estilistas era apenas criar diferenças marcantes e fortes no vestuário de ricos e pobres. Os estilistas raramente estavam motivados por quaisquer preocupações ou padrões autenticamente estéticos. A feiura estética dos estilos deste ano provocaria uma revolta que levaria a mudanças drásticas no ano seguinte, e no outro e assim sucessivamente. Enquanto uma distinção hostil e não a beleza for a força motivadora, sempre haverá essas revoltas levando a mudanças permanentes nos estilos de vestuário dos ricos.


548 - Dewey e a ilusória separação entre meios e fins: Mas se pesquisarmos as razões que fazem do fim em questão o objeto do desejo, quase sempre verificamos que ele é desejado porque parece o meio para outro fim. Assim, se meu fim for ir ao armazém, posso escolher entre vários meios de transporte para chegar lá. Isso significa que esses meios de transporte são “meios” e contudo são tomados como fins porque sabemos que periodicamente precisaremos deles para ir até o armazém (ou qualquer outro lugar). Ir até o armazém parece ser o fim. Contudo, não tem um valor intrínseco. Ir ao armazém é o meio para adquirir alimentos. A aquisição de alimentos parece ser o fim. Mas, novamente, isso não tem qualquer valor intrínseco. Seu único valor é que se trata de um meio de aplacar nossa fomeDewey argumentava que se examinarmos a maioria dos fins veremos que eles são desejados porque servem como meios para alcançar outros fins. (...) Nenhum evento em particular pode ser chamado apenas de causa ou apenas de efeito mas, antes, deve ser visto tanto como efeito quanto como causa.


549 - Ayres não era, porém, um relativista: "É neste continuum tecnológico que se encontra o locus da verdade e do valor". (...) A verdade e o valor se derivam da dominação tecnológica da natureza para fazer avançar o “processo geral da vida”.


550 - ...Ayres argumentou que “é a dissociação da verdade e do valor que define a crise moral do século XX”. Quando esta dissociação ocorreu, a verdade foi substituída pela superstição. As superstições mais amplamente aceitas, acreditava, eram o resultado de valores e ações cerimoniais que funcionavam para preservar distinções hierárquicas de status social.


551 - "O desperdício econômico inerente ao encapsulamento cerimonial de recursos e tecnologia por parte do complexo militar-industrial é também uma segura fonte de renda para milhões de americanos enquanto a ideologia da Guerra Fria dominar a Weltanschauung americana. A continuidade econômica das vidas de milhões de americanos está encapsulada pelo nexo cerimonial da demonologia anticomunista".


552 - Enfim, do jeito que colocaram, o tal "institucionalismo" ficou parecendo quase uma continuação das ideias de Veblen. Pode ser.


A Economia Pós-keynesiana

 

553 - Eles combinaram essas ideias com as teorias de Michal Kalecki, J oan Robinson e Piero Sraffa e reafirmaram o lado radical da tradição keynesiana no que se tornou uma nova escola econômica conhecida como “economia pós-keynesiana”.


554 - Os autores dão uma explicação meio vaga da coisa, mas fazem, observações realistas: ...um empresário pode estar muito atento, fazer cálculos exatos e investir com cautela, mas o sucesso desse investimento dependerá sempre em parte das decisões tomadas simultaneamente por concorrentes, fornecedores e clientes, bem como de outros fatores que são imprevisíveis. Concorrentes, fornecedores ou clientes podem agir de acordo com expectativas menos sólidas ou totalmente irracionais. Nesses casos, até as projeções elaboradas com o maior cuidado pelo empresário podem estar equivocadas.


555 - Ao que entendi sobre como pensam, investimentos e poupanças reagiriam a fenômenos muito diferentes, o que pode levar a muitos descompassos, com mero desfrute de renda por parte dos capitalistas. O investimento, argumentam, é determinado pelas expectativas dos capitalistas sobre a lucratividade futura dos projetos de investimento, bem como sobre seu otimismo ou pessimismo quanto ao futuro em geral. A poupança, por outro lado, se altera de modo um tanto quanto passivo em resposta a mudanças no nível de renda.


556 - Assim, vemos que, se os capitalistas estiverem muito otimistas quanto ao futuro e decidem aumentar o nível de investimento, este investimento estimulará o crescimento da produção e da renda (e da participação dos capitalistas na renda). À medida que a renda dos capitalistas aumenta, suas poupanças aumentam. Este processo continua até que a renda dos capitalistas seja suficiente para gerar uma poupança que compense exatamente o aumento do investimento, resultando num equilíbrio keynesiano. Se a propensão a poupar dos capitalistas for muito alta, então será preciso um aumento relativamente pequeno para gerar o aumento de poupanças necessário. Se sua propensão a poupar for muito baixa, então será necessário um aumento relativamente grande de sua renda para propiciar um equilíbrio do nível de poupança.


557 - (A parte da álgebra e dos gráficos achei explicada de forma confusa/imprecisa/rápida, sei lá). O resumo parece ser isso: Enquanto teorias alternativas supõem um caminho de mão única indo da poupança para o investimento, os pós-keynesianos apresentam uma função investimento que inverte a direção de causalidade. Poupança alta prévia faria até mal, pois deprimiria a demanda agregada levando a novo equilíbrio com lucros menores. Enfim, o que importaria para os investimentos seria meramente o otimismo dos capitalistas. 


558 - Chega-se a falar em inflação como redistribuição de renda (salários) dos trabalhadores para os capitalistas (lucros), o que supostamente levaria a novos investimentos. (Em vez de bens de consumo, aumenta a demanda por bens de capital). Isso num cenário prévio de economia já no "máximo da capacidade" e, ainda assim, recebendo impulso. (Para mim, tudo isso não passa de especulação de cenário. Não foi bem isso que vimos com Dilma, por exemplo. Não há receita pronta para nada. São milhares de variáveis).


559 - ...Uma segunda explicação surgiria se a economia calhasse de estar operando abaixo da plena capacidade antes da mudança das expectativas. O excesso de capacidade permite um aumento da produção de bens de consumo. A demanda adicional por bens de capital pode ser atendida mediante um aumento da utilização de recursos atuais. A parcela da renda não precisa mudar, neste caso.


560 - Por fim, jogam uma série de dificuldades mal explicadas.


A Teoria dos Preços de Sraffa

 

561 - No Capítulo 16 deste livro examinamos a poderosa crítica de Sraffa às teorias neoclássicas do crescimento, da distribuição e da eficiência do capital. Se Sraffa não tivesse feito nada mais do que formular esta crítica, ele teria dado uma contribuição monumental à teoria econômica. Contudo, ele foi além, oferecendo uma nova versão, mais sofisticada, da teoria do valor clássica. O principal objetivo de Sraffa, ao escrever o livro "Produção de Mercadorias por Meio de Mercadorias", foi desenvolver a teoria do preço, de Ricardo, como uma alternativa para a teoria neoclássica da utilidade marginal.


562 - Simula uma economia de duas mercadorias - trigo e ferro - a fim de simplificar o modelo. Depois é só generalizar: Com "n" mercadorias, temos n equações para determinar "n" incógnitas.


563 - ...Após uma explicação não sei bem do quê, passa a tratar, a meu ver de forma desnecessariamente complexa, do "problema da transformação". 


564 - Sraffa e a possibilidade de incorporação de excedentes na massa salarial: Sraffa se afasta drasticamente de Marx. A força de trabalho não é, para Sraffa, uma mercadoria cujo valor é determinado do mesmo modo que o das demais mercadorias. Como não pode haver divisão entre trabalho necessário e trabalho excedente, não se pode demonstrar que o trabalho excedente é a fonte da mais-valia. (...) Toda a produção que excede a reposição das mercadorias usadas na produção é definida como excedente. Portanto, Sraffa não apenas não tem uma teoria marxista, como não tem uma teoria ricardiana (pelo menos a esse respeito) ou até uma teoria do valor em termos de trabalho. (Achei mal ou nada explicados os porquês dessa posição de Sraffa).


565 - A teoria em si também não me parece muito bem explicada, mas pincei alguns trechos simples que podem servir de ponto de partida caso um dia eu queira me interessar mais: Sraffa (...) examina o que acontece com os preços relativos e os lucros quando o salário passa de um ponto em que o trabalho não recebe parte alguma do excedente até o ponto em que recebe todo o excedente. Essa seção do livro de Sraffa é crucial para a teoria do valor-trabalho porque aqui Sraffa encontra a origem lógica da teoria do valor-trabalho – os efeitos de diferentes proporções entre o trabalho e os meios de produção, ou, nos termos usados por Marx, diferentes composições orgânicas do capital.


566 - ...Se a produção de uma dada mercadoria utiliza intensamente o trabalho, mas seus insumos utilizam mais intensivamente o capital, o aumento dos salários elevará os custos do trabalho dessa mercadoria, mas barateará relativamente os custos dos insumos-mercadoria utilizados em sua produção. É óbvio que o preço dependerá do resultado líquido dessas forças opostas. É, assim, impossível decidir a priori qual será o efeito de um aumento dos salários.


567 - Para que os preços de uma mercadoria reflitam somente seus insumos-trabalho e não variem quando o salário se altera, é necessário que a mercadoria (1) seja produzida com uma razão socialmente média entre o trabalho e os demais insumos-mercadoria, (2) use como insumos-mercadoria apenas outras mercadorias produzidas sob essas condições socialmente médias de produção, e (3) tenha as mesmas condições socialmente médias de produção aplicáveis a todos os insumos-mercadoria que, em qualquer ocasião, tenham feito parte da cadeia de produção de mercadorias que culminou como a produção da mercadoria que vai servir de medida invariável de valor.


568 - Não vi qual a grande inovação do tal "setor padrão". O próprio Marx já não falava que apenas a composição média igualaria preços e valores? (Sraffa me parece só ter detalhado essa ideia, mas vai saber...)


569 - (Eu acho muita coisa mal explicada. Jogam coisas como "...com o aumento de salários...". Que aumento? Real? Nominal? Acima da capacidade de reposição dos bens de capital? Não?... Nada é bem explicado).


570 - O conhecimento dos insumos de trabalho e mercadoria nos vários setores, junto com um conhecimento da fatia dos trabalhadores no excedente, nos permite determinar a taxa de lucro vigente na economia como um todo e consequentemente determinar todos os preços sem precisar levar em conta a utilidade ou a análise marginal. (Isso se existissem coeficientes técnicos fixos imunes a deslocamentos de curva de demanda, não? Como não existem... Tudo bem que não acontecem terremotos o tempo todo, mas também não são irrelevantes. Enfim, talvez a teoria sirva como fotografia e nunca como filme...?).


571 - A mercadoria padrão de Sraffa parece assim funcionar como a “mercadoria média” ideal que Ricardo e Marx procuraram em vão.


572 - Não está claro se existe alguma relação entre a teoria dos preços de Sraffa e as teorias macroeconômicas dos pós-keynesianos. Nem todos eles adotam a teoria de Sraffa, mas muitos dos que desenvolveram, elaboraram e estenderam a teoria de Sraffa são os mesmos que deram contribuições relevantes à análise pós-keynesiana.


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