Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 16

                     

Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico



Pgs. 601-630


"CAPÍTULO 16: "A Negação do Mito da Produtividade Mensurável do Capital"

 

Estado Atual da Teoria Neoclássica da Distribuição


472 - Veblen realmente vai "no ponto" ao criticar Clark sobre a questão da "produtividade do capital": "O continuum representado pela “entidade permanente” do capital é uma continuidade de propriedade e não um fato físico. De fato, esta continuidade é de natureza imaterial, uma questão de direitos legais, de contrato, de compra e venda. Não é fácil perceber exatamente por que esta situação clara passa despercebida, às vezes intencionalmente… (Não deixar despercebido este fato óbvio) atrapalharia, obviamente… a lei da remuneração “natural” do trabalho e do capital, a que se destina o argumento de Clark desde o início".


473 - Um resumo do problema: O volume de capital tem de ser quantificado de modo totalmente independente de qualquer recurso a preços; caso contrário, a teoria da distribuição baseada na produtividade marginal, com sua explicação e racionalização dos salários e lucros existentes, fica completamente sem defesa. Böhm-Bawerk sugeriu o uso do “período médio de produção” como medida do capital. A maioria dos economistas neoclássicos rejeitou o uso dessa medida por duas razões: em primeiro lugar, ela é um número-índice complexo, formado por quatro grandezas separadas e não relacionadas – a quantidade de terra, a quantidade de trabalho, a duração do período e a distribuição do uso da terra e do trabalho em diferentes períodos do tempo total. A solução apresentada por Böhm-Bawerk era confusa e a maioria dos economistas neoclássicos percebeu, desde o início, que ela envolvia “problemas de números-índices” insuperáveis. Desse modo, quase todos os economistas neoclássicos se ativeram à noção de capital, de Clark, como um continuum de alguma entidade física misteriosa. A soma dos elementos dessa entidade daria ao economista neoclássico a quantidade total de capital, capacitando-o, assim, a calcular a produtividade marginal, as rendas e o valor presente do capital.


474 - ...Segundo a concepção de Böhm-Bawerk, só a terra e o trabalho eram, originariamente ou em última análise, fatores de produção. O capital só existia por causa do elemento temporal da produção. Essa concepção da produção está a apenas um passo de uma concepção que vê a produção como a transformação dos recursos naturais preexistentes, transformação efetuada única e exclusivamente pelo trabalho. Neoclássicos posteriores negaram que a "produtividade de capital" fosse derivada dos outros fatores.


475 - Criticam, também, na mesma esteira, os agregados de Ferguson. K e L. Uma vez mais (e uma análise equivalente poderia ser citada de centenas de livros contemporâneos escritos por neoclássicos), Ferguson simplesmente passou dos x(zinho) não especificados e não diferenciados de sua teoria microeconômica para um agregado de capital puro e não diferenciado, contendo uma “entidade física” que permitia sua agregação, independente de qualquer conhecimento dos preço.


476 - (Algumas das críticas, porém, parecem-me muito "jogadas", pouco desenvolvidas).


477 - Samuelson admitia que a noção de capital, de Clark, não podia ser defendida lógica ou empiricamente, mas argumentou que ela era uma “parábola” utilíssima, que poderia, por analogia, ilustrar “verdades” que não podiam ser formuladas diretamente nem defendidas. (...) Argumentou que as teorias neoclássicas da produção e do capital não eram verdades científicas, mas parábolas que podiam ilustrar verdades. (...) Ferguson, como um dos economistas neoclássicos mais perspicazes e de maior discernimento, reconheceu que Samuelson estava certo; essas teorias eram meras parábolas; mas também reconheceu que essas parábolas constituíam o próprio âmago de toda a teoria neoclássica


478 - Samuelson colocou que o capital era como uma cachoeira. Nunca composto da mesma gosta, mas está sempre sendo reposta. Diz ser "uma aproximação útil e satisfatória da realidade”.


Sraffa e a Crítica à Economia Neoclássica

 

479 - Basicamente: a depender das flutuações do nível de salário e da taxa de juros - e também da distribuição da necessidade de trabalho durante algum período "x", ao que entendi - podem existir inclusive "retroca" acerca da melhor combinação de insumos. Ou seja, a melhor técnica produtiva muda a depender dessas forças aí. (Por algum motivo, diz-se que isso tornaria a teoria neoclássica falsa. Porém, eu não vi esse desenvolvimento todo).  "...O capitalista mudará novamente para a técnica A. É esta nova troca de técnicas que é impossível, segundo a teoria neoclássica da distribuição e do capital." (?)


480 - A crítica parece ser mais à teoria do capital de Bohm-Bawerk: Como já dissemos, a medida de capital proposta por Böhm-Bawerk – o período médio de produção – é um índice que mede tanto o tempo que se leva no processo de produção quanto a quantidade de trabalho empregada em vários pontos daquele período. Para que a teoria neoclássica tenha algum sentido (usando-se essa medida de capital), é absolutamente necessário que a teoria nos diga, em nosso exemplo, que técnica de produção – A ou B – é a mais intensiva em capital. A técnica B envolve não só um período mais longo de produção como também mais trabalho. Isso a torna mais intensiva em capital ou mais intensiva em trabalho? A resposta a essa pergunta tem de ser dada de modo claro, lógico e sem ambiguidades; caso contrário, toda a estrutura complexa da teoria econômica neoclássica se desintegrará. (...) No entanto, vimos também, em nosso exemplo, que, enquanto a taxa de juros continuasse caindo até atingir níveis muito baixos (e os salários continuassem subindo), chegava-se a um ponto em que a técnica A passava a ser mais uma vez a técnica maximizadora dos lucros. A firma mudava novamente da técnica B para a A. Ora, com uma queda da taxa de juros provocando uma volta de B para A, torna-se absolutamente necessário que a teoria neoclássica defina a técnica A com sendo mais intensiva de capital do que a técnica B. Isso mesmo sem qualquer mudança nas técnicas em si, mas ocorrendo meras flutuações de salários e juros.


481 - Conclusão de Sraffa: "As inversões de direção do movimento dos preços relativos, diante das trocas dos métodos de produção, não podem ser compatibilizadas com qualquer noção de capital como quantidade mensurável independente da distribuição e dos preços".


482 - (as conclusões e premissas são simples de entender, a explicação gráfica/matemática é que acho mal explicada)...Na Figura 16.2, a teoria neoclássica dá resultados perfeitamente coerentes. A técnica M é claramente mais intensiva em capital do que a técnica N (pois, com a queda da taxa de juros, a firma muda de N para M).



483 - ...Consideremos, agora, a Figura 16.3. (...) Para as várias taxas de juros possíveis, representamos novamente a técnica menos cara por uma linha cheia. Agora, existem dois pontos de troca, Q e P. Nesse caso, há uma retroca; novamente, mostra-se que a teoria neoclássica é logicamente incoerente.


484 - ...Enfim, a meu ver, é mera repetição do argumento simples do capítulo, só que em gráficos/matemática chatos.


485 - Segundo os autores, com a crítica de Sraffa as coisas se invertem. A teoria do valor-trabalho não requer composições orgânicas iguais do capital, mas a teoria neoclássica requer. (só vejo uma grande confusão em ambas as orações. Eles mesmos parecem "corrigir" depois, quando afirmam: Os teóricos do trabalho, porém, sempre reconheceram que o princípio não é válido e elaboraram o princípio modificador da teoria do valor-trabalho.).


486 - Samuelson: A patologia ilumina a fisiologia sã. Pasinetti, Morishima, Bruno-Burmeister-Sheshinski e Garegnani merecem nossa gratidão, por terem demonstrado que a reversibilidade de técnicas de produção é uma possibilidade lógica em qualquer tecnologia, possa ela ser decomposta ou não.


487 - (Enfim, concluído o capítulo, só tenho uma vaga noção do que é que se está tentando discutir aqui. Quanto utilizar trabalho vivo ou trabalho morto depende da taxa de juros e do nível de salários? Seria só isso? Porque, se for, não precisaria nem de 1% de toda essa "saliva". É uma mera questão de custo-oportunidade de cada situação. A "melhor técnica", pragmaticamente falando, obviamente dependerá disso tudo.)


Apêndice


488 - Colocam que a teoria de crescimento de Solow é apresentada como evolução da de Harrod-Domar: Solow desempenha um papel heroico na história, ao banir o chamado “fio da navalha” do modelo Harrod-Domar. Solow teria trabalhado sem coeficientes fixos de produção.


489 - Uma crítica (ao menos me parece): Ao fundir as taxas efetiva e desejada de crescimento em apenas uma, Solow estava, simplesmente, descartando quaisquer problemas (de curto prazo) de demanda efetiva. (...) Solow se afasta de Harrod e Domar logo no início, ao tomar a relação entre a poupança e o investimento como sendo sempre igual e supor que a poupança determina o investimento; assim, a lei de Say é válida.


490 - Funcionamento do modelo: Dado que o capital adicional não é ofertado em quantidade suficiente para equipar os trabalhadores adicionais com o mesmo montante de capital como antes, a produtividade marginal do trabalho irá cair, o que deverá levar a uma queda no salário médio. (...) Alternativamente, haverá mais trabalho para o capital adicional, levando a um aumento da produtividade do capital e, portanto, para um aumento da taxa de juros. Este processo também pode ser descrito em termos das respostas de mercado. À direita de k*, o trabalho é abundante e o capital escasso, dada a relação capital-trabalho existente. Logo, esperaríamos observar uma queda no preço do trabalho (salários) e um aumento no preço do capital (taxa de juros). O movimento dos preços de fatores coincide com a escolha, por parte das firmas, de técnicas de produção mais trabalho- intensivas (isto é, com uma relação capital-trabalhador mais baixa). Uma explicação semelhante pode ser dada para os pontos à esquerda de k*. (...) O modelo de Solow parte de um aspecto do modelo Harrod-Domar. Ele demonstra como a taxa desejada de crescimento irá convergir para a taxa natural.


491 - ...Repete-se, assim, a crítica a essa visão: Solow traz a teoria de crescimento de volta para a visão dos economistas clássicos resumida na lei de Say. A produção que não é consumida se torna poupança, que diretamente se soma ao estoque de capital. (...) Se, por exemplo, as famílias decidissem consumir menos e poupar mais, não surgiria qualquer problema de desemprego associado à falta de demanda. A taxa de poupança mais elevada, simplesmente, se traduz em uma elevação da demanda por investimento, aumentando a taxa de acumulação de capitalO capital passa a crescer a uma taxa superior à da força de trabalho. A taxa de juros cai em relação aos salários, à medida que as firmas adotam técnicas de produção mais capital-intensivas. Eventualmente, o sistema se estabiliza com uma relação capital-trabalho mais elevada e uma taxa de juros menor, refletindo uma produtividade marginal do trabalho mais alta (com cada trabalhador sendo equipado com mais capital).


492 - Ademais, colocam que a crítica sraffiana também se aplica ao modelo de Solon: Segundo, ao caminharmos da esquerda para a direita ao longo do eixo horizontal da Figura 16.1, as relações capital-produto mais elevadas estarão, sem sombra de dúvidas, associadas a razões mais baixas entre a taxa de juros e os salários. A demonstração da retroca, exceto sob o caso especial de composição do capital igual, viola esta relação inversa estrita, com isso anulando o processo de ajuste presumido.


493 - Os autores continuam a criticar toda a simplificação da coisa na mensuração do capital, mesmo que os dados batam por muitas vezes: ...uma vez que as parábolas simples pareciam ajustar-se aos dados da realidade, as questões da mensuração do capital e da retroca podiam ser vistas como meros pontos teóricos obscuros, e o trabalho sério poderia seguir em frente como sempre.


494 - Criticam a pesquisa empírica com funções de produção: ...Independente destes ajustes, o fato é que os dados de produção e estoque de capital permanecem expressos em unidades monetárias.


495 - A crítica de Shaikh a Solon eu também compreendi pouco. Transcrevo um mero trecho dela: Assim, se os dados verdadeiros mostrassem frações relativamente constantes da renda (o que, frequentemente, ocorre) então os resultados empíricos seriam robustos (perfeitos, no caso das frações serem completamente constantes) para todo e qualquer dado com tal característica. Além disso, a teoria da distribuição baseada na produtividade marginal aparentemente se confirmaria. Porém, tais resultados decorriam diretamente da identidade da renda, e não de qualquer teoria da produção. A fim de enfatizar este ponto, Shaikh utilizou dados extremamente irrealistas para gerar uma curva que descrevia a palavra HUMBUG (“enganação”, em inglês) em um gráfico como o da Figura 16.5 e mostrou que os resultados aparentavam confirmar uma função Cobb-Douglas subjacente, com as propriedades de produtividade marginal adequadas. Os insights básicos de Phelps-Brown, Levy e Simon, e Shaikh foram desenvolvidos mais ainda por J .S.L. McCombie e Jesus Felipe. Em inúmeros trabalhos, McCombie e Felipe demonstraram como a pesquisa empírica recente, usando diversas funções de produção, padecem do mesmo problema de meramente recuperar a identidade da renda básica sob hipóteses específicas e comuns com relação aos dados verdadeiros. 


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