Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 15
Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico
Pgs. 555-600
"CAPÍTULO 15: "A Ideologia Neoclássica e o Mito do Mercado Autorregulador"
435 - Nunca houve, em realidade, um “leiloeiro” Walrasiano, e o sistema capitalista de mercado sempre foi anárquico: a história do capitalismo é uma história de instabilidade econômica.
436 - Crises e capitalismo monopolista: Na primeira metade do século XIX, por exemplo, os Estados Unidos só tiveram duas crises econômicas graves (que começaram em 1819 e em 1837) e a Inglaterra teve quatro (que começaram em 1815, 1825, 1836 e 1847). Na última metade do século, as crises ficaram mais graves e aumentaram para cinco, nos Estados Unidos (começando em 1854, 1857, 1873, 1884 e 1893), e seis, na Inglaterra (começando em 1857, 1866, 1873, 1882, 1890 e 1900). No século XX, a situação ficou pior. Depressões cada vez mais frequentes assolaram o capitalismo, tendo culminado com a Grande Depressão dos anos 1930.
437 - Colocam que a produção industrial caiu quase 50% durante a crise de 29.
438 - Trazem alguns relatos desesperadores da Crise de 29. A anarquia desregrada do mercado estava se transformando em uma ameaça à própria existência do capitalismo. Aí entra o "keynesianismo".
439 - Keynes era declaradamente grande fã de Malthus, embora não endossasse tudo. A desigualdade era, de certa forma, até necessária como motivação e para canalizar sentimentos potencialmente destrutivos para fins mais produtivos, colocava.
O Contexto Teórico da Análise de Keynes
440 - Quando o dinheiro vai das firmas para o público, parte dele não retorna diretamente às firmas. O fluxo circular tem vazamentos. Para começar, nem todas as pessoas gastam toda a sua renda. Sem falar dos "vazamentos" para países estrangeiros, colocam.
441 - Os autores citam "impostos" também como fonte de vazamento, mas acredito que seria mais preciso "aperto fiscal"?
442 - Não é real vazamento, por exemplo, se toda poupança é investida.
443 - Quando parecia existir desemprego, era apenas porque os trabalhadores se recusavam a aceitar os cortes salariais necessários para igualar o salário ao menor valor do produto marginal que resultaria quando fossem empregados mais trabalhadores.
444 - Para estes economistas então, caso houvesse flexibilidade, tudo correria sempre bem em termos de equilíbrio entre demanda e oferta, sem vazamentos: (1) a teoria neoclássica mostra que o livre jogo da oferta e da demanda equilibraria as transações internacionais; (2) uma “política fiscal bem conduzida”, na opinião dos economistas neoclássicos e da maioria dos políticos, ditava que o governo deveria manter um orçamento equilibrado, no qual os impostos fossem iguais aos gastos do governo; (3) a taxa de juros sempre igualaria a poupança e o investimento.
445 - ...Taxa de juros altas levariam credores a se multiplicarem, fazendo a taxa tender a "voltar ao natural". Assim viam as coisas. E se a taxa for muito baixa? ...os investidores não poderão encontrar poupança suficiente para financiar seus investimentos. Competirão pelos fundos disponíveis e farão com que a taxa de juros suba. Enfim, a poupança sempre tenderia a igualar o investimento.
Keynes e a Defesa da Teoria da Distribuição, Segundo a Produtividade Marginal
446 - Keynes dizia que a redução do salário real era politicamente mais viável via inflação. Isso ajudaria a retomada dos lucros e dos empregos numa crise.
447 - (A problematização que os autores fizeram da produtividade marginal durante a crise de 29 me pareceu bem pouco desenvolvida. É o tipo de discussão que demandaria uma boa análise de dados e gráficos.)
Keynes e a Análise das Depressões Capitalistas
448 - As diferenças de Keynes: embora aceitasse a noção neoclássica de que a poupança era influenciada pela taxa de juros, insistia em que o nível de renda agregada era uma influência muito mais importante sobre o volume de poupança do que a taxa de juros. Em segundo lugar, argumentava que a poupança e o investimento não determinavam a taxa de juros. Esta representava um preço que igualava a demanda e a oferta de moeda – uma coisa bastante diferente de investimento e poupança (embora não deixasse de estar a elas relacionada). (...) A propensão marginal a consumir e a propensão marginal a poupar eram, ambas, por hipótese, menores que um e nenhuma delas era determinada fundamentalmente pela taxa de juros.
449 - A preferência pela liquidez se torna muito importante na determinação da taxa de juros. Keynes: "a mera definição de taxa de juros nos diz, claramente, que a taxa de juros é a recompensa pela desistência da liquidez durante certo tempo. Pois a taxa de juros é, em si mesma, nada mais que a proporção inversa entre uma quantia e o que se pode obter com a desistência do controle da moeda em troca de dívida, durante um certo período. (...) a quantidade de moeda é o outro fator que, em conjunto com a preferência pela liquidez, determina a taxa de juros de fato, em determinadas circunstâncias". isso abre bons espaços pra a atuação - "mágica" ou não - do BC.
450 - Keynes lista vários motivos que influenciam essa preferência: "(1) o motivo-transação, isto é, a necessidade de moeda para as transações correntes pessoais e comerciais; (2) o motivo-precaução, isto é, o desejo de se ter segurança quanto ao equivalente, em moeda, de uma certa proporção dos recursos totais; (3) o motivo-especulação, isto é, o objetivo de auferir lucros, sabendo-se, melhor do que o mercado, o que o futuro traria."
451 - Ou seja... parte da demanda por moeda dependia das expectativas quanto ao que aconteceria com a taxa de juros no futuro.
452 - Os males do excesso de poupança, digamos: ...Cada empresa via apenas seu problema: produzira mais do que poderia vender. Portanto, diminuía a produção no período seguinte. A maioria das empresas, na mesma situação, fazia a mesma coisa. Virava uma espiral viciosa.
453 - Keynes sabia que o aumento da oferta monetária num quadro de muito receio poderia levar apenas a mero entesouramento (não a investimento). (Jogam gráfico lá)
454 - ...Estaria criada uma depressão ou recessão desnecessária. Keynes, ao tornar famosas as expansões monetárias e fiscais, pretendia curar essa instabilidade excessiva. Marx acreditara que a doença era incurável. Hobson tinha receitado, como cura, medidas para igualar a distribuição de renda, diminuindo, assim, a poupança. A receita de Hobson poderia dar certo? Talvez essa pergunta não tenha muito sentido. Na maioria dos países capitalistas industrializados, a riqueza e o poder econômico determinam o poder político, e os que têm poder nunca se dispuseram a sacrificá-lo para salvar o sistema econômico.
Eficácia das Políticas Keynesianas
455 - Pouca novidade aqui.
A Economia Militar
456 - Gastos militares dos EUA: Esses números representam um total de 12,2% do PNB, em 1947, e 11,1%, em 1971. (...) Entre 1980 e 1987, os gastos militares dos Estados Unidos mais do que duplicaram. Os gastos com defesa que eram de US$134 bilhões em 1980 chegaram a US$210 bilhões em 1983.
457 - Reversão pós-Guerra Fria: Além disso, os gastos militares como proporção do total das despesas governamentais, na verdade, caíram de forma consistente, de 23,9% em 1990 para 16,1% em 1999, comparado a um crescimento igualmente consistente de 22,7% em 1980 para 26,5% em 1989. (...) Durante a maior parte dos anos 1980, os gastos militares como proporção do PI B variaram de 5% a 6%, com uma média de 5,8% na década. A relação caiu ao longo de toda a década de 1990, chegando a 3% em 1999, com uma média anual de 4% para a década. Durante a Guerra do Iraque e Afeganistão é que voltaram a aumentar.
458 - Enfim, a tese é que o militarismo estimula a demanda agregada sem precisar mexer em distribuição de renda. Logo, seria um item imprescindível pela flexibilidade. (Tenho dificuldade com isso, pois outros gastos também poderiam fazer isso tranquilamente). Há algumas "vantagens de justificação": ...histórias de horror convencem quase todo o povo de que a continuação da escalada da corrida armamentista é absolutamente necessária para a sobrevivência.
459 - Colocam que a economia teria dificuldades em diminuir o militarismo. A transição prejudicaria estruturas e cidades inteiras montadas em torno desse "status quo", digamos assim.
A Economia da Dívida
460 - Após ser convencido por seus conselheiros econômicos (sendo uma voz destacada a de Robert Rubin, antigo copresidente da Goldman Sachs) e pelo estimado presidente do Federal Reserve (Alan Greenspan) de que a redução da dívida iria forçar a queda da taxa de juros e estimular a economia, o Presidente Clinton adotou medidas para alterar a trajetória da dívida. A relação dívida federal/PIB permaneceu constante em 49% entre 1993 e 1995, antes de começar a cair dramaticamente, chegando a 32,5% em 2001. A queda da razão dívida/PIB não foi resultado, simplesmente, do forte crescimento do PIB. A taxa de crescimento anual da dívida federal caiu consistentemente desde 1992, chegando a tornar-se negativa em 1998.
461 - As famílias americanas haviam saído da Segunda Guerra com uma carga de dívida baixa (22% da renda disponível), que cresceu consistentemente até meados dos anos 1960 (68% em 1965) antes de se estabilizar em meados dos anos 1980. A relação dívida/renda disponível das famílias aumentou de 67% em 1984 para 94% ao final dos anos 1990. Ou seja, privatizaram a dívida: ...podemos afirmar que a década de 1990, longe de representar uma refutação da análise keynesiana, representou, simplesmente, uma mudança na composição da dívida americana necessária para impulsionar a economia.
462 - O endividamento das famílias nos Estados Unidos começou a crescer de forma dramática em 2000, a uma taxa média anual de 10% até 2007. Como fração da renda disponível, a dívida das famílias aumentou de 95% em 2000 para quase 133% em 2007. A maior parte da explicação para este aumento do endividamento se encontra na dívida hipotecária.
463 - ...Assim, podemos concluir esta parte repetindo o fato de que grandes aumentos dos gastos governamentais, justificados por seus defensores com base na teoria keynesiana, têm diminuído a gravidade das depressões a partir da Segunda Guerra Mundial.
Fundamentos Ideológicos das Ideias de Keynes
464 - Com a existência de fatores ociosos é meio difícil defender que há um "ótimo de Pareto". A "mão invisível' acaba precisando de ajuda.
465 - O intuito conciliatório de Keynes era nítido nas suas palavras: Assim, enquanto a ampliação das funções do governo, envolvido na tarefa de ajustar a propensão a consumir e a propensão a investir, pareceria a um jornalista do século XIX ou a um financista americano contemporâneo um ataque terrível ao individualismo, eu a defendo não só como o único meio praticável de se evitar a destruição das formas econômicas existentes, como também como a condição para o bom funcionamento da iniciativa individual (quer dizer, a busca do lucro).
466 - Citam uma passagem de Keynes que fala de modo muito mal explicado em eutanásia gradual dos rentistas. De fato, é meio obscura. É que Keynes também acreditava na queda gradual da taxa de retorno.
Apêndice
467 - Trata dos aprimoramentos de discípulos keynesianos: Seus trabalhos se tornaram tão importantes nas teorias do desenvolvimento e crescimento econômico que foram reunidos sob o título de “modelo Harrod-Domar”.
468 - Solta uma equação desnecessária que, na prática, significa simplesmente isto aqui: Quando, por exemplo, a demanda agregada por bens excede a oferta agregada, as firmas veem seus estoques caírem abaixo do nível desejado e respondem aumentando a produção. A produção maior cria renda adicional, levando à demanda maior, mas dado que se assume que a propensão marginal a consumir é inferior a 1, a demanda adicional será apenas uma fração do aumento da renda. Logo, a economia eventualmente atinge um nível de equilíbrio da produção e do emprego – ainda que não, necessariamente, um equilíbrio de pleno emprego. O equilíbrio será estável, no sentido de que qualquer desvio do nível de produto atual em relação ao nível de equilíbrio irá retornar ao equilíbrio por meio das respostas de ajuste supostas das firmas, à medida que elas procuram alcançar o nível de estoques desejado.
469 - ...Sobre a desejada: Esta taxa de crescimento, porém, era instável, no sentido de que qualquer desvio da taxa de crescimento efetiva em relação a ela tenderia a afastar a economia ainda mais dela. Para tornar as coisas ainda mais complicadas, mesmo se as taxas de crescimento efetiva e desejada fossem iguais, ainda assim não havia garantia de que seriam equivalentes à taxa de crescimento natural (a que está de acordo com os potenciais dos fatores/recursos dados).
470 - ...Por outro lado, se a taxa natural de crescimento excedesse a taxa desejada, então seria possível que a taxa efetiva de crescimento também fosse superior à taxa desejada e estivesse encostando na taxa natural, causando inflação.
471 - Colocam que modelos tipo o discutido aqui não fizeram muito sucesso, até por tratarem o capitalismo quase como incorrigivelmente instável. A esperança dos neoclássicos sempre foi domar isso de forma cada vez mas perfeita.
.
Comentários
Postar um comentário