Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 9
Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico
Pgs. 296-354
"CAPÍTULO 9: "Karl Marx"
A Crítica de Marx à Economia Clássica
243 - Marx: I) a produção econômica não se reduzia a uma série de trocas; II) o capital era uma relação social específica do capitalismo, não dos demais modos. O capital "instrumento de produção" é que é universal.
244 - Só no capitalismo os “instrumentos de produção” e “o trabalho acumulado” eram a fonte de renda e do poder da classe social dominante.
Mercadorias, Valor, Valor de Uso e Valor de Troca
245 - O valor de troca era, habitualmente, expresso em termos do preço monetário deuma mercadoria, quer dizer, era expresso em termos da quantidade da mercadoria dinheiro que se poderia obter em troca de uma unidade da mercadoria em questão.
246 - As mercadorias, assim consideradas por Marx, eram definidas como valores. “O trabalho humano está contido nelas. Quando encaradas como cristais deste… (trabalho humano), todas elas eram comuns – eram valores.”
247 - Valor no Livro I: Para Ricardo, fatores como diferenças da razão entre máquinas e trabalho ou diferenças de duração dos processos de produção em diferentes setores eram influências secundárias sobre os preços. Essas diferenças secundárias eram não só relativamente sem importância, como também explicáveis por princípios subsidiários da teoria do valor, de Ricardo. Marx partiu dessa ideia e, no Volume 1, abstraiu-se de considerar essas influências secundárias. (...) Naquele nível de abstração, como vimos nos capítulos sobre Smith e Ricardo, os valores de troca eram sempre proporcionais aos valores (tal como Marx definia valores). Portanto, em todo o Volume 1, Marx usou os termos valor e valor de troca como sinônimos.
Trabalho Útil e Trabalho Abstrato
248 - O trabalho útil está ligado ao valor-de-uso. O trabalho abstrato, ao valor de troca. Quem faz essa ligação é o TSN - trabalho socialmente necessário.
249 - ...O cálculo dos valores exigiria que o trabalho qualificado fosse reduzido a um simples múltiplo do trabalho não qualificado. Cita, após, trecho de Marx.
A Natureza Social da Produção de Mercadorias
250 - Sem novidade a anotar.
Circulação Simples de Mercadorias e Circulação Capitalista
251 - Para Marx, não bastava mera circulação de moedas e mercadorias para que se falasse em capitalismo: "A forma mais simples de circulação de mercadorias é M-D-M, a transformação de mercadorias em dinheiro e a transformação do dinheiro novamente em mercadorias, ou seja, vender para comprar; mas (no capitalismo), juntamente com essa forma, encontramos outra forma especificamente diferente: D-M-D, ou seja, a transformação de dinheiro em mercadorias e a transformação de mercadorias novamente em dinheiro, ou seja, comprar para vender. O dinheiro que circula dessa última maneira se transforma, então, em capital e já é, potencialmente, capital."
252 - ...Mais precisamente, se tratava de comprar para vender mais caro, claro. Senão, não valia a pena o risco da circulação. Então, tratava-se de D-M-D'.
Mais-valia, Troca e a Esfera da Circulação
253 - De D para D', havia a mais-valia.
Circulação do Capital e a Importância da Produção
Trabalho, Força de Trabalho e a Definição de Capitalismo
254 - Sem novidades a anotar nesses.
O Valor da Força de Trabalho
255 - Não é o mínimo do mínimo: Essa subsistência não era uma subsistência biológica ou fisiológica mínima, mas um “produto do desenvolvimento histórico”, que dependia “dos hábitos e do grau de conforto” a que a classe operária estivesse acostumada.
256 - E o trabalho qualificado? Está reconhecido no próprio "O Capital": “Os gastos com essa educação” entravam “no valor total” dos vários tipos de força de trabalho. Eram múltiplos do trabalho simples, portanto.
Trabalho Necessário, Trabalho Excedente e Criação e Realização de Mais-valia
257 - Então, assim como o valor era “uma cristalização de um determinado número de horas de trabalho… nada mais do que trabalho materializado”, a mais-valia era “a mera cristalização do tempo de trabalho excedente… nada mais do que trabalho excedente materializado”.
Capital Constante, Capital Variável e a Taxa de Mais-valia
258 - Taxa de mais-valia é trabalho excedente pelo necessário. Marx: "A taxa de mais-valia é, portanto, uma expressão exata do grau de exploração da força de trabalho pelo capital ou do trabalhador pelo capitalista."
Duração da Jornada de Trabalho
259 - O capitalista e a duração da jornada, segundo Marx: "...Ele atinge esse fim diminuindo a duração da vida do trabalhador, como um agricultor ganancioso retira maior produção do solo roubando sua fertilidade." (...) “O estabelecimento de uma jornada de trabalho normal” – escreveu ele – foi “o resultado de séculos de lutas entre capitalistas e trabalhadores.”
A Teoria do Valor-Trabalho e o Problema da Transformação
260 - O valor é a consequência de algo que Marx considerava um fato essencial do capitalismo – que, dentro desse sistema, o trabalho interdependente só é social de modo indireto e que não é visto pelos participantes como sendo uma relação social.
261 - Para não ser uma mera "loucura privada"...: O trabalho só se torna social quando a mercadoria é vendida no mercado. A aquisição e a venda da mercadoria, a um dado preço, transforma certa quantidade de trabalho privado em trabalho social.
262 - Marx destacou que o trabalho abstrato, não o trabalho útil, é a substância do valor.
263 - A fim de entender a teoria do valor-trabalho de Marx, é preciso ter em mente que ele pertencia a uma escola de pensamento que vê uma distinção entre a aparência imediata, manifestada empiricamente, de um fenômeno social e a substância ou essência profunda, menos visível, porém mais importante, que está por trás dessa aparência.
264 - Valor = trabalho vivo + trabalho morto + trabalho excedente.
265 - ...O preço de produção, portanto, era capital variável + o constante + taxa de lucro média.
266 - Meio que reduz o "problema da transformação" a isto aqui (não sei se é apenas isso não, que eu lembre): "Marx sabia que c/v variava significativamente entre os vários setores. Contudo, sua teoria exige a igualdade de r e s/v nos vários setores e, em consequência, envolve uma contradição aparente."
267 - Não lembro, mas talvez eu já tenha visto recentemente alguém discordar disto aqui?: Marx acreditava que nas fases iniciais do capitalismo, os preços equivaliam aproximadamente aos valores e que vigoravam diferentes taxas de lucro. Mas com o desenvolvimento do mercado e a integração da economia num todo, também se instala a concorrência e o capital se torna muito mais móvel. (Eu, ao menos, teria algumas objeções)
268 - A solução de Marx segundo Hunt: ...Portanto, depois que as mercadorias são vendidas no mercado aos preços de produção vigentes, o quociente s/v (quando a mais-valia é interpretada como lucro realizado no mercado) é diferente em cada setor. Na produção, a taxa de mais-valia seria igual em todos os setores, mas, chegada a realização, tudo ficaria "embaralhado". As médias é que permaneceriam iguais.
269 - Entra vagamente na questão dos insumos no "problema da transformação". Uma vasta literatura ofereceu numerosas formulações matemáticas que em geral alardeavam estar mais próximas que as demais do espírito de Marx. (Não lembro bem se isso é realmente um problema, se é que entendo a questão).
Propriedade Privada, Capital e Capitalismo
Acumulação Primitiva
Acumulação de Capital
Concentração Econômica
270 - Nada a anotar nos tópicos acima
Tendência Decrescente da Taxa de Lucro
271 - Marx juntou-se, assim, a Smith, Ricardo e Mill e iria ser acompanhado, mais tarde, por Keynes, ao defender a teoria de que a acumulação de capital provocava uma tendência à queda da taxa de lucro (na verdade, essa noção tem sido aceita por mais economistas teóricos do que quase todas as outras).
272 - ...Obs. importante: o lucro total, de modo geral, aumentaria, mesmo quando a taxa de lucro declinasse.
273 - Trata das "contratendências", dentre elas a intensificação do trabalho: ...Ele já tinha discutido a luta em torno da duração da jornada de trabalho, de modo que limitou a discussão dessa influência compensatória aos métodos de aceleração do trabalho dos operários, à administração científica ou ao que, no fim do século XI X e início do século XX, passou a ser chamado de taylorismo. Todas essas formas de aumentar a exploração do trabalho tendiam a aumentar a taxa de lucro “através de um aumento da taxa de mais-valia”.
274 - ...Outras: salários excepcionalmente baixos; barateamento do capital constante; e comércio exterior. Marx: “A expansão do comércio exterior, embora tenha sido a base do modo de produção capitalista em sua infância, transformou-se em seu próprio produto, com o progresso posterior do modo de produção capitalista, por causa da necessidade intrínseca desse modo de produção – sua necessidade de um mercado sempre em expansão.”
Desequilíbrios Setoriais e Crises Econômicas
275 - Salários ao nível de subsistência: Quando estipulou que essa subsistência era determinada cultural e não biologicamente, estava de acordo com Mill. A diferença de Marx para os economistas burgueses é que o alemão não atribuía esse fato a uma "teoria da população". O "trabalhador excedente" era uma necessidade do capitalismo.
276 - O desemprego iria sempre variar e a situação de pleno emprego gerava tendência contrária...: Como cada capitalista aceitava o nível de salários como predeterminado, estando além de seu poder de controle, procurava aproveitar-se ao máximo da situação. A alternativa mais lucrativa parecia ser a de mudar as técnicas de produção, introduzindo novas máquinas poupadoras de mão de obra, para que cada operário passasse a trabalhar com mais capital e a produção por operário pudesse ser aumentada. Essa acumulação de capital poupadora de mão de obra permitiria que o capitalista expandisse a produção com o mesmo número de funcionários ou até com menos. Quando todos ou a maioria dos capitalistas, agindo individualmente, faziam isso, o problema dos altos salários era temporariamente diminuído, pois o exército de reserva era recomposto pelos operários demitidos por causa das novas técnicas de produção. A criação de desemprego tecnológico resolvia o problema temporariamente, mas não sem criar novos problemas e novos dilemas.
277 - Crises e superprodução: A expansão sem sobressaltos e contínua da economia exigia que a troca entre esses dois setores fosse equilibrada, quer dizer, os bens de consumo demandados pelos trabalhadores e capitalistas do setor produtor de bens de capital tinham de estar em equilíbrio com a demanda de bens de capital pelos capitalistas do setor produtor de bens de consumo. Se isso não ocorresse, a oferta não seria igual à demanda em nenhum dos dois setores. (...) Quando ocorria esse desequilíbrio, o primeiro sinal óbvio de depressão poderia aparecer em qualquer dos dois setores.
Alienação e Miséria Crescente do Proletariado
278 - Os sentidos e o intelecto do homem eram desenvolvidos e aperfeiçoados no trabalho. Através de suas relações com o que produzia, o indivíduo obtinha prazer e autorrealização. Em sistemas sociais pré-capitalistas, como o feudalismo, um indivíduo podia, pelo menos em parte, atingir esta autorrealização no trabalho, apesar de uma estrutura de classes exploradora. Dessa separação quanto aos meios de produção, surge a alienação, escrevem.
279 - Marx: "...em seu trabalho, portanto, ele não se afirma, mas se nega, não se sente feliz. (...) O trabalhador, portanto, só se sente ele mesmo fora do trabalho; no trabalho, sente-se estranho. Sente-se à vontade quando não está trabalhando, o que não acontece quando está trabalhando. (...) ele se sente, portanto, apenas como um animal. O que é animal torna-se humano e o que é humano torna-se animal."
280 - Deve-se observar que Marx afirmou que o trabalhador poderia ficar em pior situação, mesmo que seus salários fossem aumentados. (E não era sobre inflação, trazem trechos). É preciso salientar esse ponto, porque muitos autores interpretaram a lei da miséria crescente como significando que o volume de mercadorias que os trabalhadores poderiam consumir diminuiria sempre. Embora Marx tenha feito, realmente, essa afirmação quando jovem, mais tarde mudou de opinião.
281 - Os salários podiam subir, mas a acumulação de capital, para Marx, sempre levaria a alguma repressão do potencial produtivo da classe trabalhadora, à sua alienação.
282 - Sobre Fromm: Marx teria, sem dúvida, aceitado como evidência disso a afirmativa de um psicanalista do século XX, que disse que os administradores das modernas empresas “retiram do trabalhador seu direito de pensar e agir livremente. A vida lhe está sendo negada; a necessidade de controle, criatividade, curiosidade e pensamento independente está sendo frustrada e o resultado disso – o resultado inevitável – é a fuga ou a luta do operário, a apatia ou a destrutividade, a regressão psíquica”.
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