Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico - Capítulo 7

            

Livro: Hunt, E. K. - História do Pensamento Econômico



Pgs. 227-255


"CAPÍTULO 7: "A Economia Política dos Pobres"


A Resistência dos Trabalhadores à Industrialização


181 - O ludismo ganhou ainda mais força com a proibição - durou até 1824 - das associações operárias: Depois da aprovação da Lei da Associação, os trabalhadores não tiveram meios de resistência legal e os estragos às máquinas se generalizaram mais ainda. Era o desespero. 


O Utilitarismo e a Teoria do Valor-trabalho, de Thompson


182 - Pareceu, até aqui, simplesmente um Bentham mais radical. Quanto ao valor-trabalho, coloca: "A terra, o ar, o calor, a luz, a eletricidade, os homens, os cavalos, a água, como tal, também não podem ser chamados de riqueza. Podem ser objetos de desejo, de felicidade; mas, enquanto não são tocados pela mão transformadora do trabalho, não constituem riqueza".


A Argumentação de Thompson em Defesa de um Socialismo Igualitário de Mercado


183 - Para resumir, W. Thompson, não sendo contra as trocas voluntárias, as quais aumentavam a felicidade, era uma espécie de utilitarista de "esquerda": Thompson conseguiu argumentar contrariamente a essa defesa utilitarista e conservadora do capitalismo porque negou a afirmativa de que os trabalhadores vendem livremente sua capacidade de trabalho no capitalismo. Asseverou que, quando os trabalhadores não possuem as ferramentas e o material para a produção, não são livres. A venda de sua força de trabalho não era uma troca livre; era uma troca por coação. A ameaça de morrer de fome era tão coercitiva quanto a ameaça de morte por meios violentos


184 - Ao que entendi, levantou-se inclusive contra o direito à herança.


A Crítica de Thompson ao Socialismo de Mercado


185 - Cita alguns malefícios do "socialismo de mercado" que defende: ...Nunca seria do interesse dos médicos praticar a medicina social, preventiva. Muitas outras profissões poderiam conseguir benefícios parecidos se conseguissem criar ou induzir a uma grande necessidade de seus produtos ou serviços, mesmo nos casos em que a sociedade se beneficiasse quando tais produtos ou serviços não fossem necessários. Coloca que os vícios e crimes do individualismo do seu sistema demorariam a ceder ao interesse social/coletivo, digamos.


186 - Também colocava que esse sistema dificultava a emancipação da mulher.


187 - Lamenta também um terceiro mal: a instabilidade não desapareceria. Com segurança igual, todos os homens que possuíssem os meios físicos e mentais necessários para tornar produtivo seu trabalho e todo o trabalhador sendo também um capitalista, a grande massa desse mal sem dúvida desapareceria. Embora exista concorrência individual, todo homem terá que julgar, por si mesmo, a probabilidade de sucesso em sua ocupação. 


188 - Temia também pelo desamparo das pessoas com deficiência e idosos.


189 - O quinto mal da concorrência de mercado era que ela retardava o avanço e a disseminação do conhecimento, tornando a aquisição de conhecimentos subsidiária da ambição e do ganho pessoal.


190 - Por isso tudo, acabou por propor, como passo de avanço seguinte, uma sociedade planejada, utilizando o poder das cooperativas. 


191 - ...Nessas comunidades, as pessoas poderiam, livremente, adquirir os objetos necessários em uma loja comum a todos. As crianças seriam educadas na comunidade e dormiriam em dormitórios comuns a todos, enquanto os adultos viveriam em pequenos apartamentos. A cozinha seria comum a todos. N ão haveria divisão do trabalho com base no sexo. (...) Por fim, toda riqueza seria controlada pela comunidade e dividida para que não pudessem surgir distinções individuais baseadas na distribuição da riqueza material.


192 - De certa forma, era um socialista utópico. Tinha horror à violência, por exemplo. 


Uma Crítica ao Utilitarismo, de Thompson


193 - A base da crítica que os autores fazem: Como os prazeres individuais são os critérios morais últimos do utilitarismo, não há como fazer julgamentos morais quanto aos prazeres de dois indivíduos. Torna-se difícil comparar. Dizem que o próprio Thompson tem trechos nesse sentido. (Citam).


194 - O utilitarismo, portanto, serviria mais para escamotear as questões de classe.


Thomas Hodgskin e a Origem do Lucro


195 - Meek: Thomas Hodgskin era um nome que assustava crianças, após a revogação da Lei da Associação, em 1824. Portanto, talvez tenha sido inevitável que muitos economistas mais conservadores tivessem passado a considerar a teoria do valor, de Ricardo, não só logicamente incorreta, como também socialmente perigosa.


196 - Dizia Hodgskin: “O proprietário de terras e o capitalismo nada produzem. O capital é o produto do trabalho, e o lucro nada mais é do que parte desse produto, tomada impiedosamente, de modo que o trabalhador só possa consumir parte do que ele mesmo produziu.” Era tudo "roubo legalizado". 


197 - Falava em "extorsão de uma classe" e abolição dos governos e legisladores.


A Teoria do Valor, de Hodgskin


198 - Hodgskin: "O trabalho foi, continua sendo e sempre será o meio original de lidar com a natureza. Existe uma outra descrição de preço, que chamarei de social; é o preço natural inflado por regulamentação social". 


199 - ...A “regulamentação social” – através da qual o preço natural era “inflado” para formar o preço social – era constituída pelas leis que permitiam que os proprietários de terras e os capitalistas auferissem renda sem trabalhar.


200 - ...Por conseguinte, diferente de Ricardo, Hodgskin não achava que, na sociedade capitalista contemporânea, o trabalho incorporado à produção de mercadorias determinasse seu valor. Afirmava, isso sim – seguindo Adam Smith –, que os preços eram determinados pela soma dos salários, da renda e dos lucros. Diversamente de S mith e de quase todos os seus discípulos mais conservadores, porém, Hodgskin sustentava que as leis da propriedade privada – através das quais eram extraídos a renda e os lucros – não eram naturais e que, por isso, eram intrinsecamente injustas.


O Conceito de Capital, de Hodgskin


201 - O capital é um fundo de subsistência enquanto não se terminam trabalhos de longo prazo? Na verdade, não é bem assim. Todo trabalho na nossa sociedade tem um pouco disso: "Todas as classes de homens se desincumbem de seu trabalho diário confiando plenamente que, enquanto se dedicam à sua ocupação específica, outros estarão preparando o que quer que ele precise, para seu consumo e uso imediato e para o futuro.


202 - ...Argumentou, em primeiro lugar, “que todos os instrumentos e máquinas são produto do trabalho”; em segundo lugar, eles são inúteis sem a aplicação de trabalho, quer dizer, por si mesmos, nada podem produzir; em terceiro lugar, exigem a aplicação regular de trabalho para sua manutenção; e, em quarto lugar, quase todo o capital fixo não representa uma acumulação nas mãos dos capitalistas, mas está sendo sempre gasto e reproduzido pelo trabalho coexistente.


203 - ...Nas economias da Europa Ocidental da década de 1820, Hodgskin achava que chamar esses aspectos universais do processo produtivo de “capital” tendia a obscurecer a característica mais essencial do capital, tal como ele existia e funcionava realmente.


O Utilitarismo, Segundo Hodgskin


204 - "Plot Twist": Apesar de Hodgskin acreditar que o capital era essencialmente uma relação social que envolvia o poder coercitivo de uma classe de expropriar a produção de outra, ele não era socialista. (...) Era a propriedade do capital pelos que não o tinham produzido que Hodgskin reputava contra a natureza e que julgava ser a causa da maioria dos males sociais. Qualquer lei que permitisse que alguém – em função de uma propriedade ociosa – participasse daquilo que não tivesse produzido era contra a natureza.


205 - O problema era a "acumulação primitiva", digamos. Tudo fruto de pilhagem. 


206 - Nessa sociedade ideal, toda a produção seria voltada para a troca no mercado. A defesa de Hodgskin da vantagem de um mercado livre era idêntica à de Thompson. (...) Assim, sua sociedade ideal era quase idêntica ao sistema de “segurança com concorrência individual”, de Thompson, quer dizer, era o capitalismo concorrencial sem os capitalistas. Thompson, porém, criticava Hodgskin: É claro que seu objetivo era demonstrar que o individualismo concorrencial, em uma economia de mercado, mesmo quando não houvesse capitalistas expropriando a produção dos trabalhadores, era social e moralmente inferior a um sistema de socialismo cooperativista.


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