Livro: Hunt, E. K. - Historia do Pensamento Econômico - Capítulo 3
Livro: Hunt, E. K. - Historia do Pensamento Econômico
Pgs. 78-109
"CAPÍTULO 3: "Adam Smith"
O Contexto Histórico das Ideias de Smith
82 - Entre 1700 e 1770, os mercados externos para os produtos ingleses cresceram muito mais rapidamente do que os mercados internos ingleses. Entre 1700 e 1750, a produção das indústrias internas aumentou 7%, ao passo que a das indústrias de exportação aumentou 76%. Para o período de 1750 a 1770, os respectivos aumentos foram de 7% e 80%. Esse rápido crescimento da procura externa por produtos industrializados ingleses desencadeou a Revolução Industrial, que acabou determinando uma das transformações mais fundamentais da vida humana na História. ...Assim, a busca do lucro, estimulada pela crescente procura externa, foi o motivo da virtual explosão de inovações tecnológicas ocorridas em fins do século XVI I I e no início do século XIX. Apresenta dados mostrando enorme crescimento do número de patentes a cada período.
83 - Cita invenções nas indústrias têxteis e metalúrgicas. De toda forma... Não há dúvida de que a mais importante dessas inovações foi o desenvolvimento do motor a vapor. Já até existia máquina do tipo, mas nada comparável a de James Watt em 1769. Libertou a indústria das limitações geográficas para a obtenção de energia. A água etc. As fábricas puderam "descer os vales" e ir para mais perto dos mercados e da mão-de-obra. Surgem as cidades industriais. Por exemplo, a população de Manchester passou de 17.000 habitantes, em 1760, para 237 mil, em 1831, e para 400 mil, em 1851.
84 - Diz que, em 1831, 40% ou mais da mão-de-obra inglesa estava na indústria e mineração.
85 - Como Riqueza das nações é de 1776, colocam: “Smith, analisando a organização econômica da indústria de sua época, conseguiu, claramente, observar mais ou menos como norma o que muitos historiadores econômicos de hoje, com uma visão retrospectiva da mesma época, só conseguiram observar como exceção”.
86 - Smith observou os progressos que a divisão do trabalho trazia nas manufaturas: ...Nesse contexto, Smith foi o primeiro economista importante a fazer a clara distinção entre os lucros que se destinavam ao capital industrial, salários, aluguéis e os lucros do capital comercial.
As Teorias de História e Sociologia, de Smith
87 - Alguns aspectos "de Smith" são bem próximos da teoria marxista que viria: Em cada estágio, o entendimento dos métodos de produção e distribuição das necessidades econômicas de uma sociedade era a chave para a compreensão de suas instituições sociais e governos. A relação entre a base econômica e a superestrutura social e política não era, porém, tão rigidamente determinista. Havia geografia e cultura também, por exemplo.
88 - Smith colocava que inexistia base material para poder e privilégio - diferenciação de classe - nas sociedades de caça, o estado mais "primário".
89 - O estágio imediatamente mais elevado era o do pastoreio, “um estado mais avançado da sociedade, tal como encontramos entre os tártaros e os árabes”. Nesse estágio, a economia permitia maiores agrupamentos sociais. A produção baseava-se na domesticação de animais e a criação exigia uma existência nômade. Nesse tipo de sociedade, encontramos, pela primeira vez, uma forma de riqueza que pode ser acumulada – o gado. A propriedade do gado tornou-se, então, a primeira forma de relação de propriedade e com ela surgiu a necessidade de criar uma proteção institucionalizada do privilégio e do poder. No caso, o governo civil. Quanto mais propriedade, mais governo/Estado é necessário. ainda Smith: “O governo civil, instituído com a finalidade de oferecer segurança à propriedade, é, na realidade, instituído para defender o rico do pobre ou os que têm alguma propriedade dos que não têm propriedade alguma”.
90 - Na fase da agricultura: A lei da primogenitura impedia as grandes propriedades rurais de serem divididas, protegendo, assim, o poder da classe dirigente. (...) "Naquela época desordenada, todo proprietário de terras era uma espécie de “pequeno príncipe”. Seus arrendatários eram seus súditos. Ele era o juiz e, de certa forma, o legislador durante a paz e o líder durante a guerra". Terá inúmeros agregados e dependentes, até por não ter muito, nos primeiros períodos, a quem vender o excedente. Distribuirá internamente conforme favores e lealdades. Assim, era um sistema com muito poucos direitos e muito pouca liberdade para a grande maioria do povo.
91 - Quando surgem cidades dependentes do comércio exterior é que se passa ao estágio "mais avançado", que seria o comercial. Os senhores medievais permitiram o crescimento de cidades independente, por causa dos aluguéis e de outros benefícios que delas poderiam obter. N as cidades, surgiu um novo ambiente político no qual os produtores gozavam de mais liberdade do que tiveram em qualquer estágio anterior de desenvolvimento social.
92 - Smith colocava que a "natureza" levava os homens a pensar que a felicidade vinha do progresso material, o que fazia a coisa andar. Assim, diz que essa "ilusão" acaba sendo boa em certo sentido.
93 - Os cercamentos, segundo Smith, têm razão de ser no contexto de correção das ineficiências do sistema anterior (feudal). O capitalismo acaba por ser "gerado", aos poucos, de forma não-intencional, pelo autointeresse: A vontade de comprar mais produtos levou os senhores a aumentar a eficiência, mandando embora os colonos desnecessários e diminuindo o número de trabalhadores da terra “ao número necessário para cultivá-la, de acordo com o estado imperfeito de cultivo e os progressos daquela época”. (...) Enquanto os proprietários de terras lutavam para aumentar a eficiência econômica, motivos puramente egoístas os levaram a abolir as condições de servidão e escravidão e a permitir que esses antigos servos e escravos gozassem de certos direitos de propriedade e segurança. (...) A maior eficiência da agricultura orientada para o comércio estabeleceu a base econômica para a expansão das cidades e para um crescimento contínuo da manufatura lucrativa
94 - Smith não tinha dúvidas quanto ao fato de que, das três classes sociais, o trabalho é o único criador de valor ou riquezas: “O produto anual da terra e do trabalho de qualquer nação não pode ser aumentado por qualquer outro meio, que não seja o aumento do número de trabalhadores produtivos ou da força produtiva dos trabalhadores já empregados (...) Logo que o capital se acumula nas mãos de certas pessoas, algumas delas o empregam, naturalmente, dando trabalho a pessoas capazes… a fim de ter lucro com a venda do trabalho delas ou com o que o trabalho delas adiciona ao valor da matérias-primas… O valor adicionado às matérias-primas pelos trabalhadores, portanto, se transforma no lucro do empregador”.
95 - O quanto pertencia a cada um? Luta de classes, sendo a capitalista a mais poderosa. Citam os famosos trechos em que Smith constata isso. O trecho a seguir, citado em toda a sua extensão, mostra que Smith identificava três fontes do poder dos capitalistas para dominar os trabalhadores. Sua maior riqueza permitia que eles aguentassem muito mais tempo nas disputas trabalhistas; eles podiam manipular e controlar a opinião pública e tinham a vantagem inestimável de contar com o apoio do governo.
A Teoria do Valor, de Smith
96 - "Não foi com o ouro nem com a prata, mas com o trabalho, que toda a riqueza do mundo foi inicialmente comprada".
97 - Smith e "quantidade de trabalho" quando chega o capitalismo: A quantidade de trabalho comumente empregada na compra ou na produção de qualquer mercadoria deixa de ser a única circunstância que pode regular a quantidade que deve ser necessária para, normalmente, comprar, ter ou trocar a mercadoria. É evidente que é preciso uma quantidade adicional para o lucro do capital… (O trabalhador) tem que desistir de uma parcela do que o seu trabalho produz ou colhe para entregá-la ao proprietário da terra. Esta parcela ou, o que vem a dar no mesmo, o preço desta parcela constitui o aluguel da terra, tornando-se uma terceira parte componente do preço da maior parte das mercadorias
98 - Inclusive pelas condições de sua época, Smith foi incapaz de perceber que o lucro do capital não vinha de trabalho, mas da exploração do trabalho alheio: Os lucros do capital poderiam ser considerados apenas uma denominação diferente para os salários de determinado tipo de trabalho – o trabalho de inspeção e direção.
99 - Smith e o "preço natural": O preço natural era o preço ao qual a receita da venda fosse apenas suficiente para dar – ao proprietário de terras, ao capitalista e aos trabalhadores – aluguéis, lucros e salários equivalentes aos níveis habituais ou médios de aluguéis, lucros e salários, em termos sociais. A oferta e a demanda faziam o preço de mercado sair desse ponto de gravitação, mas era temporário. O "superlucro", digamos, atrairia mais ofertantes para restabelecer o preço natural. O contrário seguiria a mesma lógica. Enfim, é parecido com a coisa do "preço de produção" de Marx. Assim, o preço natural era um preço de equilíbrio determinado pelos custos de produção, mas estabelecido no mercado pelas forças de oferta e da demanda; as flutuações do preço de mercado tenderiam a ficar em torno do preço natural.
100 - Colocam que Smith nunca conseguiu explicar bem como eram formados os salários, lucros e aluguéis: ...a teoria dos preços de Smith tem de ser vista como tendo apresentado um elemento de circularidade (explicação de preços em termos de outros preços), do qual ele nunca conseguiu se livrar. (...) Smith rejeitou explicitamente tanto a teoria do valor-utilidade quanto a teoria do valor-trabalho da determinação do preço, tendo ficado com uma teoria em que um elemento de circularidade não foi eliminado.
101 - Smith rejeitava o valor-de-uso como elemento explicativo do valor. Ao falar explicitamente em "valor-de-uso" e "valor-de-troca" usou o famoso exemplo da água e do diamante.
102 - Smith errava ao vincular o valor do trigo (o básico do básico da subsistência do trabalhador) como aumento ou diminuição proporcional de todas as outras mercadorias, sem sequer ponderar, ao que entendi, se essas eram ou não "intensivas em trigo". Tornou-se importante não confundir o "preço" da moeda corrente - como prata ou qualquer outra coisa - com o produto real: ...Smith, os outros economistas clássicos e Marx estavam, todos eles, interessados em formular uma teoria do valor na qual não só pudessem explicar os preços relativos, como também calcular o valor total do produto, de maneira a não refletir a ambiguidade de uma medida arbitrariamente escolhida. Se a composição do produto estivesse mudando e as razões de troca relativas e o valor da medida também estivessem variando, o valor do produto total poderia aumentar ou diminuir, dependendo da medida escolhida. Buscava-se uma uma “medida invariável de valor” e, por isso, Ricardo vai criticar, depois, Smith.
103 - ...Mas também não era bem assim: Embora a incapacidade de Smith em mostrar como uma teoria do valor-trabalho poderia explicar os preços em uma economia capitalista fosse um sinal de que ele não atribuía a mesma importância que Ricardo e Marx atribuíam à descoberta de uma medida invariável de valor, ele realmente tentou encontrar a melhor medida possível de valor. Começou rejeitando o ouro e a prata, porque as condições em que eram produzidos variavam e, portanto, seriam medidas variáveis. Insistiu em dizer que “uma mercadoria que está sempre variando de valor nunca pode ser uma medida exata do valor de outras mercadorias”. A melhor medida do valor, em sua opinião, era a quantidade de trabalho que qualquer mercadoria poderia oferecer em uma troca.
104 - Trazem citações com ambiguidades e contradições - as quais não preciso reproduzir aqui - de Smith, já que a utilização do " trabalho incorporado na mercadoria" também tinha seus defeitos: Ele disse, explicitamente, que, quando os capitalistas monopolizavam a propriedade dos meios de produção e os proprietários de terras monopolizavam a propriedade da terra, as quantidades de trabalho incorporadas à produção de diferentes mercadorias não mais regulavam o valor dessas mercadorias; no entanto, em grande parte de suas discussões, escreveu como se a teoria do valor-trabalho ainda bastasse para explicar os preços.
A Teoria do Bem-estar Econômico, de Smith
105 - Além do aumento do produto como requisito para bem-estar e felicidade, havia outro fator (curiosamente enfatizado muito pelos neoclássicos depois): Outro critério de bem-estar não explicitamente definido por Smith, porém importante em muitas de suas discussões, era o de que o bem-estar poderia ser aumentado à medida que a composição do produto a ser consumido correspondesse mais às necessidades e aos desejos dos que comprassem e usassem o produto.
106 - Polemizando com os autores fisiocratas e mercantilistas da sua época, o autor escocês vaticinou: o capitalismo laissez-faire ou, conforme Smith o chamava, “o sistema óbvio e simples de liberdade natural”, é afirmado como o melhor sistema econômico possível.
107 - Traz algumas ideias de Adam Smith que nem anoto, pois me parecem datadas demais.
108 - Sobre as funções de um governo, queria que tudo ficasse restrito a administrar forças armadas e justiça. Não se meter em regulamentações ou subsídios.
Conflito de Classes e Harmonia Social
109 - As obras de Smith, porém, impressionam o leitor por serem extremamente ambíguas, quando não contraditórias, quanto à questão do conflito de classes versus harmonia social, no capitalismo.
110 - Smith também já sabia - traz citações - que os empresários usavam de todos os meios disponíveis para evitar a concorrência e garantir monopólios.
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