Livro: Hunt, E. K. - Historia do Pensamento Econômico - Capítulo 2
Livro: Hunt, E. K. - Historia do Pensamento Econômico
Pgs. 55-77
"CAPÍTULO 2: "Ideias Econômicas Anteriores a Adam Smith"
51 - Nesse período, o capital industrial ainda era bastante insignificante e pouco visível, enquanto o capital comercial era difundido e significativo.
Primeiros Escritos Mercantilistas sobre Valor e Lucro
52 - Colocam que este capítulo se baseia bastante num livro de Meek.
53 - Barbon trazia um resumo do tópico "mercantilismo e valor" para os primeiros mercantilistas: a) preço é o valor; b) não teria como saber o valor "ex ante": É impossível, para o mercador, ao comprar suas mercadorias, saber por quanto as venderá: seu valor depende da diferença entre a ocasião e a quantidade. (...) o preço depende de tantas circunstâncias, que é impossível sabê-lo; c) o valor tem a ver com o uso e a escassez.
54 - Já se fazia claras relações baseadas na lei da oferta e demanda.
55 - Na verdade, Hunt colocará que o lucro, na época, vinha de duas razões principais: Primeiro, a inflação dos séculos XVI e XVII (discutida no capítulo anterior) tinha criado uma situação na qual houve, de modo geral, um aumento substancial do valor dos estoques existentes. Entre a data em que os mercadores compravam as mercadorias e a data em que as vendiam, o aumento do preço dessas mercadorias resultava em lucros extraordinários. Em segundo lugar, o que era mais importante, as diferentes condições de produção em várias regiões de um país ou em várias partes do mundo, juntamente com o fato de que havia muito pouca mobilidade de recursos, tecnologia e mão de obra entre essas regiões, faziam com que os preços relativos de mercadorias fossem muito diferentes, nas várias regiões ou países. Os mercadores compravam uma mercadoria em uma região ou em um país em que ela fosse relativamente barata e a vendiam em uma região ou em um país onde ela fosse relativamente cara.
56 - Os mercadores preferiam outra ótica: "...era muito natural que eles vissem as diferenças de preços de mercado como resultado de diferenças de disposição ou de vontade de comprar determinadas mercadorias."
57 - Para o lucro se manter alto, a concorrência tem que ser coibida. Do contrário, o lucro vira isca. A concorrência entre os mercadores levava, inevitavelmente, a uma redução das diferenças de preços relativos e, daí, a uma redução de seus lucros. (...) Assim, as grandes companhias de comércio iam muito longe para evitar concorrentes e manter seus privilégios monopolistas.
58 - Os cercamentos ingleses (vistos no capítulo anterior deste livro) causavam desemprego a ser contornado por outras soluções. De fato, parece que o desejo de alcançar o pleno emprego é o tema unificador de quase todas as medidas de política advogadas pelos autores mercantilistas. Os mercantilistas preferiam medidas destinadas a estimular o comércio exterior, em lugar do comércio interno, “porque achavam que ele contribuía mais para o emprego, a riqueza e o poder da nação. Os autores passaram a ressaltar, depois de 1600, o efeito inflacionário de um excesso de exportações sobre as importações e o consequente aumento de empregos provocados pela inflação”.
59 - Entre outras medidas tomadas para estimular a indústria naquele período, podemos citar a concessão de patentes de monopólio. A primeira patente importante foi concedida em 1561, no reinado de Elizabeth I. Davam-se direitos de monopólio para estimular as invenções e para criar novas indústrias. Esses direitos eram alvo de grandes abusos, conforme era de se esperar.
60 - Estatuto dos Artífices (1563): havia leis de "salários máximos", a fim de proteger os capitalistas dos trabalhadores, enquanto a inflação fazia seu serviço.
61 - A famosa Lei dos Pobres: A primeira dessas leis procurou fazer uma distinção entre pobres “com merecimento” e “sem merecimento”; só os primeiros tinham permissão de mendigar.
62 - Em 1576, foram autorizadas a funcionar “casas de correção” para os “vadios incorrigíveis”. (...) podemos concluir que o período do mercantilismo inglês se caracterizou pela aceitação, segundo o espírito da ética cristã paternalista, da ideia de que “o Estado tinha a obrigação de servir à sociedade, aceitando e satisfazendo a responsabilidade pelo bem-estar geral”. (...) Reconheciam que as vítimas das deficiências do sistema econômico deveriam ser alvo dos cuidados daqueles que dele se beneficiavam.
Escritos Mercantilistas Posteriores e a Filosofia do Individualismo
63 - Coloca que a concorrência interna (empreendimentos de um mesmo país) foram reduzindo os lucros extraordinários do comércio. Os métodos de produção iam se padronizando também. É a época do "sistemna doméstico de trabalho", já visto no capítulo anterior.
64 - Repetem algo do capítulo anterior: Já no século XVI, as guildas passaram a ser sistemas relativamente fechados, destinados a proteger o status e a renda dos mestres de corporação, restringindo o número de aprendizes e de artífices que poderiam se tornar mestres. Com o tempo, em muitas corporações, os mestres foram se transformando, cada vez mais, nos organizadores e controladores do processo produtivo, deixando de ser meros trabalhadores que operavam ao lado dos aprendizes e dos artífices. Os mestres passaram a ser empregadores ou capitalistas, e os artífices passaram a ser simples trabalhadores contratados, com pouca ou nenhuma perspectiva de se tornarem mestres. Tudo isso leva a novas "ideologias/filosofias econômicas", digamos assim, que se levantam contra o paternalismo estatal.
65 - ...Muitos filósofos e teóricos sociais começaram a afirmar que todo ato humano estava relacionado com a autopreservação e que, por isso, era egoísta, no sentido mais puro do termo. O nobre inglês Robert Filmer ficou muitíssimo espantado com o grande número de pessoas que falava de “liberdade natural da humanidade, uma opinião nova, plausível e perigosa”, com implicações anarquistas.
66 - ...Colocam que Leviatã (1651), de Hobbes, já era muito nesse sentido de que tudo, no fundo, até mesmo a compaixão, é autinteresse disfarçado. Muito antes de Smith, veja-se.
67 - As regulamentações estatais atrapalhavam assim a busca desinibida pelo lucro.
68 - A maioria dos autores mercantilistas era formada de capitalistas ou empregados privilegiados de capitalistas. Por isso, era muito natural que percebessem os motivos dos capitalistas como universais. (...) Contra a visão bem ordenada e paternalista que a Europa tinha herdado da sociedade feudal, eles sustentavam “a ideia de que o ser humano deveria ser independente, dirigir-se a si mesmo, ser autônomo, livre – deveria ser um indivíduo, uma unidade distinta de massa social, e não ficar perdido nela”
O Protestantismo e a Ética Individualista
69 - O protestantismo não só os libertou da condenação religiosa, como também acabou transformando em virtudes os motivos pessoais, egoístas e aquisitivos que a Igreja medieval tanto desprezara. Apesar disso, no nascedouro da coisa não era bem assim. Colocam que Lutero e outros eram profundamente conservadores - condenando violentamente as revoltas camponesas, por exemplo - e até estavam próximos da Igreja na defesa do "preço justo" e contra a "usura".
70 - Igreja na Idade Média: Esses poderes também criaram uma situação em que as doutrinas medievais da Igreja Católica não eram abandonadas com facilidade, e o indivíduo ainda estava subordinado à sociedade (representada pela Igreja). Já para os protestantes, a fé era mais importante que atos de bondade. O homem é que era o juiz de si próprio. Da sua real "bondade de coração". Essa confiança individualista na consciência particular de cada um atraía muitíssimo os artesãos da nova classe média e os pequenos comerciantes.
71 - HILL Christopher. “Protestantism and the Rise of Capitalism”. assim colocou a questão: "Quando o empresário de Genebra, Amsterdã ou Londres, dos séculos XVI e XVII, olhava para o íntimo de seu coração, verificava que Deus lhe tinha incutido um profundo respeito pelo princípio da propriedade privada… Estes homens achavam sincera e decididamente que suas práticas econômicas, embora pudessem entrar em conflito com a lei tradicional da antiga Igreja, não ofendiam a Deus. Pelo contrário, glorificavam-no."
72 - Baseiam-se bastante em Fullerton e Weber neste capítulo. Descobriu-se que “Deus tinha criado o mercado e a troca”. ...Todavia, não levou muito tempo até que os protestantes expusessem um dogma que esperavam viesse a ser aceito por todos. (...) Assim, a ética protestante ressaltava a importância do ascetismo e da frugalidade abstêmia. O trabalho duro era a salvação e resultava na acumulação de capital.
73 - Resumo da história toda: Assim, embora nem Calvino nem Lutero tenham sido porta-vozes da nova classe média capitalista, no contexto do novo individualismo religioso, os capitalistas encontraram uma religião na qual, com o tempo, “os lucros… passaram a ser considerados uma vontade de Deus, uma marca de Seus favores e uma prova de sucesso em se ter sido chamado”.
As Políticas Econômicas do Individualismo
74 - Mesmo os mercantilistas não eram contra o livre-comércio "interno", ou seja, já eram, contra os paternalismos e seus consequentes monopólios: Esta crença – de que as restrições à produção e ao comércio dentro de uma nação eram prejudiciais aos interesses de todos – difundiu-se cada vez mais, em fins do século XVI I e no começo do século XVI I I .
75 - Desses, talvez Dudley North (1641-1691) tenha sido o primeiro porta-voz claro da ética individualista que se transformaria na base do liberalismo clássico. North achava que todos os homens eram motivados primordialmente pelo interesse próprio e que deveriam ter liberdade para competir por si sós num mercado livre, para que o bem-estar público fosse maximizado. A "fábula das abelhas" de Mandeville viria logo em seguida.
Os Primórdios da Teoria Clássica de Preços e Lucros
76 - O próprio Mandeville, citado anteriormente, é um dos antecedentes dessa teoria clássica. "...E o comércio, em geral, nada mais é do que a troca de trabalho por trabalho e, por isso, o valor de todas as coisas é… medido mais corretamente pelo trabalho."
77 - O precursor mais evidente da teoria do valor-trabalho dos economistas clássicos foi o autor anônimo de um folheto publicado em 1738, intitulado Algumas Ideias sobre os Juros do Dinheiro em Geral, que concluiu que "o valor das … (mercadorias), quando são trocadas umas pelas outras, é regulado pela quantidade de trabalho necessária e comumente usada em sua produção; e seu valor ou preço, quando são compradas e vendidas e comparadas com um meio comum, será determinado pela quantidade de trabalho empregada e pela maior ou menor quantidade do meio ou da medida comum."
78 - "A fonte da riqueza é o número de habitantes;… quanto mais populoso for um país, mais rico ele é ou poderá ser… Isto porque a terra é gratuita e remunera seu trabalho não apenas com o suficiente, mas com abundância… Ora, tudo o que sobra sem ser consumido é excedente que constitui a riqueza da nação."
Os Fisiocratas como Reformadores Sociais
79 - França pré-revolucionária: A tributação era desordenada, ineficiente, opressiva e injusta. A agricultura ainda usava a tecnologia feudal, feita em pequena escala, ineficiente, e continuava sendo uma fonte de poder feudal que inibia o avanço do capitalismo. O governo era responsável por um emaranhado extraordinariamente complexo de tarifas, restrições, subsídios e privilégios nas áreas da indústria e do comércio. Os fisiocratas queriam mudar todos esses aspectos. Sobre impostos, defendiam o imposto único (e agrícola). Eram propostas meio inúteis sem uma revolução, pois prejudicariam a nobreza. Portanto, a influência dos fisiocratas foi basicamente intelectual e não política.
As Ideias Econômicas de Quesnay
80 - Havia, portanto, três classes: a classe produtiva (capitalistas e trabalhadores dedicados à produção agrícola), a classe estéril (capitalistas e trabalhadores ligados à indústria) e a classe ociosa (os donos de terras, que consumiam o excedente produzido pela classe produtiva). Só a agricultura gerava excedentes.
81 - Interdependência dos setores: Os fisiocratas se anteciparam a T. R. Malthus, Karl Marx, J. M. Keynes e muitos outros economistas posteriores, que mostraram como o entesouramento da moeda ou a criação de pontos de estrangulamento ou desequilíbrios no processo de circulação monetária poderia atrapalhar a alocação de insumos e de produtos, provocando crises ou depressões econômicas.
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