"Livro": O Minhocário - De Volta ao Debate Sobre o Planejamento Socialista II - "PARTE B" - 5 a 9
"Livro": O Minhocário - De Volta ao Debate Sobre o Planejamento Socialista II – Preços, Informação, Comunicação e Eficiência
Pgs. 36-46:
"CAPÍTULO 5: "A coordenação econômica é tratável [computacionalmente]?"
25 - Sobre a questão do equilíbrio, volta a atacar o chamado "equilíbrio mecânico" neoclássico. Um conceito alternativo e mais moderno de equilíbrio é o do Equilíbrio Estatístico, como descrito por Farjoun e Machover (1983). Ele envolve a existência de distribuições estatísticas estáveis: por exemplo, uma dispersão estável de preços de mercado em torno dos valores-trabalho. O equilíbrio mecânico estatístico não é um ponto no espaço de estados, mas uma região definida por certas variáveis macroscópicas, de modo que há um grande conjunto de condições microscópicas que são compatíveis com ele.
26 - Bota um debate sobre Arrow-Debreu e "matemática não-construtiva". Sinceramente, não faço ideia do que está falando. Idem para o papo sobre ciência da computação que vem logo a seguir.
27 - O "outro equilíbrio" já seria, porém, possível tanto no mercado quanto no socialismo, coloca.
28 - Dá um exemplo de planejamento econômico utilizando produção de milho, ferro, carvão e pão. Utiliza certa tentativa e erro para equilibrar as proporções necessárias, digamos assim. Após definir a demanda de insumo que cada produto gera e a demanda final dos consumidores...: As respostas diferem a cada etapa, mas as diferenças entre as sucessivas respostas são cada vez menores. Eventualmente, após 20 tentativas neste exemplo, os planejadores obtêm um resultado consistente: se a população pretende consumir 20.000 toneladas de carvão e 1.000 toneladas de pão, então a produção bruta de ferro deve ser de 3.708 toneladas, a de carvão deve ser 34.896 toneladas e a de milho, 1.667 toneladas. (...) É possível escalar esse processo até o número de bens produzidos em uma economia real? (...) Embora os cálculos seriam incrivelmente tediosos para se fazer à mão, eles seriam facilmente automatizáveis.
29 - Coloca três passos: 1) Quantos tipos de bens uma economia produz. 2) Quantos tipos de insumos são usados para se produzir cada produto. 3) Quão rápido seria um programa de computador executando o algoritmo para a escala de dados fornecidos em (1) e (2).
30 - O resumo da história é que um PC atual calcula fácil a economia de um país, digamos, caso se leve em conta apenas esse esquema aí.
31 - Enfim, os autores parecem enxergar um potencial de agilidade maior no socialismo que no sistema de mercado. Afirmam que o modelo da operação do planejamento democrático socialista se aproximaria daquele observado em sistemas atuais como o controle de tráfego aéreo, ou a operação diária do setor de TI no ambiente de produção dos processos eletrônicos de uma empresa capitalista, com o acompanhamento constante dos mais diversos indicadores sobre a produção e sobre o consumo dos bens.
Pgs. 46-56:
"CAPÍTULO 6: "Preços como um Sistema de Telecomunicações"
32 - Anarquia de mercado não é um caos: As flutuações dos preços em relação aos seus valores funcionam para regular a alocação de mão-de-obra entre os ramos de produção.
33 - De volta a Hayek, o estanho e a informação: "...está claro que Hayek exagera enormemente o seu argumento. Para que alguém possa tomar decisões racionais em relação às mudanças no uso do estanho, é preciso saber se o aumento no preço tende a ser permanente ou se seria uma questão passageira – e isso exige que se saiba por que o preço subiu. O sinal do preço atual por si só nunca é o bastante."
34 - Ademais, preço como informação não garante lucro: o uso dos preços correntes nesse cálculo seria legítimo apenas em um contexto: ou os preços seriam imutáveis ou a produção e a venda levariam tempo zero. (...) Se a produção da mercadoria x de fato será lucrativa – ou não -, isso depende não só dos preços atuais, mas também dos preços futuros. (Ok, mas preços também tentam incorporar expectativas, especialmente nos mercados mais dinâmicos)
35 - Ainda sobre os preços: Por causa disso, eles realmente podem funcionar como um regulador da produção – as divergências dos preços acima ou abaixo dos seus valores [no equilíbrio de longo-prazo] podem servir para atrair ou para repelir recursos de mão-de-obra para dentro ou para fora dos vários ramos da produção.
36 - Preço sem o controle de quantidades nada diz. A princípio, não é possível afirmar que o sistema de preços ou o sistema de quantidades é mais significativo na regulação da economia.
37 - ...Coloca que essa questão inclusive varia de empresa pra empresa (ou setor, provavelmente): Diante de tal modelo, seria possível variar as regras usadas pelas empresas para responder aos pedidos entre variantes nas quais as empresas respondessem principalmente aos sinais de quantidade e outras em que as empresas respondessem principalmente aos sinais de preço. Investigações iniciais de um dos autores do livro parecem indicar que as empresas que se apoiam mais na sinalização dos preços podem estar sujeitas a instabilidades catastróficas.
38 - Os desvios dos preços relativos à partir dos valores relativos podem, portanto, permitir que a mão-de-obra se mova de onde ela é menos socialmente necessária para onde ela é mais socialmente necessária. Mas isso só é possível porque toda atividade econômica se reduz, no fim das contas, a atividades humanas.
39 - Considere o método que oferecemos em Cottrell e Cockshott (1993) para calcular os valores de mão-de-obra das mercadorias a partir de uma tabela de insumos/produtos. Nesse método, fazemos uma estimativa inicial do valor de cada mercadoria e então usamos a tabela de insumos/produtos para fazer estimativas sucessivamente mais precisas. O que temos aqui é um sistema de funções iterativas onde aplicamos repetidamente uma função ao vetor de valores para chegar a um novo vetor de valores.
40 - Mais uma vez, o papo vai ficando muito técnico nessa parte do "texto"; Algumas afirmações eu não sei o que significam na prática concreta da coisa. Isto aqui é minha ideia sempre que penso no assunto, mas a viabilidade precisaria ser estudada: A computação do valor da mão-de-obra de cada produto é um problema tratável [32]; portanto, os valores-trabalho poderiam ser usados como base para a precificação em uma economia planejada – transmitindo basicamente as mesmas informações transmitidas pelos preços.
Pgs. 56-75:
"CAPÍTULO 7: "Fluxos de informação em economias de mercado e em economias planejadas"
41 - Especula vantagens do planejamento socialista: Uma empresa privada pode perceber que um concorrente está produzindo a um custo menor, mas a não ser que estejamos falando de espionagem industrial, ela pode não ter como descobrir como sua concorrente tem alcançado essa capacidade; a convergência de eficiência, se é que ela será alcançada, pode ter de esperar até que o produtor menos eficiente seja expulso do mercado e sua participação no mercado seja usurpada por seus rivais mais eficientes. No contexto de um sistema planejado, por outro lado, alguns dos gerentes ou especialistas técnicos de empreendimentos mais eficientes poderiam, por exemplo, ser destacados como consultores para empreendimentos menos eficientes. Também podemos imaginar – na ausência do sigilo comercial – uma Wikipédia abrangendo toda a economia, na qual as pessoas preocupadas com a operação de tecnologias específicas, ou com a produção de produtos específicos, poderiam compartilham suas dicas e truques para a maximização de eficiência.
42 - (A parte seguinte a isso obviamente é grega para mim).
43 - Cita uns protocolos de dezesseis passos ou mais para planejar a produção e o preço.
44 - A diferença é que no sistema planejado não há troca de informações de preço. Em vez disso, na primeira iteração, há uma transmissão de informações sobre estoques e coeficientes técnicos. (Esse papo de coeficiente exige cuidado. Não existe coeficiente natural, por exemplo).
45 - A conclusão matemática deles é que o sistema de mercado tem o dobro do custo informacional do planejado que eles propõem (baseados neles e em Lange): Na prática, o custo informacional do sistema de mercado, de 4nm (b + 2) ∆I(k | e) é praticamente o dobro do custo informacional do sistema planejado, de 2nm (b + 2) (2 + (i − 1)). ... a quantidade de informações que teriam de ser transmitidas em um sistema planejado é substancialmente menor do que para um sistema de mercado. A coleta de informações para a sua centralização é menos onerosa do que a correspondência comercial exigida pelo mercado. O erro de Hayek vem do foco exclusivo no canal de preços, excluindo o canal de quantidades. Além disso, o tempo de convergência do sistema de mercado é mais lento.
46 - A conclusão do capítulo é esta: Hayek deve ser elogiado por sua capacidade de tirar o melhor proveito de um argumento ruim, de transformar necessidades em virtudes. As instabilidades inevitáveis do mercado são disfarçadas como bênçãos; a própria crueza dos preços como um mecanismo de informação passa a ser vista como se protegesse as pessoas, de maneira providencial, contra a sobrecarga de informações.
Pgs. 76-78:
"CAPÍTULO 8: "Evolução e história"
47 - Engraçado este trecho: Hayek compara a “evolução espontânea” do sistema de preços com a artificialidade das tentativas conscientes de controlar o processo econômico, num contraste que ele acredita ser desvantajoso para os últimos. Naquilo que tem de melhor, essa comparação não é mais do que a máxima [inglesa] sobre como seria melhor “agarrar-se com força à enfermeira por medo de encarar coisa pior” [ou o provérbio português de que “mais vale o mal conhecido do que o bem por conhecer”]. No que tem de pior, essa ideia degenera em uma complacência panglossiana sobre a ordem existente. A resposta de Voltaire sobre terremotos – eles também são espontâneos – é bem apropriada. Mas embora não possamos esperar fazer mais do que prever os terremotos, não precisamos suportar seu equivalente econômico com o mesmo estoicismo.
48 - Colocam que a analogia com a biologia que os hayekianos fazem "não vale". O argumento deles: ...O espaço de estados, neste caso, consiste no código genético; mas uma espécie não está em uma única posição neste espaço em um determinado momento: ela está em tantas posições quanto há membros individuais da espécie, cada um com uma combinação única de genes. Uma espécie representa uma vizinhança no espaço genético; ela aplica um procedimento de busca paralela: milhões de combinações alternativas são produzidas e comparadas a cada geração. Embora uma economia de mercado possa emular isso até certo ponto na área de desenvolvimento de produtos dentro de mercados competitivos individuais, a economia como um todo atua como um processador único.
49 - Colocam que o "teste socialismo versus capitalismo" só ocorreu na ficção: Para que alguém pudesse dizer que uma ordem econômica estaria melhor adaptada do que outra, num sentido evolucionário, seria necessário um conjunto suficientemente grande para cancelar os efeitos estocásticos – um conjunto que deveria incluir, por exemplo, casos em que o sistema de mercado estivesse restrito a uma economia pobre e atrasada, cercada por um mundo socialista industrializado.
Pgs. 79-86:
"CAPÍTULO 9: "Conclusão"
50 - Qual o principal problema dos hayekianos? Falar sobre “informação” de maneira generalizada e não-quantitativa. Isso os leva a superestimar a importância das informações sobre os preços, quando comparadas com outros fluxos de informação que regulam as quantidades e as qualidades dos bens.
51 - ...Adicionam que os hayekianos falam de um jeito vago da instabilidade do cálculo socialista. Não apontariam a falha.
52 - ....A coerência de uma economia é mantida basicamente por meio de trocas de informações regulares sobre quantidades de unidades materiais, em vez de monetárias. Na URSS, esses fluxos de informações sobre as unidades materiais eram coordenados por meio do sistema de planejamento. Sendo antagônicos a qualquer coisa que lembre (mesmo que levemente) os cálculos em espécie de Neurath (2004), os hayekianos têm subestimado sistematicamente a importância dessas medidas quantitativas na regulação econômica.
53 - Interessante as desculpas que arranjaram para o colapso pós-URSS. Seria a "mentalidade socialista" atrapalhando. (Então o socialismo pode usar o mesmo como "desculpa" se algum dia for realizado mundialmente?). Autores criticam o aumento da mortalidade nesse período (usando o mesmo tipo de conta que os críticos de Mao fazem):
54 - Os próprios autores quase chegam nessa analogia completa: "Isso lembra a maneira como as “ervas venenosas do passado” na mente dos homens eram apontadas como explicação para os problemas econômicos na China durante a Revolução Cultural."
FIM!
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