Livro: Fábio Barbieri - História do Debate do Cálculo Econômico Socialista - Capítulo 7 ("PARTE A")

     

Livro: Fábio Barbieri - História do Debate do Cálculo Econômico Socialista 



Pgs. 221-236:


"CAPÍTULO 7: "Socialismo de Mercado Moderno: Informação e Incentivos"


193 - Numa leitura popperiana (ou evolucionária) do problema de Hayek, para que haja adaptação das ações aos fins dos agentes, são necessárias tanto a diversidade de planos (variação) quanto um mecanismo de correção de hipóteses refutadas (seleção).


194 - O socialismo de Hurwicz parte do modelo de conhecimento limitado, digamos assim: O problema seria então encontrar mecanismos de alocação ótima que apresentem ‘descentralização informacional’ da mesma maneira que o modelo competitivo; ou seja, que minimizem a necessidade de transmissão de informações (Hurwicz, 1973:5). (...) Hurwicz analisa então mecanismos diferentes nos quais o ‘diálogo’ informacional entre centro e periferia seja administrável: poderíamos, por exemplo, imaginar a transmissão pelo órgão central de metas quantitativas e feedback das firmas na forma de preços sombra, até que haja uma convergência ao equilíbrio.


195 - O famoso exemplo do estanho que Hayek elabora neste texto é reconhecido por esses autores como o início da preocupação com o aspecto informacional dos preços. Hayek estaria argumentando que os preços seriam estatísticas suficientes; ou seja, a informação derivada através dos preços seria o bastante para se atingir uma alocação econômica eficiente. O conhecimento localizado de cada agente seria agregado nos preços e os agentes desinformados poderiam inferir conhecimento a partir das variações nos preços causadas por agentes informados. Porém, como informação é custosa, Stiglitz teria apresentado isso como uma novidade ignorada por Hayek, segundo Barbieri. 


196 - Os desinformados só conseguem pegar uma boa carona nos preços caso o estoque do ativo seja limitado (tipo ações). Quando o estoque do ativo varia aleatoriamente, porém, uma mudança nos preços pode ser devida tanto a alterações na demanda dos informados quanto a oscilações na oferta. Neste caso, os preços revelam alguma informação sobre h, mas não informação completa.


197 - ...No extremo oposto, quando nenhum agente conhece "h" (a informação, pra simplificar), valeria a pena a compra da informação, pois o sistema de preços não informaria nada. Pode-se então chegar a uma fração dos indivíduos em equilíbrio comprando informação e outra não. Nesse modelo, a afirmação ‘de Hayek’ de que os preços transmitem informação de forma perfeita não se sustentaria.


198 - Entre aqueles que acreditam que a Economia da Informação pode gerar os elementos necessários para viabilizar o socialismo de mercado, destaca-se John Roemer, autor de A Future for Socialism. Entre os céticos, destaca-se Joseph Stiglitz, autor de Whither Socialism? (Entretanto, achei bastante mal-explicado o resumo do pensamento de Roemer que ele fez).


199 - Critica Ostroy por este criticar Hayek "sem ler".


200 - Coloca que a crítica de Stiglitz aos neoclássicos - e ao socialismo de mercado - é, de certa forma, similar a que Hayek fez (apesar de o primeiro também criticar, injustamente segundo Barbieri, o segundo): Stiglitz (1993:22) ridiculariza a visão esquemática que os economistas têm da realidade econômica. Essa visão, denominada pelo autor de engeneering economics, refletida por exemplo no livro-texto de Samuelson, vê a economia como algo que diz respeito apenas a problemas de maximização de algumas funções, ignorando as complexidades do mundo real.


201 - Novamente o argumento de que os bens não são exatamente homogêneos: No que diz respeito ao socialismo de mercado propriamente dito, Stiglitz repete, provavelmente sem saber disso, alguns dos argumentos desenvolvidos por Hayek no artigo de 1940. Como Hayek, Stiglitz aponta para a complexidade do espaço de bens: se um produto simples como uma camiseta tiver 10 características (como cor, tamanho etc.), cada uma delas podendo assumir 10 valores diferentes (azul, verde, ..., pequeno, médio, ...) o CPB teria então que fixar 10 bilhões de preços (1010)! Seria praticamente impossível especificar as características do produto e sempre que um preço fosse regulado as firmas poderiam compensar diminuindo a qualidade ou alterando outra característica qualquer.


202 - Stiglitz: tanto a proposta de Lange quanto a de Hayek (livre-mercado) falha em atingir ótimo de Pareto. Exemplo de como o "socialismo" pode ser, em algum aspecto, mais eficiente: ...Mas, se obter informações for custoso, essa afirmação‘de Hayek’ não se sustenta, pelas razões já apontadas. Neste caso, um CPB com informações completas poderia melhorar o resultado dos mercados.


203 - "Portanto em nossa opinião o debate entre Lange, Lerner, Taylor e Hayek se resume a distinção fundamental entre economias nas quais: (1) preços e portanto alocações são o resultado de um processo de arbitragem que será, necessariamente, imperfeito por causa dos custos da arbitragem discutidos neste artigo; e (2) economias nas quais os preços e portanto as alocações são resultado de um mecanismo alocativo centralizado que será, necessariamente, imperfeito por causa dos custos de monitoramento dos burocratas." (Grossman e Stiglitz, 1996:252)


204 - Barbieri critica a visão de Stiglitz, passando por exemplos deste sobre como corrigir assimetria em seguros, por exemplo: A crença criticada por Hayek de que os fundamentos da economia são estáveis e facilmente reconhecíveis e que curvas de demanda e custos objetivas estão disponíveis para os agentes e o estado observar em última análise subsiste na análise de Stiglitz, o que impede que se reconheça o problema do conhecimento. Assim, torna-se possível a crença de que os governos tenham acesso a tais curvas e possam, por conseguinte, utilizar seu poder para induzir a obtenção de equilíbrios ótimos de Pareto.


205 - “Se os mercados não funcionam eficientemente sob essas circunstâncias idealizadas, como poderíamos estar confiantes que eles funcionariam eficientemente em circunstâncias mais complexas? Apenas por um ato de fé!” (Stiglitz, 1994: 26)


206 - Os argumentos contra Stiglitz padecem do mesmo mal do livro em geral: bem repetitivos. Resumo: desequilíbrios nos preços geram oportunidades de lucro. Empresários seriam os "capazes" de aproveitar isso. No mais, defendem que só a rivalidade empresarial pode gerar inovação, a partir da "seleção natural" do mercado. 


207 - Stiglitz (1994:66; 1993:27) critica o socialismo de mercado por ignorar o papel da inovação, descentralização e competição.


208 - Colapso da URSS para Roemer: Isso teria ocorrido não porque os agentes deixaram de seguir as ordens dos principais: ninguém deu ordens nesse sentido. Para Roemer, ao contrário, a inovação não ocorreu por falta de competição entre firmas nos mercados.


(...)


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