Livro: Böhm Bawerk - A teoria da exploração do socialismo-comunismo - Capítulos 8, 9, 10 e Final
Livro: Böhm Bawerk - A teoria da exploração do socialismo-comunismo
Parte IV - A Teoria do Juro de Marx
Pgs. 85-94:
"CAPÍTULO "1"(8): "Apresentação Detalhada da Teoria de Marx"
40 - Início é um resumo dos principais pontos do Livro I do O Capital. Exemplo: Para usar as palavras do próprio Marx, ele é “a parte comum que aparece na relação de troca ou valor de troca das mercadorias”. O reverso é igualmente válido: “o valor de troca é a expressão necessária ou a manifestação do valor” (I, p. 13). ... Como valores, todas as mercadorias são apenas medidas de tempo de trabalho cristalizado.”
41 - De tudo isso deduz-se o conteúdo da grande “lei de valor”, que é “imanente à troca de mercadorias” (I, pp. 141 e 150) e que domina as condições de troca. Essa lei significa — e só pode significar — que as mercadorias se trocam entre si segundo as condições de trabalho médio, socialmente necessário, incorporado nelas (p. ex., I. p. 52). Há outras formas de expressão da mesma lei; as mercadorias “se trocam entre si conforme seus valores” (p. ex., I. pp. 142, 183; III, p. 167); ou “equivalente se troca com equivalente” (p. ex., I, p. 150. p. 183). E verdade que, em casos isolados, segundo oscilações momentâneas de oferta e procura, também aparecem preços que estão acima ou abaixo do valor. Só que essas “constantes oscilações dos preços de mercado (...) [p. 284] se compensam, se equilibram mutuamente e se reduzem ao preço médio, que é sua regra interna” (I, p. 151, nota 37). Mas a longo prazo “nas relações de troca casuais e sempre variáveis”, “o tempo de trabalho socialmente necessário acaba sempre impondo-se à força, como lei natural imperante” (I. p. 52).
Pgs. 95-100:
"CAPÍTULO "2"(9): "Fraqueza da Prova de Autoridade de Marx, Baseada em Smith e Ricardo"
42 - Menciona - citando trecho - Que Smith era contraditório na sua utilização da teoria do "valor-trabalho". Citava alguns bens naturais como tão valorosos quanto os frutos do trabalho, por exemplo. Ricardo, por sua vez, limita de tal forma sua validade, e a contraria com tão importantes exceções, que não é muito justo afirmar que ele considere o trabalho como fonte geral e exclusiva do valor dos bens. Ele abre seus Principles explicando claramente que o valor de troca dos bens nasce de duas fontes: da sua raridade, e da quantidade de trabalho que custaram.
43 - Acrescenta que, em Ricardo, o "valor-trabalho" vale apenas para a explicar os "bens que se deixam multiplicar ilimitadamente pelo trabalho", que seria, segundo o próprio, a grande maioria dos bens. Ademais, não se trata apenas de trabalho, eis que "o tempo decorrido entre o dispêndio de trabalho inicial e a realização final do produto tem uma influência importante".
44 - Coloca que Smith e Ricardo nem fundamentaram o "valor-trabalho". Davam-no como evidente. Bawerk contesta e menciona, por exemplo, que não há relação óbvia entre esforço e valor, como quer Smith.
45 - Ricardo colocava as primeiras trocas entre tribos já como possivelmente comparações entre quantidades de trabalho (eu nem penso assim, por sinal).
Pgs. 101-120:
"CAPÍTULO "3"(10): "Exame e Refutação da Proposição Básica de Marx"
46 - Critica que Marx tenha usado a dialética, baseada em raciocínios lógicos, para investigar o assunto. ..."a prova puramente lógica, uma dedução dialética tirada da essência da troca". Afirma os dois métodos que seriam melhores: o psicológico (investigação das motivações das trocas e concorrência, ou algo do tipo) ou o empírico (medir valor e quantidade de trabalho em cada troca).
47 - (Alguns dos argumentos de Bawerk que parecem partir de uma incompreensão do esquema de Marx eu sequer estou anotando ou comentando. Marx obviamente sabia que os preços de bens naturais podiam ser bem altos, mas sua ideia de valor não os inclui)
48 - BB coloca que bens naturais também podem ser objetos de troca. (Mas não há um mínimo trabalho envolvido nisso? Nem que seja o de localizar e destacar o bem da natureza, digamos assim. Ou seja, não vejo a grande autoproclamada vitória nessa questão)
49 - Curioso que Bawerk traça elogios a Marx. Seria o alemão um autor de primeiríssima ordem, inteligentíssimo, que não quis, porém, problematizar um dogma-axioma de sua época. (Em tempo, concordo que a utilidade é um motor legítimo do valor, como quer o austríaco, porém, não vejo como possa não estar subordinado ao motor principal, o valor medido em tempo de trabalho na determinação dos valores globais de uma mercadoria - e não de um bem específico).
50 - Como Bawerk vê: A experiência mostra que o valor de troca está em relação com a quantidade de trabalho apenas em parte dos bens, e, mesmo nesses, isto só acontece incidentalmente.
51 - Observa, ainda, que os bens escassos não são mera minoria dos bens: Se pensarmos que nessa mesma categoria se situam, além da terra, todos os inúmeros bens cuja produção está relacionada à patente de invenção, direitos autorais ou segredo industrial, não se consideraria insignificante a extensão de tais bens.
52 - Marx, por exemplo, considera o trabalho qualificado apenas um múltiplo do trabalho comum. “O trabalho complexo”, diz ele, (p. 19), “vale só como trabalho comum potenciado, ou multiplicado". Diz BB que isso é uma espécie de concessão para manter a regra (que ele considera errada).
53 - Basicamente ele argumenta que o preço não está em relação direta com a quantidade de trabalho em milhares de exemplos, de natureza diversa até. (A questão é que não é bem isso que entendo por lei do valor. E a de Marx? Após ler tantas interpretações, creio, há muito tempo, que há contradições).
54 - Posição de BB: Em contrapartida, pode-se concluir que o dispêndio de trabalho exerce ampla influência sobre o valor de troca de muitos bens. Mas não como causa definitiva, comum a todos os fenômenos de valor, e sim como causa eventual, particular.
55 - Torna a criticar Ricardo: A este engano pode-se relacionar o fato de que, em fases posteriores, ele praticamente não dá mais atenção às exceções, pouco valorizadas, que no começo de sua obra mencionara com bastante acerto. E muitas vezes — injustamente — fala de sua lei como se ela fosse realmente uma lei universal de valor.
56 - Defende que o livro III é contraditório com o I.
57 - Os ataques do final do capítulo possuem resposta, mas meio que já escrevi sobre ela em outros momentos. Em resumo: o "peso total de todas as mercadorias", para focar na analogia que BB fez, certamente mudará se o total de bens produzidos no tempo aumentar. O valor total, porém, pode continuar o mesmo ou até diminuir, já que é medido pelo tempo de trabalho total. Aumenta a imensa "coleção de mercadorias".
Parte IV - A Teoria do Juro de Marx
(A partir daqui não há mais capítulos, estranhamente)
Pgs. 121-14x:
"Reinterpretação de Werner Sombart"
58 - Não explica muita coisa sobre ela. Diz que foi rejeitada até por Engels e marxistas.
"Reinterpretação de Konrad Schmidt"
59 - Coloca e critica que, para os marxistas, a lei do valor seja semelhante à da gravidade. Se dois corpos não caem na mesma velocidade (pena e chumbo, sei lá), deve-se à resistência do ar, por exemplo. Bawerk diz que essa analogia não vale: "Mesmo depois de terem incluído na hipótese a existência do capital privado — em analogia à resistência do ar — continuam afirmando, como vimos, que a quantidade total de mais-valia depende do valor de troca das mercadorias, que por sua vez sofre influência exclusiva das quantidades de trabalho nelas incorporadas. E é só a partir da explicação da distribuição do valor total sobre as parcelas isoladas do capital que eles começam a lembrar-se de que outra causa também concorre para isso. É como se os físicos afirmassem que também na atmosfera a velocidade total de um corpo em queda é igual à que seria no vácuo, só que, na atmosfera, ela se distribui sobre as várias camadas numa proporção diversa do que ocorre no vácuo!"
60 - ...Aqui ele é mais direto na sua crítica - ou pelo menos foi o que eu achei -: Os marxistas, ao contrário, não têm um bom motivo — nem mesmo um mau motivo — para acreditarem analogamente que, sem capitalismo privado, o valor de troca das mercadorias seria determinado exatamente pela pretensa lei do valor do trabalho: eles simplesmente não têm motivo algum para afirmar isso. Afirma que a produção não se basearia apenas no tempo de trabalho necessário, ao que entendi.
"Reinterpretação de Edward Bernstein"
61 - Interessante que Bernstein vê exploração sem lei do valor (não vou negar que, a depender de como ele desenvolva, pode nem ser tão diferente de como eu penso): ...Mas Bernstein já não o comprova pela lei do valor. Certamente sentindo que a própria lei é demasiadamente precária para poder apoiar mais outra coisa nela, ele declara: “É totalmente irrelevante, para provar o mais-trabalho, saber se a teoria do valor de Marx é correta ou não. Nesse sentido, ela não é uma tese comprobatória, mas apenas um instrumento de análise e visualização.”.
62 - Bernstein e o marginalismo: O “valor de uso marginal da escola de Gossem-Jevons-Böhm”, por sua vez, que tem por fundamento — como o valor do trabalho de Marx — “relações reais”, apesar de se construir sobre abstrações, tem também “direito de validade dentro de certos limites”, e “para determinados fins”.
63 - Gostei que Bernstein simplesmente disse que tinha gente ganhando renda sem trabalhar, "então pronto". Nem era preciso discutir a existência de exploração. Claro que Bawerk se "revoltou".
64 - Parte dos argumentos que BB usa contra Bernstein são os mesmos já expostos anteriormente. Nenhuma grande novidade.
65 - Coloca que o mérito da criação dos bens de capital não é dos trabalhadores. Só pode ser então do "detentor" do capital? (Mesmo que a ideia venha de algum trabalhador intelectual, se bem entendi?). É impossível então que trabalhadores associados façam "investimentos" em bens de capital melhores? É essa a "tese"? Porque a questão do tempo eu já comentei antes.
Parte V - CONCLUSÃO
66 - Diz que a teoria da exploração faz sucesso porque ganha os corações...
67 - Outra circunstância que favoreceu a teoria da exploração e sua difusão foi a precariedade dos pontos de vista de seus adversários. Tal polêmica, conduzida a partir de um ponto de vista frágil, com argumentos vulneráveis como aqueles das teorias da produtividade, da abstinência e do trabalho, apresentados por um Bastiat ou McCulloch, Roscher ou Strasburger, tinha de acabar favorecendo os socialistas.
Apêndice - Eugen von Böhm-Bawerk e o Leitor Crítico (Comentário De Ludwig von Mises Sobre Capital e Juro)
68 - Só blablablá. Elogia o livro.
Posfácio do Editor Americano (e suas longas páginas)
69 - Justifica a edição do livro. Ora, o leitor que ler este “livro” começará pela página 241 de uma obra extensa e revolucionária, de mais de mil e duzentas páginas.
70 - Rodbertus foi amigo muito próximo de Wagner, assim como o foi de Lassalle. Rodbertus tinha influência sobre Lassalle, que era um político socialista muito ativo, embora tivesse péssimo relacionamento com Marx. (...) Rodbertus era um representante precoce dos chamados Socialistas de Cátedra, escola do pensamento socialista que floresceu nos meios acadêmicos alemães, especialmente em Berlim, na última metade do século XIX . Entre os nomes mais representativos dessa escola, estão Adolph Wagner, Gustav Schmoller, Lujo Brentano, Albert Schaffle e Werner Sombart.
71 - Tais "socialistas" teriam influenciado inclusive o governo Bismarck. Eram apenas "contra a exploração". Diziam: "Não pregamos nem a revolução da ciência nem a reversão da ordem social existente, e protestamos contra todos os experimentos socialistas."
72 - Era um pessoal que queria mudar a coisa pela intervenção estatal: ...No futuro, esperava a “total eliminação da propriedade privada dos meios de produção e da terra”. Politicamente, Rodbertus considerava toda revolução um desvio, na medida em que envolvia distúrbios da lei e da ordem.
73 - (O posfácio passa boa parte do tempo basicamente repetindo os argumentos apresentados por BB durante o texto).
74 - O tanto de "capitalista" que já vi afirmar isso...: "Uma pessoa que pretenda ser realista jamais afirmará que todo capitalismo individual é moral e justo."
75 - Em vários capítulos, contudo, Böhm-Bawerk destrói os costumeiros argumentos pró-capitalistas baseados na “produtividade do capital”, e na “recompensa pela abstinência”.
76 - Ao que entendi, faz uma longa transcrição de um texto de Bawerk: “Os Economistas Austríacos”.
77 - Questão da utilidade final: Como se sabe, o princípio fundamental dessa teoria da escola austríaca é partilhado por alguns outros economistas. Gossen, economista alemão, enunciara tal princípio num livro que apareceu em 1854, sem ter naquele tempo despertado o menor interesse. Depois é que vieram Jevons, Menger e Walras.
78 - ...o preço coincide bastante aproximadamente com a estimativa do “último comprador”. É bem sabido que Jevons e Walras chegaram a uma lei similar de preço. Sua constatação, porém, apresenta deficiências consideráveis. A utilidade e possibilidade de substituição dos bens seria uma espécie de base do valor.
79 - Modo "austríaco" de ver: O “Custo” Não é o Regulador do Valor: É o Valor do Produto Acabado que Determina o Valor dos Fatores de Produção Utilizados. Combate a teoria inversa: Essa teoria pressupunha que o problema científico da explicação do valor dos bens seria satisfatoriamente resolvido se se apelasse para o custo como “regulador último de valor”. Os austríacos, pelo contrário, acreditam que isso constitui apenas metade da explicação, aliás, a metade mais simples.
80 - Minas e terras têm seu preço correlacionados ao preço da matéria-prima que será produzida ou extraída, observa. Por essa teoria, se o cobre é muito útil e caro, a mina de cobre será cara. (Ok, mas falando assim, parece até que não é o tempo de trabalho envolvido na extração do cobre que dirá, junto com o "gosto" pela sua utilização, quão caro é o cobre. Duplique a produtividade do trabalho em todas as minas para ver o que acontece. Ou então fique com sua explicação parcial do fenômeno).
81 - Faz uma crítica genérica às teorias "ecléticas". Pena que são elas as corretas, muito provavelmente.
82 - O resto é meio que autocongratulação.
83 - Tem também algumas repetições do argumento principal de BB: Smith impôs a verdade de que o exercício da responsabilidade e da liberdade dá resultados notavelmente benéficos. Smith foi seguido por Eugen von Böhm-Bawerk, que removeu das considerações éticas o que era apenas um problema de tempo grotescamente mal compreendido e grosseiramente subestimado — um desconto na avaliação de bens futuros por homens cuja vida não é duradoura, e cuja morte é sem dúvida inevitável.
84 - Volta a trazer os elogios de BB à genialidade da lógica de Marx. O leitor se beneficiará lendo a análise densa e breve do trabalho intelectual de Marx feita por Ludwig von Mises, nas pp. 295 - 282 deste livro, sob o título “A teoria marxista dos índices de salários”.
85 - Faz uma discussão epistemológica superficial sobre tratar de termos mais gerais (associa a macroeconomia, na qual coloca Marx - acho que JB ficaria contra isso -, ao realismo medieval e coloca a microeconomia de BB como o nominalismo, que venceu e trouxe avanços posteriores, já na Era Moderna). No mais, ele basicamente xinga a tal epistemologia realista de Marx.
86 - Do nada: Quando o pensamento se transfere para classes, termos coletivos, médias, e “macroeconomia”, a Ciência Social entra num beco sem saída.
87 - Enfim, texto besta de 1975.
A Teoria Marxista dos Índices de Salários
88 - Por fim, o tal texto de Mises de 1961, prometido no item 84. Achei a introdução engraçada, pois parece haver alguma pinta de ressentimento na suposta chacota que ele faz: A mais poderosa força política de nosso tempo é Karl Marx. Os governantes de muitas centenas de milhões de camaradas nos países atrás da Cortina de Ferro fingem aplicar os ensinamentos de Marx, considerando-se executores do seu testamento. Nos países não comunistas a análise dos feitos de Marx é realizada com mais restrições, muito embora ele seja, ainda, elogiado em todas as universidades como um dos maiores líderes intelectuais da humanidade, como o gigante que, demolindo preconceitos e erros inveterados, reformou radicalmente a Filosofia e as Ciências Humanas. Os poucos dissidentes que não entram no coro da louvação de Marx não recebem muita atenção. São boicotados e chamados de reacionários.
89 - Diz que até marxistas ficam entediados ao ler Marx e param. (Ok, tem muita chatice sim, mas não parei. E ao que sei, os misesianos também não se divertem muito com o "Ação Humana")
90 - Coloca que Marx nunca falou muito do socialismo a não ser passar a administração de tudo ao Estado (o que não é verdade que ele tenha dito, por sinal).
91 - Engraçado que cada austríaco diz que o "cerne" de Marx era uma teoria diferente. Para Mises, "O cerne da doutrina econômica de Marx é a sua “lei” de salários. Essa pretensa lei, que é a base de toda a sua crítica do sistema capitalista, naturalmente não é criação marxista. Já havia sido mencionada por autores anteriores, era há muito conhecida, sob o rótulo de “lei de ferro dos salários”, e já fora minuciosamente refutada antes de Marx empregá-la como alicerce de sua doutrina."
92 - A concessão que faço é concordar, isso desde antes da leitura do livro de JB até, que há trechos em Marx que contradizem outros trechos do próprio autor. A depender de uma interpretação sistemática criativa, dá até para compatibilizar, mas no mínimo ele escreveu coisas que poderiam ser melhor trabalhadas. Mas há ainda algo mais a dizer sobre essa peça da argumentação de Marx. Ela contradiz toda a teoria marxista da determinação dos índices de salário. Como foi demonstrado, esta teoria afirma que, no regime capitalista, necessariamente os índices de salário são sempre extremamente baixos, não podendo, por razões fisiológicas, baixar ainda mais, caso contrário implicariam o extermínio de toda a classe de assalariados. Como é possível afirmar, então, que o capitalismo produza o empobrecimento paulatino dos assalariados? Marx, nessa predição do empobrecimento paulatino das massas, contradisse não só todos os fatos da experiência histórica, mas também os ensinamentos essenciais da sua própria doutrina.
FIM!
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