Livro: João Bernardo - Marx Crítico de Marx III - Capítulos 20 e 21
Livro: João Bernardo - Marx Crítico de Marx - Livro Terceiro (Volume III, na verdade)
Epistemologia, classes sociais e tecnologia em "O Capital" - Volume III
III Seção: Classes sociais: Os gestores
Pgs. 1-33:
"CAPÍTULO 20: "O papel econômico do Estado em 'O Capital'"
1 - Resumindo as primeiras páginas: o Estado não serve só para reprimir, mas também - e talvez principalmente - para organizar as "condições gerais de produção".
2 - .Na sequência, muita coisa que não concordo. Inclusive na crítica que fez a Poulantzas. Tudo que o Estado faz ou que acontece no capitalismo parece ser um "plano dos gestores". Curioso, já que JB enfatiza tanto a prática proletária. É como se essa fosse sempre ocultamente guiada pelo capitalismo em todas as suas reivindicações.
3 - Coloca quer Marx oscila - e cita trechos - entre considerar o Estado e suas leis como mera expressão de uma realidade econômica ou como um agente externo que atua sobre a mesma, tendo alguma autonomia por vezes.
4 - Marx colocava que o Estado era ainda mais necessário à burguesia na época da acumulação primitiva, facilitando-a. Depois, o capitalismo se tornou forte o suficiente para diminuir o papel repressivo da intervenção estatal. JB critica essa noção de "automatismo econômico", como se o Estado intervindo tivesse se tornado algo tão esporádico ao ponto de não precisar mais nem ser analisado/teorizado. Foi mera "muleta provisória".
5 - O "Estado financiador" também parece estar restrito, na obra de Marx, à fase de constituição do capitalismo, em razão de uma concentração do capital ainda débil/dependente. Empréstimos e "dádivas gratuitas" seriam "obra" dessa parte apenas. Marx cita a dívida pública como "enérgico agente da acumulação primitiva".
6 - Cita trechos nos quais o próprio Marx fala de continuação da ação econômica do Estado para depois da fase de constituição do capitalismo, já na fase da indústria jovem, por exemplo. Isso leva a JB taxar a exposição de Marx de confusa/contraditória. De toda forma, ao final diz que, dos lados contraditórios, o que parece mais forte, em Marx, é o da limitação da intervenção econômica do Estado como relevante apenas no nascedouro do capitalismo, na "transição". Tese da qual ele, JB, discorda
Pgs. 34-52:
"CAPÍTULO 21: "A não-concepção dos gestores em "O Capital". Primeira parte: colocação do problema"
7 - JB coloca que as reações dos proletariados às jornadas de trabalho desumana não eram "ações decorrentes de uma prática autônoma do proletariado", mas sim espécie de impossibilidade física mesmo. Compara a uma máquina que começa a parecer que vai explodir com sobrecarga (ou motor que está sendo "forçado" e vai pifar). Nesse caso, o próprio capitalista mais inteligente vê logo que é melhor aceitar que "não dá". (Não sei bem se ele está correto nessa interpretação não. Saíram de 12, 14 ou 16 horas para umas 7 horas semanais em alguns países).
8 - Ele mesmo diz, logo mais a frente, que Marx leva em conta, na análise dessas concessões, tanto as próprias necessidades do capital quanto as ameaças do movimento proletário. (assim que penso que se articula a coisa também).
9 - É pura dinâmica interna capitalista que leva a essas mudanças ou é a ação proletária? Essa é a pergunta que joga. Parece crer na superioridade da primeira causa. Para mim, é misturado e mais puxado pra segunda. Para Marx, JB pareceu dizer que "não há contradição", mas, ao mesmo tempo, trouxe trechos que meio que contradizem essa história de que não há contradição. Então achei contraditório.
10 - JB coloca que os gestores funcionário do Estado precisam, por vezes, se voltar contra o interesse dos capitalistas particulares (enxergados individualmente em seu próprio interesse) para priorizar o interesse geral do próprio sistema capitalista globalizado. Ter a visão mais ampla da coisa. Seriam classes diferentes então.
11 - Pega trechos realmente vagos de Marx no "O Capital" nos quais ele fala em reação/imposição da "sociedade" contra os exageros do "capital". O que é esquisito, já que a "sociedade" no capitalismo é necessariamente cindida em classes, algumas delas dominantes, segundo sua própria teoria. (É que o jogo de poder é complexo, talvez?). JB diz que, quando Marx fala em "sociedade", quis o alemão, no fundo, dizer "Estado". Marx apenas estaria, no entender de JB, fugindo do problema de explicar como exatamente isso ocorre, não chegando na problemática dos gestores enquanto classe separada.
12 - O trabalho com "condições gerais de produção", seja na concorrência intercapitalista ou na esfera do Estado, ao que entendi, é o ponto que une os chamados "gestores".
13 - O capitalista faz-tudo ficou pra trás. "A complexidade da gestão reduziu o capitalista a um dos muitos gestores especializados". (E quando nem gere nada?) Coloca, a seguir, que proprietários vão virando cada vez mais meros parasitários de mais-valia.
14 - Traz trecho interessante de Marx no livro III. Gestão do trabalho coletivo em geral exige, naturalmente, certa coordenação. Entretanto, trabalhos que advém da mera gestão da oposição entre trabalhador e capitalista são ideologicamente colocados como "necessários" e inclusive merecedores de remuneração (ou seja, recebem parte da mais-valia).
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