Livro: João Bernardo - Marx Crítico de Marx II - Capítulos 12, 13, 14 e 15

               

Livro: João Bernardo - Marx Crítico de Marx - Livro Segundo (Volume II, na verdade)



Epistemologia, classes sociais e tecnologia em "O Capital" - Volume II


II Seção: Classes sociais: A burguesia


Pgs. 1-17:


"CAPÍTULO 12: "A contradição entre o modelo implícito de produção da mais-valia e o modelo de distribuição da mais-valia. A função do modela a uma só empresa"


1 - Não vi nada de concreto nas, sei lá, dez primeiras páginas. Até quando fala de Say e Keynes parece estar dizendo de modo desnecessariamente complexo coisas que, conforme já vi nos livro de economia ou em críticas de heterodoxos, são bem mais fáceis de entender. Enfim, minha opinião.


2 - Pela lei de Say, não haveria entesouramento. Não se aplica à realidade. 


3 - No mais, achei toda toda a crítica deste capítulo mais confusa e pouco nítida que os próprios livros II e III.



Pgs. 18-36:


"CAPÍTULO 13: "A socialização do produto e o campo fundamental de inter-relacionação capitalista"


4 - Aqui, mais polêmicas abstratas das quais desconheço as implicações concretas. Trechos em que o próprio Marx usa termos que, sinceramente, sei lá o que ele quis dizer. E pessoas passarão milênios brigando por isso. Às vezes tenho a impressão de que se quer discutir quem depende de quem no capitalismo (ao menos no habitual). Produção ou circulação. Que discussão é essa? Obviamente há dependência recíproca. A socialização exige ambos. Que contradição aqui?


5 - Critica por Marx, pois este, em muitos trechos, não fala que a concorrência intercapitalista se dá especialmente na busca pelo aumento da produtividade - ou seja, na produção - a fim de auferir superlucro. Nesses trechos, é como se a mais-valia só dissesse respeito à esfera da circulação. A socialização da produção do produto capitalista se dá, assim, na produção, enfatiza JB. (Sinceramente, uma interpretação sistemática me parece resolver essa suposta contradição. As esferas dependem uma da outra).


6 - Critica a teoria do valor do ouro em Marx. Parece confusa mesmo. Guia-se pelo TSN à extração do ouro? Mas o outro tem diversas utilidades... Vale o mesmo em todas elas? Como dinheiro (a época era) ou como brinco? Enfim, de toda forma, tanto eu quanto o próprio JB consideramos essa questão secundária.


7 - Impressão inicial é que JB quer banir a realização na circulação como característica do capitalismo para poder colocar nos "capitalismos de Estado" o nome "capitalismo". Que seja. Ou não. Não vejo a diferença prática. 



Pgs. 37-57:


"CAPÍTULO 14: "A distribuição da mais-valia. Primeira parte: crítica dos modelos de Marx"


8 - Menciona erro de Marx no capítulo 9. Ao tratar da taxa de lucro médio, analisou os elementos da composição orgânica em termos de valores. Não foi transformada em preço de produção. Surge toda uma discussão sobre o modo correto de corrigir isso, mas não foi minimamente explicada por JB. Apenas ideias gerais soltas.


9 - Faz uma crítica meio nada a ver a Kautsky sobre a questão da taxa de lucro. Nem anoto. Se eu fosse fundamentar cada trecho do qual discordo, iria perder muito tempo escrevendo aqui. Exemplo: Não necessariamente um afluxo de capital vai sempre em direção aos empreendimentos com composição orgânica elevada. Basta ver as últimas décadas. O quanto setores de menor composição orgânica ganharam importância nas alocações. E de onde JB tira que a taxa de lucro será, para Marx, mais baixa nos setores de alta composição orgânica? Está confundindo taxa de lucro com outra coisa. Ou então deixei passar alguma contradição lá no "O Capital". Talvez o que causa confusão é o fato de capitais por vezes afluírem em todo sentido. Aí fulano (pode até ser Marx) foca num deles e nem fala dos outros. 


10 - Trata da parte em que Marx afastou as empresas "sociedades por ações" como formadoras da taxa de lucro. (Não lembro de nada parecido lá, mas seria mesmo absurdo). O modelo marxista serviria apenas a pequenas empresas. (Realmente não sei de onde JB interpretou isso, mas como Marx tem um monte de trecho confuso, também não duvido)


11 - (Enfim, não anotei muita coisa até porque discordo de boa parte delas).



Pgs. 58-133:


"CAPÍTULO 15: "A distribuição da mais-valia. Segunda parte: apresentação de um modelo"


12 - Sobre Antiguidade e Roma, coloca que os altos custos de transporte desincentivavam qualquer concentração/integração mais significativa das unidades produtivas. Escala prejudicada. Integração tecnológica só existiu mesmo no capitalismo. Impositiva. 


13 - Coloca que meios de transportes, financiados por tarifa, devem-se especialmente a necessidade de poupar capital constante que seria gasto de forma menos eficiente caso as empresas tivessem, elas mesmas, que transportar os trabalhadores de diversos bairros. Tanto o é que, nos fins de semana, a oferta de transporte público cai bastante. Não serve ao lazer. (Que o digam as lotações da praia). E olha que mesmo nos fins de semana há a necessidade de certa harmonização das classes. 


14 - Menciona que tarifas, impostos e salários sobem para montar grandes estruturas técnicas - condições gerais de produção - para as necessidades das grandes empresas. As pequenas, sem escala, sofrem com isso. É uma "distribuição desigual da mais-valia". (Tipo, talvez o comerciante que emprega quase nenhum universitário, mas tem que, com imposto, financiar a universidade pública). (O próprio JB deu esse exemplo depois, então ok).


15 - Em razão da mobilidade do trabalhador no capitalismo, a trabalhosa instrução geral teve que sair, na grande maioria dos casos, da responsabilidade da empresa para o Estado. (condições gerais...). Isso também aumenta a necessidade de tributos.


16 - Mera redução de tarifa de transportes gera toda uma redistribuição da mais-valia. O consumo do trabalhador, se o salário real aumenta com essa queda de preço, aumenta. Algumas empresas de alguns setores se beneficiam com isso. Passam a ter maior realização das vendas, podendo aumentar a produção e até a produtividade. Outros setores não (vão reclamar do "déficit fiscal" da prefeitura, creio). Enfim, JB coloca que a redistribuição da mais-valia é algo muito complexo e cheio de nuances. Os efeitos de cada ato não são lá muito previsíveis e simples.


17 - (Obs: boa parte do que estou achando vago ou mal explicado nem estou anotando, nem criticando)


18 - Alguns possíveis erros de Marx de fato são nada a ver, como quando o mesmo fala de dividendos. Salvo melhor interpretação. Porém, ainda aguardo pra saber o que JB construirá em cima deles. Porém,  outras críticas de JB, se eu as estiver entendendo bem, não fazem muito sentido.


19 - (O debate sobre "transferência intercapitalista de mais-valia" me parece pouco ou nada concreto, mas estou lendo. Não pulo uma linha na verdade). Produz-se uma mais-valia... Realiza-se outra... Enfim...


20 - Coloca que o valor da força de trabalho pode subir tanto por demanda dos capitalistas (necessidade de maior qualificação dos trabalhadores, por exemplo), quanto por necessidades sociais novas geradas pelo processo de instrução geral, por exemplo. Diz que a instrução não leva necessariamente a isso, mas que é uma possibilidade. 


21 - JB parece endossar Meek quando este coloca que se a classe trabalhadora, através de resistência sindical/monopolística ou algo do tipo, conseguir manter o preço da força de trabalho acima do valor por certo tempo, poderá aumentar o próprio valor da força de trabalho. (Seriam "direitos" - ainda que não formalizados...?). E, ao que entendi, esse é o centro da suposta (talvez até exista mesmo) confusão e/ou omissão/pecado de Marx ao tratar da mais-valia relativa e produtividade. Se há outra crítica, eu não peguei nessa escrita desnecessariamente intricada da coisa. 


22 - (Algumas coisas que JB escreve são simplesmente erradas, como dizer que a "mais-valia global" é a mesma em caso de aumento da produtividade. Ora, isso só se o salário real for "comendo", sem deixar nada, todo esse ganho de produtividade. Senão, ela aumenta. É a luta pela distribuição. O valor diminui nos produtos, mas a taxa de exploração sobe e a massa de produtos pode subir enormemente no longuíssimo prazo. Na prática, a massa global de mais-valia pode subir, ainda que a de valor possa estacionar ou tenda até a cair. Quando a cesta de consumo do trabalhador estiver valendo um trilionésimo - sei lá - de segundo de trabalho, aí essa lei mudará rs. Enfim, não concordo com a forma como Marx apresenta a questão da mais-valia, mas tampouco concordo com a "mais-valia de JB". Apesar de tudo, minha visão está bem mais próxima da de JB aqui).


23 - (Algumas críticas que JB faz a Marx são temperadas, por ele mesmo, com trechos de Marx em sentido "igual" ao das críticas. É o Marx contra Marx. Se há ou não contradição com os outros trechos é que o pessoal fica discutindo. JB diz que negam contradição para santificar o "mestre sem incoerências". Como o papo sobre a "melhor interpretação sistemática de Marx" é meio tedioso pra mim, acabo lendo apenas com a pergunta "como verdadeiramente funcionam as coisas?" na cabeça e menos preocupado em anotar e pensar o que Marx quis dizer ou se foi coerente ou não com a maioria dos outros "Marx". Acabo me ligando muito pouco nisso.)


24 - (De fato, a redistribuição da mais-valia é mais complexa/sofisticada em JB do que em Marx. Porém, não creio que isso muda o essencial das descobertas do segundo.)


25 - JB coloca que a renda diferencial - como a vantagem que dá uma queda d´água como força motor num terreno - não vem apenas de monopólios naturais (acusa Marx de só ver isso), mas também da desigual redistribuição de mais-valia a partir das condições gerais de produção (infra-estrutura, instrução superior e afins), beneficiando subgrupos mais avançados do capital em geral. Há certo monopolismo nisso. Assim, as taxas de lucro não tendem a serem perfeitamente igualadas. (sei não... Depende? Taxa de lucro se relaciona a preços. Se o preço da propriedade é alto, pela queda d'água ou por uma "marca valorizada", taxa de lucro, se comparada a esse "capital constante", pode ser bem menor do que aparenta num cálculo que descuide desse fator - o custo-oportunidade. Sempre se pode "vender" essas capacidades superiores. No cálculo da taxa de lucro média da "De beers" sempre esteve incluído esse "custo-oportunidade"? Talvez a coisa esteja aí no que tange aos monopólios. Na forma de ver.)


26 - Faz umas diferenciações entre "condições de produção" e "condições de realização". Não faço ideia da importância prática das mesmas. 


ANEXO I - O paradoxo de Pasinetti e a definição institucional de investimento


27 - Marx já falava, observa, em poupança dos trabalhadores. JB diferencia a poupança desses da dos capitalistas. Visam a preservar poder de compra quando a força de trabalho não for mais vendável. Não são escravos da acumulação, como são os capitalistas. E, talvez até mais importante naquela época, não tinham as pessoas normais muita condição de intervir ou decidir a alocação. Era o banco que escolhia a aplicação. 


28 - Trabalhador investiria, nos termos financeiros, em renda fixa. Juros inelásticos em relação ao crescimento econômico/lucros. Capitalista em renda variável, que é elástica em relação aos lucros.


29 - A teoria de Pasinetti parece ser a de que são os capitalistas quem definem a proporção entre poupança e lucro, não os trabalhadores. Seriam eles, portanto, a real influência sobre a taxa de lucro e não a propensão a consumo do trabalhador. (Nada disso me parece ser uma necessidade. Porém, o BC realmente manipula parcialmente essa propensão e está sob comando capitalista, logo... Até tem alguma lógica, mas talvez não pela via que ele imagina. O juro longo também acaba, na prática, sendo influenciado bastante pelas avaliações dos capitalistas e suas instituições).


30 - Ainda sobre isso, JB dizer que a poupança do trabalhador não resulta em qualquer investimento é, para mim, um notável exagero. Também não concordo. A não ser que eu esteja interpretando as expressões de forma errada.


31 - O parágrafo que fala sobre "capitalismo de Estado" está um tanto mal explicado. Porém, não vi importância concreta, então ok.


ANEXO II - A lei da baixa tendencial da taxa de lucro e os seus críticos


32 - JB coloca que era fato que o lucro do capital industrial era menor que o do comercial (pergunto-me se são as mesmas bases de comparação e os cálculos corretos... Embutindo as perdas totais) e os juros, na "era comercial", eram significativamente mais altos. Já se falava em "queda da taxa" então desde antes de Marx, embora a teoria deste último não surja desse fato empírico e até poderia dispensá-lo talvez. Os próprios "ortodoxos" da época falavam em queda da taxa. Só que nesses era um fato externo/empírico dado. Não decorria internamente de suas próprias concepções. 


33 - Em Marx, a queda da taxa é inclusive um processo de "causalidade contraditória". São muitas as forças em contrário, as quais, por sinal, só existem em razão das forças favoráveis. (É tipo andar empurrando algo que está acorrentado. As duas forças só se "ativam" em razão da primeira força - a "ativa"). Por isso que é "tendencial". A tendência pode ficar paralisada por vários motivos, digamos. Ou até regredir.


34 - JB coloca que essa "lei tendencial" é uma das grandes mostras da "nova lógica" inaugurada por Marx.


35 - Coloca que críticas como a de Joan Robinson ignoram as "contra-tendências". Claro que a taxa de lucro pode não cair porque o salário real da classe trabalhadora pode ser comprimido de forma a não acompanhar a produtividade. Porém, é justamente pela sua tendência a cair, expulsando mais e mais empregados da indústria, que tem que haver (se ativar) essa contra-tendência de buscar paralisar ou comprimir o salário real. Ou ao menos elevar a produtividade a um ritmo superior.


36 - A outra crítica, a de que os valores de cada máquina também caem, JB considera mais importante. A proporção entre capital constante e variável poderia, assim, restar mantida (algo que já pensei muito). JB chega a elencar algumas contra-contra-tendências, mas não entendi bem o ponto fulcral da coisa. Seu ponto é que gestores e gerentes "de máquinas" são como "capital constante"?  Mesmo se fosse isso, as inovações intencionariam poupar todo esse conjunto "Máquina/gestor-de-máquina", reduzindo o capital constante mesmo assim. (Não estou dizendo que essa crítica importante à queda da taxa está correta, mas sim que não sei qual tendência predomina no longuíssimo prazo. Tendo a crer que talvez nem exista "queda da taxa", pois vejo serviço como "produção" - ainda que de tipo diferente. Expulsa-se gente pra lá).


37 - JB lembra que queda de lucro por aumento de imposto pra financiar condições gerais não conta como "queda da taxa" na análise marxista. 


38 - Cita vagamente estudos de Meek sobre o assunto. Pela "explicação", fiquei cheio de dúvidas sobre vários detalhes, pra variar. Pouco dá pra concluir.


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