Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 27 e 28

                                                         

Livro: Karl Marx - O Capital, Livro III - Capítulos 27 e 28



Pgs. 539-548:


CAPÍTULO 27: "O papel do crédito na produção capitalista"


339 - Faz algumas menções sobre crédito como lubrificação dos fluxos de capitais no sistema capitalista e acelerador do tempo de circulação das mercadorias. Por outro lado, o crédito, ao permitir uma separação mais prolongada dos atos de compra e venda, serve de base para a especulação.


340 - Cita outros aspecto do crédito, tais como: Criação de sociedades por ações. E com isso: (...) Enorme expansão da produção e das empresas, numa escala impossível para capitais isolados. Ao mesmo tempo, transformação dessas empresas, que antes eram governamentais, em empresas sociais. (...) empresas sociais em oposição a empresas privadas. É a suprassunção [Aufhebung] do capital como propriedade privada dentro dos limites do próprio modo de produção capitalista.


341 - O ex-"capitalista ativo" se separa da propriedade do capital. Vira um gerente do mesmo. Outra conversão: "...e os proprietários de capital em meros proprietários, simples capitalistas monetários"


342 - Isso tende a desembocar, segundo Marx, na fase posterior: "...Esse resultado do máximo desenvolvimento da produção capitalista é uma fase de transição necessária até a reconversão do capital em propriedade dos produtores, mas não mais como propriedade privada de produtores isolados, e sim como propriedade dos produtores associados, como propriedade diretamente social."


343 - Engraçado Engels esculhambando o protecionismo, o qual impediria a realização do valor em sua plenitude, limitando artificialmente a demanda: A rapidez cada vez maior com que hoje se pode incrementar a produção em todos os campos da grande indústria contrasta com a progressiva lentidão da expansão do mercado para atender a essa produção aumentada. O que aquela produz em meses este só pode absorver, quando muito, em anos. Acrescente­-se a isso a política de proteção aduaneira, que faz com que cada país industrial se feche aos demais, especialmente à Inglaterra, aumentando assim, artificialmente, a capacidade interna de produção. Disso resulta: superprodução geral crônica, preços baixos, queda tendencial dos lucros e até mesmo sua total desaparição; em outras palavras, a tão falada liberdade de concorrência chegou ao fim da linha e se vê ela mesma obrigada a proclamar sua manifesta e escandalosa falência.


344 - Engels também já via os pormenores das questões dos cartéis: "O antagonismo de interesses entre as distintas empresas rompia com demasiada frequência os diques do cartel e restabelecia a concorrência. Para evitar isso, chegou­-se, naqueles ramos em que o nível da produção permitia, a concentrar toda a produção de um ramo de negócios em uma grande sociedade por ações com direção única. Na América, isso já ocorreu várias vezes".


345 - Coloca que o crédito assume dimensões tão grande que todo o capital social passa a servir de base. Empréstimos muitas vezes são concedidos a empreendimentos com quantidade ínfima de capital próprio: "Desaparecem aqui todas as bases explicativas mais ou menos justificadas no interior do modo de produção capitalista. O que o comerciante atacadista especulador arrisca é a propriedade social, e não a sua própria. (...) A outra sentença, sobre a abstinência, vê­-se desmentida por seu luxo, convertido também ele num instrumento de crédito. Ideias que numa fase menos desenvolvida da produção ainda podiam ter algum sentido agora perdem toda sua razão de ser."


346 - A propriedade existe aqui em forma de ações, cujo movimento e cuja transferência tornam­-se puro resultado de um jogo em que os tubarões da Bolsa devoram os peixes pequenos, e os lobos, as ovelhas.


347 - Sobre as cooperativas: As fábricas cooperativas dos próprios trabalhadores são, dentro da antiga forma, a primeira ruptura do modelo anterior, apesar de que, em sua organização real, reproduzam e tenham de reproduzir por toda parte, naturalmente, todos os defeitos do sistema existente. Seu avanço? Está suprassumido o antagonismo entre capital e trabalho.


348 - Marx tem trechos que, analisados isoladamente, podem gerar uma boa confusão na cabeça de um sujeito mediano: As empresas capitalistas por ações devem ser consideradas, tanto quanto as fábricas cooperativas, formas de transição entre o modo de produção capitalista e o modo de produção associada, com a única diferença de que, num caso, o antagonismo é abolido negativamente, ao passo que, no outro é abolido em sentido positivo.


349 - Se o sistema de crédito se apresenta como a alavanca principal da superprodução e do excesso de especulação no comércio, é pura e simplesmente porque o processo de reprodução, que por sua própria natureza é um processo elástico, vê­-se forçado aqui até o máximo, e isso porque uma grande parte do capital social é investida por aqueles que não são seus proprietários, os quais atuam, claro, de maneira bem distinta dos proprietários, que a cada passo avaliam cautelosamente os limites e as possibilidades de seu capital privado.


350 - ...Por conseguinte, o crédito acelera o desenvolvimento material das forças produtivas e a instauração do mercado mundial, que, por constituírem as bases da nova forma de produção, têm de ser desenvolvidos até um certo nível como tarefa histórica do modo de produção capitalista.



Pgs. 549-570:


CAPÍTULO 27: "Meios de circulação e capital: as concepções de Tooke e Fullarton"


351 - Marx inicia com a seguinte crítica: "A diferença entre circulação e capital, tal como a apresentam Tooke[89], Wilson e outros, e na qual aparecem misturadas e confundidas as diferenças entre os meios de circulação como dinheiro, como capital monetário em geral e como capital portador de juros..."


352 - Marx volta a abordar a questão do comércio: O que o varejista cede pelo dinheiro que reflui a suas mãos, ou seja, sua mercadoria, é para ele, portanto, capital mais lucro, capital mais renda.


353 - Coloca que é isto aqui que gera a confusão: Está claro que, quando se apresenta como forma­-dinheiro da renda, ele funciona mais como meio de circulação propriamente dito (moeda, meios de compra), devido à dispersão dessas compras e vendas e porque a maioria dos que gastam suas rendas, os trabalhadores, podem comprar relativamente pouco a crédito, ao passo que nas transações do mundo comercial, onde o meio de circulação é forma­-dinheiro do capital, o dinheiro funciona fundamentalmente como meio de pagamento, em parte devido à concentração e em parte porque aí prevalece o sistema de crédito. Porém, a diferença entre o dinheiro como meio de pagamento e o dinheiro como meio de compra (meio de circulação) não é uma diferença entre dinheiro e capital, mas uma diferença inerente ao próprio dinheiro.


354 - (boa parte do capítulo me parece uma discussão bem desimportante ou então desatualizada. Não vi que grande polêmica atual é relacionada com ela).


355 - Umas diferenciações que sei lá a importância prática (embora acho que eu nem discorde): ...Mas esses papéis, quando se trata de títulos públicos, são capital apenas para quem os comprou, para quem, portanto, eles representam seu preço de compra, o capital neles investido; em si mesmos, não são capital, mas meros títulos de dívida; em se tratando de hipotecas, são meros direitos a receber a renda fundiária futura; e, em se tratando de ações comuns, são meros títulos de propriedade, que autorizam a receber o mais­-valor futuro. Nada disso é capital real, não constitui componente do capital – em si, tampouco é valor


356 - Abstraindo dessa demanda de ouro (ou de prata), não se pode dizer que nessas épocas de crise o capital seja mais escasso. Isso pode ocorrer em circunstâncias extraordinárias, tais como encarecimento do trigo, escassez do algodão etc.; mas essas não são, em absoluto, circunstâncias que acompanham tais épocas de maneira necessária ou regular, de modo que a existência de semelhante penúria de capital não pode ser inferida de antemão da circunstância de haver uma demanda urgente de acomodação monetária. Ao contrário: os mercados estão abarrotados, inundados de capital­-mercadoria. Não é, portanto, a falta de capital­-mercadoria o que provoca a escassez. Retornaremos a essa questão adiante.


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