Livro: Karl Marx - O Capital, Livro II - Capítulos 16 e 17
Livro: Karl Marx - O Capital, Livro II - Capítulos 16 e 17
Pgs. 381-404:
CAPÍTULO 16: "A rotação do capital variável"
148 - O "exemplo/premissa" da coisa toda: Digamos que o período de rotação seja = 5 semanas; o de trabalho = 4 semanas; o de circulação = 1 semana. Assim, o capital I = £2.000 consistirá de £1.600 de capital constante e £400 de capital variável, e o capital II = £500, de £400 de capital constante e £100 de capital variável. A cada semana de trabalho, é desembolsado um capital de £500. Num ano de cinquenta semanas, tem-se um produto anual de 50 × 500 = £25.000. O capital I de £2.000, constantemente aplicado num período de trabalho, efetua 12½ rotações. 12½ × 2.000 = £25.000. Destas £25.000, ⅘ = £20.000 são capital constante, desembolsado em meios de produção, e ⅕ = £5.000, capital variável, desembolsado em salários. Já o capital total de £2.500, ao contrário, efetua 25.000/2.500 = 10 rotações.
149 - Um exemplo concreto de cálculo da taxa de mais-valia: Supondo-se que o capital variável de £100 desembolsado semanalmente produza um mais-valor de 100% = £100, o capital variável de £500 desembolsado no período de rotação de cinco semanas produzirá um mais-valor de £500, isto é, metade da jornada de trabalho consistirá de mais-trabalho; (...) Porém, se £500 de capital variável produzem £500, então £5.000 produzirão um mais-valor de 10 × 500 = £5.000. O capital variável adiantado é, porém, £500. Denominamos taxa anual do mais-valor a proporção entre a massa total de mais-valor produzida durante o ano e a soma de valor do capital variável adiantado. No caso presente, essa taxa é = 5.000/500 = 1.000%. (Pode-se até conceituar assim, mas qual é a utilidade/consequência prática dessa conta? Não sei).
150 - ...Coloca, logo depois, que se o "capital circulante variável adiantado" fosse logo de 5000 dinheiros e não apenas 500, a taxa de mais valia anual seria de 100% "apenas". Isso nas mesmas condições. Tudo pareceu transcorrer exatamente igual, mas um negócio produziu muito mais "taxa de mais-valor" (a massa é igual) que o outro. (Creio que, na prática, a concorrência fará com que essas diferenças não existam, em nível de preço. Muita rotação implicará margens pequenas nessas rotações. Porém, Marx ainda não quer complicar nesse nível a análise).
151 - A diferença essencial sobre os exemplos é simplesmente esta: O capital A de £500 jamais é adiantado por um período maior do que cinco semanas. Ao fim desse prazo, ele refluiu e pode, no decorrer do ano, renovar dez vezes o mesmo processo, mediante dez rotações. (...) Na realidade, embora as £500 sejam sempre empregadas de novo, jamais são adiantadas mais do que as mesmas £500 a cada cinco semanas.
152 - Em resumo da porra toda: A taxa anual do mais-valor é igual a: (massa do mais-valor produzido durante o ano)/(capital variável adiantado). Mas a massa do mais-valor produzido durante o ano é igual à taxa efetiva do mais-valor multiplicada pelo capital variável empregado em sua produção.
153 - Outra decorrência óbvia, mas vamos lá: Se tomamos a taxa anual do mais-valor (M’), a taxa efetiva do mais-valor (m’), o capital variável adiantado (v), o número de rotações (n), temos: M’ = m’vn/v = m’n; portanto M’ = m’n e só é = m’ quando n = 1, ou seja, quando M’ = m’ × 1 = m’. (...) Segue-se, ademais, que a taxa anual do mais-valor é sempre = m’n, isto é, igual à taxa efetiva do mais-valor produzido num período de rotação pelo capital variável consumido durante esse período, multiplicada pelo número de rotações efetuadas por esse capital durante o ano, ou (o que é o mesmo) multiplicada pelo seu tempo de rotação inverso, tendo o ano como unidade. ....M' é maior que m’ quando n é maior que 1.
154 - (É um capítulo no qual Marx repete um milhão de vezes a mesma coisa. Às vezes até a mesma frase páginas depois. Bem pouco organizado/objetivo.)
155 - As empresas com rotações longas e o mercado monetário: Tal mercado é pressionado porque aqui se faz necessário o adiantamento constante de capital monetário em grande escala e durante longos períodos. Retira recursos produtivos da sociedade para entregar lááá na frente. No entanto, Marx coloca que dinheiro equivalente surge no lugar desde já para comprar materiais de produção e etc. Um boom que se seguirá de crise mais na frente. Parte da descrição dele: "...Uma parte do exército operário de reserva [Arbeiterreservearmee], que pressionava os preços para baixo, é absorvida. Os salários sobem em geral, mesmo nas áreas do mercado de trabalho que até então apresentavam um bom nível de ocupação. Isso dura até que o inevitável colapso volta a liberar o exército operário de reserva e os salários são novamente pressionados para baixo, até atingir seu patamar mínimo".
Pgs. 405-434:
CAPÍTULO 17: "A circulação do mais-valor"
156 - Achei o capítulo um longo festival de obviedades ou coisas já sem tanta importância prática. A parte sobre ouro inclusive já está meio datada, bem como outras discussões e "mistérios" que surgem daí. Enfim, li tudo, mas rápido.
157 - Consideremos particularmente o caso em que o salário aumenta em geral e, assim – sob as condições pressupostas –, a taxa do mais-valor cai em geral, sem que, além disso, e sempre de acordo com o pressuposto, ocorra qualquer variação no valor da massa de mercadorias circulante. Nesse caso, é certo que haveria um aumento do capital monetário que precisa ser adiantado como capital variável, ou seja, da massa monetária que se presta a essa função.
158 - Resultado final desse aumento de salários sem aumento de produtividade (e o consequente aumento de preços que ele acarreta segundo Marx): Após algumas oscilações, circula uma massa de mercadorias cujo valor é o mesmo que antes. E, no que diz respeito às oscilações momentâneas, estas não terão outro resultado que lançar na circulação interna um capital monetário inativo, que até agora se mantinha ocupado com operações especulativas na Bolsa ou no exterior. (É mais complexo que isso. Tem o papel dos BCs e etc nos fenômenos e dos próprios bancos, mas enfim... nessa época nem estava perto de existir ainda esse sistema a que me refiro)
159 - Aqui ainda sob o pressuposto dos salários avançando sobre a mais-valia na repartição da renda nacional, analisa-se o que ocorrerá com a produção dos bens de luxo: ...retirar-se-á capital da produção desses artigos até que sua oferta se reduza ao volume correspondente a seu papel modificado no processo social de produção. Com essa produção reduzida, seus preços voltarão a seu patamar normal, pressupondo-se que o valor não se modifique por outras causas. Enquanto dura essa contração ou processo de compensação, adiciona-se à produção de meios de subsistência – com preços crescentes destes últimos –, de modo igualmente constante, tanto capital quanto o que se retirou do outro ramo da produção, até que a demanda esteja satisfeita. Assim, restaura-se o equilíbrio, e a conclusão de todo o processo é que o capital social e, por conseguinte, também o capital monetário reparte-se numa proporção modificada entre a produção de meios necessários de subsistência e a de artigos de luxo.
160 - (Algumas afirmações posteriores de Marx achei mal explicadas ou mesmo erradas. Pode ser também que eu não tenha entendido o contexto da afirmação. Porém, o próprio rodapé diz que os raciocínios se referem a questões que serão mais explicadas no Livro III).
161 - Nem sempre mais dinheiro é mais rotações. Uma circulação monetária mais rápida tem lugar sempre que uma massa maior de transações se efetua com a mesma massa monetária. Isso também pode ocorrer, no caso de períodos iguais de reprodução do capital, em consequência de mudanças nas técnicas para o curso do dinheiro. Mais do que isso: a massa de transações nas quais o dinheiro realiza seu curso pode aumentar sem que isso expresse um intercâmbio efetivo de mercadorias (agiotagem na Bolsa etc.). Por outro lado, certos cursos do dinheiro podem desaparecer completamente. Por exemplo, onde o próprio agricultor é proprietário fundiário não se produz nenhum curso de dinheiro entre o arrendatário e o proprietário fundiário, e onde o próprio capitalista industrial é proprietário do capital não ocorre nenhum curso entre ele e o credor.
162 - De certa forma, os inconvenientes do ouro como dinheiro já estavam em Marx: A soma total da força de trabalho e dos meios sociais de produção despendidos na produção anual de ouro e prata como instrumentos da circulação constitui um volumoso lote dos faux frais [custos mortos] do modo de produção capitalista e, em geral, do modo de produção fundado na produção de mercadorias. Ela subtrai ao usufruto social uma quantidade correspondente de meios possivelmente suplementares da produção e do consumo, isto é, da riqueza efetiva. Na medida em que, com uma escala dada e constante da produção, ou num dado grau de sua expansão, diminuem os custos dessa dispendiosa maquinaria de circulação, nessa mesma medida é aumentada a força produtiva do trabalho social. Portanto, na medida em que os expedientes desenvolvidos com o sistema de crédito surtem esse efeito, eles incrementam diretamente a riqueza capitalista, seja permitindo que grande parte do processo social de produção e de trabalho se realize sem qualquer intervenção de dinheiro real, seja elevando a capacidade funcional da massa monetária efetivamente operante. (...) Desse modo, fica resolvida a absurda questão de se a produção capitalista, em seu volume atual, seria possível sem o sistema de crédito (mesmo considerado unicamente desse ponto de vista), isto é, se ela seria possível somente com a circulação metálica. Evidentemente, a resposta é negativa. Ela encontraria, antes, barreiras no volume da produção de metais preciosos. (Não é nem isso, pois existe a deflação, o problema é que esta desencoraja o crédito e, consequentemente, o investimento)
163 - "Dinheiro mesmo" nem sempre é necessário: A acumulação de dinheiro de uma das partes também pode ser realizada sem dinheiro vivo, mediante a simples acumulação de títulos de dívida.
.
Comentários
Postar um comentário