Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XIII

           

Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XIII


Pgs. 241-260:


241 - O capítulo 13 se chama "Progresso tecnológico: curto, médio e longo prazos". Blanchard coloca que, no curto prazo, o comportamento da demanda é imprevisível quanto ao progresso tecnológico/aumento da produtividade. Dá uns exemplos que, a meu ver, não vão à raiz da coisa, pois, por eles, parece é que a expectativa do trabalhador quanto á inovação tecnológica é que será o maior player da relação, seja temendo o desemprego, ao que entendi, ou aumentando o consumo por alguma euforia. Reestruturações empresariais, com tecnologia já existente/dada, visando ganhos de eficiência, poderia empurrar a demanda pra trás. Enquanto isso, crê que introdução de novas (e produtos) "anima" a demanda. (A meu ver, não é que eu discorde 100%, mas deveria enfatizar se o "superlucro" novo será poupado ou consumido pelos ricos em forma de bens ou serviços). Certo é que a oferta agregada obviamente se desloca para baixo. Ou seja, mais bens (produto) serão produzidos ao mesmo nível de preços.



242 - Relação produtividade/produto/emprego. Meio óbvia: Se a produtividade aumentar em 2%, o produto deverá aumentar no mínimo 2% para evitar uma diminuição do emprego — isto é, um aumento do desemprego. Evidência empírica dos EUA desde a década de 60 pode ter algo a nos dizer sobre isso. O gráfico mostra uma relação fortemente positiva entre variações anuais do crescimento do produto e do crescimento da produtividade. Além disso, as variações do produto são normalmente maiores do que as variações da produtividade.



243 - Segundo Blanchard, o produto puxa a produtividade porque as empresas "estocam trabalho" para tempos de expansão em vez de demitir funcionários. Assim, com economia aquecida, esses funcionários se tornam mais produtivos. Trabalho se intensifica ou entram/fazem mais horas extras. Respondem a aumento no produto. Porém, coloca que quando se tenta medir exclusivamente a alteração exógena na produtividade, aí sim os dados ficam tão confusos quanto a teoria: Às vezes, os aumentos da produtividade levam a aumentos suficientes do produto para manter ou mesmo aumentar o emprego no curto prazo. „„ Às vezes isso não acontece, e o desemprego aumenta no curto prazo.


244 - Médio prazo e "desemprego estrutural". Começa lembrando que, no médio prazo, a economia tende à taxa "natural"/estrutural de desemprego. Menciona as antigas revoltas contra as máquinas. A palavra ‘sabotador’ origina-se de uma das formas que os trabalhadores franceses utilizavam para destruir máquinas: colocando, dentro delas, seus pesados sapatos de madeira, os ‘sabots’.


245 - Lança uma hipótese de pesquisa: Pode ser que períodos de acelerado progresso tecnológico estejam associados a uma taxa natural mais alta de desemprego, e períodos de progresso lento estejam associados a uma taxa natural mais baixa de desemprego


246 - Afirma que no antigo modelo sobre determinação de salários (capítulos anteriores) cabe agora uma nova variável: O termo novo é Ae . Os salários agora dependem também do nível esperado de produtividade, Ae . Se os trabalhadores e as empresas esperam que a produtividade aumente, incorporarão essas expectativas aos salários fixados na negociação. Vai fazendo umas álgebras chatas e sem muito porquê e chega a isso:




247 - O salário real pago pelas empresas, W/P, aumenta proporcionalmente com a produtividade. (É, Blanchard, mas isso se a margem de lucro média se mantiver, o que nem sempre é verdade no tempo.) Ainda sobre as equações acima: Para um dado nível de produtividade, a equação (13.6) é representada pela curva negativamente inclinada mais baixa na Figura 13.4. O salário real resultante da fixação de salários é função decrescente da taxa de desemprego. Mais à frente, afirma: A intuição desse resultado é simples: um aumento de 3% na produtividade leva as empresas a reduzir os preços em 3%, dados os salários, o que leva a um aumento de 3% nos salários reais. Ou seja, claramente o modelo pressupõe que a taxa de lucro, margem, mark-up, ou sei lá o que, nunca mude. Assim, a taxa natural de desemprego não deve depender nem do nível de produtividade, nem da taxa de crescimento da produtividade.




248 - Explica o resultado do segundo gráfico acima com base nas expectativas dos agentes: Quando por algum motivo ocorre a desaceleração do crescimento da produtividade, é necessário muito tempo para que a sociedade, em geral, e os trabalhadores, em particular, ajustem suas expectativas. Enquanto isso, os trabalhadores continuam a reivindicar aumentos de salários que já não são consistentes com a nova taxa mais baixa de crescimento da produtividade. Em outras palavras, a mesma coisa: Uma explicação plausível é a de que é preciso haver alto desemprego para conciliar as expectativas salariais dos trabalhadores com o crescimento menor da produtividadeEnfim, aqui é o próprio médio prazo que é afetado pelas expectativas. Tipo o curto no caso da dinâmica inflacionária/monetária. ...a relação de fixação de salários se deslocará para cima mais do que a relação de fixação de preços. Desemprego natural temporariamente modificado até a expectativa sobre a produtividade futura baixar.



249 - Agora chega num "porém" importante. De fato, para alguns, pode rolar certo desemprego estrutural. Para alguns trabalhadores — aqueles com habilidades não mais demandadas —, a mudança estrutural pode, de fato, significar desemprego, ou salários mais baixos, ou ambos. Às vezes, meras eventualidades de mudanças estruturais causa isso. Blanchard exemplifica com um relatório alheio: Meu avô era ferreiro, assim como foi seu pai. Meu pai, contudo, fez parte do processo evolutivo de transformação. Após abandonar a escola na sétima série para trabalhar em uma serraria, foi tomado pela febre empreendedora. Alugou um galpão e abriu um posto de gasolina para atender aos carros que haviam acabado com o negócio do pai dele. Meu pai teve êxito e, então, comprou um terreno no alto de uma colina, onde construiu um posto de serviços para caminhões. Nosso posto foi extremamente bem-sucedido até a construção de uma nova estrada, 30 quilômetros a oeste. O processo de transformação substituiu a US 411 pela Interestadual 75, fazendo desaparecer meus sonhos de uma vida próspera. Profissões inteiras desaparecem e outras surgem. Algumas ganham prestígio no tempo e outras perdem. Oscilações de demanda e inovações tecnológicas que não estão sob controle. 


250 - Coloca que pode haver forte relação entre progresso tecnológico e desigualdade. Os dados mostram que ...a desigualdade salarial aumentou consideravelmente nos Estados Unidos nos últimos 20 anos. Principal causa? ...crescimento contínuo da demanda por trabalhadores qualificados em relação à demanda pelos não qualificados. ... Essa tendência da demanda relativa não é nova; já existia em uma certa extensão nas décadas de 1960 e 1970. Mas foi compensada na época por um aumento contínuo da oferta relativa de trabalhadores qualificados



251 - EUA e década de 90: cresceu a produtividade e o emprego. EUA pós-2000: cresceu a produtividade, mas sem emprego (inicialmente). Anos 90 foram de forte crescimento passada a crise inicial. Produto subindo cerca de 4%. Para as empresas, a “Nova Economia” parecia prometer altos lucros e, dessa forma, justificava altas taxas de investimento. Para os consumidores, a alta do mercado de ações justificava as altas taxas de consumo. E os anos 2000? Essa é a explicação de Blanchard para a "recuperação sem emprego": O crescimento da produtividade foi excepcionalmente alto em 2002 e 2003 — de 3,7% em média. Dado esse alto crescimento da produtividade, o crescimento do produto deveria ser muito maior para levar a uma diminuição do desemprego. No entanto, nessa época, muitas empresas e consumidores se mostravam bastante céticos quanto à nova economia e, apesar das boas notícias sobre o crescimento da produtividade, não queriam cometer o mesmo erro da década de 1990. Consequentemente, não houve uma explosão do consumo ou do investimento; portanto, o crescimento da demanda e do produto não foi suficiente para aumentar o emprego. (...) No início de 2004, o crescimento do produto começou a superar o crescimento da produtividade, o desemprego começou a diminuir.


252 - ...Crescimento da produtividade pode ter levado o desemprego estrutural um pouco para baixo e aliviado, assim, a pressão inflacionária, tendo em vista a baixa média de desemprego das décadas. Esse é o motivo principal por que, apesar do baixo desemprego, houvesse tão pouca pressão sobre a inflação — posto de outra forma, por que a taxa natural foi menor. (Principal já não sei, pois a produtividade foi bem mais baixa na década de 10 aparentemente e a taxa de desemprego continuou a ser baixa sem pressão inflacionária, na segunda metade. Por isso, Blanchard até errou sua previsão sobre a taxa de desemprego futura).


253 - Voltando à questão do crescimento da demanda relativa por qualificados nos EUA, Blanchard observa que isso não é fruto apenas do deslocamento de empresas que trabalham com mão-de-obra menos produtiva/qualificada para outros países. Mesmo empresas sem concorrência estrangeira apresentam o "sintoma". Enfim... A outra linha de argumentação se concentra no progresso tecnológico viesado para a qualificação. De acordo com esse argumento, novas máquinas e novos métodos de produção necessitam hoje de mais trabalhadores qualificados do que no passado. O desenvolvimento de computadores necessita de trabalhadores cada vez mais versados em computação. Os novos métodos de produção necessitam de trabalhadores mais flexíveis, com maior capacidade de adaptação a novas tarefas. A maior flexibilidade, por sua vez, requer mais habilidades e maior nível de instrução. Por isso que toda empresa acaba sentindo necessidade desse tipo de trabalhador para acompanhar o nível geral do mercado.


254 - ...Sobre o assunto, pra terminar, faz uma lista de ressalvas. Motivos pelos quais essa tendência pode ser descontinuada. Destaco uma: Os retornos maiores do treinamento e da instrução podem aumentar a oferta relativa de trabalhadores qualificados e, consequentemente, contribuir para estabilizar os salários relativos. Menciona, em tal sentido, o papel da política de educação: Ela deve assegurar que a qualidade do ensino fundamental e do ensino médio para os filhos dos trabalhadores não qualificados não se deteriore ainda mais e que aqueles que desejam adquirir mais educação possam tomar emprestado para pagar por ela.


255 - Passa a falar das "instituições". Segundo Blanchard, o que faz com que o Quênia não possa adotar o "A" (estado tecnológico) dos EUA é especialmente isto aqui (o fator institucional mais importante): Em um nível amplo, a proteção dos direitos de propriedade pode ser o mais importante. Poucos indivíduos vão criar empresas, introduzir novas tecnologias e investir se esperam que os lucros sejam tomados pelo Estado ou se transformem em propinas para os burocratas corruptos, ou que sejam roubados por outras pessoas na economia. (Se fosse assim fácil... Não sei de onde essa galera tira que basta resolver isso. Pelo menos traz uma correlaçãozinha, seja lá o que for isso de "proteção" na prática)



256 - Detalhando mais o que entende por instituições, fala em lei rígida de patentes (algo que boa parte dos países que se tornaram ricos desrespeitaram) e leis antitrustes (também algo que não existia muito na decolagem dos EUA no século XIX, por exemplo). No mais, falas abstratas como "sistema político e jurídico bom e que protege" e etc. Talvez pudesse detalhar mais. Assim brevemente fica parecendo um discurso meramente ideológico. Usar as Coréias como exemplo foi bem simplista, por motivos que estou sem tempo para discorrer. Enfim, espero que Acemoglu faça melhor, pois pretendo ler. 


257 - Blanchard sobre as reformas de Deng na China: Os efeitos econômicos dessas reformas cumulativas foram dramáticos: o crescimento médio do produto por trabalhador aumentou de 2,5% entre 1952 e 1977 para mais de 8% desde então. Coloca que há quem associe tal sucesso relativo (a outros países que abandonaram o amplo planejamento central) ao gradualismo das reformas, dando tempo para as pessoas se organizarem e se (re)adaptarem. Há até quem atribua o sucesso à "cultura confucionista". Não entendo porque a China aparece bem nesses índices relativos à propriedade, já que interfere na mesma mais até do que o Brasil aparentemente. 


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