Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XXIX

      

Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XXIX


Pgs. 522-534:


515 - O capítulo 27 é sobre história da macroeconomia. "Epílogo: a história da macroeconomia". Inicia colocando que Keynes confidenciou a um amigo que acreditava estar escrevendo um livro que revolucionaria o pensamento econômico. A Teoria geral ofereceu uma interpretação dos acontecimentos, uma estrutura intelectual e um argumento claro a favor da intervenção governamental.


516 - ...Foi o primeiro a tratar de consumo, renda e multiplicador, com os choques de demanda amplificando alterações no produto, especialmente no curto prazo. Tratou, ainda da "preferência pela liquidez (o termo que Keynes utilizou para a demanda por moeda), que explica como a política monetária pode afetar as taxas de juros e a demanda agregada". Por fim, enfatizou "a importância das expectativas ao afetar o consumo e o investimento; a ideia de que o instinto animal (alterações das expectativas) constitui um fator importante por trás das alterações da demanda e do produto".


517 - Ao que entendi, Samuelson foi quem consagrou a ideia de "síntese neoclássica", a qual aderiram "noventa por cento" dos economistas entre 1950 e 1970. A primeira tarefa após a publicação da Teoria geral foi formalizar matematicamente o que Keynes queria dizer. Embora Keynes soubesse matemática, evitou usá-la na Teoria geral. O resultado disso foram as intermináveis controvérsias sobre o que Keynes quis dizer e se havia falhas lógicas em alguns de seus argumentos.


518 - ...Surgiram diversas formalizações das ideias de Keynes. A mais influente foi o modelo IS–LM, desenvolvido por John Hicks e Alvin Hansen na década de 1930 e no início da década de 1940. A versão inicial do modelo IS–LM — muito semelhante à versão que apresentamos no Capítulo 5 deste livro — foi criticada por mutilar muitas das ideias originais de Keynes. As expectativas não desempenhavam qualquer papel e tanto o ajuste de preços quanto o de salários estavam totalmente ausentes. Entretanto, o modelo IS–LM fornecia um fundamento para se iniciar a construção e, como tal, teve um imenso sucesso. As discussões organizaram-se em torno das declividades das curvas IS e LM, de quais variáveis estavam faltando nas duas relações, de quais equações de preços e salários deviam ser acrescentadas ao modelo, e assim por diante.


519 - O primeiro modelo macroeconométrico dos Estados Unidos, desenvolvido no início da década de 1950 por Lawrence Klein, da Universidade da Pensilvânia, foi uma relação IS ampliada, com 16 equações. (...)  Sua estrutura era uma versão expandida do modelo IS –LM, somada a um mecanismo da curva de Phillips. Mas todos os seus componentes — consumo, investimento e demanda por moeda — refletiam o imenso progresso teórico e empírico alcançado desde Keynes.


520 - Década de 60 presenciou debate entre keynesianos e monetaristas no que dizia respeito a três temas. Primeiro, a pouca eficiência da política monetária comparada à fiscal, segundo os keynesianos. A curva IS era bastante o inclinada, ou seja, mudanças na taxa de juros tinham um efeito pequeno sobre a demanda e o produto. Friedman e Schwartz discordaram frontalmente: A conclusão não foi apenas de que a política monetária era muito poderosa, mas também de que os movimentos da moeda explicavam a maior parte das flutuações do produto. Segundo foi a curva de Phillips. Os keynesianos falavam em dilema entre desemprego e inflação mesmo no longo prazo. Friedman e Phelps argumentaram corretamente que não existia tal dilema, voltando tudo ao "natural". Terceiro? O papel da política econômica. Friedman era contra ativismo, defendendo uma política mais passiva e com regras simples.


521 - A crítica de Lucas (1978), ao que entendi, prevê um papel mais ativo/criativo das expectativas, as quais não se baseariam apenas em dados passados. Tomando novamente a história da curva de Phillips como exemplo, os dados até o início da década de 1970 sugeriam um dilema entre desemprego e inflação. À medida que os formuladores de política econômica tentaram explorar esse dilema, ele desapareceu. Sempre me parece exagerada. Vejamos: "Por exemplo, ao prever um aumento da moeda de 5% ao longo do ano seguinte, os fixadores de salários aumentariam os salários nominais fixados nos contratos para o próximo ano em 5%. As empresas, por sua vez, aumentariam os preços em 5%. O resultado seria que não aconteceria mudança alguma no estoque real de moeda, na demanda e no produto". (É muita racionalidade pra gente que não sabe sequer calcular juro/rendimento real direito.) Lucas dizia que somente mudanças não previstas afetam o produto. Fator surpresa. (ok, mas veja a dificuldade habitual que os mercados possuem para prever as coisas macro, Lucas)


522 - ... Generalizando, se os fixadores de salários tivessem expectativas racionais, os deslocamentos da demanda possivelmente teriam efeito sobre o produto somente enquanto os salários nominais estivessem fixados — um ano ou cerca disso. Mesmo em seus próprios termos, o modelo keynesiano não fornecia uma teoria convincente sobre os efeitos prolongados da demanda sobre o produto.


523 - Terceira crítica era a questão do "controle ótimo vs teoria dos jogos": os modelos keynesianos não podiam explicar desvios prolongados do produto em relação ao nível natural de produto; a teoria da política econômica tinha de ser reformulada com o uso das ferramentas da teoria dos jogos.


524 - Blanchard dá explicações meio "mal explicadas" da incorporação das "expectativas" na teoria econômica. Cita uma teoria de Hall sobre consumo e menciona o modelo de Dornbusch, conhecido como modelo da sobrerreação das taxas de câmbio, tornou-se referência nas discussões sobre variações da taxa de câmbio. (Também mal explicado, em que inova e tal)


525 - Volta a lembrar a contribuição de Fischer e Taylor, referente à "justaposição das decisões de salários e preços", já mencionada em outro capítulo: ..."mostraram, portanto, que o segundo problema levantado pela crítica das expectativas racionais pode ser resolvido, que um retorno lento do produto ao nível natural de produto pode ser consistente com as expectativas racionais no mercado de trabalho".


526 - Novos-clássicos: O líder intelectual é Edward Prescott, e os modelos que ele e seus seguidores desenvolveram são conhecidos como modelos dos ciclos econômicos reais (real business cycle–RBC). Premissa metodológica: os modelos macroeconômicos deveriam ser construídos a partir de microfundamentos — ou seja, maximização da utilidade pelos trabalhadores, maximização dos lucros pelas empresas e expectativas racionais. Segunda premissa: flutuações no produto poderiam vir mais de "choques tecnológicos" que de flutuações na demanda ou desvios em relação ao "produto natural". O "natural" é que seria instável demais mesmo, com mudanças cíclicas no ritmo da produtividade.


527 - Blanchard critica mais ou menos na linha da minha primeira impressão sobre o assunto: ..."É difícil ver de que maneira esse processo poderia gerar algo como as grandes flutuações do produto no curto prazo que observamos na prática. Também é difícil pensar em recessões como tempos de regressão tecnológica, tempos em que tanto a produtividade quanto o produto diminuem. Finalmente, como vimos, há evidências muito fortes de que as variações da moeda, que não têm efeito sobre o produto nos modelos RBC, na verdade exercem forte efeito sobre o produto no mundo real. Ainda assim, a abordagem conceitual da RBC provou ser útil e influente. Ela reforçou também um ponto importante: o de que nem todas as flutuações no produto são desvios do nível natural".


528 - O termo ‘novos keynesianos’ representa um grupo vagamente relacionado de pesquisadores que compartilham a convicção comum de que a síntese que surgiu em resposta à crítica das expectativas racionais está basicamente correta. Mas eles também compartilham a convicção de que ainda resta muito a aprender sobre a natureza das imperfeições em mercados diferentes e sobre as implicações dessas imperfeições para as flutuações macroeconômicas. Cita muito brevemente pesquisas sobre rigidez e salário-eficiência. 


529 - Explica quase nada sobre a "nova teoria do crescimento". 


530 - Uma nova síntese estaria surgindo recentemente (anos 00): Conceitualmente, ela reconhece a importância potencial das mudanças no ritmo do progresso tecnológico enfatizadas pelo enfoque RBC e pela nova teoria do crescimento. Ela também contempla, entretanto, muitas das imperfeições enfatizadas pelos novos keynesianos, desde o papel da negociação na determinação dos salários e da informação imperfeita nos mercados de crédito e financeiro até a importância da rigidez nominal na criação de um papel para a demanda agregada de forma que ela afete o produto.


531 - ...Um exemplo particularmente bom dessa convergência é mostrado nos trabalhos de Michael Woodford (da Universidade de Colúmbia) e Jordi Gali (da Universidade Pompeu Fabra, na Catalunha). Woodford, Gali e um grupo de coautores desenvolveram um modelo, conhecido como o modelo novo keynesiano, que inclui a utilidade e maximização dos lucros, expectativas racionais e rigidez nominal. Esse modelo pode ser considerado uma versão mais moderna do modelo apresentado no Capítulo 17. Ele se mostrou extremamente útil e influente no redesenho da política monetária — do foco em metas de inflação à utilização de regras de taxas de juros — descrita no Capítulo 25. Ele levou também ao desenvolvimento de uma classe de modelos mais amplos que se baseiam em sua estrutura simples, mas que permite a inclusão de um grupo maior de imperfeições e, assim, deve ser resolvido numericamente. Esses modelos, que atualmente são utilizados em grande parte dos bancos centrais, são conhecidos como modelos dinâmicos estocásticos de equilíbrio geral (dynamic stochastic general equilibrium – DSGE). Como especificar, estimar e simular tais modelos é um dos principais temas da pesquisa atual em macroeconomia.


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