Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XXVI

    

Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XXVI


Pgs. 461-480:


461 - A parte VIII do livro se chama "De volta à política econômica" e pretende ser meio que uma síntese de tudo. O capítulo 24, primeiro da série, é o "Os formuladores de política econômica deveriam ter restrições?"


462 - Menciona os modelos macro. Uma instituição solicitou um teste a respeito dos doze principais à época (anos 80, portanto, alguns devem estar defasados) para ver o que responderiam em forma de gráfico. A hipótese foi a seguinte: Considere um caso em que a economia dos Estados Unidos cresça à sua taxa de crescimento normal e em que o desemprego esteja em sua taxa natural; chame esse caso básico. Suponha agora que no período de um ano o Fed aumente a moeda mais rapidamente do que no caso básico, de modo que, após um ano, a moeda nominal seja 4% maior do que teria sido no caso básico. A partir desse momento, a moeda nominal cresce à mesma taxa que no caso básico, de modo que o nível de moeda nominal permanece 4% maior do que teria sido sem a mudança da política monetária. Suponha, ainda que as taxas de juros no resto do mundo permaneçam inalteradas. O que acontecerá com o produto dos Estados Unidos? Divertido o resultado:



463 - .... Após um ano, o desvio médio do produto em relação ao caso básico é positivo. Mas a gama de respostas é ampla, de praticamente nenhuma mudança a um aumento aproximado de 3%; mesmo excluindo a previsão mais extrema, a gama ainda é de mais de 1%. Dois anos depois, o desvio médio é de 1,2%; de novo, se excluirmos a previsão mais extrema, a gama permanecerá ainda de 2%. E, seis anos depois, o desvio médio é de 0,6% e as respostas vão de -0,3% a 2,5%. Em suma, se medirmos a incerteza pela gama de respostas desse conjunto de modelos, há uma incerteza substancial sobre os efeitos da política. 


464 - ...Afirma que quatro modelos incorporavam "expectativas". Faz um quadro à página 465 detalhando cada modelo. Na página seguinte, faz um cálculo baseado em "Okun" e suposto desemprego estrutural/natural para calcular quanto o FED deve aumentar de moeda em um ano para fazer a taxa de desemprego baixar de 7 para 5%. Pela média das respostas dos doze modelos, deveria aumentar em 23,8%, isso porque "um aumento da oferta de moeda de 4% leva a um aumento do produto de 0,85% no primeiro ano" (segundo a média dos doze modelos). O curioso é a variação dos modelos. A média é só a média. Se a gente for ver os resultados mais extremos, teremos o seguinte: ...Essa gama implica que um aumento da moeda de 23,8% leva, nos diversos modelos, a uma resposta do produto em algum ponto entre 0% e 17,9% (23,8% × 0,75). Esses números do produto implicam, por sua vez, uma diminuição do desemprego em algum ponto entre 0% e 7%. É muita incerteza. ... Se os efeitos da moeda sobre o produto fossem tão fortes quanto os sugeridos por um dos 12 modelos, o desemprego no final do ano estaria 5% abaixo da taxa natural de desemprego, levando a pressões inflacionárias enormes.


465 - Debate nos anos 80: Um grupo, liderado por Milton Friedman, (...), argumentava que, em virtude de defasagens longas e variáveis, a política econômica ativista provavelmente fazia mais mal do que bem. O outro grupo, liderado por Franco Modigliani, do MIT, tinha acabado de elaborar a primeira geração de modelos macroeconométricos grandes e acreditava que o conhecimento dos economistas estava se tornando suficientemente bom para permitir cada vez mais uma sintonia fina da economia. O consenso era apenas o de que não era recomendável uma política por demais ativa.


466 - Não há a ilusão de que as máquinas serão capazes de prever e controlar as coisas. Modelos perfeitos e etc. "...Ao pensar sobre a política econômica, precisamos não da teoria do controle ótimo, mas da teoria dos jogos". Exemplifica com uma analogia sobre sequestradores. O governo não apenas deve anunciar a não-intenção em negociar (e depois negociar), bem como, na prática, não negociar mesmo. Do contrário, as expectativas se ajustam e anulam o discurso. 


467 - Fala da dificuldade em querer se aproveitar sempre das expectativas do mercado a fim de obter desemprego menor que a "taxa natural/estrutural": Podemos ler a história da curva de Phillips e do aumento da inflação na década de 1970 como resultantes exatamente das tentativas do Fed de manter o desemprego abaixo da taxa natural de desemprego, levando a uma inflação esperada cada vez maior e a uma inflação efetiva cada vez maior. Coloca que, então, assim como no caso do sequestro, é melhor fazer o que se anunciou.


468 - ...A partir disso tudo, discute a possibilidade de que se adote um monetarismo extremo, buscando sempre um crescimento constante da moeda nominal. O problema disso é óbvio: "...queremos que o Banco Central seja capaz de expandir a oferta de moeda quando o desemprego estiver muito acima da taxa natural e de contrair a oferta de moeda quando o desemprego estiver muito abaixo da taxa natural".


469 - Sugere mandatos mais longos e BC independente a fim de acabar com as tentações de reduzir desemprego adiando inflação.



470 - Cita, entre possíveis medidas típicas do populismo econômico, o corte de impostos. Adia um desequilíbrio fiscal muitas vezes às custas de um bom desempenho no curto prazo. Afirma que o ciclo político influencia muito as coisas. "Os partidos políticos podem retardar decisões dolorosas na esperança de que outro partido promova o ajuste e assuma o ônus dessas medidas". Dados desde Truman:



471 - ...Por que o efeito é muito mais forte no segundo ano de governo? A teoria do desemprego e da inflação que desenvolvemos no Capítulo 9 sugere uma hipótese plausível: como há defasagens nos efeitos da política econômica, é necessário cerca de um ano para que um novo governo afete a economia. E a sustentação de um crescimento acima do normal por muito tempo levaria a uma inflação crescente, logo nem mesmo um governo democrata desejaria manter um crescimento maior por todo o seu mandato.


472 - Europa, Euro e o pacto fiscal do Tratado de Maastricht: ...de 1993 a 2000, os saldos orçamentários passaram de um déficit de 5,8% do PIB da área do euro para um superávit de 0,1%. O desempenho de alguns dos países-membros foi particularmente impressionante: a Grécia reduziu seu déficit de 13,4% do PIB para 1,4% do PIB (embora descobriu-se, em 2004, que o governo grego trapaceou ao informar seus dados sobre o déficit e que a melhora efetiva, embora impressionante, foi menor do que a informada; atualmente, estima-se que o déficit para 2000 foi de 4,1%). O déficit da Itália foi de 10,1% do PIB em 1993 para somente 0,9% do PIB no ano 2000



473 - ...De 2000 para frente, porém, vários países apresentaram baixo crescimento do produto, o que deu novo fôlego aos déficits. (...) A razão entre o déficit e o PIB na área do euro voltou a subir para 3,1% em 2003 e agora está em 2,1%. Portugal chega 3,3% em 2001 e França e Alemanha chegam a 3% em 2001. A Itália entrou no bolo logo depois. Penalidades da UE eram previstas para isso, mas houve impasse e, ao que entendi, não foram aplicadas. "Essa crise deixou claro que as regras iniciais eram demasiadamente inflexíveis. Romano Prodi, presidente da Comissão Europeia, admitiu isso." Foi feita a seguinte mudança: "O crescimento não tem mais de ser menor do que -2% para que as regras sejam suspensas; o crescimento negativo, ou mesmo um prolongado crescimento positivo baixo, já podem permitir a mudança. Exceções também podem ser feitas caso o déficit seja fruto de reformas estruturais, ou para o investimento público." (Como a escrita do livro é de 2007, não sei se isso tudo já até não mudou bastante de novo).


474 - Propõe mais regras fiscais semirrígidas: Suponha agora que o déficit desencadeie automaticamente cortes gerais de gastos de 5% sem qualquer ação do Congresso. Ao saber que outros programas serão cortados, os membros do Congresso aceitarão cortes em seus programas favoritos mais facilmente. Eles poderão também isentar-se melhor da culpa pelos cortes. Os congressistas que conseguirem limitar os cortes em seu programa favorito a, digamos, 4% (convencendo o Congresso a fazer cortes mais profundos em alguns outros programas, de modo a manter o nível total de gastos mais baixo) poderão então voltar a seu eleitorado e alegar que eles com sucesso evitaram cortes ainda maiores.


475 - Cita, também, uma fórmula de teto de gastos discricionários, com cláusulas de exceção, adotado pelos EUA durante os anos 90. Em 1998, os déficits haviam acabado, e, pela primeira vez em 20 anos, o orçamento federal apresentava superávit. Nem toda a redução do déficit se deveu às regras da Lei de Cumprimento do Orçamento. Uma diminuição dos gastos em defesa provocada pelo fim da Guerra Fria e um grande aumento das receitas de impostos decorrente da forte expansão da segunda metade da década de 1990 foram fatores importantes. (...) Contudo, uma vez que surgiu o superávit orçamentário, o Congresso se tornou cada vez mais disposto a violar suas próprias regras. Os tetos de gastos foram sistematicamente desrespeitados e permitiu-se que a regra de repartição expirasse em 2002.


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