Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XX

                 

Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XX


Pgs. 366-376:


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364 - ...os efeitos de uma depreciação real se parecem muito com os de um aumento do produto estrangeiro. (...) Assim como no caso de um aumento do produto estrangeiro, uma depreciação leva a um aumento das exportações líquidas (supondo, como fazemos, que a condição de Marshall-Lerner seja satisfeita), para qualquer nível de produto. Isso leva, imagino que rapidamente, a algum aumento do produto. Após, "o aumento das importações induzido pelo aumento do produto" será "menor do que a melhora direta da balança comercial induzida pela depreciação". Tudo isso porque "a depreciação leva a um deslocamento da demanda, tanto estrangeira quanto doméstica, em direção aos bens domésticos".


365 - ...Lembrar que tudo isso faz cair o poder de compra das pessoas, que passam a ter menos acesso aos importados ou produtos nacionais que dependam de insumos do tipo, salvo imediata reação salarial sobre o lucro gerado. Esse foi, por exemplo, o caso do México, onde uma grande depreciação do peso em 1994-1995 — de 29 centavos de dólar por peso em novembro de 1994 para 17 centavos por peso em maio de 1995 — levou a um grande declínio no padrão de vida dos trabalhadores e a uma forte tensão social.


366 - ...E se um governo quiser diminuir déficit comercial sem mexer no produto? Deverá usar a combinação certa de depreciação e contração fiscal. A Figura 19.5 mostra qual deve ser essa combinação.



367 - Enfim, coloca que os dois instrumentos vão sempre depender da situação das contas externas e do produto. Se ambos estão ruins - produto baixo, ou seja, com desemprego, e déficit alto na balança comercial -, a solução pode ser depreciação e expansão fiscal, por exemplo. 


368 - Coloca que, após apreciações e depreciações reais, os preços é que se ajustam primeiro. Só depois as quantidades. Os consumidores levam algum tempo para entender que os preços relativos mudaram, as empresas levam algum tempo para mudar para fornecedores mais baratos, e assim por diante. Assim, inicialmente deve haver até declínio das exportações liquidas! ... Os economistas referem-se a esse processo de ajuste como curva J, porque a curva do gráfico — com um tanto de imaginação, devemos admitir — se parece com um ‘J’. Menciona inclusive quão longa foi a defasagem nos EUA dos anos 80. Dois anos até a curva J agir na segunda parte (positiva)Estudos econométricos estimam em seis meses a um ano o tempo para a J entrar no "positivo". 




369 - ...Se uma depreciação inicialmente diminui as exportações líquidas, também exerce inicialmente um efeito contracionista sobre o produto. Portanto, se um governo contar com uma depreciação tanto para melhorar a balança comercial quanto para expandir o produto doméstico, os efeitos irão no sentido ‘errado’ por algum tempo.


370 - NX = S + (T - G) - I: Essa condição diz que, em equilíbrio, a balança comercial (NX) deve ser igual à poupança (a soma da poupança privada, S, com a poupança pública, T - G) menos o investimento (I).3 Consequentemente, um superávit comercial deve corresponder a um excesso de poupança sobre o investimento; um déficit comercial deve corresponder a um excesso de investimento sobre a poupança. Por que? ...vimos que um superávit comercial implica um empréstimo líquido do país para o resto do mundo e um déficit comercial implica um empréstimo líquido que um país toma do resto do mundo.


371 - ...Há três consequências: a) Um aumento do investimento deve se refletir ou em um aumento da poupança privada, ou da poupança pública, ou em uma deterioração da balança comercial (um superávit comercial menor ou um déficit comercial maior).b) Um aumento do déficit orçamentário deve se refletir ou em um aumento da poupança privada, ou em uma diminuição do investimento, ou em uma deterioração da balança comercialc) Um país com uma alta taxa de poupança (privada mais pública) deve ter ou uma alta taxa de investimento, ou um grande superávit comercial. (Ou ambos, eu diria). Blanchard alerta que um dos perigos da equação acima é passar a impressão de que não é possível uma depreciação melhorar a poupança e o investimento. Lá na frente, ela pode aumentar o produto e o nível de poupança/investimento.


372 - Coloca que o déficit dos EUA em 2006 implica que tomara emprestado "50% da poupança líquida mundial (poupança líquida da depreciação)". Motivos disso? a) Desde 1996, o crescimento norte-americano tem sido muito maior do que o da Europa e o do Japão. E isso não se deveu a aumento da participação dos EUA nas exportações mundiais, o que poderia ter contrabalanceado o déficit comercial. Foi a demanda doméstica mesmo; b) ao que entendi, aumento da proporção de importados no consumo americano; c) apreciação do dólar até 2002 (sendo que se desvalorizou entre 2002 e 2006, mas sem força suficiente para contrabalancear os motivos anteriores e fazer a curva J agir). Além pode perguntar: Por que o dólar foi tão forte até 2002 mesmo diante de um grande déficit em transações correntes? (...) em resumo, a resposta é que houve uma acentuada demanda por ativos norte-americanos por parte dos investidores estrangeiros.



373 - EUA, poupança privada e déficit comercial entre 1996 e 2006: está claro que essa queda na poupança veio principalmente da queda na poupança privada, S, e não do aumento no déficit orçamentário, G - T: a razão entre o déficit orçamentário e o PIB é praticamente a mesma em 2006 e em 1996, ao passo que a razão entre a poupança privada e o PIB é mais do que três pontos percentuais mais baixa em 2006 do que foi em 1996.



374 - ...Salvo forte depreciação cambial ou "um crescimento dos Estados Unidos menor do que no resto do mundo levaria a uma redução contínua do déficit comercial", Blanchard não via perspectiva de alteração desse quadro. (Creio que acertou. Salvo engano, permanece tudo assim até hoje).


375 - ...Alerta para o fato de que uma depreciação do dólar pode diminuir as importações dos EUA e pressionar, de forma recessiva, as demais economias mundiais, que podem precisar expandir seu gasto mesmo com orçamentos já bastante deficitários. Quando essa depreciação acontecerá? Essa é uma pergunta muito mais difícil de ser respondida. Ela acontecerá quando os investidores estrangeiros se tornarem relutantes em emprestar aos Estados Unidos valores próximos a US$ 800 bilhões ao ano. (Ou seja, quase nunca)


376 - Por fim, há o resumo e apêndice. Neles, coloca-se que a evidência empírica mostra o funcionamento da condição de Marshall-Lerner. ...Um exemplo numérico será útil aqui. Suponha que uma depreciação de 1% leve a um aumento proporcional das exportações de 0,9% e a uma diminuição proporcional das importações de 0,8%. (A evidência econométrica sobre a relação de exportações e importações com a taxa real de câmbio sugere que esses números são, de fato, razoáveis.) Nesse caso, o lado direito da equação será igual a -1% + 0,9% - (-0,8%) = 0,7%. Portanto, a balança comercial melhora. A condição de Marshall-Lerner é satisfeita.


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