Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XXI
Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XXI
Pgs. 377-393:
377 - O capítulo 20 se chama "Produto, taxa de juros e taxa de câmbio". Começa explicando que ensinou o modelo Mundell-Fleming:
Ou... Num reagrupamento...
378 - Hoje, no mundo dos juros zero, isto aqui mudou: Não há muitos motivos para que, por exemplo, os residentes do Japão retenham euro como moeda ou depósitos à vista. As transações no Japão requerem pagamento em ienes, não em euros. Se os residentes do Japão quiserem reter ativos denominados em euro, eles estarão em uma situação melhor retendo títulos em euro, que pelo menos pagam uma taxa de juros positiva.
379 - Faz uma série de observações/relações e equações, pra mim todas óbvias, sobre diferencial de taxa de juros e taxa de câmbio esperada. Os dois players das comparações entre reter moedas x ou y. Disso tudo, ele vai tirar a "IS-LM" para economia aberta:
380 - ...Como decorrência, lembra que um aumento de juros, por exemplo, não tem só o efeito inibitório interno, próprio das economias fechadas, mas também gera uma apreciação cambial, que torna os bens domésticos mais caros em relação aos bens estrangeiros e que leva a uma diminuição das exportações líquidas e, portanto, a uma diminuição da demanda por bens domésticos e a uma diminuição do produto. Duplo efeito "recessivo", digamos.
381 - Lembra que percepções de risco, especialmente em países da América Latina ou asiáticos, pode gerar "paradas súbitas" de fluxos, com grandes depreciações, por exemplo. Isso sendo que nada mudou no diferencial de juros, muitas vezes. Nos EUA, ocorre o contrário, pela imagem de segurança passada. Dólar aprecia com facilidade. (Eu citaria a Suiça também, talvez o maior exemplo).
382 - ...Por todas essas relações, um expansionismo fiscal, por exemplo, deve levar a um aumento do produto, um aumento da taxa de juros e uma apreciação. Isso compensa um pouco o efeito dos gastos do governo sobre a demanda doméstica e consequentemente o produto. À medida que o produto aumenta, o mesmo ocorre com a demanda por moeda, pressionando a taxa de juros para cima (um dos resultados: apreciação). (...) O que acontece com o investimento é ambíguo. Lembre-se de que o investimento depende tanto do produto quanto da taxa de juros: I = I (Y, i ). Por um lado, o produto aumenta, levando a um aumento do investimento. E, por fim, exportações líquidas obviamente tendem a piorar, pois "tanto o aumento do produto quanto a apreciação combinam-se para diminuir". Abaixo anexei, também, os efeitos de uma contração monetária, que são até mais intuitivos no caso.
383 - A lógica das minidesvalorizações em alguns países com regime de câmbio fixo - como era o Brasil no período FHC I: alguns países operam sob minidesvalorizações (crawling peg). O nome descreve bem o regime. Esses países normalmente têm taxas de inflação que superam a taxa de inflação dos Estados Unidos. Se eles atrelassem sua taxa nominal de câmbio ao dólar, o aumento mais rápido de seu nível de preços doméstico em relação ao nível de preços dos Estados Unidos levaria a uma apreciação real contínua e rapidamente tornaria seus bens não competitivos. Para evitar este efeito, esses países escolhem uma taxa de depreciação predeterminada em relação ao dólar. Eles escolhem mover devagar (crawl) em relação ao dólar.
384 - Antes do Euro, a Europa fez o seguinte experimento cambial: Outro tipo de arranjo é o de um grupo de países que mantêm suas taxas de câmbio bilaterais (a taxa de câmbio entre cada par de países) dentro de determinadas bandas. Talvez o exemplo mais expressivo desse regime seja o Sistema Monetário Europeu (SME), que determinou os movimentos das taxas de câmbio dentro da União Europeia de 1978 a 1998. Sob as regras do SME, os países-membros concordaram em manter suas taxas de câmbio em relação às outras moedas do sistema dentro de limites estreitos, ou bandas, em torno de uma paridade central — um dado valor para a taxa de câmbio. Mudanças na paridade central e desvalorizações ou valorizações de moedas específicas poderiam ocorrer, mas somente por comum acordo entre os países-membros. Após uma grande crise em 1992, que levou vários países a abandonarem completamente o SME, os ajustes da taxa de câmbio tornaram-se cada vez menos frequentes, fazendo com que vários países dessem um passo adiante e adotassem uma moeda comum, o euro. (...) como as taxas de juros efetivamente se alteram?
385 - ... Há dois arranjos possíveis. Em um deles, todos os países-membros coordenam as alterações de suas taxas de juros. No outro, um país assume a liderança e os outros o seguem — foi o que aconteceu no SME, com a Alemanha no papel de líder. Na década de 80, isso não era muito problema, pois interesses e metas estavam alinhados. Com a reunificação alemã, Bundesbank se tornou mais restritivo monetariamente temendo superaquecimento da economia (ver quadro abaixo), ao que entendi. Os demais não gostaram. Era uma política monetária/cambial boa para a conjuntura alemã da época, mas não para o resto. Eles não estavam experimentando o mesmo aumento da demanda, mas, para permanecer no SME, tiveram de acompanhar as taxas de juros alemãs. (...) a França precisava de taxas de juros maiores do que a Alemanha para manter a paridade marco alemão/franco. O motivo residia no fato de os mercados financeiros não terem certeza de que a França realmente manteria a paridade do franco em relação ao marco alemão. Itália e Reino Unido saíram em 92, como o mercado especulou.
386 - Traz quadro fiscal da Era Reagan. De um modo geral, receitas diminuíram e despesas cresceram. Parte dos propositores das reformas acreditava que, como as pessoas "trabalhariam mais" e se tornariam "mais produtivas", as receitas iriam até crescer com os cortes de impostos. No mais, ressalta que os indicadores macro (também abaixo) reagiram conforme o esperado pelo modelo Mundell-Fleming. (Tem um erro: o último indicador é de déficit comercial. Não apareceu o "-")
387 - ...De 1982 em diante, a evolução da economia foi dominada pelos efeitos da expansão fiscal. Como nosso modelo prevê, esses efeitos foram um forte crescimento do produto, altas taxas de juros e uma apreciação adicional do dólar. Os efeitos do alto crescimento do produto e da apreciação do dólar foram um aumento do déficit comercial para 2,7% do PIB em 1984.
388 - Outra consequência também óbvia de tudo que já foi visto até aqui: se os investidores esperam que a taxa de câmbio "E" permaneça inalterada, eles exigirão a mesma taxa nominal de juros em ambos os países. Sob uma taxa de câmbio fixa e com mobilidade perfeita de capitais, a taxa de juros interna deve ser igual à taxa de juros externa. (o problema é que, em países instáveis e/ou problemáticos, é bem comum que não acreditem na paridade e/ou apostem contra. Aí a taxa de juros tem que decolar e prejudicar tudo). Enfim, abre-se mão da política monetária para garantir a paridade cambial, sujeitando-a aos movimentos especulativos de oferta e demanda por moeda local, os quais têm a ver, também, com a "taxa de juros externa", especialmente do dólar.
389 - Por fim, trata do expansionismo fiscal num regime de câmbio fixo (tem ainda maior efeito sobre o produto). Nele, o Banco Central não pode deixar a moeda apreciar. Como o aumento do produto leva a um aumento da demanda por moeda, o Banco Central deve acomodar esse aumento da demanda por moeda aumentando a oferta de moeda. Assim, a oferta de moeda vai ampliar o efeito expansivo sobre o produto. Vale lembrar, porém, outro grande problema do regime fixo: Embora o país mantenha o controle da política fiscal, apenas um instrumento de política econômica não é o suficiente. (...) uma expansão fiscal pode ajudar a economia a sair de uma recessão, mas somente à custa de um déficit comercial maior. E um país que queira, por exemplo, diminuir seu déficit orçamentário não pode, sob taxas de câmbio fixas, usar a política monetária para compensar o efeito contracionista de sua política fiscal sobre o produto. No fixo, os juros são refém da paridade e percepções sobre ela, não da atividade econômica.
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