Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XVIII
Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XVIII
Pgs. 336-355:
336 - A parte VI do livro é sobre "economia aberta". O capítulo 18 é abertura dos mercados de bens e dos mercados financeiros. Começa com dados sobre os EUA e sua abertura comercial. Exportações e importações, que correspondiam a 5% do PIB na década de 1960, agora se situam em torno de 14% do PIB (11% para as exportações e 17% para as importações) (...) A razão entre o déficit comercial e o PIB chegou a 5,9% em 2006, um recorde histórico.
337 - Não compara com outros, mas diz que "um índice de abertura melhor do que as razões de exportação e importação é a proporção do produto agregado composta por bens comercializáveis — bens que concorrem com os bens estrangeiros tanto nos mercados domésticos como nos mercados estrangeiros. Segundo as estimativas, os bens comercializáveis representam hoje cerca de 60% do produto agregado dos Estados Unidos". Boa parte dos bens hoje em dia são isso. A maioria dos serviços ainda é de "bens não-comercializáveis". As comparações internacionais ficam por conta do coeficiente de exportação mesmo. (...) os países europeus menores apresentam coeficientes de exportações mais elevados ainda, de 54%, para a Suíça, a 92%, para a Bélgica. (...) A distância de outros mercados explica uma boa parte do baixo coeficiente de exportações japonês. Tamanho também importa. Quanto menor o país, mais ele deve se especializar em produzir e exportar apenas alguns produtos, dependendo das importações para os demais produtos. A Bélgica dificilmente pode permitir-se produzir a mesma variedade de bens que os Estados Unidos, um país de aproximadamente 40 vezes seu tamanho econômico.
338 - O coeficiente de exportação pode ser inclusive superior a 100%. Maior que o PIB. Singapura mesmo foi 243% em 2005. Trata-se de um país que importa uma quantidade imensa de bens primários e intermediários - e o PIB mede apenas valor agregado - visando transformar e produzir quase tudo para exportação. Imagine que fosse tudo para exportação. O PIB seria apenas exportações menos importações. E o volume das primeiras seria, portanto, necessariamente maior que o PIB (que descontas as importações).
339 - Coloca que, no câmbio, as terminologias "valorização" e "desvalorização" só costumam ser usadas no regime de câmbio fixo.
340 - Para os turistas da vida, o câmbio nominal não importa tanto, mas sim o (mais difícil de observar) câmbio real. O real é a relação entre bens. Ou seja, podem de compra. Apreciações e depreciações reais. Variações de câmbio nominal podem ter meramente a ver com inflação - aqui melhor medida pelo deflator do PIB (que não inclui bens importados consumidos pela população local, por exemplo, vale lembrar).
341 - ...Do gráfico abaixo, por exemplo, depreende-se que a inflação média no Reino Unido foi maior que nos EUA no período 1970 a 2005 (usa equações para explicar tudo isso, o que, pra variar, achei supérfluo). Interessante que os turistas dos EUA talvez achassem que passaram a poder comprar mais bens ingleses, pois viam a apreciação nominal de sua moeda. A realidade era o contrário. Dólar esteve se "desvalorizando" frente à libra.
342 - Cálculo da taxa de câmbio multilateral: pesamos cada país a partir do quanto comercializam com os Estados Unidos e a partir do quanto competem com os Estados Unidos em outros países. A variável obtida é denominada taxa real de câmbio multilateral dos Estados Unidos ou, simplesmente, taxa real de câmbio dos Estados Unidos.
343 - Abertura dos mercados financeiros: Em 2005, por exemplo, o volume diário registrado das transações de câmbio no mundo era de US$ 1,9 trilhão, dos quais 90% — cerca de US$ 1,7 trilhão — envolviam dólares em uma das pontas das transações. Diário! Enquanto isso, o volume diário da balança comercial dos EUA era cerca de US$ 9 bilhões. Ou seja, nem 1% do dólar movimentado por dia tem a ver com isso. Esse cálculo nos diz que a maioria das transações está associada não ao comércio, mas à compra e venda de ativos financeiros.
344 - Para um país como um todo, a abertura dos mercados financeiros tem outra implicação importante. Ela permite que o país tenha superávits comerciais e déficits comerciais. Lembre-se de que um país com déficit comercial compra mais do resto do mundo do que vende para o resto do mundo. Para cobrir a diferença entre o que compra e o que vende, o país deve tomar emprestado do resto do mundo.
345 - ...EUA e sua balança de pagamentos em 2006. Ou seja, a conta financeira compensa o déficit de 6,4% do PIB da "conta-corrente":
346 - ...Percebe-se que a "renda de investimentos" fez pouca diferença, em 2006, no saldo da conta corrente dos EUA: a renda de investimento norte-americana recebida do resto do mundo foi de US$ 620 bilhões, e a renda de investimento paga a estrangeiros foi de US$ 629 bilhões, com um saldo líquido de -US$ 9 bilhões. Sobre as "transferências líquidas recebidas", o saldo negativo indica que em 2006, os Estados Unidos foram — como têm sido tradicionalmente — um doador líquido de ajuda estrangeira.
347 - Conta-capital e seus termos: outro nome para os fluxos líquidos de capitais é o saldo da conta financeira. Fluxos líquidos de capitais positivos são chamados de superávit da conta financeira.
348 - Interessante a polêmica sobre os dados: Em 2006, a diferença entre os dois — a discrepância estatística — foi de US$ 141 bilhões, cerca de 20% do saldo em transações correntes. Esse é outro lembrete de que, mesmo em um país rico como os Estados Unidos, os dados econômicos estão longe da perfeição. (Esse problema de medida manifesta-se de outro modo também. A soma dos déficits em transações correntes de todos os países do mundo deveria ser igual a zero. O déficit de um país deveria aparecer como um superávit para os outros países como um todo. Entretanto, não é isso o que acontece com os dados. Se somássemos os déficits em transações correntes publicados de todos os países do mundo, teríamos a impressão de que o mundo tem um grande déficit em transações correntes!).
349 - PIB ou PNB é a seguinte pergunta na prática: o valor adicionado domesticamente (isto é, dentro do país)? Ou o valor adicionado por fatores de produção de posse doméstica? (...) Para a maioria dos países, a diferença entre o PNB e o PIB é normalmente pequena, pois os pagamentos de fatores efetuados e recebidos do resto do mundo aproximadamente se cancelam. Nos Estados Unidos, em 2006, a diferença entre o PIB e o PNB foi de US$ 30 bilhões — cerca de 0,2% do PIB. (Trata-se de um valor anormalmente baixo pelos padrões históricos. Mas, para os Estados Unidos, a diferença entre os dois nunca superou 1% do PIB.). Algumas situações especiais criam grandes diferenças em alguns países. Exemplo é o Kuwait, pela seguinte razão: Quando foi descoberto petróleo no Kuait, o governo do país decidiu que uma parcela das receitas de petróleo seria poupada e investida no exterior, em vez de ser gasta, de modo a fornecer uma renda de investimento para as futuras gerações de kuaitianos quando as receitas do petróleo acabassem. Curiosidade: Observe também como os pagamentos líquidos de fatores do Kuait declinaram a partir de 1989. Isso ocorreu porque o país precisou pagar a seus aliados parte do custo da Guerra do Golfo (1990-1991) e financiar sua reconstrução após o conflito.
350 - Faz considerações, hoje pra mim muito óbvias, sobre o risco de reter título de outros países. Não basta se basear em juros atuais ou mesmo futuros do país. É preciso pensar no câmbio esperado também. Apresenta a equação chamada de relação da paridade de juros descoberta ou, simplesmente, condição da paridade de juros. Lembrando que "E" é o câmbio (exchange). O asterisco é o título estrangeiro. Por fim, ele lembra que há, também, os custos de transação envolvidos nesses movimentos de compra e venda de moeda, tipo o spread cambial e o IOF, creio. Isso a pesar na hora de pensar se simplesmente não compra o título nacional e pronto.
Dá mais uma "reorganizada":
351 - Enfim... Numa aproximação... A conclusão óbvia e já sabida das equações chatas: ...a taxa de juros interna deve ser igual à taxa de juros externa menos a taxa de apreciação esperada da moeda nacional. Em outras palavras, a mesma coisa: a taxa de juros interna deve ser igual à taxa de juros externa menos a taxa de depreciação esperada da moeda estrangeira. Outra conclusão tão óbvia quanto importante: a menos que os países estejam dispostos a tolerar grandes variações de sua taxa de câmbio, as taxas de juros interna e externa provavelmente se moverão praticamente juntas. O gráfico abaixo me leva a pensar que não é tão à toa que a libra esterlina teve apreciação real frente ao dólar entre 1970 e 2005:
352 - Dá exemplo interessante ao fim da página 371, sobre compra de título brasileiro em 1993. Pagavam "taxa de juros mensal de 36,9%". Porém, a depreciação mensal da moeda no mês anterior foi de 34,6%. (Ademais, o que eu pensei foi: como confiar que no mês seguinte não seria ainda maior, tendo em vista a espiral inflacionária? Muita incerteza para o meu gosto).
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