Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XVII
Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XVII
Pgs. 321-335:
321 - Capítulo 17 é "expectativas, produto e política econômica". Começa trazendo um excelente quadro-resumo do que já foi aprendido até agora:
322 - ...Vamos definir o gasto privado agregado como a soma dos gastos de consumo e de investimento (são os dois componentes que dependem das expectativas): A(Y, T, r) ≡ C(Y - T) + I(Y, r) onde A representa o gasto privado agregado ou, apenas, o gasto privado. Com essa notação, podemos reescrever a relação IS como:
323 - ...Disso, ele parte para a inclusão das expectativas no modelo, para cada item:
324 - A diferença importantes em relação aos primeiros capítulos: a nova curva IS é bem mais inclinada do que a curva IS que desenhamos nos capítulos anteriores. Dito de outra maneira, tudo o mais constante, uma redução significativa da taxa de juros atual provavelmente tem somente um efeito pequeno sobre o produto de equilíbrio. (...) Por exemplo, as empresas provavelmente não alteram muito seus planos de investimento em resposta a uma diminuição da taxa real de juros atual se elas não esperam que as taxas reais de juros futuras esperadas diminuam também. (...) uma mudança na renda atual, dadas as expectativas inalteradas da renda futura, provavelmente não terá um efeito grande sobre o gasto.
325 - Na "LM" nada muda: ..."o custo de oportunidade de reter moeda hoje depende da taxa nominal de juros atual, não da taxa nominal de juros esperada para o próximo ano ou para o ano seguinte".
326 - Expansionismo monetário e expectativas. Se o plano do FED/BC é "comprado" pelo mercado/agentes econômicos, significa que as expectativas são impactadas positivamente, o que faz com que se espere um produto ainda maior que "nível B abaixo" e juros baixos por mais tempo. Resultado: o produto aumenta ainda mais e vai para o nível C. Nem sempre o mercado vai, porém, "comprar" a intenção do FED/BC. Ademais, se uma mudança na política monetária não surpreender investidores, empresas e consumidores ao ser implementada, então as expectativas não se alterarão.
327 - Coloca que, de certa forma, há primórdios da questão das expectativas na economia já com a "teorização" de Keynes sobre o "instinto animal", mas a ideia cresceu mesmo foi nos anos 70 com Lucas e Sargent. Expectativas "estáticas" ou mesmo "adaptativas" foram perdendo prestígio para a hipótese das expectativas racionais. Pessoas tentam prever e se preparar para o futuro dadas as informações acessíveis. Obviamente não quer dizer que acertem sempre. Uma das consequências, para Lucas: Sob as expectativas racionais, argumentou, uma política de desinflação com credibilidade pode ser capaz de diminuir a inflação sem aumentar o desemprego. ... Outra consequência: Elaborar uma política econômica com base na hipótese de que as pessoas farão erros sistemáticos em suas respostas a ela é insensato. Por mais que "coletivos" possam entrar em euforias ou pessimismos exagerados - ou seja, não acertem sempre -, é bom levar sempre em conta as expectativas. Na maioria das vezes, será o sensato a se fazer.
328 - ...Afirma que levou um tempo até os modelos aprenderem a "calibrar" toda essa coisa. "...Em grande parte por causa de problemas técnicos. Sob as expectativas racionais, o que ocorre hoje depende das expectativas do que ocorrerá no futuro. Mas o que ocorre no futuro também depende do que ocorre hoje."
329 - Traz a tese da austeridade expansionista, da qual a Irlanda dos anos 80 seria exemplo. Mesmo no curto prazo, se a "sociedade" entende que a contração fiscal vai trazer muitos benefícios e não muito longe, as expectativas fazem com que a curva IS possa ir pra frente, digamos assim. Enfim, previsão bem otimista.
330 - Lembra que a redução de déficit não vai mexer no médio prazo, mas gerará - ou poderá gerar - efeitos positivos no longo, já que o gasto (e, espera-se, investimento) privado em tese sobe, numa economia fechada, para compensar a queda do gasto (e possivelmente investimento) público: No longo prazo — isto é, levando em conta os efeitos da acumulação de capital sobre o produto —, um investimento maior leva a um estoque de capital maior e, por isso, a um nível mais elevado de produto. Assim, o nível do produto, no longo prazo, tende a subir.
331 - ...Dá uma descrição desse Éden austero: É provável que isso ocorra da seguinte forma: as previsões dos economistas mostrarão que esses déficits menores possivelmente levarão a um produto maior e a taxas de juros menores no futuro. Em resposta a essas previsões, as taxas de juros de longo prazo diminuirão e a bolsa de valores terá uma alta. As pessoas e as empresas, lendo essas previsões e examinando os preços das ações e dos títulos, revisarão seus planos de gastos e aumentarão os gastos.
332 - Vale a pena ler a página 331, na qual ele narra a experiência irlandesa de ajuste fiscal. A ideia era derrubar o déficit total de 13 para 5% do PIB. O primeiro tentado, entre 1981 e 1984 não deu muito certo. A dívida piorou na verdade. Foi de 77 a 97% do PIB. Parece o Brasil 2015-2020. Receitas caíram, desemprego foi a 15%. Uma segunda tentativa de reduzir os déficits orçamentários teve início em fevereiro de 1987. ... O déficit de 1986 chegou a 10,7% do PIB; a dívida era de 116% do PIB. Afirma que, como o "segundo" focou mais na queda dos gastos do governo que no aumento de impostos, ele teve resultado melhor, inclusive com crescimento do produto (se foi causalidade ou correlação, já não tenho certeza). A questão do desenho da reforma tributária desse segundo ajuste também aparece como importante: Os aumentos de impostos do programa foram obtidos por meio de uma reforma que ampliou a base tributária — aumentando o número de famílias que pagavam impostos —, e não por meio de um aumento da alíquota marginal de impostos. Em 1987, em virtude do forte crescimento do produto, a receita tributária foi maior do que a prevista, e o déficit foi reduzido para cerca de 9% do PIB. Enfim, Blanchard afirma que a mágica pode ter vindo das expectativas: O primeiro programa, afirmam, concentrava-se em aumentos dos impostos e não mudava o que muitas pessoas viam como um papel excessivamente grande do governo na economia. Entretanto, ele mesmo deixa claro que não era tudo "expectativa": A produtividade estava aumentando muito mais rapidamente do que os salários reais, reduzindo o custo do trabalho para as empresas. Atraídos por isenções fiscais, baixos custos do trabalho e uma força de trabalho instruída, muitas empresas estrangeiras transferiram-se para a Irlanda e construíram fábricas.
333 - ...A grande prova do poder das expectativas no exemplo irlandês teria sido a taxa de poupança das famílias. No primeiro ajuste, ela cresceu mesmo com a diminuição da renda total disponível (já que impostos foram elevados), certamente havendo retração nos gastos privados. Já no segundo ajuste, pareceu haver otimismo das famílias irlandeses com o futuro, já que a poupança foi sendo "consumida". Os consumidores devem ter se tornado muito mais otimistas quanto ao futuro para aumentar o consumo mais do que o aumento da renda disponível.
334 - ...Conclui algo parecido com o que disse quando analisou a necessidade de desinflação: O governo precisa efetuar um ato de equilíbrio delicado: fazer cortes suficientes no período atual para mostrar um compromisso com a redução do déficit e, ao mesmo tempo, deixar para o futuro cortes suficientes para reduzir os efeitos adversos sobre a economia no curto prazo. Certo é que Blanchard tem bastante confiança no fator "confiança" da política macro...: Medidas percebidas por empresas e mercados financeiros como redutoras de algumas das distorções da economia podem melhorar as expectativas e tornar mais provável que o produto cresça no curto prazo.
335 - ...Ao fim, apresenta várias perguntas que podem afetar a credibilidade do programa e "melar" as expectativas. Aparentemente, tudo tem que funcionar muito bem. ...os gastos serão cortados ou os impostos aumentados no futuro conforme o anunciado?... o programa elimina algumas das distorções da economia? ... qual é o tamanho do déficit inicial? É um programa do tipo ‘a última chance’? O que ocorrerá se o programa falhar?
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