Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XVI

              

Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte XVI


Pgs. 302-320:


301 - O capítulo 16 se chama "expectativas, consumo e investimento". Bases: A teoria do consumo na qual esta seção está baseada foi desenvolvida de maneira independente na década de 1950 por Milton Friedman, da Universidade de Chicago, que a chamou de teoria do consumo da renda permanente, e por Franco Modigliani, do MIT, que a denominou teoria do consumo do ciclo de vida.


302 - Apresenta a hipótese do consumidor altamente previsível - que me pareceu ser um consumidor com a maior racionalidade possível. Ele calcula todas as suas riquezas patrimoniais e possíveis rendas líquidas durante a vida e coloca o consumo presente como uma "função" para fazer toda a estratégia funcionar no longo prazo. C"t" = C(riqueza total"t")Uma hipótese razoável é a de que ele decidiria gastar uma proporção de sua riqueza total que lhe permitisse manter aproximadamente o mesmo nível de consumo a cada ano por toda a vida. Se esse nível de consumo fosse maior do que sua renda atual, ele então tomaria emprestada a diferença; se fosse menor, ele pouparia a diferença. ... Tal qual o consumidor com grande previsibilidade, nós certamente consideramos nossa riqueza e nossa renda de trabalho futura esperada quando decidimos quanto consumir hoje. Incluindo-se a renda do trabalho líquida de impostos, a função acima fica assim:



303 - Dá um exemplo de como um consumidor desse tipo - hipótese não muito realista, como ele mesmo problematiza mais na frente com exemplos do tipo: "Você pode não desejar planejar um consumo constante ao longo de sua vida. Em vez disso, pode lhe agradar a ideia de adiar um consumo maior...ou... Você pode desejar ser prudente, assegurando-se de que consegue sobreviver adequadamente mesmo nas piores situações" - calcularia e planejaria as coisas. Vou colocar o texto completo:



304 - A evidência é de que a maioria dos consumidores olha para o futuro, no espírito da teoria desenvolvida por Modigliani e Friedman. (Veja a Seção “Foco: As pessoas poupam o suficiente para a aposentadoria?”) Mas alguns consumidores, em especial os que têm renda temporariamente baixa e dificuldades de acesso ao crédito, provavelmente consumirão sua renda atual, independentemente do que esperam que acontecerá a eles no futuro.



305 - ...Como a tabela acima pode ser enganosa? É a média. Alguns indivíduos podem poupar muito e outros, pouco. Um outro estudo foi além e usou dados de painel. O painel é formado por 7 mil famílias cujos chefes estavam entre 51 e 61 anos de idade na época da primeira entrevista, em 1992, e que foram entrevistados a cada dois anos desde então. Calcularam se estavam poupando acima ou abaixo da sua meta de renda na aposentadoria. Conclusões: os autores descobriram que mais de 80% das famílias possuem riqueza acima da meta. Em outras palavras, apenas 20% das famílias possuem riqueza abaixo da meta. (...) Entre aqueles na metade superior da distribuição de renda, mais de 90% possuem riqueza que supera a meta, frequentemente por uma larga margem. (...) Entre aqueles que compõem os 20% inferiores da distribuição de renda, contudo, menos de 70% possuem riqueza acima da meta. (...) a proporção relativamente grande de indivíduos com riqueza abaixo da meta sugere que existem vários indivíduos que, por um mau planejamento ou por má sorte, não poupam o suficiente para a aposentadoria. (...) e é razoável pensar que a proporção de pessoas com riqueza abaixo da meta seria ainda maior se a Previdência Social não existisse.


306 - Implicações de tudo visto: "O consumo provavelmente responde menos do que proporcionalmente às flutuações da renda atual". E "o consumo pode variar mesmo que a renda atual não varie". Renda e consumo estão longe de ser perfeitamente elásticos. Exemplo do que um consumidor pode fazer com uma "diminuição de renda disponível" - seja salário menor ou mais impostos: ...se ele concluir que a diminuição de sua renda atual é transitória, ajustará seu consumo menos do que proporcionalmente. Exemplo de aumento de consumo, creio que real, com renda "parada" (seria Reagan? Obama? Clinton?): A eleição de um presidente carismático que articule a visão de um futuro empolgante pode tornar as pessoas mais otimistas quanto ao futuro em geral e quanto a sua própria renda futura em particular, levando-as a aumentar o consumo mesmo que sua renda atual não se modifique.


307 - Passando a analisar os investimentos, trata dos estudos sobre depreciação do estique de capital: ... eles utilizam números entre 4% e 15% para máquinas e entre 2% e 4% para prédios e fábricas.


308 - Aproveito para colar o cálculo/fórmula da "decisão de investimento" (Na última fórmula ali embaixo, se o valor presente for menor do que 1, a empresa não deverá comprar a máquina):



E nos anos seguintes...



309 - Tobin, Nobel de economia de 1981, percebeu que o "valor descontado", por levar em conta as taxas reais de juro (quanto mais altas, pior), acaba gerando decisões parecidas na economia real e no mundo das finanças. Se você acha que o cálculo do valor presente feito pela empresa é semelhante ao cálculo do valor presente que vimos no Capítulo 15 para o valor fundamental de uma ação, você está certo. Essa relação foi explorada primeiro por James Tobin, da Universidade de Yale, que argumentou que, por essa razão, deveria haver uma relação estreita entre o investimento e o valor da bolsa de valores.


310 - Fala das "expectativas estáticas", que é quando empresas creem que tanto os lucros futuros (por unidade de capital) quanto as taxas de juros futuras permaneçam no mesmo nível de hoje. a conta então ficará mais simples: O valor presente dos lucros esperados é simplesmente a razão entre a taxa de lucro — isto é, o lucro por unidade de capital — e a soma da taxa real de juros com a taxa de depreciação.


311 - A soma da taxa real de juros com a taxa de depreciação é chamada de custo de uso ou custo de aluguel do capital. Se alguém for locar uma máquina, o inteligente é alugar por esse custo aí. Leasing de automóveis e caminhões, cita como exemplo. 


312 - Investimentos e lucros, tudo a ver. Um fato empírico notável sobre o investimento, entretanto, é o de que ele acompanha fortemente as variações do lucro atual. Segue gráfico abaixo nesse sentido (não é perfeito, mas dá pra ver relação), que tem os seguintes parâmetros: O lucro é construído como a razão entre a soma dos lucros líquidos de impostos mais pagamentos de juros feitos por companhias não financeiras dos Estados Unidos, dividida por seu estoque de capital. O investimento é construído como a razão entre o investimento fixo não residencial e o estoque de capital fixo não residencial. As áreas sombreadas na figura representam os anos em que houve uma recessão — um declínio do produto por pelo menos dois trimestres consecutivos do ano.



313 - Outro gráfico com relação semelhante é o "q de Tobin" - a razão entre o investimento total em ações e títulos e o estoque de capital a custo de reposição total, ao que entendi. Se as ações estão "caras" em relação ao estoque, há incentivo para que as empresas aproveitem a alta valorização do capital e emitam e/ou vendam ações a fim de comprar máquinas, por exemplo. Se estão "baratas', o contrário. Investimentos podem não ser a melhor ideia e sim uma recompra de ações talvez. Logo, acaba havendo uma relação entre bolsa de valores e decisões de investimentos. Ou seja, vai além da taxa de juros reais afetando ambas. Nas palavras de Blanchard, as decisões de investimento e os preços das bolsas de valores dependem dos mesmos fatores — lucros futuros esperados e taxas de juros futuras esperadas.



314 - Coloca que evidências empíricas recentes têm mostrado uma força grande dos lucros atuais em relação aos "lucros esperados" nas decisões de investimentos. Diz que empresas com projetos de investimento altamente rentáveis, mas com baixos lucros atuais, parecem estar investindo muito pouco. Por outro, empresas que apresentam lucro atual elevado parecem, às vezes, investir em projetos de rentabilidade duvidosa. Aqui um exemplo de como o receio pode frear projetos importantes: (...) Se o lucro atual for baixo, uma empresa que deseja comprar máquinas só poderá obter os recursos necessários se fizer um empréstimo. Ela pode relutar em tomar emprestado. Embora os lucros esperados possam parecer bons, poderá haver imprevistos capazes de deixar a empresa impossibilitada de saldar a dívida. No entanto, se o lucro atual for elevado, a empresa poderá ser capaz de financiar seu investimento simplesmente retendo parte de seus ganhos, sem ter de fazer um empréstimo. A mensagem básica é: um lucro atual mais elevado pode levar a empresa a investir mais. (...) Mesmo se a empresa quiser investir, poderá encontrar dificuldade para conseguir o empréstimo. Os potenciais emprestadores podem não se convencer de que o projeto é tão bom quanto a empresa diz e ficar preocupados com a possibilidade de que ela não consiga quitar o empréstimo.


315 - Blanchard lança, inclusive, a seguinte questão: o que é mais importante para as decisões de investimento: a rentabilidade (o valor presente descontado esperado dos lucros futuros) ou o fluxo de caixa (o lucro atual, o fluxo líquido de dinheiro que a empresa está recebendo agora)? Maior parte do tempo andam juntos. Pesquisas de Lamont concluíram que empresas deixam de investir até em projetos rentáveis quando estão com problemas no fluxo. Esse exemplo deixa claro a metodologia usada: Descobriu que, para cada diminuição de US$ 1 de fluxo de caixa por causa da queda do preço do petróleo, os gastos com investimento em atividades não petrolíferas foram reduzidos entre 10 e 20 centavos. Resumindo: o fluxo de caixa atual importa. Mesmo sendo só parte da companhia e em nada o evento (queda do preço internacional do barril) prejudicando a rentabilidade das demais atividades (talvez até melhorando), o investimento total nelas diminua relativamente às demais companhias que não tinham "participação petrolífera", digamos. Enfim, o investimento depende tanto do valor presente esperado dos lucros futuros quanto do nível atual do lucro.


316 - Meio óbvio, mas vamos lá... Sobre o lucro: para um dado estoque de capital, quanto maiores as vendas, maior é o lucro por unidade de capital. Dadas as vendas, quanto maior o estoque de capital, menor será o lucro por unidade de capital.



317 - ...Assim como na Figura 16.2, o lucro por unidade de capital é definido como a soma dos lucros líquidos de impostos mais o pagamento de juros por companhias não financeiras dos Estados Unidos, dividida por seu estoque de capital medido pelo custo de reposição. A razão entre produto e capital é construída como a razão entre o PIB e o estoque de capital agregado. 



318 - ...Blanchard não comenta isso, mas, em outras palavras (no caso as minhas), a "produtividade do capital" em queda costuma significar queda na taxa de lucro. O nível/volume/massa do mesmo só conseguiria aumentar com aumento do estoque de capital, o que teria o problema futuro (ou presente) dos rendimentos decrescentes, creio, em razão do já estudado em capítulos anteriores sobre a constância da taxa de depreciação.


319 - A imagem sobre o futuro precisa ser boa. Expansões econômicas transitórias ou sem base podem ser anuladas pelas expectativas. Num exemplo mais básico, é por isso, por exemplo, que a expansão das vendas que acontece a cada ano no Natal não leva a uma expansão do investimento a cada ano em dezembro. As empresas entendem que essa expansão é transitória. Coloca, ainda, que as variações no investimento podem e costumar ser mais drásticas que as dos consumidores (na sua relação consumo x renda). Isso porque muitas querem se expandir mais rápido, ganhar mercado, etc. . "Esse aumento dos gastos com investimento pode superar o aumento das vendas". Isso até para criar logo as condições de manter o estoque de capital adequado à nova realidade permanente de produto anual mais elevado (mais vendas). (...) Em resposta a um aumento permanente das vendas, o investimento pode aumentar muito de início e, então, voltar ao normal ao longo do tempo.



320 - ...Ressalta que a magnitude do impacto dessas variações no total da economia dos EUA acaba sendo mais ou menos igual, já que o consumo responde por 70% dela e o investimento apenas a 16%. No mais, o capítulo tem um pequeno apêndice matemático não muito importante.


.

Comentários