Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte VIII
Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte VIII
Pgs. 147-164:
151 - O capítulo 8 é "A taxa natural de desemprego e a curva de Phillips". Como descobriu a correlação negativa? Em 1958, A. W. Phillips desenhou um diagrama que mostrava a taxa de inflação contra a taxa de desemprego no Reino Unido para cada ano de 1861 a 1957.
152 - Vai jogando fórmulas: F(u, z ) = 1 - "a"u + z. O parâmetro "a" (a letra grega minúscula alfa) representa a força do efeito do desemprego sobre o salário. Jogando isso na antiga fórmula P, fica P = P e (1 + "m")(1 - "a"u + z ). Esse "m" é o mark-up. Finalmente, seja p a taxa de inflação e pe a taxa de inflação esperada. Então, a equação (8.1) pode ser reescrita como: p = pe + ("m" + z) - "a"u (8.2). A derivação da equação (8.2) com base na equação (8.1) não é difícil, mas é cansativa, de modo que foi deixada para o Apêndice deste capítulo. (Fez bem)
153 - ...Consequências: Um aumento da inflação esperada, pe , leva a um aumento da inflação efetiva, p. Para ver o porquê, volte à equação (8.1). Um aumento do nível esperado de preços, P e , leva a um aumento de igual magnitude do nível de preços efetivo, P. Se os fixadores de salários esperam um nível de preços mais alto, fixam um salário nominal mais alto, o que leva a um aumento do nível de preços. (...) Dada a inflação esperada, pe , um aumento da margem, m, ou um aumento dos fatores que afetam a determinação dos salários — um aumento de z — leva a um aumento da inflação, p. (Sim, mas penso que uma letra sempre pode contrabalancear a outra, como fixadores de salário e emprego repassando a menor a inflação devido a sindicatos fracos). (...) Dada a inflação esperada, pe, um aumento da taxa de desemprego, u, leva a uma diminuição da inflação, p.
154 - Ao que entendi, resume as fórmulas nesta aqui:
155 - Diz que a primeira curva de Phillips não levava em conta "pe". Até porque, na média, "pe" era zero antes dos anos 60, ao que entendi. De toda forma, introduz a noção de "espiral de preços e salários". Salários altos levando a reajustes de preços altos para manter a margem, ao que se segue de reivindicação de salários reajustados pela subida dos preços, reiniciando o ciclo aceleracionista.
156 - EUA na década de 60 na primeira figura abaixo. Um movimento contínuo: Posto de uma maneira mais informal, de 1961 a 1969 a economia norte-americana moveu-se para cima sobre a curva de Phillips. Já a partir de 70 a coisa "bugou". Não dá para ver relação. Motivo 1: Como mostra a equação (8.3), um aumento de "m" leva a um aumento da inflação, mesmo a uma dada taxa de desemprego, e isso aconteceu duas vezes na década de 1970. (Já analisamos isso no capítulo anterior. Choque do petróleo foi como um aumento de mark-up, matematicamente e na prática). Motivo 2: Os fixadores de salários mudaram o modo como formavam suas expectativas. Não era mais como antes dos anos 60 - a "pe" média zero: ...diferentemente de ser às vezes positiva e às vezes negativa, como havia ocorrido na primeira parte do século, a taxa de inflação se tornou positiva de forma consistente. Segundo, a inflação se tornou mais persistente. Aumentou a probabilidade da inflação alta de um ano ser seguida por uma inflação alta no seguinte. É o principal motivo segundo Blanchard. Esperar inflação média zero tornou-se tolice. Recoloca o problema em termos chatos/redundantes, ou seja, algébricos: Enquanto a inflação permanecia baixa e não muito persistente, era razoável que trabalhadores e empresas ignorassem a inflação passada e supusessem que o nível de preços de um ano fosse aproximadamente igual ao nível de preços do ano anterior. No período examinado por Samuelson e Solow, (termo grego theta) era próximo de zero, e as expectativas eram aproximadamente dadas por pet e 0. (...) A evidência sugere que, em meados da década de 1970, as pessoas formavam suas expectativas esperando que a taxa de inflação do ano atual seria igual à taxa de inflação do ano anterior — em outras palavras, que fosse igual a 1.
157 - Quando (theta, uma espécie de coeficiente multiplicador da inflação do ano anterior que costumará ser próximo de 1) é positivo, a taxa de inflação depende não apenas da taxa de desemprego, mas também da taxa de inflação do ano anterior. ... Quando é igual a 1, a relação se torna (passando a taxa de inflação do ano anterior para o lado esquerdo da equação) a seguinte:
158 - ...Portanto, quando = 1, a taxa de desemprego afeta não a taxa de inflação, mas a variação da taxa de inflação. O desemprego elevado leva a uma inflação decrescente; o desemprego baixo leva a uma inflação crescente. A curva de Phillips modificada - ou curva de Phillips aumentada pelas expectativas - passa a ser, então, não sobre nível, mas sobre aceleração ou desaceleração. Dá inclusive um estudo econométrico sobre isso: Essa relação é mostrada na Figura 8.5, que retrata a variação da taxa de inflação versus a taxa de desemprego observada a cada ano desde 1970. A figura mostra uma relação claramente negativa entre a taxa de desemprego e a variação da taxa de inflação. A reta que se ajusta melhor aos pontos para o período 1970–2006 é dada por
159 - Friedman e a crítica do dilema inflação-desemprego: Eles o fizeram com base na lógica, argumentando que esse dilema só poderia existir se os fixadores de salários subestimassem sistematicamente a inflação, sendo pouco provável que cometessem o mesmo erro para sempre. Governos estavam limitados à taxa "natural" de desemprego, que é, como já visto, a taxa de desemprego em que a taxa de inflação efetiva é igual à taxa de inflação esperada. Em outras palavras, não há aceleração. Faz uns desenvolvimentos algébricos, que não sei a necessidade, para formalizar essa coisa toda (vou ignorar porque, mais uma vez, realmente não estou vendo em que acrescenta):
160 - ...Coloca que: Na verdade, chamar a taxa natural de ‘taxa de desemprego não aceleradora da inflação’ é errado. Ela deveria ser chamada de ‘taxa de desemprego não elevadora da inflação’, ou TDNEI (da expressão em inglês Nonincreasing Inflation Rate of Unemployment, ou NIIRU). Mas TDNAI (ou NAIRU) tornou-se padrão, e é tarde demais para mudá-lo. (Por que a aceleração pode ser constante? Na prática acaba não sendo... Não?). Volta para o exemplo da regressão 1970-2006 que relacionou desemprego e inflação nos EUA. Concluir que a taxa de desemprego que não acelera a inflação parece ser 4,4%/0,73 = 6%. Até pelo gráfico dava pra ver. Corta o zero lá. Obs: De 1997 a 2006, a taxa média de desemprego foi de 4,9%. Entretanto, a taxa de inflação era aproximadamente a mesma em 2006 em relação a 1997. Isso sugere que a taxa natural de desemprego nos Estados Unidos esteja agora abaixo de 6%.
161 - Existem bons motivos para acreditar que µ e z mudem ao longo do tempo. O grau do poder de monopólio das empresas, a estrutura das negociações salariais, o sistema de seguro-desemprego, e assim por diante, provavelmente mudam ao longo do tempo, levando a mudanças em µ ou z e, consequentemente, a alterações na taxa natural de desemprego. Coloca que a rigidez no mercado de trabalho europeu faz a taxa estrutural de desemprego ser mais alta lá: a) Seguro-desemprego generoso; b) negociação coletiva forte com acordos de extensão a todas as empresas de um setor, o que impede que empresas com não-sindicalizados possam tirar vantagem dessa característica; c) salário-mínimo alto e d) forte proteção no emprego. Discorre sobre as desvantagens desse último item: As regras vão do pagamento de altas indenizações até a necessidade de as empresas justificarem as demissões — o que confere ao trabalhador o direito de contestar a decisão e tê-la revertida. (...) As evidências sugerem que, embora a proteção ao emprego não necessariamente aumente o desemprego, ela altera sua natureza: a oscilação do desemprego diminui, mas sua duração média aumenta. Uma duração longa aumenta o risco de os desempregados perderem suas habilidades e sua autoestima, diminuindo sua empregabilidade.
162 - O "porém" da tese acima: É verdade que, em resposta aos choques adversos da década de 1970 (em particular as duas recessões que sucederam o aumento do preço do petróleo), muitos governos europeus aumentaram a generosidade do seguro-desemprego e o grau da proteção ao emprego. Entretanto, nem na década de 1960 as instituições do mercado de trabalho europeu se pareciam com as americanas. A proteção social era mais alta na Europa e, ainda assim, o desemprego era menor. A hipótese de Blanchard é que os novos tempos é que tornaram as diferenças mais relevantes/impactantes: se a competição aumenta — seja entre empresas nacionais ou empresas estrangeiras —, o custo da proteção ao emprego pode se tornar muito alto. As empresas que não conseguirem ajustar rapidamente sua força de trabalho podem simplesmente deixar de competir e sair do negócio. Assim, ainda que as regras de proteção ao emprego não mudem, uma maior competição pode levar a uma taxa natural mais alta.
163 - Outro fator "dificultador". Os países ricos europeus com desemprego baixo têm instituições bem diferentes: Países como a Irlanda e o Reino Unido contam com instituições no mercado de trabalho que se parecem com as norte-americanas: benefícios limitados, baixa proteção ao emprego e sindicatos fracos. Mas países como a Dinamarca e a Holanda possuem um alto grau de proteção social, com altos seguros-desemprego e sindicatos fortes. Blanchard coloca que o que importa é desenho eficiente. Por exemplo, o seguro-desemprego pode ser generoso se, ao mesmo tempo, o desempregado é forçado a aceitar um novo trabalho quando ele está disponível. Menciona também as incertezas administrativas ou judiciais quando dispensam empregados. Ou seja, simplificação das regras de proteção ao emprego.
164 - Coloca que a forte concorrência global pode estar por trás da queda da taxa natural de desemprego dos EUA a partir de 1995, isso pela diminuição do poder de monopólio e, consequentemente, da margem. É o primeiro fator. Além disso, o fato de que as empresas podem mais facilmente transferir algumas de suas operações para o exterior certamente as fortalece quando negociam com seus trabalhadores. Segundo fator. Um terceiro fator é que a parcela jovem - 16 a 24 anos - na força de trabalho dos EUA diminuiu de 24% em 1980 para 14% em 2006, e os jovens tendem a ficar migrando de emprego, experimentando novas ocupações. Aumentam, no mínimo, o desemprego friccional. Quarto fator: a população carcerária subiu de 0,3 para 1% da PIA. Quinto fator: os trabalhadores inválidos somavam 2,2% da PIA e "agora" somam 3,8%. Mais uma vez, é provável que, caso não tivesse havido alteração nas leis, alguns dos trabalhadores que recebem aposentadoria por invalidez estariam, em vez disso, desempregados. Sexto fator: aumento dos empregos temporários. Mais gente agora está neles em vez de esperar um emprego permanente novo. Sétimo fator: Taxa de crescimento da produtividade inesperadamente alta desde o final da década de 1990. [Isso durou até 2005 mesmo. Maior produtividade inesperada realmente permite que sejam abertas algumas novas vagas, mas penso que, para isso, a jornada de alguns acabaria tendo certa redução, talvez por escolhas deles mesmos nas suas curvas de indiferença trabalho-lazer, digamos assim.]
165 - Coloca que inflação alta gera incertezas perigosas para contratos de trabalho longos. Uma coisa é estimar 3% de inflação com margem de 2 p.p. para baixo ou para cima. Outra é esperar 30% com margem de 10 p.p. Quebra uma empresa ou um trabalhador um "congelamento" de tanta defasagem. Nesses cenários, não tem outro jeito: A indexação de salários, uma cláusula que aumenta automaticamente os salários de acordo com a inflação, torna-se mais difundida.
166 - Traz álgebra (fórmulas estão lá na pág. 160) e "intuição" para explicar porque indexação aumenta o efeito do emprego/desemprego sobre a inflação: A intuição é a seguinte: sem indexação de salários, o desemprego menor aumenta os salários, o que, por sua vez, aumenta os preços. No entanto, como os salários não respondem aos preços imediatamente, não há um aumento adicional de preços dentro do ano. Com a indexação de salários, porém, um aumento dos preços leva a um aumento adicional dos salários dentro do ano, o que leva a um aumento adicional dos preços, e assim por diante, de modo que o efeito do desemprego sobre a inflação dentro do ano é maior. (...) pequenas mudanças no desemprego podem levar a variações muito grandes da inflação. Com altas taxas de inflação, a relação entre inflação e desemprego desaparece completamente. [Achei que ambas as explicações complicam uma relação que é bem mais simples, deixando o fator que está gerando tudo isso oculto. Se o patrão, graças à indexação, não tem como reduzir o salário real para responder a algum processo inflacionário, entraremos na espiral de preços e salários salvo que algo externo à relação aconteça. Já uma dinâmica inflacionária - talvez por desemprego abaixo da taxa estrutural/superaquecimento da economia - numa economia não-indexada pode ser contida pela redução, ao menos temporária, do salário real, por mais que isso implique recessão. A meu ver, estamos tratando da maior ou menor força da NAIRU numa economia nessa análise, mas Blanchard ou o tradutor deixaram isso apenas implícito].
167 - Outra questão interessante foi a concomitância de alguma inflação - quando o natural seria deflação - e desemprego entre 1934 e 1937 e mesmo outros anos. ... quando a economia começa a experimentar deflação, a relação da curva de Phillips fracassa. Uma possível razão é a relutância dos trabalhadores em aceitar reduções dos salários nominais. [Ao que lembro, o salário real se manteve ou até mesmo cresceu mesmo em cenário de alta queda da atividade econômica. Daí o desemprego ter chegado a uns dois dígitos. Estranho que Blanchard nem entra explicitamente nessa análise.] ...eles provavelmente lutarão contra o mesmo corte nos salários reais se resultarem de um corte declarado em seus salários nominais. Se esse argumento estiver correto, isso implica que a relação da curva de Phillips entre a variação da inflação e o desemprego poderá desaparecer ou, pelo menos, se enfraquecer quando a economia estiver próxima de uma inflação zero. Você perderia o mecanismo de ilusão dos trabalhadores a fim de compensar flutuações inesperadas da atividade econômica.
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