Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte II

  

Livro: Blanchard, Olivier - Macroeconomia (2011) - Parte II



Pgs. 24-55:


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26 - Entra nos detalhes de como se calcula o desemprego. Para isso, critica as medidas antigas - de décadas passadas - por medirem muito mal quem efetivamente estava procurando emprego. Tinha mais gente desempregada que não entrava na conta baseada apenas em algumas medidas oficiais. Ao que entendi, o desemprego ficava subestimado em alguns momentos. 


27 - Quando o desemprego está alto, muitos desempregados acabam virando desalentados. Migram para o desalento, digamos. ... na prática, quando há uma desaceleração da economia, normalmente se observam tanto um aumento do desemprego como um aumento do número de pessoas que saem da força de trabalho.


28 - Coloca que o desemprego nos EUA acaba sendo mais friccional em períodos mais normais. Na Europa é que boa parte está desempregada há um bom tempo. CIta o caso da Espanha que chegou a bater 24%, oficialmente, em 94. Tipo a Grande Depressão dos EUA. Porém, aparentemente, a atividade não ia mal e as cidades prosperavam. Descobriu-se que uma parte dos "desempregados" mentiam nas pesquisas, pois era uma economia com muita informalidade. Trabalhavam em tal setor, mas escondiam isso, mesmo sem muito motivo para tanto, talvez medo. Porém, a grande maioria era realmente desempregada. Só uns 15% dos (100%) desempregados mentia. Do que vivem os desempregados na Espanha? De um seguro-desemprego extremamente generoso? Não. Exceto pelo seguro-desemprego muito generoso de duas regiões, Andaluzia e Estremadura — regiões que, como esperado, sofreram um desemprego ainda mais elevado do que o resto do país —, o seguro-desemprego na Espanha assemelha-se muito ao dos demais países da OCDE. Aparentemente, a estrutura familiar é que ajuda a bancar essas situações: Os jovens costumam morar com os pais até quase os 30 anos, e o aumento do desemprego tem acentuado esse costume. Examinando as famílias em vez dos indivíduos, a proporção de famílias na Espanha em que ninguém estava empregado era inferior a 10% em 1994.


29 - Índice de preços ao consumidor não é o mesmo que deflator do PIB. O último leva em conta todos os preços de bens finais, não apenas os que chegam ao consumidor. Alguns dos bens no PIB são vendidos não para consumidores, mas para empresas (máquinas-ferramenta, por exemplo), governo ou mercado externo. Ademais... E alguns dos bens comprados pelos consumidores não são produzidos domesticamente, mas importados. (Segundo números que já vi, não costumam diferir muuuito, porém).


30 - Índice de preços ao consumidor lá nos EUA: Os funcionários do Bureau of Labor Statistics (BLS) fazem visitas mensais às lojas para saber o que ocorreu com os preços dos bens constantes da lista. A coleta de preços é feita em 87 cidades, em cerca de 23 mil lojas de varejo, revendedores de automóveis, postos de gasolina, hospitais etc. Esses preços são então utilizados para calcular o índice.


31 - Coloca a distorção nos preços relativos que a inflação causa. Não costuma subir tudo proporcionalmente ao mesmo tempo. Alguns níveis de inflação geram sérios problemas de distorções tributárias (pelo elevado aumento nominal de algo) e desincentivam ou geram incertezas elevadas nos investimentos.


32 - Determinantes do crescimento de longo prazo? Para isso, precisamos examinar fatores como sistema de ensino, taxa de poupança e o papel do governo.


33 - Há, ao final deste capítulo 2, um curioso apêndice sobre como o PIB real é calculado. A correção da influência do nível de preço etc. É um tanto mais sofisticado do que eu imaginava, mas fez total sentido. Boa explicação.


34 - A parte II do livro compreende os capítulos 3 a 5 e tratam do curto prazo. Como a demanda influencia o produto. Não foca nas restrições à oferta ou outros fatores. O capítulo 3 é "O mercado de bens".


35 - Trata dos componentes do PIB, coisas que já anotei nos livros anteriores:



36 - Importante: O terceiro componente são os gastos do governo (G). São os bens e serviços adquiridos pelos governos federal, estadual e municipal. Esses bens variam de aviões a suprimentos de escritório. Os serviços incluem os prestados pelos funcionários públicos. Na verdade, para as contas nacionais, o governo compra os serviços prestados por seus funcionários e, em seguida, fornece esses serviços gratuitamente à população. (...) Observe que G não inclui as transferências do governo, como a assistência médica ou os benefícios da previdência social, nem os pagamentos de juros da dívida pública. Embora sejam claramente gastos do governo, não constituem aquisição de bens e serviços. É por isso que o dado referente a gastos do governo com bens e serviços na Tabela 3.1, 19% do PIB dos Estados Unidos, é menor do que o dado referente aos gastos totais do governo, incluindo as transferências e o pagamento de juros. Em 2006, esse dado era de 31% do PIB.


37 - Lembrar que balança comercial também é chamada de "exportações líquidas".


38 - A diferença entre bens produzidos e bens vendidos em um dado ano — ou, em outras palavras, a diferença entre produção e vendas — é chamada de investimento em estoques. Se a produção exceder as vendas e, como resultado, as empresas acumularem estoques, então o investimento em estoques será considerado positivo.


39 - Z ≡ C + I + G + X − IM. Lembre-se de que investimento em estoque não faz parte da demanda. Numa economia fechada, bastam os três primeiros componentes aí. Chama-se esse tipo de equação de "equação identidade". 


40 - Consumo (C) segue basicamente a renda disponível (descontados impostos e recebidas as transferências) e alguma propensão (marginal) a consumir - ou a poupar, no reverso.


41 - ...Função consumo: C = c0+ c1YD (modelo linear, esse números aí são pequenininhos, embaixo dos c). Uma restrição natural é que, se a renda corrente for igual a zero, o consumo ainda será positivo: com ou sem renda, as pessoas ainda precisam comer! Isso implica que c0 é positivo. Como as pessoas podem ter um consumo positivo se sua renda é igual a zero? Resposta: elas despoupam: consomem ou vendendo alguns de seus ativos ou contraindo algum empréstimo.


42 - Como renda disponível é toda a renda menos T (e T pode ser entendido, grosso modo, como "impostos menos transferências"), fica assim: C = c0+ c1(Y − T)


43 - Sem estoques, a produção será igual à demanda numa economia fechada. Y = Z. Chama-se esse tipo de equação de "condição de equilíbrio". 


44 - A parte da álgebra - reescreveu a equação - não entendi bem a importância/inovação. Vale destacar apenas uma parte que até já foi vista em outro livro: O que implica o multiplicador? Suponha que, para um dado nível de renda, os consumidores decidam consumir mais. Especificando, suponha que c0 na equação (a função de consumo, creio) aumente em US$ 1 bilhão. A equação (3.8) nos diz que o produto aumentará em mais de US$ 1 bilhão. Por exemplo, se c1 é igual a 0,6, o multiplicador é igual a 1/(1 − 0,6) = 1/0,4 = 2,5, de modo que o produto aumenta em 2,5 × US$ 1 bilhão = US$ 2,5 bilhões. (Só consigo pensar que é bom dosar direitinho um estímulo monetário na baixa renda, sob pena de inflação após certo patamar. C1 vai ser próximo de 1 talvez).


45 - Também não entendi bem o valor do gráfico. Demanda não pode exceder a produção e produção não pode exceder a demanda. Do contrário, há desequilíbrios. Demanda não cresce necessariamente pari passu à renda/produto, pois "c1" não é 1. Há um ponto de equilíbrio que faz as coisas se ajustarem. Sim, tudo isso é quase intuitivo, mas é só isso que ele queria dizer?



46 - Agora começa a ficar mais interessante, pois ele pega o equilíbrio acima e impulsiona, via gasto autônomo, a demanda em 1 bilhão. Vejamos o que acontece abaixo. Desde logo, ele explica: A equação (3.9) nos diz que, para qualquer valor de renda, a demanda é mais alta em US$ 1 bilhão. Antes do aumento em c0, a relação entre a demanda e a renda era dada pela reta ZZ. Depois do aumento em c0 de US$ 1 bilhão, a relação entre demanda e renda é dada pela reta ZZ‘, que é paralela a ZZ, porém mais alta em US$ 1 bilhão. (Isso tudo abaixo é graças à identidade renda/demanda)



47 - (Ao que entendi do gráfico, as setas são a oferta reagindo às novas demandas e consequente cada nov@ "renda-produto" até chegar ao novo equilíbrio). O aumento do produto, (Y‘− Y), que podemos medir tanto no eixo horizontal como no vertical, é maior do que o aumento inicial do consumo de US$ 1 bilhão. Esse é o efeito multiplicador.


48 - Explicações posteriores vão no sentido do que eu disse. O aumento da demanda na segunda rodada, mostrado pela distância CD, é igual a US$ 1 bilhão (o aumento da renda na primeira rodada) multiplicado pela propensão a consumir c1, ou seja, $c1 bilhão. ... 


49 - ... Em n + 1 rodadas, ficará: 

50 - ... Uma propriedade importante da progressão geométrica é que, quando c1 é menor do que 1 (como é o caso aqui) e à medida que n se torna cada vez maior, a soma continua crescendo, mas se aproxima de um limite. Esse limite é 1/(1 − c1), o que torna o aumento final do produto igual a $ 1/(1 − c1) bilhão. (...) O multiplicador é a soma de todos esses aumentos sucessivos da produção.


51 - Em equilíbrio, o produto é igual ao gasto autônomo vezes o multiplicador. O gasto autônomo é a parte da demanda que não depende da renda. O multiplicador é igual a 1/(1 − c1), onde c1 é a propensão a consumir. Quanto tempo demora isso tudo? Nessas premissas/hipóteses todas, imediatamente. ... Ao definir a condição de equilíbrio (3.6), supus que a produção é sempre igual à demanda. Em outras palavras, supus que a produção responde à demanda instantaneamente. Na função consumo (3.2), supus que o consumo responde a mudanças na renda disponível instantaneamente. Sob essas duas hipóteses, a economia vai instantaneamente do ponto A para o ponto A’ na Figura 3.3.


52 - A realidade é mais complexa: Uma empresa que contempla um aumento da demanda pode resolver esperar antes de ajustar a produção, recorrendo enquanto isso a estoques para atender à demanda. Um trabalhador que obtém um aumento salarial pode não ajustar seu consumo imediatamente. Essas demoras implicam que o ajuste do produto levará tempo. Falta dinâmica ao modelo. As empresas podem levar um bom tempo para ajustar seus planos de produção. Ou mesmo ter confiança numa demanda sólida, digamos.


53 - Poupança privada é renda disponível menos consumo: S ≡ YDpequeno − C. Uma identidade. O que dá no mesmo que S ≡ Y − T − C. Já a poupança pública é T - G. Impostos menos os gastos do governo. (...) Volta para Y = C mais I mais G e... Subtraia os impostos (T ) de ambos os lados e passe o consumo para o lado esquerdo: Y − T − C = I + G − T. (...) O lado esquerdo dessa equação é simplesmente a poupança privada (S), logo: S = I + G − T ou, de modo equivalente, I = S + (T − G). No lado esquerdo está o investimento. No lado direito está a poupança — a soma da poupança privada e da poupança pública.


54 - Coloca que a recessão 1990 a 1991 nos EUA foi causada por mera queda na confiança do consumidor. Índice que caiu de 105 para 61 no pior momento. Não sei se por medo de consequências da Guerra do Golfo, se seria longa e prolongada, tipo Vietnã, ou mesmo retaliação do Oriente Médio via aumento dos preços do petróleo. Consumo se retraiu. Economistas previam crescimento do PIB, houve decrescimento. Era pessimismo com o futuro. Por tudo isso, vai inclui esse fator no "bolo que afeta o curto prazo": ... Aumentos da confiança do consumidor, da demanda por investimento e dos gastos do governo ou a diminuição dos impostos levam a um aumento do produto de equilíbrio no curto prazo.


55 - De onde vem o IS do IS-LM? Essa maneira de examinar o equilíbrio explica por que a condição de equilíbrio para o mercado de bens é chamada de relação IS (que representa ‘investimento é igual à poupança’ — dos termos em inglês Investment e Saving). A identidade seria o equilíbrio. Equilíbrio produção-demanda e equilíbrio investimento-poupança seriam os dois do mercado de bens.  


56 - Faz uma álgebra a partir disso tudo que, como a outra, não vi muito em que acrescenta. Inclusive coloca ao fim: A equação (3.12) é exatamente igual à equação (3.8). Isso não deveria surpreendê-lo. Estamos examinando a mesma condição de equilíbrio, porém de maneira diferente.


57 - Por tudo exposto, coloca que se os consumidores resolvem poupar mais, o curto prazo certamente mostrará uma diminuição no produto ao mesmo nível de poupança que antes, ao estilo do que ocorreu na recessão de 90-91 nos EUA. Ou seja, ... as políticas econômicas que incentivam a poupança podem ser boas no médio e no longo prazos, mas podem levar a uma recessão no curto prazo. "Outros mecanismos" entram em jogo no médio e longo prazo. 


58 - Por fim, cita vários fatores da realidade que não entraram na análise desse modelo simplificado e que podem gerar dificuldades de toda ordem: a) alterações em gastos e impostos podem exigir lenta e atrasada tramitação legislativa; b) investimentos e importações - maioria das economias são, na verdade, abertas - podem não se comportar de maneira constante, espera-se inclusive o contrário, gerando efeitos indesejados; c) expectativas contam, pois se os cortes de impostos forem entendidos como provisórios, por exemplo, o multiplicador pode ser bem pequeno (por isso que vejo com bons olhos uma ideia de aumento temporário de imposto sobre ricos na atual situação fiscal brasileira); d) a depender das coisas, um estímulo pode levar a colaterais indesejados, como inflação; e) déficit e estoque da dívida podem aumentar de forma não sustentável. 


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