Fichamento de textos do Blog de Felipe Camargo

 

Fichamento de textos do Blog de Felipe Camargo


1 - Antes de qualquer coisa, quero mencionar um texto de Marcos Mendes na Folha, no qual ele critica a desoneração salarial por gerar um desfalque fiscal de R$ 5.300,00 por emprego conforme estudos (Baumgartner, Corin e Narita), enquanto que o emprego médio no Brasil paga R$ 2000,00. Ou seja, o grande argumento "gerar empregos" representa, na verdade, um mero benefício para a pequena parte do empresariado beneficiado pelas desonerações. Foi lei criada em 2011 para se encerrar, em tese, em 2014, tendo sido sempre prorrogada. Empresas jornalísticas também se beneficiaram. Essas e outras empresas aumentaram seus lucros. 


2 - E antes de entrar no blog, segue uma "curiosidade" identificada por Robin Brooks: Não é só no Brasil que não está havendo uma esperada apreciação cambial com a melhoria dos termos de troca. Também a Austrália está assistindo ao mesmo fenômeno. Uma não-repetição do passado. A razão ficou oculta lá no twitter do sujeito, havendo quem cogitasse até que os "investimentos em moedas" estão preferindo apostar em criptos em vez de moedas de países exportadores de commodities. Felipe Camargo também postou essa notícia e acrescentou: "nenhuma moeda sul americana valorizou praticamente".



3 - Agora já nos textos dos blog propriamente ditos, comecei pelo "Real e Selic — será que a moeda é fraca por falta de juros?". Não encontra, pelos dados, uma correlação forte entre câmbio baixo e juros altos ou vice-versa: Notamos que a correlação positiva nao é tao simples assim de se observar: ela é bem baixa, de forma que o fluxo de investimento portfólio no Brasil provavelmente reflete outros fatores mais relevantes. Poderíamos chutar que perspectiva de solvência fiscal, crescimento econômico, apetite ao risco internacional e liquidez (abertura de capital) seriam fatores provavelmente mais relevantes aqui, mas vamos deixar isso para outro post.


4 - Após isso, usa um modelo do BC que relaciona o câmbio a inúmeros fatores: "Nessa especificacao, estamos assumindo que a diferenca percentual (aproximada pela diferenca dos logaritmos naturais) do cambio é conduzida pela variacao do cambio em período anterior, pela variacao do diferencial de juros da taxa Selic e da Fed fund rate, da variacao de uma medida de risco-país, da variacao de um índice de commodities e do diferencial de inflacao especificado por uma condicao de verticalidade, que garante que no longo prazo o cambio nominal seguirá a paridade do poder de compra Brasil vs. Estados Unidos."


5 - Sua conclusão? O resultado incondicional do modelo também nos permite compreender que mesmo em um modelo bem especificado para o real, nao somos capazes de enxergar como a queda dos juros no Brasil poderia estar por trás da forte depreciacao do cambio observada no período, que, estivesse o modelo correto, o cambio justo estaria próximo de R$ 4.50 hoje, não R$ 5.30 como está hoje precificado. Por fim, faz a seguinte "brincadeira" no modelo: No conjunto de gráficos acima, traçamos a trajetória central do modelo contra um choque na Selic, que ao invés de caminhar até 6% ao ano ao fim deste ano e se mantendo para sempre neste patamar, sobe a 10% e lá permanece até o fim de 2024. 


6 - Em outros textos, notei que as esperanças de Felipe se concentram mais na urgência de um ajuste fiscal (ao menos como algo desejável, não que necessariamente ele ache que vá ocorrer): "Como esperado, as demais variáveis do modelo atuam como colchoes de ajuste para a desaceleracao proveniente do aperto das contas do governo. Um aperto fiscal bem feito aprecia o cambio, reduz a pressão de inflação advinda da demanda e permite taxas de juros da politica monetária abaixo da neutra, reduzindo o custo da dívida." (...) "Optar por um ajuste fiscal gradual pode ter severos custos para a estabilidade da economia brasileira no longo prazo. No cenário base do modelo, um ajuste temporário com um resultado primário de 1.5 pp do PIB antecipado permitiria chegar ao fim da década com um primário de equilíbrio de quase 1 pp do PIB estabilizando a dívida com 20 pp do PIB de reducao em seu estoque. Caso contrario, questiono se o Brasil aguentaria sustentar algo pouco acima de 100% de dívida/PIB sem uma mudanca para um regime de dominancia fiscal."


7 - Crê que apesar de um ajuste rápido demandar elevação de imposto, isso pode ser menos prejudicial no médio e longo prazo, restaurando trajetória fiscal equilibrada mais rapidamente. Tudo isso está no texto "Brasil, estabilização e ajuste fiscal — dois caminhos para esta década".


8 - Noutro texto, "Seria a inflação no Brasil uma barbeiragem de política monetária?", diverge de quem defende que o BC brasileiro na gestão RCN tenha usado uma política muito arrojada ou fora dos parâmetros normais. Inclusive as decisões foram em linha com a Regra de Taylor, coloca ao final. Primeiro que a inflação não é só aqui ou mesmo em país "expansionista" na política monetária. "Essa surpresa inflacionária é comum a vários países, inclusive naqueles que fizeram uma política monetária bem menos expansionista do que o Brasil, como Chile, Russia, India, e até mesmo em países que nao fizeram política fiscal alguma para suavizar a crise da pandemia, como o México". Todo mundo estourando a meta, ainda que um pouco menos que o Brasil. 


9 - Preço do barril de petróleo em alta tendo a pressionar a inflação - e isso todo mundo fala já -, porém, também costuma estar a associada a avanço das commodities e consequente apreciação da nossa moeda, o que pode levar à uma "contra tendência". Ocorre que não houve apreciação cambial (até houve, mas nunca recuperou o patamar pré-pandemia). 


10 - Como em 2015, o barateamento do preco do barril de alguma forma acomodou parte do choque inflacionário causado pela maxidesvalorizacao do real no momento da crise. Entretanto, na crise do Covid-19, o timing foi bem diferente: o choque do petróleo se dissipou antes que o cambio brasileiro pudesse se recuperar, nos deixando, já em 2021, com um preco de barril em R$ constantes atingindo seu nível recorde dos últimos 10 anos. Com o barril em "reais" abaixo, vemos como a coisa complicou:



11 - Enfim, essa combinação, talvez inédita no século, de câmbio desvalorizado aqui e petróleo em alta tornou praticamente impossível domar a inflação. Esperava-se talvez uma apreciação cambial que não veio com a alta das commodities (ainda não sei bem o porquê). Para a questão da inflação brasileira, Felipe menciona ainda a forte seca dos últimos meses que levou a um aumento na bandeira tarifária de energia. É quase como uma tempestade perfeita. Ainda "bem" (só para o controle da inflação) que a economia não tende a continuar aquecendo ou subindo mais de 2%. Resumindo: O efeito da inflacao de custos no Brasil hoje é largamente superior a um possível efeito de demanda. Inclusive a inflação dos itens que não sofreram com câmbio ou choque de oferta está bem no centro da meta (seria o que dá pra atribuir ao BC, por sinal, que tem como único "erro" subestimar a persistência do cenário commodities em alta/câmbio alto). Por isso que nem adianta o mercado achar que basta Selic no teto. Inclusive... Vai que a gente chega na dominância fiscal...


12 - Ah... Também lembra, ao final, que a corrida eleitoral pode trazer novos riscos. 


13 - O blog é muito bom: Felipe Camargo – Medium 


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