Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte XXVIII

             

Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte XXVIII


Pgs. 782-803:


571 - Os países desenvolvidos praticaram a custosa "desinflação" durante a maior parte dos anos 80. Krugman prova com gráfico. Tudo para sanar o choque do petróleo e outros efeitos. Krugman estima em "18% do PIB real" (a figura do ponto "573", mais abaixo, somou os hiatos) o custo de tal política no início da era Reagan. 


572 - ...É um passo atrás para dar dois na frente, se espera. Com o fim dos custos da inflação, a economia pode crescer de forma mais eficiente, usando bases saudáveis. Por mais que haja até perda de produtividade no curto prazo, causadas pela retração. Para acelerar e reduzir os custos totais do processo, parece que a credibilidade do BC no combate é fundamental, algo já dissecado no fichamento que fiz de Mankiw sobre o assunto.


573 - ...O hiato foi crescendo de 1979 a 1982. Depois, com a inflação em 4% já em 1983, começou a ser fechado entre 82-87. A partir daí, o produto agregado passou até a superar levemente o "potencial".



574 - Coloca que Krugman que a "deflação de dívida" teve provavelmente papel importante na Grande Depressão de 1929. Eram comum grandes quedas do nível de preço naquela época. Antes da II Guerra era 30% mais baixo que em 1920, por exemplo. Os credores se beneficiavam muito. E como devedores geralmente não tinha muito dinheiro/liquidez para se aproveitarem de tal valorização, tinham perdas reais elevadas, tendo que cortar muitos gastos. Tudo isso reduzia bastante a demanda agregada em crises e podia gerar ciclos viciosos. Talvez isso explique, em parte, as grandes instabilidades e revoltas da época. Além da concentração de renda. Os juros ficavam em zero, mas não podiam baixar mais que isso para estimular a demanda (senão ninguém ia querer emprestar, melhor guardar o dinheiro). Assim foi durante toda a década de 1930. 


575 - ...Se um banco ou alguém acha ou sabe que haverá deflação, emprestar se tornar algo muito arriscado. Melhor guardar a riqueza já acumulada e em vias de valorização. Emprestar para receber menos não faz sentido. É a "armadilha da liquidez". E, para quem toma emprestado, para devolver a taxa de juros zero em um cenário de deflação se torna algo bem complicado, pois o preço está continuamente pressionado para baixo. Enfim, crédito congela. A retração da demanda agregada tira a lubrificação da economia real, a qual pode estagnar também. A Grande Depressão "viu" isso tudo. O Japão meio que sofre com ela. Bernanke ficou fixado no assunto e estudou bem antes de assumir o BC para evitar a "japanização", afirma Krugman. QE veio muito de querer impedir isso, a armadilha deflacionária. Estímulos extras, portanto. 


576 - O capítulo 32 é sobre crises e consequências. Coloca que o Lehman foi o gatilho apenas, pois a economia real já estava em recessão. Com a falência, houve o pânico, a certeza da queda e a demanda agregada foi pra cucuia. 


577 - Cita crises financeiras e bancárias que levaram a quedas do PIB real e/ou elevação do desemprego em dois dígitos ou uma estagnação de década. Japão 90. Chile 81. Finlândia 90...


578 - Lembra que, sem os bancos, não haveria liquidez. As pessoas teriam que optar entre: a) nunca poupar nada; b) poupar "no colchão" e correr o risco da inflação corroer; c) emprestar o dinheiro para algum investimento, mas possivelmente com uma liquidez bem rígida. Bancos fazem transformação do prazo de maturidade. Criam ativos de longo prazo em cima de ativos de curto prazo, o que tem lá seu risco, por vezes sistêmico. 


579 - Narra uma forma primitiva de dinheiro na era medieval. Ourives emitiam uma espécie de certificado de recebível pra quando a pessoa quisesse pegar seu ouro. Pois bem, alguns negociavam e faziam pagamentos com esses recibos. Alguns ourives, percebendo que os clientes demoravam a pedir de volta, começaram a perceber que podiam deixar uma reserva para curto prazo e emprestar o resto. Surge a transformação do prazo de maturidade. 


580 - Bancos de investimento, como o Lehman, não recebem depósitos. Tomam emprestado fundos nos mercados de crédito de curto prazo e investem/especulam visando o longo prazo. Fazem transformação do prazo de maturidade, mas usando dinheiro emprestado (creio que a bem baixo custo). Esses "bancos-sombras" são - ou eram, não sei - bem menos regulados que os bancos normais, de depósito. Assim, podem oferecer lucros mais altos aos clientes em bonanças especialmente. Enfim, foi um fenômeno semelhante aos trustes que geraram a crise financeira de 1907. Essas instituições financeiras eram, em 2008, 50% maiores que os bancos de depósitos.


581 - ...Em determinado momento de 2008, os credores habituais do Lehman, que emprestavam para ele via mercado de crédito overnight, vendo as perdas das apostas em subprime, foram decidindo que a instituição não mais era confiável. Assim, como o Lehman fazia transformação do prazo de maturidade, teria que vender, a preço baixo (devido ao volume), todos os seus ativos para pagar as dívidas assumidas. Faliu em 15 de setembro de 2008. O Bear Stearns tinha sido resgatado - venda forçada a um banco com melhor saúde financeira - seis meses antes, mas as autoridades decidiram não salvar o Lehman. As fontes de crédito do Lehman vinham secando desde que anunciou prejuízo - devido às suas apostas - em julho e ações desabaram 54%. Morgan Chase, que é quem mais emprestava, passou a exigir do Lehman garantia de $5 bi em dinheiro. Não tinham. Os bancos reunidos por Paulson em 12 de setembro se negavam a comprar os títulos podres - resgatar o "irmão", portanto. O FED já vinha sendo criticado por resgara os banqueiros perdulários do Bear S, já que o FED de New York emprestou dinheiro ao comprador (ao banco que resgatou o Bear). (Em documentário, Paulson alegou temer o "moral hazard" dos resgates também).


582 - ...O risco sistêmico apareceu e, logo em seguida, o FED começou a agir para salvar os demais. Injetou 250 bi dólares, sendo 85 só para resgate da AIG. Temiam repetição de 29.


583 - Lembra que quando baleias começam a liquidar - levantar dinheiro vivo - suas posições para pagar débitos (seja aos depositantes ou outros credores) a queda nos preços dos ativos que esse volume causa pode comprometer posições/patrimônio de terceiros nada a ver com a história, que passam a ter que se desalavancar também. No extremo, há um efeito dominó com grande quebra-quebra e restrição de crédito por precaução. São os perigos do risco sistêmico e ciclos viciosos de desalavancagem. 


584 - Coloca que, de 1985 a 1995, há a mesma história de "boom" e "crise" na Finlândia, Suécia e Japão. Quase ao mesmo tempo. Preços reais dos imóveis e ações cresceram uns 40% em cinco anos. Finlândia uns 20%. Na queda, a crise contaminou todo o setor financeiro e, depois, mesmo o não-financeiro. Coloca que a crise da Irlanda entre 2008-12 também tem a ver com isso. No fim, o governo assumiu as perdas, mas começou a ficar em situação fiscal complicada e juros crescentes devido a isso. Desemprego bateu 15% em 2012. 


585 - Rogoff: crises bancárias costumam elevar o desemprego em cerca de sete pontos percentuais e isso leva uns 4,8 anos até poder começar a diminuir. Foi a média que ele encontrou analisando 15 exemplos de crises bancárias. A contração do crédito e endividamento privado excessivo - dívida alta para ativos "menores" - geram isso. Juros ficam altos porque está todo mundo cauteloso. 


586 - ...Nas crises bancárias, a política monetária pode não surtir efeitos rápidos, pois os bancos em vez de emprestar a "liquidez adicional" tendem a preferir "reservas excedentes" temendo insolvência. Assim, mesmo juros zero pode não deslanchar a coisa toda. 


587 - Os empréstimos do FED em crises se destinam a evitar ciclos viciosos de desalavancagem. A ideia é que os bancos não tenham que se desfazer de seus ativos e o pânico se espalhe (inclusive entre os depositantes). Evitar liquidação de ativos de longo prazo para conseguir "dinheiro vivo" (curto prazo) para vencimento de créditos e retiradas de depósitos. O BC vira um "credor de última instância". Empréstimos foram de menos de 50 bilhões em 2007 para $ 200 bi mesmo antes da falência do Lehman, Logo depois foi para $ 700 bi. O dinheiro foi sendo devolvido durante a (alguma) recuperação do mercado financeiro - meados de 2009 e início de 2010. Fim do pânico e temor.


588 - Outro instrumento para conter crises bancárias é o governo entrar garantindo os depósitos da instituição que faliu ou está em vias de. O pânico diminui e uma possível corrida deixa de acontecer. Risco sistêmico cai. A Suécia em 1991 temeu tanto isso que resolveu garantir todos os depósitos de todos os bancos. Anunciou. Em vez de resgates pontuais aos que estavam em dificuldade. Muitas vezes, os governos fazem isso assumindo controle e propriedade dos resgatados. Ao menos temporariamente. Suécia nacionalizou boa parte do sistema bancário em 1992. O FDIC (EUA) tomou 140 bancos em 2009. Passado o pânico, os ativos são "reprivatizados". 


589 - FED em 2009 foi além desses dois instrumentos. Passou a comprar títulos privados "podres" e emprestar dinheiro até aos "bancos-sombras" (os que não eram de depositantes). Enfim, lubrificação imensa do sistema a fim de minorar a crise de crédito. 


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