Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte XXV

           

Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte XXV


Pgs. 725-742:


516 - ...Krugman depois dá suporte a isso. Coloca que a moeda em circulação costumava ser 90% da base antes da crise. Em 2012, era 40% porém! A mudança drástica que a Crise de 2008 trouxe. O multiplicador da moeda caiu de 3 a 1,5 para cerca de 0,7 durante a 2007-09. Cabe lembrar que reservas obrigatórias de 10% permitiram que esse multiplicador chegasse a 10 até! Conclusão: os bancos não estão emprestando mesmo nadando em reservas. Não veem grandes oportunidades. Parecem preferir investir em ações e ativos do tipo. Daí a ausência de inflação na economia real. A base monetária e as reservas cresceram absurdamente, mas a oferta monetária - depósitos em conta e moeda em circulação -não (cresceu bem menos).


517 - Na crise de 29, as pessoas retiraram depósitos e mantiveram "moeda em circulação" - até porque estava rolando uma deflação forte mesmo. Os bancos sofreram e mal podiam emprestar. Depósitos caíram 35% de 1929 a 1933. A moeda em circulação subiu 31%, mas era um "total" razoavelmente menor (mesmo em 1933 era cerca de 1/3 dos depósitos, por exemplo. Em 1929, era quase 1/6). Logo, uma coisa não compensou a outra. Ou seja, o M1 caiu 25%. 


518 - ...Outro motivo pelo qual os empréstimos caíram em tal crise foi porque os bancos sobreviventes à corrida aumentaram as reservas excedentes para se prevenir de novas rodadas de pânico. Crédito secou geral. 


519 - Os diretores do FED têm mandatos de 14 anos. A indicação presidencial tem que ser aprovada pelo senado.


520 - O mercado interbancário serve para não deixar bancos ficarem sem reservas mínimas, mesmo que paguem juros overnight se necessário.. 


521 - Coloca que a taxa de redesconto geralmente fica em um ponto percentual acima da do mercado interbancário. Na crise caiu para 0,25 e em janeiro de 2012 ainda estava em 0,65. O afrouxamento dessa taxa ajuda a estimular os empréstimos na economia real, já que diminui os custos de ficar sem reserva obrigatória (natural).


522 - Compulsório e redesconto quase não são mais usados pelo FED. O foco para controlar a liquidez são as operações de mercado aberto


523 - FED e maioria dos BCs não compra títulos diretamente do governo federal, mas sim dos bancos. FED compra esses títulos para ter ativos, já que seu passivo é a base monetária. Vai aumentar ou diminuir essa ao comprar ou vender títulos do Tesouro. Se o BC/FEd vende título, os bancos ganham título e perdem reservas e, por consequência, tendem a diminuir empréstimos e liquidez na economia real. Se o FED/BC compra um título, é o contrário. A base monetária aumenta e, por consequencia, a oferta também pode aumentar, a não ser que o banco não aumente os empréstimos (oferta). 


524 - Enfim, FED controla a base, o que pode "controlar" também a oferta. No mínimo vai mexer na taxa de juros do mercado interbancário.


525 - Efeitos da falsificação de dinheiro? FED "imprime" menos dinheiro do que poderia sem causar inflação, o que faz com que compre menos letras do Tesouro, o que faz com que deixe de ganhar os juros dessas letras, o que faz com que o Tesouro deixe de receber esses juros que o FED normalmente devolve (já que é lucro sobre a base monetária, seu passivo que, por vezes, não implica custos/juros), o que faz com que o orçamento federal fique mais apertado e o contribuinte possa ser convocado a arcar com o prejuízo. Enfim, todos pagam pela falsificação. 


526 - Lembra que há uma simplificação na explicação. De fato, explicam 90%. Passivo do FED/BC é quase todo a base monetária mesmo. Ativo do FED é quase todo de título do governo. Em 2008, porém, movimentos arriscados e não muito ortodoxos tiveram que acontecer:



527 - ...Vendeu títulos para aumentar a base monetária e impedir uma crise de liquidez "a lá 1929" ao mesmo tempo em que aumentou os ativos (ampliando a base monetária) para comprar/socorrer inúmeras instituições financeiras que estavam vendo seus ativos colapsarem sem qualquer compensação em termos de depósitos. Os empréstimos foram a flexibilizações da taxa de redesconto. Empréstimos diretos. O próprio Bear Sterns se beneficiou disso. "Liquidez para mercados de crédito essenciais" foi para impedir que as taxas de juros destinadas às empresas decolassem. Por fim, ao fim de 2009, passado o pânico financeiro e a devolução dos empréstimos de liquidez, foi atrás dos títulos garantidos por hipotecas das agências federais (Fannie Mae e Freddie Mac). E ao fim de 2010 foi atrás dos títulos do Tesouro de longo prazo a fim de reduzir também esses juros, reaquecendo a economia. Fim das contas, os ativos e a base nunca retornaram ao patamar anterior. 


528 - ...A grande parte desse aumento brutal da base monetária virou meramente "reservas excedentes" e, por isso, não gerou inflação. Do contrário, haveria potencial efeito multiplicador de até 10!


529 - Antes de 1864, os bancos emitiam suas notas sem uniformidade e praticamente sem regulamentação. Com muitas quebras e crises financeiras, migrou-se para o sistema de 1864 a 1913, bancos regulados nacionalmente que podiam emitir valores proporcionais a seu capital. Porém boatos locais de oferta insuficiente podiam gerar corrida aos bancos sem que outros maiores pudessem socorrer em tempo. Então continuou certa instabilidade, por mais "pools" de compensação se formassem gradualmente para minorar isso. O evento mais drástico do período foi a crise financeira de 1907, a qual foi tão grave que arrastou o país para quatro anos de recessão profunda. O epicentro foi numa economia grande: o pânico na cidade de Nova York. (Krugman diz que, de certa forma, foi algo semelhante a 2008). Tratou-se de conglomerados/trustes que cresceram, em período de "boom", com regulações mais frouxa, especulando com imóveis e ações, e se recusando a participar das câmaras de compensação - o que tiraria flexibilidade, já que se exigia compulsório e reservas maiores, como no caso dos outros bancos nacionais. Os depositantes, tomando essas grandes instituições como tão seguras quanto os bancos nacionais e vendo a maior exuberância de retornos vigente, passaram a aplicar fundos nas mesmas. Quando um desses grandes "trustes" de New York quebrou, o pânico se espalhou. Corrida dos depositantes por retiradas. A antes esnobada "Câmara de compensação" de New York se recusou a intervir e mesmo trustes saudáveis foram atropelados pelo pânico. Ações desabaram, crédito congelou e confiança empresarial foi detonada. Produção caiu 11% e desemprego foi de 3 para 8%. Os banqueiros mais ricos se uniram, garantiram as perdas e aplacaram o pânico financeiro, mas a economia real demorou a reagir. 


530 - ...Devido a eventos do tipo, veio a reforma bancária de 1913, criando o FED, com o direito exclusivo de emitir moeda, dando maior flexibilidade de resposta às crises. As corridas da crise de 29 ocorreram porque a confiança ainda assim não era suficiente. Só com a criação do seguro federal de depósitos é que a coisa foi melhorar mesmo.


531 - Em 1933, Roosevelt teve que tornar os mecanismos de intervenção mais intensos/ágeis, aumentando a capacidade dos bancos de obter empréstimos do FED e iniciando uma reconstrução do sistema financeiro nacional, até mesmo comprando ações de inúmeros bancos (mais da metade, afirma). A Lei Glasse-Steagall era dessa época e separava bancos comerciais, cobertos por seguros de depósito, e os de investimento, de maior risco.


532 - Traz a história do LTCM (Long-Term Capital Management) e o risco sistêmico que ele criou com alavancagens baseadas em modelos computadorizados que, pelo visto, não calcularam muito bem como agir em grandes crises (como Ásia 97 e Rússia 98), já que o período de vacas gordas e exuberância atraiu tantos investidores para o fundo que, na hora de ter que vender, o montante era tão grande que deprimia muito o preço dos próprios ativos. O pânico se retroalimentava, já que cada vez mais investidores exigiam retirar suas posições, o que gerava novas vendas. Instituições que nada tinham a ver com a história, mas que também possuíam posições acionárias e em derivativos comuns com a LTCM viam seu patrimônio cair pela ação da mesma. O risco era que também os investidores desses outros fundos começassem a retirar o dinheiro. Risco sistêmico de quebra-quebra. Fed teve que intervir para evitar um "círculo vicioso de desalavancagem", ou seja, todo mundo tendo que liquidar dívidas e restituir passivos num momento de baixa. A porta ficaria muito estreita para todo mundo sair. 


533 - Krugman coloca que a recuperação da crise de 2001 plantou as sementes da próxima crise. Os juros baixos puxaram a recuperação em razão do "boom" na construção residencial. Foram nascendo os "subprimes". Começaram como parte pequena, em 2003, mas em 2006 já eram parte relevante em razão de serem incorretamente enxergados como de "baixo risco" (semelhança com o processo de 1907). A ideia era de que, em caso de liquidação da dívida por inadimplência, a valorização imobiliária sempre garantiria o sucesso da operação. Um grande número nunca ficaria inadimplente ao mesmo tempo (premissa que se mostrou falsa). Enquanto a tese não caia, produtos de securitização foram vendidos pelas instituições financeiras a fim de compartilhar o suposto baixo risco e alto yield da dívida em questão.


534 - O "spread TED" - diferença entre a taxa de juros pela qual os bancos emprestam entre si e a taxa de juros sobre dívida do governo dos EUA - subiu dos habituais 0,25 em meados de 2007 para absurdos e sem precedente 4,58% durante outubro de 2008. Risco sistêmico no mercado interbancário. FED interviu, mas levou uns doze meses até normalizar tudo novamente. Enquanto isso, houve grave ciclo de desalavancagem (mais vendas de ativos e mais quedas de preço, o que leva a mais vendas de ativos para liquidar dívidas...) e forte retração do crédito. FED comprou títulos privados podres e salvou empresas grandes demais para falir, como AIG e Bear Stearns, diminuindo o risco sistêmico.


535 - Houve, de certa forma, com as injeções de capital, uma nacionalização do sistema financeiro, já que se trocava capital por ações. No terceiro trimestre de 2010, as instituições, agora em ambiente mais estável, já haviam devolvido boa parte dos empréstimos. O FED usou os recursos não para reduzir o ativo, mas para, como já visto, comprar títulos da ponta longa. QE. 


536 - Houve aumento da regulamentação dos produtos financeiros em 2010 a fim de dar mais controle e transparência, mas não chegou a ser um retorno à lei de 1933. 


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