Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte VIII
Livro: Paul Krugman - Introdução à Economia (2015) - Parte VIII
Pgs. 238-274:
136 - O capítulo 10 é sobre o "consumidor racional". É um dos mais importantes a meu ver. É sobre a questão da utilidade marginal decrescente que meio que já foi fichada o suficiente. Alguns poucos bens possuem utilidade marginal crescente. Prática de atividades radicais. Por vezes a primeira vez é ruim. Acho que até sexo pode se encaixar nisso. Alguns jogos também. Cerveja e café se encaixam nisso para alguns. Coisas para as quais é preciso aprender a gostar. (Tudo isso é muito legal, mas num mundo de produção generalizada de mercadorias, boa parte das quais não perecíveis e passíveis de venda, na prática, a utilidade marginal de tudo é quase sempre crescente, então...).
137 - Utilidade marginal e escassez. Ostra aparecia nos livros de Charles Dickens (1830) como algo associado à pobreza. Poluição comeu e passaram a comida de luxo. Ostra passou a ser bem mais cara que batata porque se tornou muito mais trabalhoso ofertá-la relativamente em grande quantidade. Ou, na linguagem "moderna", pela escassez. Talvez a "utilidade" da ostra seja a mesma nesse tempo todo.
138 - Há sempre algum ponto ótimo de mix de consumos que maximiza a utilidade marginal dada uma determinada restrição orçamentária. As escolhas dependerão do quanto cada pessoa "valora" o bem, (Ok, mas isso que vocês chamam de "restrição orçamentária", se tomado coletivamente, é o nosso 'antiquado' valor-trabalho, a base real do valor).
139 - Análise marginal tem objetivos diferentes na produção e no consumo. Na primeira, como já visto, trata-se de maximizar o lucro, o que pede igualar custo e benefício marginal. No segundo, trata-se de maximizar a utilidade dada a restrição orçamentária. Não se trata, aqui, de igualar utilidade marginal dos diversos bens. A maximização exigirá, via de regra, consumo de utilidades marginais diferentes. Assim, é a utilidade marginal "por dólar" que importa. Isso é que será igual. A tabela abaixo mostra a lógica (dada alguma restrição orçamentária, a utilidade por dólar é que será igualada e não a utilidade marginal por quilo de cada bem. 20 dólares, por exemplo, significaria comprar 2kg de mexilhão e 6kg de batatas)
140 - Curiosidade: consumidores estão pagando mais para escapar da tentação de comer muito. Pacotes bem pequenos de biscoito recheados estão sendo vendidos bem acima do preço de custo de cada unidade (lucro maior que na venda do pacote grande). Enfim, consumidores pagam por não precisar comprar um pacote grande e fazer, por si mesmos, a divisão. É aquela velha irracionalidade meio que racional.
141 - A tabela acima e variações do preço. Estas últimas irão diminuir ou aumentar diretamente a utilidade marginal por dólar, podendo, portanto, mudar o mix da coisa.
142 - Para bens que ocupam pequeno espaço num orçamento dado, o efeito substituição costuma explicar toda a inclinação para baixo da curva de demanda. Ás vezes meras variações de gosto causam isso. É o caso da maioria dos bens. Apenas bens mais relevantes passam a ter (também!) influência do outro efeito, que é o "renda" ou "riqueza". O poder de compra geral é alterado, no caso desses bens. Variações de preço e tal. Uma coisa é biscoito "x" outra é uma casa.
143 - ...No mais, o efeito renda vai reduzir quantidades demandadas e reforçar o efeito substituição. Estarão, opostos apenas no caso dos bens inferiores. Neles, a quantidade demandada aumenta quando a renda cai (e se o preço do bem inferior não aumentou, não é Giffen). Se o efeito renda no bem inferior for tão grande ao ponto de superar o efeito substituição, teremos um "bem de Giffen". (Logo, nem todo bem inferior é um bem de Giffen. É apenas quando o preço do bem aumenta e a demanda aumenta junto, mesmo com tudo o mais mantido constante! Para existir "um Giffen", ambos têm que aumentar. Quantidade demandada e preço). Irlanda e as batatas no Século XIX seria, em tese, um exemplo "Giffen". Não se sabe, porém, se isso realmente ocorreu. Abstratamente, é possível. Não se mediu cientificamente.
144 - A parcela de estadunidenses donos de casa própria tem subido bastante. Nível recorde. Juros nunca foram tão baixos por tanto tempo. Isso gera efeito renda e substituição. Como o custo da moradia é reduzido (parcelas bem mais suaves) sobra mais dinheiro pra tudo. Compram mais casas, inclusive pelo efeito substituição (preço relativo da casa diminui), mas também compram mais bens outros (pela grandeza do efeito renda). As moradias consumidas (gastos em moradia) podem ser novas aquisições ou mesmo ampliações ou alugueis melhores que a pessoa resolve alugar.
145 - O capítulo 10 tem um apêndice - maior que o próprio capítulo, sendo praticamente um - sobre preferências e escolha do consumidor. Traz funções de utilidade e suas curvas de indiferença. É a tabela que já estudamos só que mais complexa:
146 - Ascender de uma curva à outra me parece uma questão de restrição orçamentária. Não se cruzam.
147 - As curvas são convexas (e não côncavas) porque, via de regra, utilidades marginais são decrescentes. Apresenta a TMgS. Taxa marginal de substituição. Já vista em Mankiw. Ela reflete essas utilidades marginais decrescentes, via de regra. Por isso que curva vai "achatando". Via de regra, a taxa marginal de substituição é, portanto, decrescente.
148 - O consumo ótimo será a reta (dada pela linha do orçamento) que atinge um único ponto da maior curva maximizadora de utilidades totais possível. (Ver figura nas anotações a respeito no fichamento de Mankiw). As curvas de indiferença individuais não levam em conta os preços, mas a utilidade total proporcionada. Os preços são resultados coletivos, logo não irão refletir a curva de indiferença de fulano. O consumo ótimo será um mix determinado de combinações, que maximiza a utilidade marginal "por dólar". O preço traz a preferência pra realidade. "É esta aqui a melhor curva que você pode cortar dados os preços). A diferença entre "utils" abstratos e "dólares" concretos. Ou seja, a "linha-reta" envolve as combinações de quantidade/preço-relativo possíveis.
149 - ...Nesse ponto de tangência, no qual há o "toque", a linha e a curva têm a mesma inclinação. Único ponto em que isso acontece. É o ótimo. A TMgS será igual ao preço relativo. Preço e utilidade se encontram. A taxa (TMgS) pela qual Fulana trocaria um tanto de bem x por outro tanto de bem y se iguala a taxa pela qual são trocados esses mesmos bens no mercado (os preços relativos). Por consequência disso tudo, se algo faz os preços relativos mudarem, a inclinação da "linha de orçamento" vai mudar também e, concomitantemente, o mix do pacote ótimo. Ou seja, não é apenas a renda que pode mudar o pacote ótimo.
149.1 - (No fundo, é tudo a mesma lógica da otimização do consumo pela utilidade marginal do dólar. Como visto antes do apêndice)
150 - ...Para descobrir o "valor" total da restrição orçamentária basta saber o preço de um dos bens do gráfico e ver "de onde a linha sai" no eixo do bem. Aí calcula a quantidade (origem da linha) vezes o preço sabido. A linha são os preços relativos. O custo-oportunidade de um bem em relação ao outro. A origem em zero em um dos eixos deixa restando apenas o valor/preço do outro.
151 - Cada curva individual de diferença terá seu próprio ponto ótimo, mesmo com restrição orçamentária igual. Seu próprio mix/pacote. Depende de como cada pessoa valora o bem ofertado/demandado em relação ao preço (fenômeno "externo").
152 - Mais uma consequência de tudo que se estudou. Nos substitutos perfeitos, a pessoa só compra, talvez, um "mix" (se quiser ser aleatório) de bem "a" e "b" se eles estiverem ao mesmo preço. Afinal, é indiferente. Um centavo mais caro fará toda a diferença. O ponto tangente será na própria origem do eixo do bem mais barato.
153 - Alguns insumos alimentares são substitutos perfeitos. Se o consumidor não liga se o produtor vai usar óleo "x ou y" pra fazer uma panqueca, ele usará o que estiver mais barato simplesmente. E complementos perfeitos? Carros e pneus são quase isso. A TMgS é indefinida, já que não se permite substituição.
154 - Mudanças nos preços relativos alteram a reta/linha de orçamento (restrição). Passa-se a atingir alguma outra curva de indiferença, podendo levar a uma maximização maior ou menor da utilidade.
155 - Mudanças na renda fazem a reta/linha se deslocar para dentro ou para fora, mas sem mudar a inclinação, já que esta é dada pelos preços relativos e estes não necessariamente mudaram. Em caso de diminuição de renda, o consumo de um bem só vai aumentar (mesmo ficando mais pobre) se for um bem inferior.
156 - Por óbvio, pode acontecer de o preço relativo de um bem subir muito, mas com isso sendo compensado por algum aumento de renda da pessoa (Ex: preço do aluguel subiu, mas o salário subiu na mesma proporção). Em tal caso, a pessoa continuará na curva de diferença inicial (a que maximiza a utilidade total em algum "x" utils), mas deslizando pela curva para um ponto diferente dela devido a uma mudança na inclinação da reta/linha de orçamento (a qual sempre reflete preços relativos entre os bens em questão).
157 - ... Ou seja, o efeito renda pode compensar perfeitamente algum efeito substituição. (Ou não). Aí a pessoa continua na mesma curva de indiferença (maximizadora da utilidade total se cortada pela reta-linha orçamentária no ponto tangente que maximiza a utilidade marginal por dólar e que iguala a taxa marginal de substituição aos preços relativos dos bens comparados).
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