Livro: Mankiw, Gregory - Introdução à Economia (2010) XXVI
Livro: Mankiw, Gregory - Introdução à Economia (2010) XXVI
Pgs. 699-719:
589 - Como aprendemos em nossa discussão anterior do mercado de fundos de empréstimos, a quantidade ofertada de fundos para empréstimos e a quantidade demandada de fundos para empréstimos dependem da taxa de juros real. Uma taxa de juros real mais elevada incentiva as pessoas a poupar e, portanto, aumenta a quantidade ofertada de fundos para empréstimos. Atrai inclusive capital externo. Uma taxa de juros mais elevada também torna os empréstimos para financiamento de projetos de investimento mais dispendiosos; com isso, desencoraja o investimento e reduz a quantidade demandada de fundos de empréstimos. Abaixo um quadro-resumo de tudo que será visto no capítulo:
590 - Novos gráficos de oferta e demanda envolvendo taxas de juros, agora em economia aberta: em uma economia aberta, a demanda por fundos para empréstimos vem não só daqueles que querem fundos para empréstimos para comprar bens de capital internos, mas também daqueles que os desejam para comprar ativos estrangeiros (a taxa de juros de equilíbrio é a que igual o seguinte: "quantia que as pessoas desejam poupar é exatamente igual à quantidade desejada de investimento interno e de investimento externo líquido"):
591 - E o mercado de câmbio com isso?
592 - ... A curva de oferta é vertical porque a quantidade ofertada de dólares destinados ao investimento externo líquido não depende da taxa de câmbio real. (Como vimos anteriormente, o investimento externo líquido depende da taxa de juros real. Ao tratarmos do mercado de câmbio, tomamos a taxa de juros real e o investimento externo líquido como dados.).
593 - O IEL não depender da taxa de câmbio pode parecer, às vezes, meio contra-intuitivo, mas há razão: ..."um investidor norte-americano, por fim, vai transformar o ativo externo, assim como qualquer ganho obtido, em dólares novamente. Por exemplo, a alta do dólar torna mais barata a compra de ações de uma companhia japonesa, mas os dividendos recebidos serão em ienes. Ao trocar os ienes por dólares, o investidor comprará menos dólares, pois o valor cambial do dólar é maior".
594 - PPP, arbitragem e os preços diferentes: Se as exportações líquidas reagissem, de fato, com tanta presteza, a curva de demanda da Figura 2 seria horizontal. (...) Este capítulo, portanto, concentra-se no caso mais realista, em que a curva de demanda por câmbio tem inclinação negativa. Isso permite que a taxa de câmbio real mude ao longo do tempo, como de fato ocorre no mundo real.
595 - O resumo das causalidades que ele aponta:
596 - Modelo em questão e oferta e demanda (depende do ponto de vista que se quer analisar): "Do mesmo modo, quando um cidadão japonês compra títulos do governo norte-americano, o modelo considera a transação uma diminuição na quantidade da oferta de dólares (porque o investimento externo líquido diminui), não um aumento na demanda da quantidade de dólares. A princípio, talvez essa definição não pareça natural, mas ela será útil na análise dos efeitos das diversas políticas".
597 - Ele exemplifica o modelo com a economia dos EUA: déficits do governo diminuem a poupança nacional, o que diminui a oferta de fundos para empréstimos e eleva a taxa real de juros freando a demanda. Como é "economia aberta", temos mais consequências: Como a poupança mantida internamente agora obtém taxas de retomo mais elevadas, o investimento no exterior passa a ser menos atraente e os residentes internos compram menos ativos externos. Taxas de juros mais elevadas também atraem investidores estrangeiros que desejam obter retornos mais elevados oferecidos pelos ativos norte-americanos. IEL diminui. Consequência final: Como o investimento externo líquido se reduz, as pessoas precisam de menos moeda estrangeira para comprar ativos estrangeiros, portanto oferecem menos dólares no mercado para trocar por moeda estrangeira. Isso induz um deslocamento da curva de oferta de dólares para a esquerda, de 0¹ para 0². A redução na oferta de dólares causa uma apreciação na taxa de câmbio real, de E¹ para E², ou seja, o dólar se valoriza quando comparado às moedas estrangeiras. E isso tudo também prejudica as exportações em relação às importações.
598 - Afirma que tudo isso descreve o que ocorreu na Era Reagan, por exemplo. (E indica que talvez o Brasil não vá tão longe quanto o período 2002-2008/11 na atual apreciação do real).
599 - A "última consequência" também pode ter efeitos nas demais mediante "política comercial". Cotas de importação, por exemplo. Diminuir a importação de carro japonês, por exemplo. Como as exportações líquidas são iguais às exportações menos as importações, a política também afeta as exportações líquidas. E, como as exportações líquidas são a fonte da demanda por dólares no mercado de câmbio, a política afeta a curva de demanda desse mercado. ... Como a cota restringe o número de carros japoneses vendidos nos Estados Unidos, ela reduz as importações a qualquer taxa de câmbio real dada. Portanto, as exportações líquidas, que são iguais às exportações menos as importações, aumentarão para qualquer taxa de câmbio real dada. Como os estrangeiros precisam de dólares para comprar as exportações líquidas dos Estados Unidos, há um aumento na demanda por dólares no mercado de câmbio. Coloca que o aumento na demanda por dólares causa uma apreciação da taxa de câmbio real, de E1 para E2. Como nada aconteceu no mercado de fundos de empréstimos, painel (a), não há nenhuma alteração na taxa de juros real. Não havendo nenhuma alteração da taxa de juros real, também não há alteração no investimento externo líquido, representado no painel (b). E, como não há alteração no investimento externo líquido, não pode haver nenhuma mudança nas exportações líquidas, muito embora a cota de importação tenha reduzido as importações. ... Essa apreciação estimula as importações e desestimula as exportações - e essas duas alterações operam para contrabalançar o aumento direto das exportações líquidas em decorrência da cota de importação. (Surpreendentemente, o resultado é queda de ambas, importações e exportações, pela apreciação do câmbio. O efeito é meramente reduzir o comércio e prejudicar/beneficiar alguns setores/empresas específicos).
600 - ...Além disso, aumentarão as exportações líquidas dos Estados Unidos para o Japão e diminuirão as exportações líquidas dos Estados Unidos para outros países.
601 - Instabilidade política e fuga de capitais. Analisa o exemplo "México 1994", quando os investidores locais buscaram mercados mais seguros: Essa ação aumenta o investimento externo líquido do México e, portanto, afeta os dois mercados do nosso modelo. Efeito disso: Quando o investimento externo líquido aumenta, há maior demanda por fundos para empréstimos para financiar essas compras de ativos de capital no exterior. (...) A taxa de juros reais aumenta para equilibrar isso, coloca (creio que estão pressupondo que a disposição total a poupar da população mexicana continua a mesma nesse período curto). Mankiw parece colocar algumas premissas da realidade em tudo, mas nem sempre deixa claro, o que não gosto. Aqui ele deixou: (embora o aumento na taxa de juros torne os ativos mexicanos mais atraentes, isso somente compensa parcialmente o impacto da fuga de capitais sobre o investimento externo líquido). A oferta de pesos para trocar por dólares leva à depreciação cambial. Portanto, a fuga de capitais do México aumenta a taxa de juros mexicana e diminui o valor do peso mexicano no mercado de câmbio. (...) De novembro de 1994 a março de 1995, a taxa de juros dos títulos de curto prazo do governo mexicano aumentou de 14% para 70%, e o peso depreciou-se de 29 para 15 centavos de dólar por peso. (...) A depreciação da moeda toma as exportações mais baratas e as importações mais caras, empurrando a balança comercial em direção ao superávit. Ao mesmo tempo, o aumento na taxa de juros reduz o investimento interno, o que desacelera a acumulação de capital e o crescimento econômico.
602 - ...Impacto em outros países: Mais especificamente, o aumento do investimento externo líquido mexicano coincide com uma queda do investimento externo líquido norte-americano. A medida que o peso se deprecia e as taxas de juros mexicanas sobem, o dólar se aprecia e as taxas de juros norte-americanas caem. A magnitude desse impacto sobre a economia dos Estados Unidos é, contudo, pequena, porque a economia daquele país é muito grande se comparada à do México. Por fim, Mankiw lembra que o roteiro da "crise do México" também foi o da Ásia 97, Rússia 98 e Argentina 2002.
603 - Mankiw menciona três grandes vontades de um governo em geral: a) Tornar a economia do país aberta ao fluxo de capital internacional; b) Usar o política monetária como uma ferramenta para ajudar a estabilizar a economia; c) Manter estabilidade na taxa de câmbio: Uma taxa de câmbio volátil, às vezes puxada pela especulação, pode ser uma fonte de volatilidade econômica mais ampla. Além disso, uma taxa estável permite que as famílias e empresas se envolvam na economia mundial e façam planos para o futuro.
604 - ...O problema é que só dá para escolher duas. Se "a" e "b", como os EUA fazem (e a gente também), o câmbio tem que flutuar ("...uma consequência dessa decisão é a volatilidade do valor do dólar nos mercados de câmbio estrangeiros").
605 - ...Por outro lado, a China escolheu uma resposta diferente ao trilema. Seu banco central conduz a política monetária e mantém controle estrito do valor de troca de sua moeda. Entretanto, para atingir essas duas metas, tem de restringir o fluxo de capital internacional, incluindo a capacidade dos cidadãos chineses de transferir seus haveres para o exterior. Sem tais restrições, o fluxo monetário entraria e sairia do país, forçando a taxa de juros interna a se equiparar com as estabelecidas pelos bancos centrais estrangeiros.
606 - ...Os países europeus da zona do euro escolheram "a" e "c", de certa forma (esses países eliminaram todos os movimentos da taxa de câmbio dentro da zona do euro). E abriram mão de "b" de certa forma (só podem fazer de modo unificado, sem diferenciar países).
607 - .... De fato, a adesão dos norte-americanos às taxas de câmbio flutuantes é relativamente recente. Da Segunda Guerra Mundial ao início dos anos 1970, os Estados Unidos participaram do sistema de Bretton Woods, que fixou as taxas de câmbio entre as principais moedas. Além disso, em 1998, quando a maior parte da Ásia mergulhou em uma crise financeira, Robert E. Rubin, então secretário do Tesouro, elogiou a política da taxa de câmbio da China como uma "ilha de estabilidade" em um mundo turbulento.
608 - Ainda sobre a China (em relação aos EUA): suponha que o governo de um país, por uma questão política, incentive o fluxo de capital para outro país, talvez fazendo investimentos externos ele próprio. Qual seria o efeito dessa política? A resposta é praticamente a mesma: estando todas as demais variáveis inalteradas, o efeito seria a moeda mais fraca e um superávit comercial para o país que incentiva o investimento externo de capitais, e moeda mais forte e déficit comercial para o país que recebe os investimentos externos.
609 - ...Lado positivo para os EUA disso: O impacto da política chinesa sobre a economia norte-americana, no entanto, não é totalmente ruim. Os consumidores norte-americanos se beneficiam com o preço baixo dos produtos importados. Além disso, o investimento interno da China diminui as taxas de juros que, por sua vez, aumentam o investimento na economia norte-americana. Mankiw crê que o impacto líquido, portanto, das vantagens e desvantagens, é pequeno.
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