Oreiro e Outros - Por que as taxas de juros são tão elevadas no Brasil, Uma avaliação empírica

 

Oreiro e Outros - Por que as taxas de juros são tão elevadas no Brasil, Uma avaliação empírica


1 - Afirma que o Brasil precisa elevar sua taxa de investimento a, no mínimo, 25% para crescer 5% a.a. sem pressão inflacionária (achei até otimismo). No que se refere aos limites existentes para a expansão da formação bruta de capital fixo, uma hipótese bastante aceita entre os economistas brasileiros é o elevado custo do capital. O Brasil é um país sui generis nesse aspecto à medida que se notabiliza pelo fato de que é detentor da inglória posição de possuir a maior taxa real de juros do mundo (na média do período 1996-2002) e também o maior spread bancário do mundo (Holland, 2006)


2 - O argumento: o Banco Central do Brasil possui, aparentemente, uma “preocupação excessiva” com a taxa de inflação, haja vista que o mesmo utiliza a taxa de juros básica como instrumento para debelar pressões inflacionárias originadas, fundamentalmente, por pressões de custo advindas de variações da taxa nominal de câmbio. Não é nem que seja contrário à Regra de Taylor, mas defende um uso mais suave, ao que entendi. Sem grandes choques se obtém o mesmo resultado no mesmo tempo, parece defender. (...) Modenesi (2008) mostra evidências de que a formação da taxa Selic é pautada por uma convenção pró-conservadorismo na condução da política monetária, com um comportamento assimétrico do BCB que eleva mais fortemente a taxa de juros por ocasião de aumento no hiato do produto e/ou no hiato inflacionário, e reduzindo pouco quando diminui tais hiatos.


3 - Afirma que o teste de endogeneidade atrelado ao de "causalidade de Granger" identificaram o câmbio como fator fundamental da coisa toda. De fato, a taxa de câmbio é uma variável exógena nesse modelo, sendo a principal variável determinante das demais, o que é confirmado pelo teste de endogeneidade das variáveis (VAR Pairwise Granger Causality/Block Exogeneity Wald Tests).


4 - Segundo ele... Adotando-se uma defasagem de 12 meses, pode-se afirmar que 11,81% e 3,69% das variações da utilização da capacidade e do IPCA, respectivamente, podem ser explicadas pelas variações da Selic. Em outras palavras, variações da taxa Selic têm um impacto reduzido sobre o IPCA, o que pode estar implicando a necessidade de se utilizar “doses elevadas de juros” para conter a demanda agregada e a taxa de inflação. (...) Ademais, os principais determinantes da inflação nesta análise foram: a taxa de câmbio e a expectativa de inflação, com 30% e 35%, respectivamente.


5 - Coloca que como a LFT está entre 28% (2008) e 54% (2005) da dívida (hoje acho que tá quase metade também), o efeito riqueza é baixo, ou seja, a elevação dos juros aumenta o poder de compra de alguns. 


6 - A mudança de denominação de LBC para LFT surgiu com a constituição de 1988, que proibiu o financiamento direto e indireto do Banco Central à União, viabilizado anteriormente pelas contas movimento e suprimentos.


7 - (Aqui a seguir me parece que está tratando dos riscos da nossa "LTN":) A própria introdução das LBC durante o Plano Cruzado é uma confirmação da necessidade de se conciliar as ações de política monetária com a administração da dívida. Nesse período, não sendo possível elevar a taxa de juros e manter o estoque de títulos pré-fixados sem o desenrolar de uma crise sistêmica, ficou o Banco Central “forçado” a trocar os títulos com risco de perda de capital por Letras do Banco Central, que têm a característica de não possuírem risco de taxa de juros. Esse fato parece ter se consumado desde então, ressurgindo episódios da mesma natureza, por exemplo, durante a crise asiática em 1997 e nas crises de marcação a mercado e pré-eleitoral em 2002. 


8 - Como age o efeito riqueza? No caso de títulos públicos não indexados a taxa básica de juros — por exemplo, uma perpetuidade — uma elevação da taxa de juros irá acarretar uma redução imediata do valor de mercado desse título, impondo uma perda de capital ao seu detentor. Essa perda de capital deverá atuar no sentido de reduzir as possibilidades de consumo e/ou de investimento desse agente, contribuindo assim para a redução da demanda agregada.


9 - Coloca que o BCB é forçado a aumentar mais do que devia os juros para obter o efeito desejado. Ele almeja alguns efeitos extras: o BCB precisa elevar a taxa de juros numa magnitude suficientemente grande para que os bancos sejam forçados a racionar o crédito devido ao aumento do risco de inadimplência. Segundo, o aumento das taxas de juros, em um contexto de arbitragem entre as taxas domésticas e externas e de abundância na liquidez internacional, causa uma apreciação cambial. Isso funciona como um choque positivo no lado da oferta da economia, pois reduz os custos das matérias-primas importadas e dos preços dos bens comercializáveis no mercado doméstico. Consequentemente, é principalmente através do efeito transmissor da taxa de câmbio que a política monetária tem tido efeito sobre a inflação no Brasil.


10 - Na parte em que discute o "spread", alguns resultados interessantes para a época: Este resultado confirma a hipótese de preferência pela liquidez dos bancos (Paula & Alves Jr., 2003), segundo a qual os bancos no Brasil — em face da existência de uma aplicação livre de risco que combina liquidez e rentabilidade, como no caso de títulos públicos indexados — passam a incorporar um elevado prêmio de liquidez nas operações de concessão de empréstimos. (...) Os resultados mostraram que o crescimento da taxa de juros é a variável mais relevante, pois tem uma importância grande sobre a variância do crescimento do spread bancário, ou seja, cerca de 35%. No tocante a importância do crescimento do spread bancário na explicação dele mesmo, constatou-se que representa aproximadamente 59%, confirmando a hipótese de haver um forte componente inercial. (Não entendi 100% a coisa do "inercial" nesse caso. Seria uma cautela excessiva dos bancos que o levam a acreditar que a queda dos juros/Selic não veio para ficar?) (...) Isso pode significar que o spread bancário médio prevalecente na economia brasileira deverá permanecer em patamares ainda elevados por um longo tempo após uma redução significativa da taxa básica de juros.


11 - As três sugestões (não sei se concordo): A título de sugestão, propomos que a solução do problema das elevadas taxas de juros no Brasil pode ser enfrentada com atuação em três fronts. Em primeiro lugar, podem ser adotadas medidas que visem à redução da volatilidade cambial observada na economia brasileira, de maneira a suavizar os movimentos da taxa nominal de câmbio ao longo do tempo. Para tanto, pode ser necessária a adoção de medidas de controles de capitais na linha sugerida por Paula et al. (2003), em conjunto com uma política de acumulação de reservas. Em segundo lugar, deve-se proceder a uma desindexação generalizada dos contratos dos preços administrados (eletricidade telefonia, etc.) de maneira a impedir que uma eventual desvalorização da taxa nominal de câmbio seja repassada para os preços administrados e, por intermédio deles, para a taxa de inflação medida pelo IPCA. Por fim, faz-se necessária a eliminação das LFTs como indexador da DMFi, através de uma política ativa de administração da dívida pública, uma condição necessária para a diminuição do custo de administração da dívida no médio e longo prazo e para o aumento da eficácia da política monetária e, consequentemente, para uma queda da taxa de juros no país


.

Comentários