Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América - Capítulo 6
Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América
Pgs. 201-232
"CAPÍTULO 6: "O NEGÓCIO DA AMÉRICA SÃO OS NEGÓCIOS"
194 - EUA e o pós-Wilson: Harding jogava pôquer uma vez por semana com amigos, nem todos modelos de cidadania, e golfe duas vezes, aperfeiçoando sua habilidade de acertar bolas no terreno da Casa Branca para seu Airedale Terrier, Laddie Boy, ir pegar. Coolidge se orgulhava de nunca trabalhar mais do que quatro horas por dia e nunca dormir menos de onze horas por noite. “Seu dia ideal”, brincou H. L. Mencken, “é aquele em que absolutamente nada acontece”. Eram homens que queriam e conseguiram governo pequeno e redução de tributação. Dívida também caiu.
195 - Não era liberalismo cem por cento, como sempre. Certos fluxos limitados. A década foi ditada por duas tarifas: a Emergency Tariff de 1921 e a Smoot-Hawley Tariff de 1930. A Lei da Imigração de 1924, que vigorou até 1965, limitou severamente o número de imigrantes. Sem contar a proibição do álcool nesse período, para alegria dos contrabandistas.
196 - Crise de 1921 viu a queda gigante das receitas das principais corporações. Os Estados Unidos passaram pelo que talvez tenha sido a deflação mais intensa da sua história, com uma queda de 44% nos preços de atacado entre junho de 1920 e junho de 1921. A produção agrícola caiu 14% em 1921. A taxa de desemprego pulou de 2% em 1919 para 11% em 1921. A depressão durou cerca de dezoito meses. A reação foi passiva e a recuperação veio.
197 - EUA e greves:
198 - A tempestade passou quase tão rápido quanto começou. Os empregadores americanos contra-atacaram com sucesso os grevistas estimulando (em alguns casos de forma justificada) os temores em relação ao comunismo. Em 1920, os sindicatos haviam retornado à mesma posição em que se encontravam em 1910. A Suprema Corte deslocou o equilíbrio do poder, favorecendo novamente os chefes: em 1921, a Corte tornou os boicotes secundários ilegais (Duplex Printing Press Co. v. Deering), e em 1923 (Adkins v. Children’s Hospital) emitiu um veredito contrário aos salários mínimos. A filiação aos sindicatos despencou — a AFL perdeu cerca de um milhão de membros entre 1920 e 1925 — e o ativismo dos sindicatos enfraqueceu. O período entre 1921 até perto da crise de 29 foi de forte crescimento econômico e da produtividade.
199 - Em 1930, 15% dos americanos haviam nascido no exterior e pelo menos um dos pais de 36% eram estrangeiros. (...) Mais ou menos ao mesmo tempo, o número de moradores das cidades ultrapassou o número de moradores do campo.
200 - Cita mais uma glória dos anos 20: ...a democratização e a disseminação das grandes inovações da era do laissez-faire — da eletricidade, dos automóveis, dos aviões e, em um nível mais abstrato, da própria sociedade anônima. Os anos 1920 foram uma década tanto de prosperidade crescente para as massas quanto de mercados superaquecidos. Inclusive, 10% da população tinha ações antes do crash. (...) Na metade da década de 1920, 80% dos carros do mundo estavam localizados nos Estados Unidos: a América ostentava um automóvel para cada 5,3 pessoas, enquanto na Inglaterra e na França essa proporção era de um carro para 44. (...) Um carro que, antes da Primeira Guerra Mundial, custava ao trabalhador médio o equivalente a quase dois anos de salário, na metade dos anos 1920, podia ser comprado por cerca de três meses de salário. A partir daí, o preço se estabilizou, mas a qualidade continuou aumentando.
201 - ...Ford só perdia pra Rockefeller em riqueza. Os "serviços automobilísticos" também prosperavam. Um cálculo de 1929 sugere que a economia automobilística criou 4 milhões de empregos que não existiam em 1900, o equivalente a um décimo da força de trabalho total. Caminhões também ganhavam popularidade e transportavam mercadorias "até a porta", ao contrário das ferrovias. Foi a década do surgimento dos ônibus também, rivalizando e depois superando os bondes.
202 - ...Durante a década, os fazendeiros eliminaram cerca de 9 milhões de animais de carga, principalmente cavalos e mulas, liberando pastos para usos mais lucrativos, que foram substituídos por veículos motorizados de todos os tipos. O número de tratores aumentou de cerca de mil em 1910 para 246 mil em 1920 e para 920 mil em 1930. Ganharam mais qualidade e versatilidade também. As colheitadeiras também se disseminaram.
203 - Também a década das rodovias: Woodrow Wilson inaugurou uma nova era ao assinar o Federal Aid Road Act de 1916, concedendo subvenções federais aos estados comprometidos com o desenvolvimento de suas estradas e pontes.
204 - Os aviões também começaram a se tornar parte do sistema de transporte em massa. Em 1928, quando foram coletadas as primeiras estatísticas do transporte aéreo, os Estados Unidos já tinham 268 aeronaves em operações domésticas e 57 em operações internacionais.
205 - A eletrificação das fábricas americanas nos anos de 1920 estava no coração do aumento da produtividade. Embora a eletricidade já fosse uma tecnologia bem estabelecida, seu impacto sobre a produtividade foi limitado pelo design industrial antiquado.
206 - ...Henry Ford: "A provisão de um novo sistema completo de geração elétrica emancipou a indústria da correia de couro e do eixo de transmissão, já que por fim se tornou possível equipar cada ferramenta com seu próprio motor elétrico". Dá exemplos no texto de como isso permitiu outro nível de gigantismo e velocidade.
207 - Surgem também os eletrodomésticos: Um levantamento realizado pela Electric Company de Chicago em 1929 mostrou que mais de 80% das residências tinham um ferro elétrico e um aspirador de pó, 53% tinham um rádio, 37% tinham uma torradeira, 36% tinham uma máquina de lavar. Refrigeradores (10%) e aquecedores elétricos (10%) eram muito mais raros. O rádio comercial moderno surge em 1920. Espalha-se rapidamente. A revolução foi promovida por empreendedores em busca de lucro, e não por comissões governamentais, como aconteceu na Europa. Os astros dos rádios estavam entre os artistas mais bem pagos da época.
208 - Em 1922, cerca de 40 milhões de pessoas, 36% da população, ia ao cinema uma vez por semana. A introdução do som em 1928 deu ao meio de comunicação novo impulso. No final da década de 1920, mais de 70% da população ia regularmente ao cinema, e a América produzia 80% dos filmes do mundo.
209 - Era uma época de boom imobiliário e construção de mais de um milhão de casas. As casas são templos erguidos aos aparelhos domésticos: gramofones do tamanho de armários, aquecedores de água, aspiradores de pó, ventiladores elétricos, cafeteiras, torradeiras.
210 - A sociedade anônima caiu no gosto de boa parte da população estadunidense. Os principais acionistas da maior ferrovia do país (a Pennsylvania Railroad), a maior prestadora de serviços públicos (AT&T) e a maior corporação industrial (U.S. Steel) detinham menos de 1% das ações.
211 - Era do domínio das grandes corporações, que cresciam mais rápido que as demais. Em 1929, as “duzentas mágicas” controlavam quase metade da riqueza corporativa do país, valendo 81 bilhões de dólares. O rápido crescimento das grandes companhias foi estimulado, em parte, pelos mercados de ações, que lhes permitiram levantar fundos com mais facilidade e usar esse dinheiro para consolidar o controle sobre seus respectivos mercados.
212 - Década do boom das propagandas:
213 - Os administradores mais ambiciosos defendiam o “capitalismo do bem-estar social” — isto é, forneciam a seus funcionários planos de previdência, planos de saúde e programas de participação nos lucros. George Johnson, empresário do setor de calçados, adotou a jornada de oito horas, a semana de 40 horas e um abrangente plano de saúde. (...) Lewis Brown, magnata do amianto, adotou a negociação coletiva, a jornada de oito horas, a semana de 40 horas e pesquisas regulares de opinião junto aos funcionários.
214 - A batalha corporativa de maior destaque dos anos 1920 contrapôs duas concepções da sociedade anônima: a focada no empreendedor, adotada pela Ford Motor, e a focada na administração, adotada pela General Motors. A Ford Motor Company começou a década com uma vantagem considerável: em 1921, ela detinha 56% do mercado americano, enquanto a GM detinha 13%. Henry Ford era universalmente considerado o maior empresário da América. No final da década, as duas companhias estavam emparelhadas — e, no final dos anos 1930, a GM abriu uma vantagem notável em relação à Ford. Alfred Sloan era o nome-chave da GM.
215 - Sloan abraçou a ideia da firma com estrutura multidivisional. Oliver Williamson chamou a estrutura multidivisional de inovação mais importante da história do capitalismo do século XX. (...) A primeira companhia a adotar a estrutura multidivisional foi a DuPont, pouco depois da Primeira Guerra Mundial. (...) Sloan reestruturou a companhia em divisões responsáveis por tipos diferentes de carro: de Chevrolets projetados para competir com o Model T a Cadillacs feitos para a elite. Ele deu a ambiciosos administradores o comando sobre a operação dessas divisões, mas ao mesmo tempo responsabilizou-os pelo seu desempenho geral. Inventaram a "compra parcelada" e investiram mundos e fundos em propaganda. A ideia dessa nova forma de organização incluía, por vezes, se livrar das divisões que estavam abaixo da média.
216 - A invenção do ar-condicionado, no início do Século XX, mudou a história do Sul dos EUA: As companhias do sul aos poucos foram percebendo que o ar- -condicionado mudava o cenário da concorrência: assim que eliminaram sua maior desvantagem regional, um clima capaz de drenar energias, elas puderam aproveitar as vantagens regionais, sua força de trabalho relativamente barata e flexível (um dos primeiros estudos realizados pelo governo concluiu que os datilógrafos tornavam-se 24% mais produtivos quando transferidos de um escritório quente para um fresco). Em 1929, Carrier equipou um prédio inteiro de escritórios, o Milam Building, em San Antonio, Texas, com aparelhos de ar-condicionado. O ar- -condicionado fez mais do que tornar o ambiente de trabalho suportável. Também permitiu que o Sul produzisse gêneros sensíveis ao calor, como têxteis, impressões coloridas e produtos farmacêuticos, além de alimentos processados.
217 - A migração de cerca de 8% da mão-de-obra negra do Sul para o Norte teve a ver com a restrição a imigração que ganhava força. Ocuparam empregos antes destinados a estrangeiros recém-chegados. Em 1925, o Harlem tornara-se “a maior cidade negra do mundo”, nas palavras de James Weldon Johnson, secretário executivo da Associação Nacional Para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP), com 175 mil afro-americanos ocupando 25 quarteirões da cidade de Nova York.
218 - A loja self-service, com porta giratória, também foi uma invenção dos anos vinte, "reduzindo o trabalho" de atendentes de balcão.
219 - Problemas no paraíso dos anos vinte: o fornecimento e sofisticação do mecanismo de crédito para consumo baseado numa visão sempre otimista de ganho de poder aquisitivo foi gerando endividamento progressivo. O tamanho do endividamento das famílias cresceu — de 4.200 dólares em 1919 para 21.600 em 1929 (ambos em dólares de 2017). Muito inclusive pela compra de casas.
220 - A outra serpente era o nacionalismo América em primeiro lugar. As leis contra a imigração interromperam a antiga oferta de mão de obra barata do país. As imigrações anuais caíram de 1% da população nativa durante o período entre 1909 e 1913 para 0,26% de 1925 a 1929. A taxa de crescimento da população caiu de 2,1% entre 1870 e 1913 para 0,6 de 1926 a 1945. A redução na imigração não apenas reduziu a oferta de mão de obra (facilitando a organização de sindicatos), como reduziu a demanda de longo prazo por casas. Isso dificultou a venda das casas que haviam sido construídas durante a explosão do crédito.
221 - Hoover, eleito em 1928, era um cara vitorioso em todos os vários âmbitos da vida em que se dedicou. Excelente currículo.
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