Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América - Capítulo 5
Livro: Greenspan, Alan; Wooldridge, Adrian. Capitalismo na América: Uma história
Pgs. 162-200
"CAPÍTULO 5: "A REVOLTA CONTRA O LAISSEZ-FAIRE"
155 - O ano da indignação contra o padrão-ouro é 1896. A história americana foi pontuada por grandes discursos: o de Lincoln em Gettysburg, o discurso de posse de John Kennedy, o discurso “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King Jr. O discurso da “Cruz de Ouro” de William Jennings Bryan foi mais um. (...) a oposição ao padrão ouro vinha crescendo havia anos, com fazendeiros reclamando da deflação, e os “silverites” (defensores da adição do padrão prata, muitos deles proprietários de minas de prata) argumentavam que a prata era uma alternativa mais humana e mais conveniente.
156 - ...Na conferência democrata, os democratas de Cleveland foram violentamente acusados de serem agentes do capitalismo e apóstolos da religião bárbara do ouro. (...) Apesar da sua genialidade, o discurso de Bryan provou-se um desastre para a sua causa. Ao dividir o Partido Democrata quanto ao padrão ouro, ele inaugurou um longo período de domínio republicano na política. Ao levantar a questão do padrão ouro, transformou uma política informal em formal. Uma das primeiras coisas que William McKinley fez quando se mudou para a Casa Branca em 1897 foi assinar o Gold Standard Act, que tornou o ouro o único padrão monetário. O partido insistiu na prata. Ele levou o Partido Democrata três vezes à derrota (em 1896, 1900 e 1908).
157 - Digamos que Bryan era polêmico: Tentou converter o corpo diplomático ao abstencionismo banindo o álcool das funções diplomáticas quando foi secretário de Estado no governo de Woodrow Wilson, assim talvez tendo contribuído com o mau humor nas relações internacionais. Opôs-se à entrada da América na Primeira Guerra Mundial. Agiu em favor do estado do Tennessee ao processar John Scopes pelo ensino da evolução. Teddy Roosevelt chamou-o de “asno incorrigível”. (...) Sua viúva, ao editar suas memórias em 1925, afirmou que, apesar de todos os fracassos que teve durante a vida, suas políticas haviam triunfado em uma área após outra: o imposto de renda federal, a eleição popular dos senadores americanos, o sufrágio feminino, um Departamento do Trabalho, uma regulação mais rígida para as ferrovias, reforma monetária e, no nível estadual, iniciativas e referendos. (...) O maior sucesso de Bryan foi ter ampliado o reino da política. Até então, os americanos respeitáveis haviam considerado o padrão ouro uma parte imutável do mundo, e não um construto político.
158 - Grover Cleveland. Para entender o quão chocante foi o discurso da Cruz de Ouro de Bryan, vale a pena analisar o homem que Bryan substituiu à frente do Partido Democrata. Era o cara do governo pequeno e liberal. Negava mesmo somas minúsculas de ajuda a Estado sujeito à seca. Ele se manteve fiel aos princípios do laissez-faire durante o pânico de 1893, quando bancos entraram em colapso, a produção industrial caiu 17% e o desemprego aumentou 12%.
159 - Cleveland crescera em um mundo definido pelo governo pequeno, como fato e como ideal. Em 1871, o governo federal ainda empregava apenas 51.071 pessoas, das quais 36.696 trabalhavam nos serviços postais. Isso produzia uma taxa de um servidor não postal para cada 2.853 americanos.4 Com a exceção do período da Guerra Civil, os gastos consolidados dos governos (federal, estaduais e locais conjuntamente) eram significativamente inferiores a 10% do PIB entre 1800 e 1917 (ver Gráficos 12 e 13). (...) O governo como um todo coletava apenas 8 centavos para cada dólar de renda gerado pela economia, e 6 desses 8 centavos eram gastos pelos governos locais.
160 - Exceto pelo protecionismo industrial, era uma época de laissez-faire: A América sobreviveu por 77 anos, de 1836, quando a permissão do Second Bank expirou, até 1913, quando Woodrow Wilson criou o Federal Reserve, sem um banco central e praticamente nenhuma política monetária além do padrão ouro. O custo de vida aumentava apenas 0,2% ao ano. Os empregadores podiam contratar e demitir como bem entendessem.
161 - O sistema de freios e contrapesos dos Fundadores foi testado por um imenso crescimento da população de eleitores durante o governo de Andrew Jackson (ver Gráfico 14). Na segunda metade do século XIX, quase todos os homens brancos tinham o direito ao voto, e uma proporção considerável exercia esse direito: 83% em 1876, 81% em 1888 e 74% em 1900.
162 - Coloca que a Corte Suprema era extremamente "liberal" no Século XIX: Na ação Pollock v. Farmer’s Loan & Trust Company (1895), a decisão da Corte derrubou o imposto de renda federal com cinco votos a quatro. Na ação United States v. E. C. Knight Company, a Corte tornou sem efeito a Lei Sherman Antitruste. O governo federal tivera certeza de que venceria seu processo antitruste contra a American Sugar Refining Company sob o argumento de que a companhia controlava 98% da oferta de açúcar do país. (...) Em vez disso, a Corte decidiu que um monopólio sobre a produção não constituía monopólio sobre o comércio, já que era perfeitamente possível produzir coisas sem comercializá-las.
163 - ...Era bastante anti-trabalhador também. Além de, na prática, proibir greves... Na ação Lochner v. New York (1905), ela julgou inválida uma lei de Nova York que proibia funcionários de padarias de trabalhar mais de dez horas por dia ou 60 horas por semana sob o argumento de que infringia a liberdade contratual. (...) Em 1918, a decisão tornou nulo o Keating-Owen Act de 1916, que proibia o envio de um estado para outro de artigos produzidos pelo trabalho infantil, sob o argumento de que ele tentava regular a produção e, portanto, exercer um poder reservado aos estados.
164 - Política monetária nos primórdios dos EUA: ...até 1834 a América oscilou entre a prata e o ouro como melhor reserva de valor (a princípio, optou por definir seu dólar em termos de onças-troy de prata, mas ao mesmo tempo cunhava moedas de ouro com o preço do ouro ancorado com uma taxa fixa em relação à prata). Também suspendeu repetidas vezes os compromissos com uma moeda “forte” para financiar suas inúmeras guerras, a começar pela Guerra da Independência. A impressão de dinheiro mostrou-se a única maneira viável de pagar tropas e armas, pois era impossível levantar dinheiro com impostos ou empréstimos externos de forma suficientemente rápida.
165 - Turbulências monetárias (e hiperinflação no Sul) ocorreram também durante a guerra civil, com as greenbacks e graybacks. Em 1875, o Specie Payment Resumption Act forçou o governo federal a retirar de circulação, até janeiro de 1879, uma quantidade suficiente de “greenbacks” para que o dólar retornasse ao seu valor pré-guerra de 20,67 dólares por onça-troy de ouro.
166 - O pessoal realmente amava o padrão-ouro ao ponto de ver colapso civilizacional com o seu fim. O Chicago Tribune, um influente jornal republicano, comparou os defensores da moeda fiduciária aos revolucionários da Comuna de Paris. Eram inflacionários ou, pior, lunáticos.
167 - O valor de troca do ouro como percentual de uma cesta fixa de bens e serviços permanecera estável desde que Sir Isaac Newton, Mestre da Casa da Moeda britânica, em 1717, fixou a libra esterlina em 4,25 por onça de ouro. O preço permaneceu nesse patamar até 1931, quando a Grã-Bretanha abandonou o padrão ouro. Em 1933, foi a vez dos Estados Unidos.
168 - Eugenia: Os intelectuais americanos importaram entusiasticamente essas ideias. Spencer foi um dos intelectuais públicos mais reverenciados da América pós-Guerra Civil — “um grande homem, grande intelecto, figura gigante na história do pensamento”, nas palavras de Richard Hofstadter. William Graham Sumner pregava o darwinismo social na cátedra que ocupava na Universidade de Yale. (...) Os grandes empresários do país gostavam particularmente do darwinismo social. James J. Hill argumentava que “a sorte das companhias ferroviárias era determinada pela lei da sobrevivência do mais apto”. John D. Rockefeller, ao comparar a produção de um grande negócio à produção da “American Beauty”, variedade de rosa, disse que a “sobrevivência do mais apto” é “a consequência de uma lei da natureza e de uma lei de Deus”. Andrew Carnegie convidou Spencer para uma visita à sua siderúrgica em Pittsburgh. O darwinismo social oferecia uma explicação perfeita para justificar por que os “tipos mais elevados” de homens deveriam ter o máximo possível de liberdade.
169 - Toda uma ideologia era forjada: Mark Twain e Charles Dudley Warner insistiram no prefácio da edição britânica de The Gilded Age: A Tale of Today (1873) que “na América, quase todo homem tem seu sonho, seu projeto de estimação, pelo qual deve avançar social ou monetariamente”. As histórias de Horatio Alger sobre homens que haviam vencido na vida por meio do trabalho duro vendiam milhões de exemplares. Pushing to the Front (1894), de Orison Swett Marden, que argumentava que qualquer um podia alcançar o sucesso, contanto que tivesse determinação e energia suficientes, teve 250 edições. Imigrantes que haviam fugido de regimes europeus autoritários traziam consigo um compromisso intenso com os ideais da oportunidade e do êxito pessoal. Enfim, era uma "democracia" (80% dos brancos votando) que não se metia na liberdade de negócios internos.
170 - Ferrovias foram as primeiras a quebrarem o sonho mítico dos negócios sem intervencionismo. ...Assim, seu modelo de negócio requeria contato com o governo, que lhes concedia terras baratas a fim de convencê-las a construir estradas de ferro no meio do nada. Até a Suprema Corte permitiu a regulamentação do negócio ferroviário visando o interesse público. O primeiro exemplo de legislação empresarial nacional também foi introduzido para lidar com as ferrovias. A Lei de Comércio Interestadual de 1887, que foi aprovada por Cleveland, criou a Comissão de Comércio Interestadual a fim de garantir tarifas justas e suprimir a discriminação tarifária.
171 - ...As ferrovias estabeleceram o primeiro grande exemplo de capitalismo de compadrio. Elas compravam políticos, subornavam juízes, e, nas palavras de Henry Adams, transformavam-se em “despotismos locais” em um estado após outro. Em 1867, a Crédit Mobilier, uma companhia de construção fundada pelos diretores da Union Pacific Railroad, obteve milhões com a construção de ferrovias, subornando políticos para fecharem os olhos no processo. Entre os políticos envolvidos no escândalo, estava um vice-presidente, Schuyler Colfax, e um candidato à vice-presidência, Henry Wilson; o presidente da Câmara, James Blaine; e um futuro presidente, James Garfield. A “guerra” de 1869 entre Cornelius Vanderbilt e Jay Gould pelo controle da Erie Railroad de Nova York envolveu dois juízes contratados, assembleias legislativas corrompidas e pagamentos por baixo dos panos.
172 - Critica a poluição e sujeira nos grandes centros urbanos dos EUA do fim do Século XIX. (...) A combinação entre a superlotação e a poluição ajuda a explicar um dos fatos mais surpreendentes da era: o de que, apesar da melhora geral dos padrões de vida e da redução no preço real dos alimentos, a estatura média dos homens nascidos na América caiu mais de 2,5%, de 1,73 metro no coorte dos nascidos em 1830 para 1,69 metro no coorte dos nascidos em 1890.
173 - O mundo dos plutocratas: Por fim, as grandes corporações também produziam uma grande concentração de renda que testava a crença da América na igualdade de oportunidades. Coloca que adotavam cada vez mais a arrogância europeia e o consumo conspícuo. Ostentação. (...) Estava cada vez mais difícil preservar a antiga ideia de que todo homem podia se tornar um chefe em um mundo onde companhias empregavam 250 mil pessoas.
174 - Fazendeiros do Meio-Oeste em 1867: A Grange era um animal de duas cabeças: um movimento de autoajuda que encorajava seus membros a se educarem, e a se unirem para comprar suprimentos e vender produtos; e um movimento político que protestava por condições melhores. Em seu auge, contou com 1,5 milhão de membros, com filiais espalhadas por toda a América rural. Para Greenspan, estavam errados ao se queixar dos donos de ferrovias em geral (muitos acabaram falindo) e dos descontos que Rockefeller conseguia nas grandes compras. No que estavam certos? Eram vítimas de monopólio (transporte ferroviário). Bryan foi filho desse movimento.
175 - A partir de 1880 não eram apenas os fazendeiros. Depois da Guerra Civil (...) a agitação industrial tornou-se uma constante tanto da vida americana quanto do mundo industrializado: houve 37 mil greves entre 1881 e 1905, por exemplo, com o maior número nas áreas da construção e na indústria da mineração, mas causando mais divisão nas indústrias que jaziam no coração da Segunda Revolução Industrial, como a ferroviária e a metalúrgica. (...) Em 1894, a greve da Pullman paralisou o sistema americano de transportes até a intervenção de Grover Cleveland. No mesmo ano, a “grande greve do carvão” suspendeu a produção de carvão na Pensilvânia e no Meio-Oeste, quase paralisando grandes segmentos da indústria americana.
176 - Deflação: foi particularmente severa de 1865 a 1879. Os preços gerais caíram 1,9% ao ano de 1865 a 1900. Os preços de algumas commodities caíram muito mais, com preços agrícolas caindo 29% entre 1870 e 1880, e os preços de fora desse setor caindo 13%. As dívidas pesaram. Os fazendeiros viram-se em uma corrida para produzir cada vez mais a fim de manterem sua renda nominal. (...) A deflação transferia fortunas de devedores no Sul para os credores do Leste.
177 - Deflação gerando conflito social: O fardo da deflação não caiu só sobre os simples mortais: indústrias com custos fixos elevados, como as ferrovias, precisavam pagar um custo extra por fábricas e maquinários. Empregadores precisavam reduzir os salários nominais de seus funcionários a fim de se manterem competitivos e conseguirem pagar os juros de suas dívidas. E os empregados recebiam salários nominais cada vez menores. Mais uma vez, era uma receita para o conflito. Keynes mais tarde chamaria de rigidez salarial tal problema, lembra Greenspan.
178 - Mudanças: Quinze milhões de imigrantes chegaram da Europa entre 1890 e 1914 - muitos católicos do sul da Europa, que não se misturavam espontaneamente com os grupos protestantes tradicionais da zona rural. E trabalhadores se reorganizavam em uma escala igualmente maciça para tentar controlar as mudanças: em 1914, cerca de 16% da força do trabalho estava sindicalizada, uma proporção inferior à da Dinamarca (34%) e à da (Grã-Bretanha), mas superior à da França e à da Alemanha (14%).
179 - Contestação ao modelo. Jornalistas difamadores expunham o lado negro dos principais magnatas da América: Ida Tarbell publicou uma série de dezenove artigos na revista McClure’s Magazine argumentando que a ascensão da Standard Oil fora produzida por “fraude, desonestidade, privilégios especiais, ilegalidade grosseira, suborno, coerção, corrupção, intimidação, espionagem ou terror absoluto”. Louis Brandeis, o “advogado do povo” e futuro juiz da Suprema Corte, polemizava contra “a maldição da grandeza” e bancos que apostavam com o “dinheiro dos outros”. Também cita Henry George e sua crítica à não-eliminação da pobreza. Cita vários exemplos na verdade. Eram os progressistas contra as corporações gigantes como um desafio à grande tradição americana de poder descentralizado e democracia popular.
180 - Woodrow Wilson, o rei-filósofo do Progressismo, argumentava que os americanos haviam devotado muito esforço para limitar o governo, e não o suficiente para torná-lo “ágil, organizado e eficaz”.
181 - O problema é que os "progressistas" também "curtiam" eugenia e limitações à imigração. Entretanto, reformas políticas pregadas iam no sentido de maior participação popular. Em 1913, a América ratificou a Décima Sétima Emenda, permitindo a eleição direta dos senadores pelo voto popular em vez de serem nomeados pelas assembleias legislativas estaduais. estaduais. Sete anos depois, a Décima Nona Emenda deu o direito ao voto às mulheres. (...) Teddy Roosevelt considerava a Constituição “um obstáculo persistente a ser superado pela luta da sua agenda política progressista”, nas palavras de William Bader.29 Woodrow Wilson acreditava que a América não podia mais se dar ao luxo de ter uma presidência acorrentada a freios e contrapesos do século XVIII se quisesse lidar com o mundo de corporações gigantes. Em vez disso, ela precisava de uma revolução constitucional total — um primeiro-ministro poderoso nos moldes britânicos apoiado por uma vigorosa disciplina partidária.
182 - O fim da fronteira: Para muitos americanos, entre eles o próprio Turner, o fim da expansão da fronteira parecia uma mudança negativa. A expansão da fronteira dera à América seu selo igualitário: as pessoas que sofriam sob os mandos da elite de Boston ou dos nababos de Nova York podiam simplesmente se mudar para oeste. Agora, até o Oeste estava colonizado — e São Francisco tinha seu próprio Nob Hill. A expansão da fronteira atuara como uma garantia do forte individualismo americano. Agora, a América seguia o caminho da decadente Europa para se tornar uma civilização colonizada. A expansão da fronteira dera à América uma sensação de possibilidades infinitas. Agora, até os vastos espaços do Oeste estavam delimitados e divididos.
183 - No dia 3 de dezembro de 1901, Theodore Roosevelt, que chegara à presidência com o assassinato de William McKinley por um anarquista, fez seu primeiro discurso anual para o Congresso. (...) Greenspan pinça um discurso misto, mas... ao se estabelecer em seu cargo, Teddy, o Reformador, venceu Teddy, o Conciliador. Toda a conversa sobre a “pressa” da reforma e a “delicadeza” dos negócios foi esquecida quando Roosevelt abraçou a causa progressista. (...) Ele também era uma combinação única entre aristocrata e intelectual: como intelectual, apoiava a concepção de Hegel da primazia do Estado, e como aristocrata menosprezava os empresários novos-ricos. Foi o cara das ações antitrustes contra várias gigantes - como a Standard Oil - e pretensões de fusões. Criticava a tirania dos plutocratas, mas bradava contra o "populismo" de Bryan também, que, segundo ele, transformaria os EUA em América do Sul.
184 - Segundo mandato: Em 1906, ele sancionou a Lei Hepburn — aumentando a capacidade do governo de regular as tarifas ferroviárias — e a Lei de Alimentos e Medicamentos Puros, que permitia identificar e combater casos de alimentos adulterados ou rotulados indevidamente; introduziu taxações de rendas e heranças, bem como estabeleceu a proibição de fundos político-partidários financiados por doações corporativas.
185 - Ainda Teddy: Ele declarou que “a propriedade de todo homem está sujeita ao direito geral da comunidade de regular seu uso em qualquer grau que o bem público possa exigir”. “Acredito nas corporações”, confessou Roosevelt, “mas acredito que elas devem ser supervisionadas e, assim, reguladas a fim de serem usadas no interesse da comunidade como um todo.”
186 - Foi sucedido por um bem mais calmo republicano: Howard Taft. Após... o sempre incansável Roosevelt reemergiu como candidato do “Partido do Alce” (apelido do Partido Progressista, criado por ele) em 1912 com um conjunto ainda mais amplo de propostas: uma batalha vigorosa contra “os trustes”, uma maior reprovação dos malfeitores possuidores de grandes fortunas, eleições diretas para anular precedentes judiciais impopulares e remover juízes turrões. Embora tenha perdido as eleições, os resultados gerais serviram de testemunho da magnitude alcançada pela revolta contra o laissez-faire. Woodrow Wilson e Teddy Roosevelt receberam juntos 69% dos votos. Taft, o candidato do republicanismo empresarial, ficou em terceiro com apenas 23% dos votos. O Partido Socialista, fundado em 1901, tomou de assalto o palco nacional: Eugene Debs, seu candidato à presidência, recebeu quase um milhão de votos, e o partido elegeu mais de mil candidatos a diversos cargos governamentais. Wilson foi o homem do imposto de renda.
187 - Criação do FED no mandato Wilson: Além disso, ela produziu uma revolução intelectual: com a substituição do ouro pelo crédito soberano dos Estados Unidos, deu poder aos banqueiros centrais para exercerem o papel antes cumprido, por um lado, por um mecanismo monetário inflexível, e, por outro, pela intervenção caprichosa, ainda que necessária, de banqueiros privados como J. P. Morgan.
188 - ...Dava-se início à longa queda do padrão-ouro: o Federal Reserve Act limitou a expansão do crédito exigindo a reserva mínima de cerca de 40% em ouro para notas do Federal Reserve recém-emitidas e 35% para depósitos dos bancos membros no Federal Reserve Bank. Contudo, nos cinquenta anos seguintes, sempre que esses limites se aproximavam da reserva mínima, eles eram gradualmente reduzidos, até serem completamente eliminados em 1968.
189 - Vai caindo parcialmente o império de Morgan. A Comissão Pujo concluiu que o truste financeiro tinha 341 diretorias em 112 companhias, com ativos de 22 bilhões de dólares, e em 1913, após a morte de Morgan, seus diretores discretamente renunciaram aos cargos em quarenta das companhias. (...) representou o fim de uma era em que banqueiros podiam combinar a função de titã das finanças com a de banqueiro central.
190 - Coloca que a entrada na I Guerra serviu de justificativa para um enorme avanço dos impostos progressivos. O governo federal foi forçado a aumentar a tributação a níveis até então jamais sequer sonhados para pagar por um conflito que, de acordo com Hugh Rockoff, da Universidade Rutgers, custou ao país cerca de 32 bilhões de dólares, ou 52% do PIB na época. Isso tudo sem prejuízo da emissão de "Liberty Bonds".
191 - ...Fixação de preços, estatização de ferrovias e até censura foram mecanismos adotados devido á guerra. A Lei de Sedição de 1918 criminalizou qualquer expressão de opinião sobre o governo, sobre a bandeira ou sobre as forças armadas americanas que fizesse uso de “linguagem desleal, profana, vulgar ou abusiva”. E essa lei teve uma aplicação rigorosa: Eugene Debs foi preso. Porém, toda essa parte mais intervencionista foi desmontada após a guerra. De toda forma, as agências regulatórias poderosas iriam servir de inspiração ao New Deal anos depois. Imposto de renda, banco central e um corpo burocrático maior ficaram como legados permanentes.
192 - Era todo uma nova era: De 1920 até 1940, os Estados Unidos gastaram 1,7% do PIB no Exército e na Marinha, aproximadamente o dobro do percentual gasto entre 1899 e 1916. Em 1915, a dívida nacional era de 1,191 bilhão de dólares. John D. Rockefeller poderia ter pago várias vezes esse valor do seu próprio bolso. Em 1919, ela subiu para mais de 25 bilhões.
193 - A América ... ganhou mais uma fase de governo favorável aos negócios na década de 1920. Warren Harding e Calvin Coolidge tiveram sucesso na reversão de muitas das medidas introduzidas durante a Era Progressista e no restabelecimento das liberdades tradicionais dos negócios.
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