Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América - Capítulo 4

                                                                                                  

Livro: Greenspan, Alan; Wooldridge, Adrian. Capitalismo na América: Uma história



Pgs. 134-161


"CAPÍTULO 4: "A ERA DOS GIGANTES"


131 - Antes de 1850-1910 (Era dos Monopólios e Impérios, digamos), o cenário era outro: Quando John Jacob Astor morreu em 1848, deixou uma fortuna de 20 milhões de dólares, tornando-se o homem mais rico da América. Sua companhia, a American Fur Company, empregava poucos funcionários em tempo integral, que trabalhavam em uma única sala. Muito diferente da venda da Carnegie Steel pra J. P. Morgan em 1901.


132 - Rockefeller controlou 90% da capacidade de refino mundial. Carnegie produziu mais aço do que o Reino Unido. Morgan salvou a América duas vezes do calote, atuando como um banco central humano. (...) Essas figuras colossais atraíram o opróbrio externo. Ida Tarbell acusou-os de serem “barões ladrões”. Teddy Roosevelt apelidou-os de “malfeitores com fortunas”. Henry Adams descreveu Jay Gould como “uma aranha” que “tecia grandes redes nos cantos escuros”. Um show popular da Broadway chamou Morgan de “a grande Górgona financeira”. (É que o Brasil odeia quem faz sucesso... Por isso que aqui não dá certo...)


133 - ...Jay Gould subornou legisladores para conseguir fechar negócios, subornou acionistas e até sequestrou um investidor. Ele certa vez disse: “Posso contratar metade da classe trabalhadora para matar a outra.” Greenspan, porém, defende a maioria dos "barões ladrões". Não eram tal coisa. Nasceram pobres e enriqueceram trabalhando e inventando, segundo ele. Carnegie, antes de se tornar o homem mais rico do mundo, teve este começo: ...começou a vida buscando carretéis para as costureiras na indústria têxtil, caiu nas graças dos grandes empresários de Pittsburgh, e com pouco mais de 30 anos se tornou milionário, antes mesmo de investir sequer um dólar em aço. (...) J. P. Morgan foi o único homem que nasceu na alta sociedade, e aumentou exponencialmente o poder de seu banco.


134 - ...Elogia os "barões" pela filantropia: Carnegie tentou tornar a igualdade de oportunidades algo real fundando quase 3 mil bibliotecas públicas. Rockefeller fundou duas universidades, a Rockefeller e a Universidade de Chicago, e doou uma fortuna a outras instituições de ensino superior.


135 - Carnegie percebeu que a América estava entrando na era do aço. O homem que conseguisse fornecer o melhor aço ao menor preço seria um Rei Midas da modernidade. Rockefeller se deu conta de que o país estava entrando na era do petróleo. Henry Ford viu que ele estava entrando na era da mobilidade em massa. (...) Esses grandes empreendedores conquistaram seu lugar na história não com a invenção de coisas, mas com a sua organização. Carnegie era obcecado por tecnologias e métodos de produção cada vez mais eficientes/baratos.


136 - Rockefeller: Ele foi sistematicamente eliminando esses concorrentes, convidando-os a fazerem parte da Standard Oil Company, que fundou em 1870, ou, caso se recusassem, como fez o pai de Ida Tarbell, tirando-os do negócio. (...) Baltimore. Ele construiu sua própria fábrica de barris, que em 1888 rendeu-lhe uma economia de 1,25 dólar por barril em um período no qual ele usava 3,5 milhões por ano. Usou sua escala superior para negociar acordos especiais com ferrovias: volume garantido em troca de custos reduzidos. (...) Aumentou a receita transformando petróleo em uma série cada vez maior de produtos úteis, como óleo lubrificante, parafina, nafta para asfaltar as estradas e gasolina. Quanto mais crescia, mais ambicioso ficava. (...) Rockefeller não via utilidade em noções antiquadas como concorrência e livres mercados. “Os dias da competição individual nos grandes negócios ficaram para trás”, declarou. Defendia as fusões e a queda do preço do petróleo durante seu período era um ponto favorável a ele. Aumentar a escala e afins seria mais importante.


137 - Mercado financeiro por volta de 1870, na chegada de Morgan, era pouco transparente e bagunçado, suscetível a rumores. Tinha enorme conhecimento e formação. Morgan usou sua posição única para moldar o capitalismo americano em seus dias de glória. Isso às vezes significava criar companhias do zero. (...) Em 1895, organizou um consórcio de banqueiros para evitar o esgotamento da reserva de ouro da América fornecendo ouro ao Tesouro em troca de títulos federais. Por um breve momento, Morgan controlou o fluxo de ouro dentro e fora dos Estados Unidos. Em 1907, quando o mercado de ações entrou em colapso e os bancos implodiram, ele trancou seus pares capitalistas em uma sala da sua casa, no número 219 da Madison Avenue, e disse-lhes para traçarem um plano com o objetivo de evitar um colapso do mercado.


138 - Volta a falar sobre os "barões" em geral. A Suprema Corte sem dúvida considerou-os culpados de tentar criar monopólios. Até economistas conservadores tendem a restringir elogios ao vigor do empreendedorismo desses titãs levando em conta o grau de ambição com que esmagaram a concorrência. Mas a acusação de monopólio precisa ser qualificada: nem todos os monopólios são ruins. (...) A Aluminum Company of America (Alcoa) foi um monopólio em virtude de deter um novo sistema para a extração de alumínio a partir da alumina e da bauxita. Ninguém podia competir. No entanto, a Alcoa não só manteve seus custos e preços baixos, como também continuou inovando, desenvolvendo uma nova indústria inteira de utensílios leves, uma revolução para a vida doméstica. Enfim, defende os monopólios atrelados a inovações ou que preenchem "vazios institucionais".


139 - Elogia também a sociedade anônima aberta com responsabilidade limitada: Novas tecnologias como o vapor e a eletricidade claramente tinham a capacidade de mudar o mundo. Empresários bem-intencionados como Carnegie e Rockefeller também claramente tinham a capacidade de mudar o mundo. Mas o que reuniu isso tudo e transformou capacidade em ação foi essa tecnologia organizacional única.


140 - ...Cenário de antes: Cada sócio era pessoalmente responsável pelas dívidas da empresa se ela tivesse problemas, durante um período em que uma falência podia levar à prisão. Em virtude disso, as pessoas costumavam formar sociedades com parentes e correligionários em vez de estranhos. Sociedades limitadas eram raras, pois dependiam de conexões políticas fortes/aprovação do governo.


141 - Os "barões" não gostavam de companhias abertas. Cita Carnegie. Ele só adotou a forma de companhia aberta em 1900, quando um processo movido por Henry Clay Frick deixou-o sem opção. John D. Rockefeller também estruturou sua companhia em uma sucessão de sociedades integradas sob o seu controle pessoal. Henry Ford aumentou o controle que tinha sobre sua companhia na metade da década de 1920, transformando-se em único proprietário.


142 - Antes dos anos 1880, poucas companhias tinham mais de um milhão de dólares como valor de mercado. Em 1900, a Standard Oil Company, de John D. Rockefeller, valia 122 milhões de dólares. Antes da década de 1880, poucas companhias empregavam mais de algumas centenas de pessoas. Em 1900, várias companhias empregavam mais pessoas do que o governo americano.


143 - Necessidade das sociedades de capital aberto: O valor investido em ferrovias em 1860 foi mais de 1,1 bilhão de dólares. Era impossível levantar esse capital recorrendo aos recursos tradicionais dos amigos e familiares. (...) Eram empreendimentos gigantes. ...em 1900, a Pennsylvania Railroad empregava mais de cem mil. (...). A demanda voraz das ferrovias por capital foi o principal fator para a criação da Bolsa de Valores de Nova York. Embora ela tivesse sido fundada em 1817, só se tornou o que é hoje com o boom das ferrovias na metade do século. O precursor do Índice Dow Jones incluía não menos do que dez ferrovias, além de uma operadora de navios a vapor, a Pacific Mail, e uma companhia de telégrafo, a Western Union. (...) As ferrovias ainda correspondiam a 60% das ações publicamente ofertadas em 1898, e a 40% em 1914. (...) Investidores sofisticados (inclusive muitos estrangeiros) aprenderam a se proteger contra riscos comprando uma “cesta de mercado” composta por títulos de ferrovias, assim como os investidores da atualidade compram uma cesta das principais ações industriais.


144 - Alfred Chandler argumentou que, além de seus outros feitos, as ferrovias criaram uma nova espécie de homem econômico: o administrador profissional, selecionado com base na sua competência e seu conhecimento em vez de seus vínculos familiares com o proprietário. 


145 - Joseph Schumpeter observou que o boom das ferrovias americanas, mais do que qualquer boom ferroviário europeu, significou “construir bem à frente da demanda”, e, portanto, operar com déficit por tempo indeterminado. Os barões ferroviários não tinham outra opção além de especular em vasta escala: eles precisavam reunir quantidades inéditas de equipamentos para construir negócios que, a princípio, não tinham clientes. A especulação podia facilmente levar a práticas questionáveis ou até fraude. Greenspan lembra que houve desperdícios e irracionalidades.


146 - A AT&T foi fundada em 1885, a Eastman Kodak em 1888, e a General Electric em 1892. Os homens que criaram essas corporações costumavam seguir a mesma sequência de passos que vimos com Carnegie e Rockefeller. Eles arriscavam tudo com investimentos em novas fábricas. Cresciam tanto quanto possível o mais rápido possível, transformando seus custos mais baixos em barreiras para novos entrantes. (Reid Hoffman, fundador do LinkedIn, chama o equivalente moderno dessa técnica de “blitzscaling”.) Eles integravam “para frente” e “para trás”. E tentavam alcançar o máximo possível de vendas cortando custos e fazendo propaganda em massa.


147 - Coloca que foi a época também da popularização da "venda por catálogo" que fez sucesso especialmente nas zonas rurais. Possíveis compradores passaram a ter acesso a todo um mercado novo de produtos. Cita um dos mais bem sucedidos expoentes da novidade: ...Sears não demorou a perceber que estava no negócio de venda por catálogo, e não de venda de relógios, e começou a anunciar uma coleção cada vez maior de produtos. Em 1902, Sears atendia a cem mil pedidos por dia, selecionados a partir de um catálogo com 1.162 páginas. Arregimentou o máximo de capital que pôde e montou toda uma estrutura industrial de distribuição. ..."todos os dispositivos mecânicos conhecidos para reduzir o trabalho, promover a economia e o despache são utilizados aqui em nossa grande operação.” Uma das primeiras pessoas a visitarem essa maravilha industrial foi o sempre curioso Henry Ford.


148 - A Era das fusões: Em 1882, Rockefeller arquitetou a primeira fusão gigante ao transformar a aliança da Standard Oil, uma “federação” agrupando flexivelmente quarenta companhias, cada uma com sua identidade legal e administrativa (para satisfazer as leis estaduais), na Standard Oil Trust.


149 - J.P.Morgan, as fusões e o truste do dinheiro: ...Em 1900, ele e seus sócios tinham assentos nas diretorias de companhias responsáveis por mais de um quarto da riqueza dos Estados Unidos. (...) Criou o mundo dos “três maiores” ou “quatro maiores” bancos do setor bancário americano. Naomi Lamoreaux calcula que, das 93 fusões que estudou detalhadamente, 72 criaram companhias que controlavam pelo menos 40% dos seus setores e 42 controlavam pelo menos 70%. Entre essas 42, estão a General Electric, que foi formada a partir de oito firmas e controlava 90% do seu mercado; a International Harvester, que foi formada a partir de quatro companhias e controlava entre 65% e 75% do seu mercado; e a American Tobacco, que fora formada a partir de 162 firmas e controlava 90% do seu mercado.


150 - Coloca-se, porém, que as fusões de Morgan eram bem mais polêmicas que as promovidas por seus antecessores. Primeiro que o preço do aço parou de cair e até aumentou com a U.S. Steel. Segundo que 37% das fusões resultaram em fracasso.


151 - Surgem os gestores: A rotina da administração das companhias foi transferida para administradores assalariados que tinham poucas ações ou nenhuma. Os fundadores expunham suas opiniões por meio de conselhos diretores, mas geralmente eram contrabalançados por administradores assalariados e representantes dos bancos, que haviam arquitetado as fusões. O capitalismo em larga escala agora equivalia ao capitalismo com dispersão acionária: companhias de capital aberto e controladas por administradores profissionais. (...) Em 1914, a Ford Motor Company era uma das poucas grandes companhias de propriedade privada a sobreviver.


152 - Fordismo e linha de montagem: Longas filas de trabalhadores agora repetiam as mesmas tarefas mecânicas várias vezes. Ford incorporou a linha de montagem a um grande sistema de produção e distribuição em que tudo era projetado para aumentar a eficiência e maximizar o controle. A integração vertical significava que seus funcionários faziam quase tudo internamente.


153 - A América também fez um bom trabalho na produção de “centros de inovação” — isto é, lugares onde os inventores se reuniam para discutir a arte de inventar. Lojas de ferragens e escritórios de telégrafo eram ímãs para inventores. Escritórios de telégrafos com bibliotecas compostas por livros e periódicos sobre a tecnologia elétrica. Companhias praticavam o que hoje é chamado de “contribuição colaborativa” (crowdsourcing) e “inovação aberta” com o argumento de que havia mais pessoas inteligentes fora do que dentro da organização.


154 - A proporção de patentes concedidas a indivíduos e não a empresas caiu de 95% em 1880 para 73% em 1920, e ainda para 42% em 1940. (...) A DuPont estabeleceu um laboratório em 1911, a Kodak, em 1913, a Standard Oil of New Jersey, em 1919. Onde quer que se encontrasse a fronteira do conhecimento, iria se encontrar também um laboratório corporativo de pesquisa e desenvolvimento.



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