"Livro": Nintil (Artir) - Análise Econômica Neoclássica Completa da URSS - Capítulos 5 a 9
"Livro": Nintil (Artir) - Análise Econômica Neoclássica Completa da URSS
Pgs. 74-83
"CAPÍTULO 5: "Trabalho e Aposentadoria"
72 - De acordo com um relatório da Organização Internacional do Trabalho (1994), na era pré-revolucionária, os trabalhadores russos trabalhavam de 10 a 12 horas por dia, seis dias por semana. Isso é muito: 60-72 horas por semana. Após a Revolução, foi imposta uma jornada de 8 horas, mas os trabalhadores ainda trabalharam durante seis dias por semana. A URSS fez a transição para uma jornada de 7 horas entre 1927-1933. Ainda assim, este foi um seis dia semana: o trabalhador médio trabalhou 40,3 horas em uma semana média. (...) Em 1929, as autoridades decretaram que o país faria a transição para uma semana de 5 dias, mas as demandas de rearmamento o arrastaram para oito horas por dia, 6 dias por semana, pouco antes Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, caiu para sete horas (1956-1960), mas ainda eram seis dias uma semana. Estas avaliações da OIT mostram o mesmo que o relatório da CIA de 1961. (...)
73 - Foi apenas entre 1961 e 1967 que os soviéticos mudaram definitiva e permanentemente para uma 5 dias por semana, finalmente proporcionando aos cidadãos soviéticos um verdadeiro fim de semana, como os do Ocidente. Mas isso não supunha uma redução no número de horas trabalhadas por semana: A jornada de trabalho era alongada para manter o horário de trabalho constante. No mais, turnos noturnos eram comuns.
74 - De acordo com o relatório da OIT citado anteriormente, o tempo de trabalho na URSS foi fixado em 2040 horas por ano em 1986. Portanto, os trabalhadores soviéticos trabalhavam 100 horas a mais do que os seus pares no Ocidente. (...) Imediatamente após a guerra civil russa, os cidadãos soviéticos tinham direito a um mês de férias. Isto foi reduzido para 2 semanas em 1921. (...) Final da URSS: Os trabalhadores soviéticos tinham 21,6 dias de férias por ano, menos de metade dos países da OCDE nessa altura, e semelhante à outra metade.
75 - Coloca que as horas extras não eram muito usadas, porém... Em teoria, os gerentes das fábricas tinham que solicitar horas extras à comissão sindical local, mas na prática sempre foi concedido. Os sindicatos eram fracos. (...) As horas extras noturnas, que tendem a gerar salários mais altos no Ocidente, assim como outros trabalhos os horários são geralmente preferidos, não exigiam tais prêmios na URSS, que destaca a posição fraca em que os trabalhadores se encontravam face ao Estado.
76 - Aposentadoria: No Ocidente, as idades de reforma eram cerca de 5 anos mais elevadas, mas as taxas do trabalho na velhice eram mais baixos.
Pgs. 84-109
"CAPÍTULO 6: "O Paradoxo Calórico"
77 - Durante todo o período pós-guerra até a década de 1980, a ingestão calórica na URSS foi maior do que nos EUA. Isto contrasta com a ideia popular da URSS como um país atingido pela fome e pela desnutrição ao longo da sua existência. Na verdade, a última grande fome no a URSS aconteceu em 1947. Os dados abaixo vêm da ONU Food and Agriculture Organização, portanto, em princípio, devem ser confiáveis. Este capítulo procura detalhar esses dados, examinando sua metodologia e se outras fontes mostram a mesma coisa.
78 - Um porém: Uma ingestão calórica mais elevada não é necessariamente um sinal de riqueza: a do Japão é relativamente baixa, apesar de ser um país rico.
79 - "No meu segundo gráfico, reuni muitas fontes diferentes."
80 - Analisa as metodologias das fontes. No máximo uma dá leve superioridade aos EUA, mas afirma que a URSS deveria precisar de mais calorias (frio... mais trabalho pesado... etc.). A minha conclusão é então que, com base nos dados acima, a ingestão calórica soviética era suficientemente elevado para dizer que os cidadãos soviéticos estavam razoavelmente bem alimentados, em termos de calorias.
81 - ...Uma possível explicação para estas tendências divergentes ou divisões entre os inquéritos aos agregados familiares e macroeconómicas é que a URSS desperdiçou mais alimentos.
82 - Estima que os soviéticos consumiam duas vezes menos carnes que os EUA. E dois terços das frutas. Consumiam, porém, muito mais laticínios e batatas.
83 - Gertrude Schroeder, analista da CIA que passou quatro meses em 1967, em diferentes cidades russas, relata que a qualidade de vida e bens era pior do que ela esperava apenas lendo a literatura. A fila era predominante pelo menos durante aquele ano. Ela também criticou a qualidade da carne e do alface. Enfim, curiosamente, o texto afirma que são justamente os dados da CIA que superestimaram a qualidade de vida soviética, ao menos em termos nutricionais.
84 - Pesquisas domiciliares (com certo viés): Nestas entrevistas, os cidadãos relataram filas diárias, produtos de baixa qualidade e escassez ocasional. A maioria dos entrevistados disse que havia déficits no fornecimento de carne. No entanto, quase todo mundo comia um pouco de carne (além de queijo, kefir, leite e ovos) várias vezes por semana, e a maioria os recebia diariamente. Uma explicação de por que havia filas e escassez e ao mesmo tempo comiam carne quase diariamente é que existia uma mercado privado legal (rynok). Porém, há um grave problema na amostra de entrevistados. A amostra SIP obviamente não era uma amostra probabilística aleatória do população geral da União Soviética. Além disso, nossos entrevistados votaram com pés e enfrentaram o trauma da mudança para os Estados Unidos. Qualquer preconceito levanta uma questão sobre a confiabilidade e generalização da pesquisa resultados.
85 - No geral, o consumo estimado por Schroeder e Denton aumentou 5,2% ao ano entre 1964 e 1973, ou 3,9 por cento ao ano por habitante (op. cit., Tabelas A-1 e A-2). Não foi, segundo os padrões da Europa Ocidental ou da América do Norte, uma época de abundância, mas foi sem dúvida um momento de melhoria real. Schroeder (1975) fornece indicadores per capita conforme mostrado na Tabela 4.4. Estas melhorias deixaram a família soviética média bem à frente da população nos países realmente pobres, mas ainda substancialmente atrás da população no mundo rico. Consumidores soviéticos também estavam consumindo menos do que seus próprios planejadores consideravam oficialmente exigido pelo 'normas de consumo racional' que eles criaram.
86 - Escassez, filas, mercado negro, tudo isso era comum. Havia enorme ineficiência na produção e distribuição de alimentos e bens de consumo manufaturados.
87 - Ponto de vista dos EUA, basicamente defendendo a maior diversidade alimentar do país: ...As quantidades de sucos, temperos e diversos produtos importados nem sequer podem ser comparadas. Lá, comem tomates e pepinos frescos de agosto a outubro, ameixas em setembro e morangos durante duas semanas no início do verão; aqui, tudo isso e muito mais está disponível durante todo o ano. Lá, vegetais significam repolho, beterraba e cenoura; aqui, há dezenas de tipos. Lá, as maçãs estão disponíveis no outono; aqui, quase todas as frutas são consumidas o ano todo. No mais, critica a qualidade de grande parte dos itens soviéticos, elogiando apenas o pão, que usava farinha de alta qualidade. (...) Na opinião de muitos emigrantes, a diferença de qualidade da carne soviética e americana pode ser comparada à diferença entre carne barata e carne cara em cada um dos dois países.
88 - Enfim, quase tudo aqui do capítulo se baseia nas estimativas de Birman, que é o que mais bate na URSS. Quanto ao consume de carne, por exemplo, diz que não sabe o quanto menos se consumia do que se diz no relatório da CIA. Optou por cortar metade do consumo por ter certeza apenas de que era uma distorção muito significativa. Enfim, complicado.
89 - Problemas de mensurabilidade das várias fontes: Os coeficientes usados para converter a massa alimentar em nutrientes que Goskomstat empregou foram, portanto, inferiores aos da FAO, e a própria FAO não atribui muita confiança ao seu próprio conjunto preferido de coeficientes de conversão, como dizem que com base na qualidade do dados “é difícil dizer muito sobre o nível de consumo calórico com alguma confiança”.
Pgs. 110-121
"CAPÍTULO 7: "Bens Duráveis"
90 - O mesmo Birman, do capítulo anterior, menciona as dificuldades de comparação: A determinação dos rácios e das paridades de preços para este grupo é dificultada pelo facto de muitos bens não são comparáveis e estão muito longe de existir na URSS. Na opinião de especialistas [4], uma típica máquina de costura soviética contemporânea é semelhante àquela usada nos EUA nos anos 60 atrás. O refrigerador soviético padrão de uma porta não é produzido atualmente nos EUA. Lá essencialmente não existem máquinas de lavar totalmente automáticas, secadoras de roupas elétricas (ou a gás), torradeiras ou aparelhos de ar condicionado na URSS. Outra fonte diz que tudo isso é um exagero, mas que realmente não há muita difusão desses itens mais exclusivos.
91 - Além de os soviéticos consumirem bem menos bens duráveis... A diferença na qualidade dos equipamentos é colossal. O compartimento congelador da União Soviética, os refrigeradores, são pequenos e não há máquinas automáticas de fazer cubos de gelo. Máquinas de lavar americanas operam automaticamente e em ciclos diferentes, enquanto as máquinas soviéticas apenas fiam as roupas – a diferença é a mesma entre o cinema mudo da década de 1920 e o cinema moderno.
92 - ...Havia 223 aparelhos de TV para cada mil residentes na URSS (contra 571 nos EUA) em 1976. As pessoas em Moscou tinham três canais que podiam assistir e as pessoas em Washington tinha sete. Apenas 10% das televisões soviéticas eram a cores e um quinto do país não podia receber transmissões em cores. 31% dos soviéticos só conseguiram assistir a um canal.
93 - ...Para uma população semelhante, os EUA tinham 98 milhões de automóveis de passageiros contra apenas 5 milhões no URSS. Isto não se deve a uma diferença de preferências. Segundo Birman, a maior parte dos cidadãos soviéticos sonhavam em possuir o seu próprio automóvel. Países como Portugal e Grécia, por exemplo, possuíam muitíssimo mais carros por pessoas (embora menos TVs).
94 - A produção insuficiente e as frustrações da rede retalhista fizeram com que a compra de gadgets desejados, seja uma máquina de lavar, uma batedeira ou um aparelho de televisão, nunca realmente se tornou tão simples ou direto na URSS quanto no Ocidente. …Enquanto as mercadorias variavam em disponibilidade, a maioria das compras envolvia filas, que variavam em duração de várias horas a vários anos; muitas vezes eles exigiam resistência física e pura sorte.
95 - Os bens elétricos duráveis estavam entre os bens que mais causaram problemas aos seus proprietários e na maioria das vezes quebrava.
96 - Comprar carros: ...As esperas eram lendariamente longas, às vezes dez anos, mas geralmente na faixa de quatro a seis. Havia salto de fila ilegal induzido por subornos. No mais, era bem sabido que membros de grupos de 'elite' recebiam consideração especial na alocação de carros. Além dos altos funcionários do partido. Este grupo teria incluído membros de organizações de prestígio como a Academia de Ciências e o Sindicato dos Escritores; executivos industriais; excelentes artistas, atores, atletas profissionais, e outros destinatários de honras e medalhas; e veteranos deficientes da Segunda Guerra Mundial. […] “Na Rússia”, escreveram os autores de um livro sobre “automania”, “eles dizem que possuir um carro traz alegria dupla na vida de um proprietário: quando é comprado e quando é vendido. No meio há apenas tortura." Siegelbaum (2006).
97 - ...De toda forma, não sei o quanto isso era exagerado, pois revista da época - ao que entendi, ocidental, elogiava o Lada. Transcreve-se o relato lá. E a conclusão é a seguinte: 'devemos felicitar o Russos por terem alcançado tão rapidamente (embora com aconselhamento e assistência italiana) o restante da indústria automobilística mundial. O Lada 1200 é um carro totalmente sólido, decepcionado talvez travando a direção e os freios mortos. Mas estas são questões que podem ser corrigidas com um custo mínimo.
98 - Em 1984, noventa por cento das famílias tinham geladeira. Porém... 60% da demanda total era de grande capacidade refrigeradores, mas apenas 24% da produção total era de grande capacidade. (...) O livro conclui que o seu objectivo era examinar a alegação de que os produtos soviéticos eram geralmente de qualidade inferior aos encontrados no Ocidente. Os produtos que examinaram eles julgaram como adequado, robusto e fácil de manter. No entanto, o seu design tornou-os menos convenientes de usar do que os produtos ocidentais, eles eram mais propensos a falhas e seus sistemas de controle não eram adequados.
99 - Para alguns eletrodomésticos (como geladeiras, TVs e rádios), as pessoas na União Soviética. A União Europeia tinha taxas de propriedade equivalentes às de países comparáveis. Mas para outros bens, como espremedores de frutas, micro-ondas, máquinas de costura, máquinas de lavar ou aspiradores de pó (...), os níveis eram mais baixos.
100 - O texto dá indicativos confusos sobre a durabilidade dos produtos (será o viés antisoviético?). Aqui, por exemplo, diz: a durabilidade é menos clara – os dispositivos soviéticos tinham uma vida útil mais longa, mas isto parece provável que seja porque a substituição era difícil e cara, então a manutenção contínua financeira era mais econômica do que no Ocidente, onde comprar um novo modelo era muitas vezes mais prático quando um dispositivo se desgastava.
Pgs. 122-141
"CAPÍTULO 8: "Assistência Médica"
101 - O sistema de saúde era gratuito e centralizado, com alto número de leitos e médicos. Coloca-se, porém, que há um consenso acadêmico de que era ineficiente. Será a "tese" do capítulo.
102 - O alto escalão do partido conseguia melhores cuidados, coloca. No mais, existiam algumas clínicas legais que cobravam taxas por serviço e eram muito utilizadas para ter acesso a melhores serviços de saúde. Também havia práticas de suborno na rede pública/estatal.
103 - O sistema soviético estava aparentemente focado na cura de doenças, e não na prevenção. A taxa de febre tifoide em 1979 era trinta vezes maior que a dos EUA, e a taxa de sarampo era vinte vezes maior. Apenas 40% dos casos de câncer cervical na URSS foram diagnosticados antes, tornando-se terminal, em comparação com 70% nos EUA. Tudo o que a CIA diz é apoiado pelo literatura que veio depois dela, então seus julgamentos sobre o estado da saúde soviética parecem foram bastante precisos.
104 - Um observador da época criticou que não era um sistema de saúde igualitário. As redes territoriais servem a população em geral e são acessíveis em virtude da residência. Redes fechadas, no. por outro lado, são reservados para grupos sociais. Cada grupo importante tinha sua rede. Havia uma, por exemplo, para Academia de ciências e artistas importantes.
105 - "A imprensa soviética relata repetidamente reclamações recebidas de leitores sobre a rigidez do sistema médico. Hospitais; por exemplo, não admitirão novos pacientes após um período específico/hora do dia. Cada doença é tarifada de acordo com o número de dias de internação permitidos. (...) uma apendicectomia dura dez dias. Mesmo se o paciente estiver bem o suficiente para receber alta mais cedo, isso não é permitido. Os pacientes serão submetidos a procedimentos rotinizados, quer precisem deles ou não. Deter burocraticamente regras minadas sobrecarregam os médicos em ambulatórios, reduzindo assim o tempo disponível para aqueles que realmente precisam de um médico. Embora sejam aplicadas regras sem sentido sobre o que se pode levados para um hospital, a esterilidade é pouco observada nas salas de cirurgia. Como resultado, o incidência de infecções pós-operatórias é muito alta, afetando cerca de um terço de todos os pacientes operados."
106 - Apesar de muito médico e leito, coloca que havia escassez de alguns suprimentos médicos e até remédios.
107 - Policlínicas nos bairros: alguns equipamentos como ressonância magnética e dispositivos de tomografia computadorizada eram quase inexistentes. Medicina avançada técnicas como 'revascularização do miocárdio, endarterectomia carotídea e angioplastia' também não estavam geralmente disponíveis.
108 - Há bons relatos sobre os cuidados de saúde na antiga Leningrado. O texto afirma, porém, que isso não era generalizável à URSS. O sistema ambulatorial de emergência era rápido ao menos nas cidades, afirma-se também.
109 - Havia práticas de suborno de médicos mais mal remunerados a fim de obter melhores cuidados.
110 - Mortalidade infantil era o dobro lá em relação aos países mais avançados (ainda devia ser bem melhor que os dados da América Latina, creio). A esperança de vida caiu de 67 (1964) para 63 (década de 1980) e depois aumentou para 65 (1987), em comparação com 71,5 nos EUA, 72,7 na Itália, 74,2 na Suécia e 75,5 no Japão. Assistência médica: os gastos diminuíram de 6,5% do PIB (1965) para 6% (década de 1970), para 4,5% (1985) para 4% (1987), tornando a URSS um dos países industrializados com menor gasto em saúde no mundo. EUA gastavam 11,4% do PIB em saúde.
111 - (...De toda forma, a expectativa de vida russa é um caso à parte, sempre muito baixa - ou no mínimo com lentas e inconstantes evoluções -, sei lá o porquê, em relação a seus pares).
112 - A URSS tinha a maior proporção médico-paciente do mundo (42 por 10.000 habitantes), em comparação com 13 no Reino Unido, 19 nos EUA, 24 na Dinamarca e na Suécia. Mas de acordo com Chazov, isso não precisa ser um indicador de qualidade: muitos graduados em medicina não eram capaz de, por exemplo, ler um eletrocardiograma.
113 - Os médicos soviéticos recebiam pouco pagamento pelo seu trabalho: 82% do salário médio (1965), que caiu para 70% do salário industrial médio em 1985. Gorbachev aumentou seus salários em 30-35%.
114 - No mais, deve-se ressaltar a alta desigualdade na qualidade dos cuidados de saúde existia entre repúblicas individuais e entre regiões rurais e urbanas.
115 - Comparação EUA vs URSS:
116 - Expectativa de vida russa: Algumas razões para isso, além da má qualidade do sistema, são o elevado número de fumantes e alcoólatras, baixos níveis de aptidão física, dieta inadequada e uma fração considerável (15%) da população que vive em áreas com poluição dez vezes superior aos níveis “normais”.
117 - Na prática, então, o sistema de saúde acabava não sendo gratuito, já que as pessoas procuravam comprar, às vezes bem caro, por suborno, certos procedimentos e medicamentos escassos.
118 - A perestroika queria reformar e descentralizar o sistema, mas havia ceticismo. O fracasso do primeiro programa de Gorbachev dirigido à saúde, a campanha de 1985 contra o alcoolismo, aumentou a suspeita de que os planejadores governamentais não são capazes de organizar programas de cuidados de saúde eficazes. No entanto, outro trecho diz: ...O aumento da esperança de vida na década de 80 deveu-se, segundo o autor, à campanha antialcoólica. (E foi um aumento provisório).
119 - União Soviética e mortalidade infantil:
120 - Enfim, a baixa expectativa tem muito a ver com o alcoolismo, mas a mortalidade infantil mostra no mínimo uma evolução muito lenta do sistema de saúde. O autor lembra que mesmo quando a URSS crescia economicamente - antes de meados dos anos 80 -, os gastos em saúde não acompanhavam o crescimento e sua parcela no PIB caía.
121 - Os dados antropométricos mostram boa melhora, especialmente antes de 1960, mas estas já vinham acontecendo durante todo o Século XIX, por exemplo. Posta gráficos lá que mostram clara tendência.
122 - Conclusão: Apesar do elevado número de leitos hospitalares e de médicos, a União Soviética não conseguiu proporcionar melhores resultados de saúde à sua população, em relação aos países desenvolvidos, embora tenha feito melhorias substanciais no período de 1920-1950.
Pgs. 142-159
"CAPÍTULO 9: "Pobreza e Desigualdade"
123 - Nossa análise começa com um artigo publicado em 1977 por Alastair McAuley, The Distribution de Ganhos e Rendimentos na União Soviética, pela única razão que este artigo foi um dos primeiros a abordar a questão. Os dados que ele usa em seu artigo vêm de fontes oficiais. Fontes soviéticas, com uma peculiaridade: o governo soviético não publicou diretamente nenhuma estatística de distribuição de renda. McAuley tem que compilar a série a partir de vários outros fontes: pesquisas de orçamento familiar, pesquisas de renda e censos de rendimentos.
124 - ...Ele conclui que a desigualdade medida pela razão entre os rendimentos do décimo mais rico e os décimo inferior caiu 40% entre 1956 e 1965, impulsionado por aumentos relativos mais rápidos no rendimentos dos pobres (144%) do que os dos ricos (38%). (...). Em 1967-68, a proporção de decis era de cerca de 3, o que significa que o os cidadãos mais ricos, em média, ganhavam três vezes mais que os mais pobres, o que parece bastante igual. Em contrapartida, o Reino Unido teve um rácio de 3,4 nesses mesmos anos.
125 - O artigo também fornece uma estimativa de quantas famílias estavam em situação de pobreza, conforme definido pelo subsídio governamental de 1974 para famílias necessitadas (aquelas que ganhavam menos de 50 rublos por mês). Isto, juntamente com o facto de as taxas de inflação serem baixas, permitiu a McAuley trabalhar de trás para frente para calcular as taxas de pobreza em 1967, pois ele tem dados de distribuição de renda para aquele ano. O resultado é surpreendente: de acordo com a sua estimativa mais conservadora, incluindo trabalhadores agrícolas estatais, cerca de 40% de toda a população em 1967 era pobre pelos padrões da URSS de 1974. (Mas isso antes do subsídio, não?)
126 - Um dos artigos citados traz a seguinte comparação de desigualdade estimando GINI da URSS:
127 - Quem eram os assalariados de elite na União Soviética? Seguindo Matthews (1978), Bergson define-os como aqueles que ganham entre 400 e 500 rublos por mês, quatro vezes o salário médio de 1972 de todos os assalariados e trabalhadores assalariados soviéticos (...), representavam cerca de 0,2% -1% da população.
128 - Bergson encontra algum grau de transmissão intergeracional do status de elite, mas não por causa da riqueza herdada. A URSS permitiu a herança, sujeita a alguma tributação, mas não houve muitas oportunidades de fazer algo que valesse a pena transmitir. Acrescenta que os filhos da elite eram meio que 14% dos jovens, mas de 31 a 51% das matrículas universitárias, ao que entendi. Afirma que o governo até queria/tentava mudar isso. (Não explicou como)
129 - Desigualdade regional: A União Soviética não só tentou equalizar os rendimentos em toda a URSS, mas também, em teoria, entre diferentes repúblicas. Ozornoy (1992) sugere que tal tendência existiu até o década de 1950, mas depois disso pouca convergência ocorreu.
130 - Pobreza? Pelo que entendi, teve um que quis botar como linha um valor que tornava mais da metade da população como pobre. Outras linhas são bem mais modestas, mas mesmo por elas...: Em Moscovo, foi encontrada uma taxa de pobreza de 12-15% (...1977 e 1979). Na Estónia, uma das repúblicas mais ricas, 18% das famílias com crianças eram consideradas pobres.
131 - Coloca que as roupas eram caras e muito possivelmente (fonte: pesquisas com emigrados) muita gente tinha dificuldade até para comprar casaco.
132 - Habitação: a oferta de alojamento de qualidade superior tem sido utilizada há muito tempo como uma recompensa para serviço ao Estado, ou como um incentivo para trabalhar mais. Enfim, não era um sistema de moradia igualitário. (...) Além disso, muitos apartamentos eram comunitários, onde múltiplas famílias eram obrigadas a morar juntas – 19% das famílias da amostra emigrada encontravam-se nesta situação. 60% dos entrevistados da amostra consideraram que o seu espaço era bastante inadequado ou grosseiramente inapropriado. Equipamentos básicos como saneamento ou abastecimento de água melhoraram ao longo das décadas, mas ainda não tinha alcançado todos em 1975, especialmente aqueles em regiões menores e mais remotas cidades. (Parece o Brasil melhorado, porém).
133 - O facto de o estudo da pobreza não ser uma atividade contínua – porque, tal como o desemprego, oficialmente a pobreza não existia na União Soviética – certamente tornou mais difícil para o Estado cumprir as suas promessas de uma existência garantida para todos.
134 - Não cita a fonte, mas... No Comité Central em 1981, um dos mais altos órgãos da política soviética, apenas 4,2% dos 472 membros eram trabalhadores, 1,7% eram camponeses e 0,4% eram empregados de baixa categoria.
135 - Conclusão: A URSS conseguiu reduzir a desigualdade e a pobreza em relação aos tempos czaristas, e conseguiu trazer um nível de igualdade comparável ao das socialdemocracias nórdicas. No entanto, não teve êxito na eliminação da pobreza, das desigualdades entre os países soviéticos e repúblicas, diferenças entre áreas urbanas e rurais, ou mesmo as 'distinções entre trabalho físico e mental”. (...) Poderia um sistema misto de racionamento/mercado para bens de consumo ter resolvido pobreza e ao mesmo tempo manter a liberdade de escolha? Bem, talvez. Teria sido possível, através de investimentos massivos do Estado, reduzir as diferenças entre as repúblicas? De novo, talvez. Mas ao fazê-lo, os recursos teriam sido retirados de outro lugar. (...) Se um sistema que garantisse 100% de cobertura pudesse ter sido implementado, teria sido afetado a parcela da produção dedicada à escolha individual.
Pgs. 160-167
"Anexos"
136 - Basicamente detalhamento de alguns pontos abordados em capítulos anteriores. Mais gráficos e tal. Li/vi. Um deles é sobre estimativas de despesas militares na URSS:
137 - Usei % da Renda Nacional (PIB para os EUA e NMP30 convertido em PIB para a União Soviética) para ambos os países, mas procedimentos diferentes para calcular o PIB soviético produzirão estimativas diferentes. Ainda hoje não temos números totalmente fiáveis sobre os gastos militares soviéticos.
138 - ...A primeira conclusão que sai destes dados é que a CIA aumentou progressivamente suas estimativas. Mas outros analistas não o fizeram – o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos ofereceu uma estimativa mais baixa, e esta lacuna com os relatórios da CIA aumentou à medida que a CIA revisou suas estimativas para cima. Para as minhas próprias estimativas, escolhi os últimos dados disponíveis para cada ano. Para a URSS, juntei dados de Allen (2003), Harrison (1988, 2003), Cooper (1998), Nove (1992) e relatórios da CIA e FAS31. (Fato é que, possivelmente tentando igualar, em absoluto, os gastos militares dos EUA, a URSS produziu um esforço/PIB muitíssimo maior na área militar).
139 - ...Outra consequência interessante de tal estimativa é a de que não foi Reagan que levou os soviéticos a entrarem no beco sem saída da corrida armamentista. Na verdade, a própria URSS teria elevado os gastos antes! As atitudes de Reagan é que poderiam ser lidas como uma reação, por esse gráfico/estimativa.
140 - Conclui que a causa da queda da URSS não foi variação/elevação das despesas militares. (Talvez não, mas talvez possa ser uma questão de nível. Manter tal nível o tempo todo - e, na verdade, parece ter havido substancial elevação justamente na fase de maior estagnação produtiva - não tornou a URSS por demais frágil num cenário de crise econômica? Choques externos adversos e etc.)
141 - Por fim, faz uma breve "análise" da recuperação da Rússia na transição para o capitalismo totalmente de mercado comparada a outros colapsos famosos.
142 - Enfim, vê como normal o choque até pela reorientação da produção para outros tipos de bens e etc.
FIM!
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