Livro: João Bernardo - Economia dos Conflitos Sociais - Capítulo 5 (PARTE "B")

                                                                               

Livro: João Bernardo - Economia dos Conflitos Sociais



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Pgs. 265-301


"CAPÍTULO 5: "Dinheiro"


208 - O dinheiro de crédito é o mais importante dos tipos de dinheiro emanados do Estado A. Já nem lembro mais. Imagino que sejam os empréstimos bancários, títulos privados e afins? A principal distinção entre as notas e o dinheiro de crédito resulta da emissão centralizada das primeiras, enquanto o outro é emitido descentralizadamente, por qualquer unidade econômica, no decurso de seu funcionamento normal. É por isso errado chamar-lhe dinheiro bancário, já que este tipo elementar de crédito não se restringe às instituições financeiras e faz parte das operações correntes de qualquer unidade econômica. Noutro trecho: Conclui-se, em suma, que a criação de dinheiro de crédito tem, desde o início do capitalismo, um potencial superior ao da emissão de notas. E, na época atual, o dinheiro de crédito é o do tipo monetário mais importante, em qualquer país. Esta prevalência da emissão descentralizada sobre a centralizada é uma condição operacional do neocorporativismo informal.


209 - Quanto mais um banco central reforçava a função de emissor de notas, tanto mais considerável era a parte das reservas dos bancos particulares que nele era depositada, o que lhe permitia ir-se encarregando das funções de redesconto e de prestamista em última instância. Constituiu-se deste modo uma estrutura de crédito muito mais ampla e elástica do que se estivesse fracionada por uma multiplicidade de bancos particulares, resultando o aumento em grande escala da capacidade de criação monetária. A emissão de notas e de dinheiro de crédito e as operações de crédito particulares e as governamentais encontram-se intimamente ligadas.


210 - Na finada URSS, o crédito não era uma exigência da centralização de capital, afinal, já estava a propriedade centralizada. Existia por outras questões. Para as situações previstas na planificação central, as unidades econômicas são dotadas de fundos orçamentais; mas as flutuações sazonais na produção e nos estoques e, em geral, em qualquer situação de emergência, são financiadas graças ao crédito, aparecendo assim como exclusiva a sua função monetária.


211 - Coloca, ao que entendi, que o poder monetário crescente e cada vez mais móvel das grandes transnacionais impediram a estabilidade cambial almejada no pós-guerra. Resultou daqui, em nível internacional, a incapacidade dos governos para manterem as taxas cambiais dentro de limites mínimos de estabilidade. Noutro trecho: A capacidade dos capitalistas particulares para deterem em seu poder enormes volumes de divisas estrangeiras e para as moverem rapidamente através das fronteiras faz com que os bancos centrais deixem em absoluto de poder empregar a taxa de oferta monetária, a qual é exclusivamente estabelecida a longo prazo, para tentarem orientar uma procura de dinheiro que passou a ter fortíssimas variações a curto prazo


212 - ...JB cita um antecedente histórico dessa derrocada do sistema Bretton-Woods:  Em 1965, cerca de 2/3 do capital da indústria canadense era detido por investidores com sede no estrangeiro; no mesmo ano capitalistas sediados nos Estados Unidos controlavam quase metade do capital investido nas manufaturas canadenses, assim como quase metade também das suas exportações tinha idêntica origem. O Canadá era, em suma, e continua a ser, um apêndice econômico do seu vizinho do Sul e, no interior desta estreita rede de investimentos diretos, haviam-se tornado possíveis movimentos a curto prazo envolvendo enormes volumes de dinheiro. As autoridades monetárias canadenses revelavam-se incapazes de contrabalançar com operações cambiais as pressões especulativas sobre a moeda do país, sustentadas por aquele fluxo considerável de investimentos externos, e por isso tiveram de abandonar o sistema das paridades fixas, e o dólar canadense foi obrigado a flutuar desde 1950 até 1962, e de 1970 em diante. O modelo de câmbio flutuante, de certa forma, começou lá.


213 - Critica o monetarismo por pressupor um "v" constante sempre. ...como Nicholas Kaldor explicou num notável artigo publicado na Lloyds Bank Review de julho de 1970 e também, mais de uma década antes, no seu depoimento perante a comissão Radcliffe, se as autoridades monetárias oficiais reduzissem a emissão de dinheiro contra os interesses dos capitalistas particulares, estes poderiam recorrer a um complexo de medidas que deixariam sem efeito as pretensões governamentais: aumentariam a velocidade da circulação monetária, o que permitiria executar as mesmas funções com uma massa; aumentariam a criação de crédito, tanto a outras empresas como a indivíduos particulares, enquanto consumidores...


214 - Estado Amplo é quem manda, considera. Qualquer análise realista das questões monetárias tem de reconhecer a capacidade dos elementos constitutivos do Estado A, não só para expandirem colossalmente a sua criação própria de dinheiro, mas para apagarem as fronteiras existentes entre uns e outros tipos monetários, pela facilidade com que se movem entre eles e os convertem reciprocamente. (Do jeito que ele fala, parece até que o BC não possui poder relevante algum caso queira proceder uma restrição monetária...)


215 - Classe trabalhadora, insegurança social e taxa de poupança (a China bem o sabe...): A redução dos subsídios de desemprego, dos montantes das reformas, das pensões de doença e das prestações médicas e hospitalares aparentemente gratuitas mas que, na verdade, constituem uma fração do salário paga em gêneros, tudo isso obriga as famílias dos trabalhadores, na expectativa de um eventual desemprego, perante a possibilidade de doença, na certeza de velhice, a reforçar o montante em dinheiro destinado ao previsível consumo futuro, diminuindo o do atual. Em suma, num sistema de mais-valia relativa, quanto maior for a insegurança futura que os capitalistas fizerem pairar sobre a classe trabalhadora, tanto maior será a taxa presente de poupanças


216 - Dinheiro e luta de classes: ...Esta posição dos capitalistas nos conflitos sociais é veiculada pelo dinheiro; a negação de que o tempo de trabalho se cinda numa porção paga e em outra não paga é veiculada pela homogeneidade monetária do salário


217 - JB meio que quer misturar o conceito de inflação com o de produtividade. Se os preços sobem porque esta cai, não teríamos "inflação". Enfim, discussões conceituais...


218 - Ainda sobre monetarismo e velocidade de circulação: A crítica teórica desta tese já foi feita por Nicholas Kaldor, no artigo referido no capítulo anterior, quando afirmou que a relativa estabilidade da velocidade de circulação do dinheiro se deve apenas ao fato de a massa emitida ter variado, em resposta às variações na sua procura; aquela margem que possa não ser coberta pela alteração no volume monetário é suprida pelas pequenas variações a curto prazo da velocidade de circulação. Ou seja, freie a emissão pra você ver o que acontece...


219 - ...Elucidativa foi a recente experiência da Reserva Federal nos Estados Unidos quando, de 1979 a 1982, pretendeu limitar diretamente a emissão de certos tipos de dinheiro — apenas para ver multiplicar-se a criação de dinheiro de outros tipos, feita à margem das instituições oficiais tradicionais.


220 - O trabalhador qualificado de regiões em desenvolvimento ganha menos que seu similar nos desenvolvidos. Numa área de mais-valia absoluta, o meio circundante pressiona no sentido da baixa das remunerações da força de trabalho mais qualificada que aí possa existir


221 - Mais uma vez o antagonismo entre países em que predomina a mais-valia absoluta (subdesenvolvidos, digamos) e aqueles em que predomina a relativa: Vimos que o estreitamento da integração econômica mundial tem levado na área de mais-valia absoluta, onde os mecanismos da inflação real são praticamente inoperantes, à vigência de elevadíssimas taxas de aumento nominal dos preços e salários. Ao mesmo tempo, nos países onde é acentuado o crescimento da produtividade, é possível uma forte inflação real com um pequeno aumento dos salários nominais e dos preços, ou até com a sua estabilidade.


222 - (Discordo de muita coisa do final desse capítulo - e concordo com umas tantas -, mas não tive paciência pra ficar anotando/comentando. Até porque meu objetivo é ir sistematizando o "aprendizado-novidade". Nem sempre novidade...) (Por sinal, não creio que dá pra falar em deterioração dos rentistas nas últimas décadas...)


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