Livro: Ha-Joon Chang - Maus Samaritanos - Capítulo 7

                                                              

Livro: Ha-Joon Chang - Maus Samaritanos, O Mito Do Livre-Comércio e a História Secreta do Capitalismo



Pgs. 208-226


"CAPÍTULO 7: "MISSÃO IMPOSSÍVEL? - A cautela financeira pode ir tão longe?"


131 - Acordos com o FMI e crédito internacional: O que é mais importante é o acordo em si. Ele é considerado a garantia de que o país irá se regenerar de seus maus hábitos e adotar um conjunto de políticas "boas" que irão assegurar sua habilidade futura  de honrar sua dívida. Apenas quando esse acordo é feito, os outros credores potenciais — que podem ser o Banco Mundial, o s governos dos países ricos e os credores do setor privado — concordam em continuar com suas ofertas financeiras ao país em questão


132 - Atribui o seguinte dogma ao neoliberalismo: Os investidores não gostam da incerteza, de modo que precisamos manter a economia estável,  o que significa manter os preços estáveis; então, a inflação baixa é pré-requisito do investimento e do crescimento.


133 - Para se ter disciplina monetária, o Banco Central, que controla a oferta de moeda, deve ter a estabilidade de preços como seu objetivo principal. Assumindo firmemente esse argumento, por exemplo, nos anos 80 a Nova Zelândia indexou o salário do presidente do Banco Central à taxa de inflação em proporção inversa, de modo que ele (ou ela) teria interesse pessoal em controlar a inflação.


134 - Durante seus anos de "milagre", quando a economia crescia a 7% ao ano em termos per capita, a Coréia do Sul tinha taxas de inflação próximas de 17,4% a 20% nos anos 60 e 19,8% nos anos 70. Essas  eram taxas mais altas do que as de vários países da América Latina. (...) Nos anos 70, a taxa de inflação da Coréia era mais alta do que a da Venezuela, do Equador e do México e não muito mais baixa do que a da Colômbia e da Bolívia.


135 - Inflações e inflações. Estudo de Barro não vê diferença entre inflações abaixo de 10% no que tange ao crescimento. Outro autor coloca o teto em 8%. E há estudo colocando em 40%. Especula-se até que haja correlação positiva entre algumas inflações moderadas mais próximas dos tetos e o crescimento econômico.


136 - Inflação baixa nem sempre é bom para os trabalhadores, pois pode exigir políticas restritivas que levem a uma alta do desemprego (o que, por sinal, pode pressionar pela redução de salários também).


137 - Estabilidade a que preço? Altas taxas de juros na África do Sul para ter a confiança dos investidores durante a Era Mandela/ANC: Dado que a empresa não-financeira média na África do Sul tem uma taxa de lucro de menos de 6%, as taxas de juros reais de 10 a 12% significavam que pouquíssimas empresas podiam tomar empréstimos para investir. As taxas de investimento caíram (em proporção do PIB) dos históricos 20 a 25% (estavam em 30% nos início do anos 80) para em torno de 15%. Considerando-se esses níveis baixos de investi mento, a economia sul-africana não está tão mal — entre 1994 e 2005, sua renda per capita cresceu 1,8% ao ano. O desemprego chegava a marcas como 28%. (Hoje está em 34%!!! E creio que os juros até já não são mais de 8% reais ou mais... Só vendo)


138 - Parênteses sobre mensuração da taxa de lucro: Há várias formas diferentes de se calcularem as taxas de lucro, mas o  conceito relevante aqui são os retornos dos ativos. De acordo com Claessens et al. (1998), Figura 1, os retornos dos ativos em 46 países desenvolvidos e em desenvolvimento durante 1988 a 1996 variaram entre 3,3% (Áustria) e 9,8% (Tailândia). A taxa variou entre 4% e 7% em 40 dos 46 países; ela era abaixo de 4% em três países e acima de 7% em três países. Outro estudo do Banco Mundial estabelece a taxa média de lucro das empresas não-financeiras nas economias de "mercados emergentes" (países de renda média) durante os anos 90 (1992 a 2001) no nível mais baixo de 3,1% (lucro líquido/ativos).


139 - Entre 1960 e 1973, a segunda metade da "Era de Ouro do Capitalismo" (1950 a 1973), quando todos os países ricos de hoje atingiram investimentos altos e crescimento rápido, a taxa de juros real média estava em 2,6% na Alemanha, 1,8% na França, 1,5% nos Estados Unidos, 1,4% na Suécia e -1,0% na Suíça.


140 - Cita estudo dos anos noventa concluindo que não há evidencia inequívoca de que mais independência do Banco Central de fato será capaz de reduzir a taxa de inflação nos países em desenvolvimento


141 - Primeira responsabilidade do FED: "conduzir a política monetária do país influenciando as condições monetária e de crédito na economia, visando-se atingir o máximo de emprego, a estabilidade de preços e taxas de juros de longo prazo moderadas (itálicos incluídos)". Ademais, ...o chairman do FED está regularmente sujeito a questionamentos do Congresso. É irônico que o governo dos Estados Unidos se comporte internacionalmente como um Mau Samaritano e estimule os países em desenvolvimento a criarem bancos centrais independentes focados apenas na inflação.


142 - A prudência fiscal deveria dizer respeito apenas ao médio/longo prazo, a depender dos ciclos da economia. O FMI tem uma grande obsessão pelo equilíbrio fiscal dos governos dos países em desenvolvimento todos os anos, independentemente dos ciclos de negócios ou da estratégia de desenvolvimento de longo prazo


143 - Coréia e a proibição de "déficit" em plena crise asiática de 1997. ...o FMI impediu o país de aumentar seus gastos, pois gerariam déficit. É óbvio que a economia afundou. Nos primeiros meses de 1998, mais de 100 empresas iam à falência por dia e a taxa de desemprego quase triplicou — alguns coreanos brincavam com o significado da sigla do FMI (IMF) com a frase "I'M Fired".**** Apenas quando essa espiral econômica descendente tornou-se incontrolável, o FMI recuou e permitiu que o governo coreano entrasse em déficit orçamentário — mas um muito pequeno (até 0,8% do PIB). Déficit grandes é exatamente a forma com que os países ricos combatem a crise. Para os emergentes, pregam o contrário, coloca. ...quando a Suécia teve um problema similar (por causa da má condução de seu processo de abertura da conta capital, como foi o caso da Coréia em 1997), no início dos anos 90, seus déficits orçamentários eram, em termos proporcionais, 10 vezes maiores (8% de seu PIB). (No fim das contas, ambas recuperações foram até rápidas, salvo engano, por isso que a política fiscal, salvo exceções, não me parece tão decisiva quanto se pensa. Os fatores de longo prazo pesam bem mais no crescimento, é meu "palpite").


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