Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar - Capítulo 4 (PARTE "A")

                                                  

Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar



Pgs. 85-107


"CAPÍTULO 4: "Que desabrochem cem flores - COMO “FAZER” ECONOMIA"


67 - Um capítulo de História das Ideias em Economia, digamos assim. Autores de escola X ou Y não necessariamente "fecham com elas" em tudo. Um exemplo ainda mais complicado é Frank Knight, um economista do início do século XX, que lecionou na Universidade de Chicago. Ele é em geral visto como um economista austríaco (não, não por causa de sua nacionalidade — ele era norte-americano), mas tinha muita influência dos institucionalistas, e algumas de suas ideias têm contato com as teses dos keynesianos e dos behavioristas.


68 - Gostei da ideia de botar uma frase-resumo pra cada escola: A escola clássica: Resumo: O mercado mantém todos os produtores em alerta por meio da competição; portanto, deixe-o em paz. Smith, Ricardo, Say, Malthus...


69 - Mão invisível só foi usada uma vez no livro. Adam Smith, ao contrário da maioria dos economistas clássicos, estava ciente de que as pessoas têm motivos além dos egoístas, tais como empatia, paixão e adesão às normas sociais. Esses motivos foram os principais temas de A teoria dos sentimentos morais, o volume irmão de ARN.


70 - Proprietários rurais e trabalhadores não tinham moral com a escola, digamos. A escola clássica, e especialmente Ricardo, realçava que é no interesse de todos a longo prazo que a maior parte da renda nacional vá para a classe capitalista (isto é, os lucros), porque é a única classe que investe e gera crescimento econômico


71 - Como teorias erradas da escola, cita a Lei de Say. Muitas “leis de ferro” da economia clássica acabaram por se revelar nada férreas. Por exemplo, os economistas clássicos pensavam que a pressão populacional iria aumentar os aluguéis agrícolas e achatar os lucros industriais de tal forma que o investimento poderia cessar, já que eles não sabiam — nem poderiam saber — o quanto se desenvolveriam as tecnologias de produção de alimentos e o controle da natalidade.


72 - Frase-resumo da neoclássica: Os indivíduos sabem o que estão fazendo, então vamos deixá-los em paz — exceto quando os mercados funcionam mal. Visava a  ciência pura, fugindo da tradição da economia política. A escola neoclássica surgiu na década de 1870, a partir das obras de William Jevons (1835-82) e Leon Walras (1834-1910). Ficou estabelecida de maneira sólida com a publicação dos Princípios de economia, de Alfred Marshall, em 1890


73 - Principal diferença talvez seja o foco no indivíduo. Ela enfatizava o papel das condições da demanda (derivada da avaliação subjetiva dos produtos feita pelos consumidores) ao definir o valor de um bem. O individuo é máquina racional de prazer e, segundo Chang, a maioria dos neoclássicos parte do individualismo metodológico (as grandes categorias só fazem sentido quando analisadas do ponto de vista da menor unidade decomposta: o indivíduo). Sai a produção e entram o consumo e a troca.


74 - ...Valor-trabalho versus valor-utilidade: Marshall refinou essa ideia argumentando que as condições da demanda são mais importantes na fixação dos preços no curto prazo, quando a oferta não pode ser alterada, enquanto as condições de oferta importam a longo prazo, quando investimentos (ou desinvestimentos) podem ser feitos nas fábricas para produzir mais (ou menos) produtos conforme são mais (ou menos) procurados.


75 - Coloca que o famoso "critério de Pareto" é até hoje a base para os julgamentos sociais dos neoclássicos. Na vida real, infelizmente, há poucas mudanças que não prejudicam alguém; assim, o critério de Pareto se torna, na verdade, uma receita para manter o status quo e deixar as coisas caminharem sozinhas — ou seja, o laissez-faire. Assim, sua adoção deu um viés conservador fortíssimo à escola neoclássica.


76 - Os neoclássicos pós-Pareto foram em outra direção, criando contestações ao livre-mercado do indivíduo soberano. O mais fundamental foi o nascimento da economia do bem-estar (welfare economics), ou a abordagem do fracasso do mercado, desenvolvido nos anos 1920 por Arthur Pigou, professor de Cambridge. Pigou argumentou que há ocasiões em que os preços do mercado não refletem os verdadeiros custos e benefícios sociais. Surge o debate sistemático sobre as externalidades negativas e positivas.


77 - Ao permitir que se apoie uma mudança que prejudica algumas pessoas (mas que pode compensar plenamente seus danos), o princípio da compensação permitiu aos economistas neoclássicos evitar o viés ultraconservador do critério de Pareto. (Parece-me que aqui estão entrando um tanto na "Análise Econômica do Direito?)


78 - ...o arsenal dos economistas neoclássicos que rejeitam as políticas de livre mercado vem se expandindo desde os anos 1980 com o desenvolvimento da economia da informação, liderada por Joseph Stiglitz, George Akerlof e Michael Spence. Entra em jogo a "informação assimétrica".


79 - Houve contra-ataques. As expectativas racionais, por exemplo. O argumento da falha governamental também avançou, defendendo que a falha do mercado, por si só, não pode justificar uma intervenção, pois os governos podem falhar mais do que os mercados


80 - A versatilidade é apontada como ponto forte da escola: Pode ser muito difícil para alguém ser um marxista “de direita” ou um austríaco “de esquerda”, mas existem muitos economistas neoclássicos “de esquerda”, como Joseph Stiglitz e Paul Krugman, bem como neoclássicos “de direita”, como James Buchanan e Gary Becker.


81 - Baixos salários industriais em países pobres é melhor que nenhum emprego? Com novas leis trabalhistas que fortaleçam os direitos dos trabalhadores, uma reforma agrária que reduza a oferta de mão de obra barata para as fábricas (com mais gente permanecendo no campo), ou políticas industriais que criem empregos, a opção para os trabalhadores pode ser entre baixo salário e maior salário, e não entre baixo salário e falta total de empregos


82 - Marxista: "O capitalismo é um poderoso veículo para o progresso econômico, mas vai entrar em colapso à medida que a propriedade privada se tornar um obstáculo para novos progressos". (...)  A escola marxista adotou a teoria do valor-trabalho, que foi explicitamente rejeitada pela escola neoclássica. Ela também se concentrou na produção, enquanto o consumo e a troca eram os aspectos principais para a escola neoclássica.


83 - Coloca que os clássicos viam a classe "trabalhadores" como um amontoado sem papel histórico para além da procriação e passividade. Marx mudaria isso. Para ele, os trabalhadores não eram aquela “massa amontoada” impotente da economia clássica, mas sim agentes ativos da transformação social — os “coveiros do capitalismo”, em suas palavras — cuja capacidade de organização e disciplina era forjada na hierarquia rígida das fábricas, cada vez maiores e mais complexas.


84 - Marx foi o primeiro economista a prestar atenção às diferenças entre as duas instituições fundamentais do capitalismo — a ordem hierárquica, planejada da empresa e a ordem (formalmente) livre, espontânea do mercadoEle definiu as empresas capitalistas como ilhas de planejamento racional no mar anárquico do mercado.


85 - Escola/tradição desenvolvimentista: Resumo: As economias atrasadas não podem se desenvolver se deixarem as coisas inteiramente por conta do mercado. (...) Não chamo a tradição desenvolvimentista de escola porque esse termo significa que há fundadores e seguidores identificáveis, com teorias fundamentais claras. Essa tradição é muito dispersa, com múltiplas fontes de inspiração e uma linhagem intelectual complicada. Eram homens diante de problemas mais práticos, como Colbert e Walpole.


86 - É uma questão de adquirir capacidades produtivas mais sofisticadas, isto é, a capacidade de produzir utilizando (e criando novas) tecnologias e organizações. As "melhores atividades" - de alta tecnologia - não se desenvolvem naturalmente numa economia atrasada. Nesse tipo de economia, a menos que o governo intervenha para promover tais atividades — com tarifas, subsídios e regulamentação —, os livres mercados a puxarão constantemente de volta para aquilo que ela já faz bem — ou seja, atividades de baixa produtividade, com base em recursos naturais ou mão de obra barata.


87 - ...Cita as principais medidas que costumam ser adotadas: ...promoção de novos setores por meio de tarifas, subsídios e tratamento preferencial nas compras governamentais (ou seja, quando o governo compra coisas do setor privado); incentivo do processamento doméstico de matérias-primas por meio de taxas de exportação sobre matérias-primas ou pela proibição dessas exportações; desestímulo à importação de bens supérfluos por meio de tarifas ou proibições de modo que mais recursos possam ser canalizados para investimentos; promoção de exportações por meio de apoio de marketing e de controle de qualidade; apoio para melhorias tecnológicas por meio de monopólio garantido pelo governo, de patentes e de recrutamento feito pelo governo de trabalhadores qualificados de países economicamente mais avançados; e por último, mas não menos importante, investimento público em infraestrutura.


88 - Foi láááá no passado: Embora a prática da política monetária tenha começado antes (por exemplo, sob o rei Henrique VII da Inglaterra, que reinou entre 1485 e 1509), os escritos teóricos na tradição desenvolvimentista começaram no fim do século XVI e início do XVII, com economistas da Renascença italiana como Giovanni Botero e Antonio Serra, que destacavam a necessidade da promoção das atividades manufatureiras por parte do governo. Coloca-se contra a ideia de que os "mercantilistas" só queriam saber de superávit comercial. Pelo menos os mais sofisticados valorizavam o excedente comercial como sintoma de sucesso econômico (isto é, do desenvolvimento de atividades de alta produtividade), e não como um objetivo em si.


89 - A tradição desenvolvimentista evoluiu na sua forma moderna nos anos 1950 e 1960 através de economistas como (em ordem alfabética) Albert Hirschman (1915-2012), Simon Kuznets (1901-85), Arthur Lewis (1915-91) e Gunnar Myrdal (1898-1987) — dessa vez sob a rubrica da teoria econômica do desenvolvimento.


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