Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar - Capítulo 3 (PARTE "A")
Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar
Pgs. 39-50
"CAPÍTULO 3: "Como foi que chegamos aqui? - UMA BREVE HISTÓRIA DO CAPITALISMO"
17 - Naturalização do "livre"-mercado: Uma vez que você fica sabendo que muitas coisas que não podem ser compradas e vendidas hoje — como seres humanos (escravos), trabalho infantil, cargos no governo — costumavam ser perfeitamente vendáveis, você para de pensar que os limites do “livre mercado” são traçados por alguma lei eterna de ciência, e começa a ver que eles podem ser redesenhados.
18 - Cingapura: ...a quase totalidade das terras em Cingapura pertence ao governo, 85% da moradia é fornecida por uma agência governamental (o Conselho de Desenvolvimento Habitacional) e 22% da produção nacional vem de empresas estatais (a média internacional é cerca de 10%).
19 - Não esqueceu nem da galera da "geografia determina tudo": ...capitalismo começou na Europa ocidental, especialmente na Grã-Bretanha e nos Países Baixos (hoje Holanda e Bélgica) por volta dos séculos XVI e XVII. Por que começou ali — e não, digamos, na China ou na Índia, que se comparavam à Europa ocidental no nível de desenvolvimento econômico até então — é tema de um velho e intenso debate. Explicações de todo tipo já foram identificadas, desde o desprezo da elite chinesa pelas atividades práticas (como comércio e indústria), a descoberta das Américas, até a distribuição das jazidas de carvão na Grã-Bretanha. Não precisamos nos deter nesse debate. O fato é que o capitalismo se desenvolveu pela primeira vez na Europa ocidental.
20 - Números de Maddison: Entre os anos 1000 e 1500, a Idade Média, a renda per capita na Europa ocidental cresceu a 0,12% ao ano. Isso significa que a renda per capita em 1500 era apenas 82% maior do que no ano 1000. A China "atual" (livro acho que é de 2008?) cresce isso em cinco ou seis anos, coloca.
21 - ...Mesmo assim, a Europa ocidental foi uma velocista em termos de crescimento em comparação com o da Ásia e da Europa oriental (incluindo a Rússia), os quais, pelas estimativas, tiveram um terço dessa taxa (0,04%). Isso significa que a renda da população era apenas 22% maior depois de meio milênio. A Europa ocidental podia caminhar como uma tartaruga, mas as outras partes do mundo avançavam como caracóis.
22 - ...No período 1500- 1820, a taxa de crescimento da renda per capita na Europa ocidental ainda era de apenas 0,14%, ou seja, quase igual à do período 1000-1500 (0,12%). (...) Na Grã-Bretanha e na Holanda houve uma visível aceleração do crescimento no final do século XVIII, em especial em setores como tecido de algodão e ferro. Assim, no período 1500-1820, a Grã-Bretanha e a Holanda alcançaram taxas de crescimento econômico per capita de 0,27% e 0,28% ao ano, respectivamente.
23 - ...A produção de algodão têxtil da Grã-Bretanha cresceu a 1,4% por ano de 1700 a 1760, mas cresceu a 7,7% por ano de 1770 a 1801. Especialmente entre 1780 e 1790, a taxa de crescimento foi de 12,8% ao ano — alta mesmo para os padrões de hoje mas impressionante na época. A indústria do ferro aumentou sua produção em 5% ao ano entre 1770 e 1801. Esses números são calculados a partir de N. Crafts, British Economic Growth during the Industrial Revolution.
24 - Primeiro veio a mudança cultural em favor de abordagens mais “racionais” para a compreensão do mundo, o que promoveu a ascensão da matemática e das ciências modernas. Muitas dessas ideias foram inicialmente tomadas de empréstimo do mundo árabe e da Ásia, mas nos séculos XVI e XVII os europeus ocidentais começaram a acrescentar suas próprias inovações. Os pais fundadores da ciência e da matemática modernas, como Copérnico, Galileu, Fermat, Newton e Leibniz, são dessa época. (...) Os avanços incluíram a lançadeira volante (1733) e a fiandeira mecânica (1764) na indústria têxtil, a fundição a coque (1709) na produção de aço e vários processos de fabricação em grande escala de ácido sulfúrico (décadas de 1730 e 1740) na indústria química.
25 - O colonialismo era executado segundo princípios capitalistas. Simbolicamente, até 1858 o domínio britânico na Índia era na verdade gerido por uma empresa (a Companhia das Índias Orientais), e não pelo governo.
26 - Colonialismo e capitalismo. Chang admite que há controvérsias, mas dá sua opinião: ...Ainda que não haja dúvida de que os colonizadores se beneficiaram muitíssimo com tais recursos, esses países provavelmente teriam desenvolvido o capitalismo mesmo sem eles. Não se questiona, porém, que o colonialismo devastou muitas sociedades colonizadas.
27 - . A marginalização da população indígena foi tão extensa que Evo Morales, presidente da Bolívia eleito em 2006, é apenas o segundo chefe de Estado oriundo da população indígena das Américas desde que os europeus chegaram em 1492 (o primeiro foi Benito Juárez, presidente mexicano de 1858 a 1872).
28 - Escravização: Milhões de africanos — 12 milhões é uma estimativa comum — foram capturados e vendidos como escravos, tanto pelos europeus como pelos árabes. Isso foi não só uma tragédia para os que se tornaram escravos (caso sobrevivessem à hedionda viagem de navio) mas também retirou de muitas sociedades africanas a população trabalhadora e destruiu seu tecido social. Foram criados novos países a partir do nada, com fronteiras arbitrárias, afetando a política interna e internacional até hoje.
29 - Um fato de grande importância foi a proibição, em 1700, pela Grã-Bretanha, da importação de tecidos de algodão ou chita da Índia — evento que já encontramos no capítulo 2 —, a fim de promover sua própria indústria têxtil de algodão, causando um duro golpe na indústria têxtil indiana. Esta foi destruída em meados do século XIX pela entrada de exportações da indústria têxtil britânica, já mecanizada. Sendo colônia, a Índia não podia usar tarifas e outras medidas para proteger seus produtores contra as importações britânicas.
30 - Revolução industrial: Em áreas pobres de Manchester, a expectativa de vida era de dezessete anos,20 ou 47 seja, 30% menor do que era em toda a Grã-Bretanha antes da Conquista Normanda, por volta do ano 1000 (na época, 24 anos). Trabalho infantil e jornadas de setenta a oitenta horas eram comuns. Até de cem às vezes. Muitos trabalhadores britânicos da indústria têxtil do algodão morriam de doenças pulmonares causadas pela poeira gerada no processo de produção.
31 - Elogia Bernstein e Kautsky: Em retrospecto, é fácil ver que esses reformistas foram os que leram melhor as tendências históricas, pois o sistema que defendiam é o adotado por todas as economias capitalistas avançadas atuais. Na época, porém, não era óbvio que os trabalhadores poderiam melhorar de vida sob o capitalismo, até porque havia uma feroz resistência às reformas por parte da maioria dos capitalistas.
32 - ...Coloca que as coisas foram melhorando aos poucos, especialmente por volta de 1870. A expectativa de vida subiu de 36 anos em 1800 para 41 anos em 1860.
33 - Bases para o capitalismo inglês: O governo britânico chegava a patrocinar o “roubo” de artesãos têxteis qualificados, sobretudo de Flandres, para ter acesso a tecnologias avançadas. (...) foi apenas em 1860, quase um século depois da obra de Adam Smith, que a Inglaterra passou plenamente para o livre-comércio, quando sua supremacia industrial era inquestionável. Na época, a Grã-Bretanha respondia por 20% da produção manufatureira mundial (em 1860) e 46% do comércio mundial de bens manufaturados (em 1870), apesar de ter apenas 2,5% da população mundial.
(...)
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