Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar - Prólogo e Capítulos 1 e 2

                                                

Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar



Pgs. 1-16


"Agradecimentos, Prólogo e Interlúdio"


1 - Chang coloca que a economia nunca será uma ciência como a física ou química. As teorias econômicas constantemente demonstram que não conseguem prever os acontecimentos do mundo real, mesmo nas áreas em que se concentram, sobretudo porque os seres humanos têm vontade própria, ao contrário das moléculas químicas ou dos objetos físicos.



Pgs. 17-26


PRIMEIRA PARTE - Acostume-se


"CAPÍTULO 1: "A vida, o universo e tudo mais - O QUE É A ECONOMIA?"


2 - Robert Lucas, ganhador do prêmio Nobel de economia de 1995, havia declarado em 2003 que o “problema de prevenção da depressão foi resolvido” (...). John Kenneth Galbraith (1908- 2006) ... disse certa vez, fazendo blague, que “a única função das previsões econômicas é tornar a astrologia respeitável”.


3 - A definição neoclássica padrão de estudos econômicos, variantes da qual ainda são usadas, é dada no livro de Lionel Robbins de 1932, Um ensaio sobre a natureza e a importância da ciência econômica. No livro, Robbins define os estudos econômicos como “a ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos”. Nessa visão, a economia é definida pela sua abordagem teórica, e não pelo seu tema. A economia é um estudo da escolha racional, isto é, da escolha feita com base num cálculo deliberado, sistemático, de até que ponto os fins podem ser satisfeitos usando meios inevitavelmente escassos. O objeto do cálculo pode ser qualquer coisa — casar, ter filhos, o crime ou o vício em drogas, assunto sobre o qual escreveu Gary Becker, famoso economista de Chicago e vencedor do prêmio Nobel de economia de 1992 — e não apenas questões “econômicas” como os não economistas iriam defini-las, tais como emprego, dinheiro ou comércio internacional


4 - Coloca que os economistas mainstream (eu que usei o termo) pouco abordam o mundo da produção - como a fábrica se organiza ou como controlar trabalhadores e sindicatos. Tratam-no como uma caixa preta onde se misturar quantidades de trabalho e capital e sai algo.


5 - (De certa forma, compreendo a crítica que o capítulo faz à megalomania da "ciência econômica", mas não vejo com maus olhos as aventuras dos economistas em assuntos que, em tese, não são "econômicos". Enfim, essa "ampliação" do que é "economia" não me parece um mal em si. O problema me parece ser mais a naturalização de uma determinada lógica do capital, que pretende ser totalizante e realmente "opera" em quase tudo por aí, como algo imutável/indiscutível e tal)



Pgs. 27-38


"CAPÍTULO 2: "Do alfinete à senha numérica - O CAPITALISMO EM 1776 E EM 2014"


6 - A produção de alfinete por trabalhador passou de vinte alfinetes (sem divisão do trabalho) para 4800 alfinetes, já nos tempos das manufaturas que Smith observou e, em 1980, para até 800 mil alfinetes(!) com o avanço da técnica de produção.


7 - Define capitalismo como produção voltada para o lucro e não consumo próprio ou por obrigação política imposta.


8 - Aponta responsabilidade limitada dos sócios e separação entre gestão profissional e propriedade das ações como duas grandes mudanças do capitalismo em relação aos tempos de Adam Smith. Também foi caindo a concorrência perfeita entre empresas de pequena escala tomadoras de preço e surgindo o processo de monopolização e oligopolização.


9 - Época de Smith: Mesmo nos países mais industrializados, como a Grã-Bretanha e a Holanda, mais de 40% das pessoas trabalhavam na agricultura. Em outros países da Europa ocidental, a proporção era de mais de 50% e em alguns países passava de 80%. (...) a maioria consistia em pequenos agricultores de subsistência ou de arrendatários (os que alugavam a terra e pagavam uma porcentagem da sua produção em troca) de proprietários aristocráticos. Escravidão e trabalho infantil ainda eram "normais". 


10 - O papel-moeda praticamente não existia na época de Smith. Ao menos não como o de hoje. (...) foi só duas gerações depois de Smith (em 1853) que notas totalmente impressas começaram a ser emitidas, sem o nome do beneficiário e sem a assinatura do caixa emissor. Mas até mesmo as de denominações fixas não eram como as notas atuais, pois seus valores eram explicitamente vinculados a metais preciosos como o ouro ou a prata, que o banco emissor possuía. Isso se chama padrão-ouro (prata, ou outro).


11 -  Padrão-ouro: Isso não significa que o banco central tenha que ter em reserva uma quantidade de ouro igual ao valor da moeda que emitiu; no entanto, a conversibilidade do papel-moeda em ouro obriga o banco central a manter uma grande reserva de ouro — por exemplo, o Federal Reserve dos Estados Unidos guardava uma quantia de ouro equivalente a 40% do valor da moeda emitida.


12 - Ele não era só um especulador de ações...: O padrão-ouro foi adotado pela primeira vez pela Grã-Bretanha em 1717 — por ninguém menos que Isaac Newton, então chefe do Royal Mint, ou a Casa da Moedavi — e pelos demais países europeus na década de 1870.


13 - Usar notas de papel-moeda é uma coisa, mas guardar dinheiro ou emprestar de um banco — ou seja, serviços bancários — é outra. Isso era menos desenvolvido ainda. Apenas uma pequena minoria tinha acesso aos serviços bancários. Três quartos da população francesa só tiveram acesso aos bancos na década de 1860 — quase um século depois da ARN. Mesmo na Grã-Bretanha, cujo setor bancário era muito mais desenvolvido do que o da França, a atividade bancária era altamente fragmentada, com diferentes taxas de juros dependendo da região do país, já adentrado o século XX.


14 - Nos tempos de Smith, o mercado de ações era algo secundário. Poucas empresas podiam emitir papéis com responsabilidade limitada. Ademais... A regulação era mínima e dificilmente aplicada; os corretores não eram obrigados a revelar informações sobre as empresas cujas ações vendiam.


15 - O mercado de títulos públicos só existia em alguns países, como Grã-Bretanha, França e Holanda. (...)  O mercado de títulos corporativos (notas promissórias emitidas por empresas) não estava muito desenvolvido, nem mesmo na Grã-Bretanha.


16 - ...Ao contrário da época de Smith, hoje temos muitas regras sobre o que os atores do mercado financeiro podem fazer — quantos múltiplos do seu capital social podem emprestar, quais informações as empresas que vendem ações precisam revelar sobre sua situação, que tipo de ativos diferentes as instituições financeiras estão autorizadas a deter (por exemplo, os fundos de pensão não têm permissão para aplicar em ativos de risco). Apesar disso, a multiplicidade e complexidade dos mercados financeiros dificultam a sua regulamentação — tal como aprendemos desde a crise financeira global de 2008.


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