Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015) - Capítulo 19 ("PARTE B")

           

Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015)



(...) 


Pgs. 458-487


"CAPÍTULO 19: "Sistemas monetários internacionais: uma visão histórica"


415 - Toda a questão é que Bretton-Woods não foi capaz de impedir a retomada cada vez mais forte de fluxos especulativos. Detentores de ativos em moeda de país x ou y temiam desvalorizações ou apostavam em revalorizações (Nesse caso, seus bancos centrais iriam encontrar‑se inundados com reservas oficiais como resultado da venda de moeda doméstica no mercado cambial para impedir a moeda de valorizar - e essa venda de moeda doméstica poderia gerar problemas internos de nível de preço). Déficits e superávits em conta-corrente de cada país eram observados para tentar ver qual seria o resultado cambial a ser chancelado pela negociação com o FMI. Resultado final? Os países temiam esses ataques especulativos.


416 - Um recorde do déficit da balança comercial britânica no início de 1964 levou a um período de especulação intermitente contra a libra, o que complicou a realização da política britânica até novembro de 1967, quando a libra foi enfim desvalorizada. A França desvalorizou seu franco e a Alemanha revalorizou seu marco em 1969 após ataques especulativos semelhantes, nos quais a França enfrentou afluxos financeiros especulativos e a Alemanha enfrentou influxos financeiros especulativos.


417 - Fazem umas modelagens chatas para relações já óbvias tendo em vistas as explicações anteriores: Dados P e P*, um aumento em E (desvalorização) torna as mercadorias nacionais mais baratas e melhora a conta‑corrente. Um aumento nas despesas domésticas, A, no entanto, tem o efeito oposto sobre a conta‑corrente, porque faz com que as importações aumentem. Para manter sua conta‑corrente em X conforme a moeda desvaloriza (ou seja, conforme E aumenta), o governo deve promulgar políticas que elevem as despesas domésticas. Tipo expansionismo fiscal para evitar "superávit excessivo" externo. Pressupõe um "nível-meta" na conta corrente.


418 - ...Mencionam os possíveis problemas nessa "equilibração" acima aí: ...Na zona 1, o nível de emprego é muito alto e o superávit de conta‑corrente é muito grande; na zona 2, o nível de emprego é muito alto, mas o déficit em conta‑corrente é muito grande; na zona 3, há uma situação de subemprego e de um déficit excessivo; e na zona 4, o subemprego é acoplado com um superávit de conta‑corrente maior do que o nível meta. (...) Sob as regras de Bretton Woods, esperava‑se que as variações cambiais (política de troca de despesas) fossem infrequentes. Isso deixava a política fiscal como a principal ferramenta política para mover a economia para o equilíbrio interno e externo. O que tendia a não ser suficiente. Exemplo: Com o nível de gastos e as taxas de câmbio indicados pelo ponto 2 na Figura 19.4, há um subemprego e um déficit de conta‑corrente excessivo. Apenas a combinação da desvalorização e expansão dos gastos indicada na figura movimenta a economia ao equilíbrio interno e externo (ponto 1).


419 - E os EUA no Bretton-Woods? As conversões de ouro oficiais ocorriam algumas vezes e depletavam o estoque norte‑americano de ouro, causando preocupação. Mas, desde que a maioria dos bancos centrais estivesse disposta a adicionar dólares a suas reservas e renunciar o direito de resgatar aqueles dólares por ouro norte‑americano, a restrição externa dos Estados Unidos parecia mais simples do que a enfrentada por outros países no sistema. As reservas em dólares cresciam mais rápido que o ouro americano, o que começou a gerar o "problema da confiança". A conversão se daria mesmo nos 35 dólares? Seria honrada sempre?


420 - Vietnã e Medicare. EUA começam a exportar inflação. A teoria no Capítulo 18 prevê que, quando o país de moeda de reserva acelera seu crescimento monetário, como os Estados Unidos fizeram na segunda metade da década de 1960, um efeito é um aumento automático nas taxas de crescimento monetário e de inflação no exterior conforme os bancos centrais estrangeiros compram a moeda de reserva para manter suas taxas de câmbio e expandir suas ofertas de dinheiro simultaneamente. Nessa organização monetária internacional, os EUA não estavam sujeitos ao trilema, vale lembrar.


421 - A recessão de 1970 levou à especulação contra o próprio dólar. De alguma forma, ele seria desvalorizado, apostava-se. Após várias tentativas infrutíferas de estabilizar o sistema (incluindo uma decisão unilateral dos Estados Unidos em agosto de 1971 para acabar completamente com a ligação entre o dólar e o ouro), os principais países industrializados permitiram que suas taxas de câmbio do dólar flutuassem em março de 1973A flutuação era vista na época como uma resposta temporária para os movimentos de capitais especulativos incontroláveis. Mas os acordos temporários adotados em março de 1973 acabaram por ser permanentes e marcaram o fim das taxas de câmbio fixas e o início de um novo período turbulento nas relações monetárias internacionais.


422 - Mecanismo de "importação da inflação": Conforme os preços e a produção interna aumentam após a elevação em P*, a oferta de dinheiro real encolhe e a demanda real por participações em dinheiro aumenta. Para evitar que a pressão ascendente resultante na taxa de juros domésticos valorize a moeda, o banco central deve adquirir reservas internacionais e expandir a oferta de moeda nacional. Dessa forma, as políticas inflacionárias perseguidas pelo centro de reserva respingam nas ofertas de moeda dos países estrangeiros.


423 - O sistema, portanto, foi vítima do trilema. Conforme os fluxos financeiros internacionais se tornaram mais difíceis de conter, os formuladores de políticas monetárias enfrentaram um trade‑off cada vez mais intenso entre a estabilidade cambial e as metas monetárias nacionais. Entretanto, na década de 1970, o eleitorado dos países industrializados esperou muito que os governos dessem prioridade à economia doméstica. Então foram as taxas de câmbio fixas que saíram de cena.


424 - Vantagens proclamadas do novo sistema (flutuante): autonomia monetária para enfrentar crises internas; simetria (sem EUA determinando os níveis de inflação pra todo mundo ao ser o único "livre"); taxas de câmbio como estabilizadores automáticos (facilita o amortecimento de choques externos, por exemplo, evitando uma piora de recessão ou algo assim); taxas de câmbio levando a equilíbrio externo.


425 - Dados macro da "pós-era-de-ouro", digamos assim: 



426 - Em meados da década de 1970, os Estados Unidos tentaram combater o desemprego mediante a política monetária expansionista, enquanto outros países como a Alemanha e o Japão estavam mais preocupados com a inflação. O resultado desse desequilíbrio político — uma expansão vigorosa nos Estados Unidos que não foi acompanhada por expansão no exterior — foi uma íngreme depreciação do dólar após 1976. A inflação dos Estados Unidos atingiu níveis de dois dígitos (como a inflação em muitos outros países, incluindo Canadá, França, Itália e Reino Unido). A depreciação do dólar nesses anos fica evidente na Figura 19.7, que mostra os dois índices de taxas de câmbio efetivas, nominal e real, do dólar.



427 - Em 1975, formuladores de políticas macroeconômicas em países industrializados tinham respondido ao primeiro choque do petróleo com políticas monetárias e fiscais expansionistas. Eles responderam de forma muito diferente ao segundo choque do petróleo.


428 - ...No entanto, a valorização do dólar não foi bem recebida no exterior, apesar de que poderia, em teoria, ter emprestado às economias estrangeiras algum estímulo positivo em um período de crescimento lento. A razão foi que um dólar mais forte dificultava aos países estrangeiros suas próprias lutas contra a inflação, elevando os preços de importação que eles enfrentavam e encorajando demandas por salários maiores de seus trabalhadores. (...) A política monetária apertada dos Estados Unidos, portanto, teve um efeito beggar‑thy‑neighbor no exterior, já que baixou a inflação norte ‑americana em parte por exportar a inflação para as economias estrangeiras. Os juros subiram pelo mundo todo a fim de contrabalancear isso aí. 


429 - ...A recessão atingiu seu ponto mais baixo nos Estados Unidos em dezembro de 1982 e a produção começou a se recuperar nos Estados Unidos e no exterior quando o estímulo fiscal dos Estados Unidos foi transmitido para o exterior por meio da constante valorização do dólar.


430 - Dólar valorizado e protecionismo: O desempenho econômico persistentemente baixo na década de 1980 levou ao aumento das pressões sobre os governos para proteger as indústrias nos setores que competiam com a importação. Formou‑se uma bola de neve de pressões protecionistas.


431 - ...Temendo um desastre para o sistema de comércio internacional, os oficiais da economia dos Estados Unidos, Grã‑Bretanha, França, Alemanha e Japão anunciaram no Hotel Plaza de Nova York, em 22 de setembro de 1985, que eles iriam intervir em conjunto no mercado cambial para produzir a depreciação do dólar. O dólar caiu drasticamente no dia seguinte e continuou a diminuir durante 1986 e início de 1987, conforme os Estados Unidos mantiveram uma política monetária frouxa e empurraram as taxas de juros do dólar em relação às taxas de juros de moedas estrangeiras


432 - A lentificação do Japão em 1997 ... enfraqueceu as economias do Leste Asiático.


433 - EUA e seu déficit em conta-corrente crescente:



434 - Algumas explicações sobre o cenário acima envolvem a China como figura central: O crescimento da economia chinesa privada, começando na década de 1970, levou a uma expansão econômica muito rápida, mas também a perturbações econômicas para grande parte da enorme população do país — por exemplo, uma redução de benefícios sociais, como cuidados de saúde, que as empresas estatais disponibilizavam anteriormente. Como medida de precaução, os chineses economizaram mais do que eles tinham feito no passado. Ao mesmo tempo, o tórrido crescimento econômico da China (junto com o forte crescimento dos Estados Unidos) aumentou os preços de uma gama de commodities primárias, notadamente o petróleo. As receitas de exportação brasileira de soja e ferro, óleo de palma da Malásia e petróleo russo, venezuelano, congolês e da Arábia Saudita também subiram. Essas receitas extraordinárias inesperadas, à frente da capacidade dos beneficiários de gastarem ou investirem, também ajudaram a elevar a economia mundial.


435 - Mesmo com déficit fiscal e externo crescente, as taxas de juros reais e nominais nos EUA foram caindo! Além do fator do ponto anterior, temos a própria incerteza e "fraqueza" global como razão disso: ...Da mesma forma, a incerteza econômica no Japão deprimia a demanda por investimentos naquele país. Um resultado das políticas econômicas mais conservadoras do mundo em desenvolvimento foi a acumulação rápida de reservas em dólar, como já mencionado, um resultado que forneceu a esses países mais pobres uma proteção bem‑vinda contra possíveis infortúnios econômicos futuros.



436 - Embora a Figura 19.11 confirme ... a lição do Capítulo 16 de que a PPC não tem se mantido sempre próxima, mesmo durante longos períodos de tempo, ela mostra que, em equilíbrio, os países com inflação alta tenderam a ter moedas mais fracas do que seus vizinhos com inflação baixa. Além disso, a maior parte da diferença nas taxas de depreciação é causada pelas diferenças de inflação, fazendo a PPC ser um fator importante por trás da variabilidade da taxa de câmbio nominal de longo prazo.



437 - O economista Ronald McKinnon, da Universidade de Stanford, tem argumentado que o sistema de taxas flutuantes atual é semelhante em alguns aspectos ao sistema assimétrico de moeda de reserva subjacente aos acordos de Bretton Woods.


438 - Mencionam vantagens estabilizadoras do câmbio flutuante: Os efeitos da expansão fiscal dos Estados Unidos após 1981 ilustram as propriedades de estabilização de uma taxa de câmbio flutuante. Como o dólar sofreu valorização, a inflação dos Estados Unidos foi lentificada, os consumidores norte ‑americanos sentiram uma melhora em seus termos de comércio e a recuperação econômica se espalhou para o exterior.


439 - Câmbio flutuante podem trazer, porém, bastante instabilidade a setores da economia. As alterações da taxa de câmbio real podem provocar danos, ao trazer problemas de regulação excessiva em alguns setores e gerar a necessidade de aumento da proteção. Citam como a agricultura dos EUA reclamou da valorização do dólar.


440 - Coordenação internacional: colocam que países podem ter incentivos aquém do ideal para adotar expansionismo durante uma crise, afinal, parte do esforço sempre vaza para outros países (importações etc.). Mas e se todos fizessem ao mesmo tempo? ...se os países pudessem negociar um acordo em conjunto para expandir, talvez fossem mais eficazes na luta contra a recessão (e eles poderiam até mesmo conseguir reduzir os custos fiscais). A resposta à crise de 2007‒2009 foi discutida periodicamente pelas nações do Grupo dos 20 (G20), um agrupamento informal de líderes industriais e de países em desenvolvimento, incluindo Argentina, Brasil, China, Índia e Rússia. Nas fases iniciais da crise, houve acordo generalizado sobre a resposta fiscal no âmbito do G20. Mais tarde, conforme os países apresentaram taxas de recuperação mais divergentes, a coordenação política tornou‑se mais difícil e as reuniões do G20 produziram poucos resultados concretos.


441 - Indo para as conclusões: Em um mundo integrado financeiramente em que os fundos podem mudar instantaneamente entre os mercados financeiros nacionais, as taxas de câmbio fixas não podem ser mantidas de modo real em longo prazo, a menos que o país esteja disposto a manter controles sobre os movimentos de capitais (como a China faz). (...) mesmo um país seguindo políticas monetárias e fiscais prudentes não está seguro contra ataques especulativos em sua taxa de câmbio fixa. Uma vez que o país encontre um revés econômico, como eventualmente deve ocorrer, os especuladores irão atacar, forçando as taxas de juros domésticas para as alturas e infligindo sofrimento econômico suficiente para que o governo opte por abandonar sua meta de taxa de câmbio.


442 - No apêndice, aborda o problema do objetivo de desinflação mundial em 1981. A questão? Um governo que adota uma política monetária menos restritiva do que seus vizinhos é propenso a enfrentar uma depreciação da moeda, o que parcialmente frustra suas tentativas de desinflacionar. Foi uma corrida pra ver quem era mais restritivo que o outro. Enfim, tem a ver com Nash e teoria dos jogos. Todos os governos teriam sido mais felizes se tivessem adotado as políticas monetárias do perdedor, mas levando em conta as políticas que outros os governos adotaram, não era do interesse de nenhum governo individual mudar de rumo.


443 - ...Importação de inflações, em tais casos, atrapalha tudo: ...os efeitos deflacionários do aumento do desemprego são compensados pelo impacto inflacionário de uma moeda em depreciação nos preços de importação e demandas salariais.


444 - ...Uma vez que ambos os países são melhores com condições um pouco restritivas, por que elas não são adotadas? A resposta está na raiz do problema da coordenação política. Nossa análise assumiu que cada país “vai por sua conta” maximizando seu próprio retorno. Abaixo, variações negativas de inflação e positivas de desemprego. Deve-se buscar o mix ideal de inflação e desemprego.



445 - A realidade da coordenação política é mais complexa que nesse exemplo simples, porque as escolhas e os resultados são mais numerosos e mais incertos.


.


Comentários