Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015) - Capítulos 9 e 10

    

Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015)



Pgs. 182-204


"CAPÍTULO 9: "Os instrumentos da política de comércio"


137 - As tarifas aduaneiras específicas são cobradas como uma taxa fixa para cada unidade de mercadorias importadas (por exemplo, três dólares por barril de petróleo). As tarifas aduaneiras ad valorem são impostos cobrados como uma fração do valor das mercadorias importadas (por exemplo, 25% de tarifa aduaneira nos Estados Unidos para caminhões importados.


138 - Nada a anotar sobre as modelagens. Coisas intuitivas. Igualam demanda e oferta mundial. Quando entra a tarifa, pouca novidade também: Com a tarifa aduaneira em vigor, quem envia a mercadoria fica relutante em mandar o trigo de Estrangeira para Doméstica a não ser que o preço de Doméstica ultrapasse o de Estrangeira por, pelo menos, tNo entanto, se o trigo não for enviado, existirá um excesso de demanda por trigo em Doméstica e um excesso de oferta em Estrangeira. Portanto, o preço em Doméstica aumentará e em Estrangeira cairá até que a diferença no preço seja t.



139 - ... Em Estrangeira, os preços mais baixos resultam na oferta reduzida e no aumento de demanda e, portanto, em uma oferta de exportação menor.


140 - A depender do estágio da produção, uma tarifa aduaneira de 25%, por exemplo, pode fornecer proteção de 100%. Basta duplicar o lucro (diferença na compra das peças/insumos e venda do produto final). Dá um exemplo lá com carros. Tema até uma fórmula pra isso no rodapé.


141 - Lembram que proteção aos setores intermediários podem afetar as vendas dos setores seguintes (proteção "negativa" então). Outro problema é que podem levar a retaliações que prejudiquem as exportações ou podem durar mais do que a proteção exigiria (espécie de rent-seeking). Por fim, trazem um "box" com dribles "malucos" às tarifas, como o da Ford que enviava "caminhonete" disfarçada de carro de passageiro pra ser remontada.


142 - Outros meios de intervenção: subsídios à exportação, quotas de importação, restrições voluntárias da exportação e requisitos de conteúdo local.


143 - Um subsídio à exportação é um pagamento a uma empresa ou indivíduo que envia a mercadoria para o exterior. Como a tarifa aduaneira, um subsídio à exportação pode ser tanto específico (um montante fixo por unidade) ou ad valorem (uma proporção do valor exportado). Quando o governo oferece um subsídio à exportação, os fornecedores exportarão a mercadoria até o ponto em que o preço nacional ultrapasse o preço estrangeiro pelo valor do subsídio.


144 - O tamanho do país influenciará no ganho do comércio no que tange às tarifas e subsídios. Se ele é grande o bastante para influenciar o preço mundial, mudará não só o preço interno, mas o mundial. Exemplo envolvendo subsídio: O preço no país exportador aumenta de PW para PS, mas porque o preço no país importador cai de PW para P*S (mudança no preço mundial aqui!), o aumento de preço é menor do que o subsídio. No país exportador, os consumidores são prejudicados, os produtores ganham e o governo perde, porque deve gastar dinheiro no subsídio. Na tarifa, é o contrário. Preço mundial sobe na ausência da importação relevante que havia. Tarifa melhora os termos de comércio. Concluem: Então, um subsídio à exportação, de forma inequívoca, leva a custos que ultrapassam seus benefícios. (Não se está pensando aqui em possíveis fortes ganhos de escala, creio).


145 - Colocam que a Europa protegeu tanto seu setor primário que, em vez de importar, como seria o "natural", teve de começar a oferecer subsídios à exportação para não perder os estoques (produção excedente)! É uma demanda artificial. As próprias exportações subsidiadas tendem a desvalorizar o preço mundial, aumentando o subsídio necessário. O texto é de 2010: Os subsídios do governo para os agricultores europeus são iguais a cerca de 22% do valor da produção agrícola, mais do que duas vezes o valor norte ­americano de 8,6%. (Os subsídios agrícolas norte ­americanos são mais restritos a um subconjunto de culturas.)


146 - Sobre quotas: No fim, uma quota de importação aumentará o preço nacional pelo mesmo valor que uma tarifa aduaneira que limita as importações ao mesmo nível (exceto no caso de monopólio nacional, no qual a quota aumenta os preços mais do que isso. Veja o Apêndice deste capítulo). (...)  Quando a quota, em vez da tarifa aduaneira, é utilizada para restringir as importações, a soma de dinheiro que teria aparecido com a tarifa como receita do governo é recolhida por quem quer que receba as licenças de importação. São as "rendas" de contingenciamento. Obtém algo a preço menor do que pode vender no mercado nacional.


147 - Quotas para o açúcar dos EUA (que tinham ou têm preço 34% maior que o mundial). Os governos - que repassavam aos particulares - que possuem o privilégio de poder vender no mercado estadunidense obtém rendas de contingenciamento. Exportam a preço mais caro que a outros países. Os produtores dos EUA de açúcar também ganham. Os consumidores se dão mal. (Mesmo assim a galera se empanturra de açúcar lá né?). São empregos, mas são empregos que custa uma fortuna manter. Ademais, o número de empregos gerados nas indústrias que dependem de um açúcar barato superaria com folga as perdas, segundo estimativas. 


148 - Quanto às restrições voluntárias de exportação (RVE), geralmente são pedidas pelos países que querem criar cotas de importação e aceitas pelo país que pode exportar. Colocam que o Japão, em 1981, aceitou algo assim para com os EUA no que tange aos automóveis (japoneses temiam uma escalada de guerra comercial unilateral). Criticam bastante: Uma RVE é sempre mais dispendiosa para o país importador do que uma tarifa aduaneira que limita as importações pelo mesmo valor. A diferença é que o que teria sido receita sob uma tarifa aduaneira torna­‑se renda ganha pelos estrangeiros sob a RVE


149 - Conteúdo local: Nos Estados Unidos, uma lei de conteúdo local para automóveis foi proposta em 1982, mas nunca foi atendida. (...) O ponto importante é que o requisito de conteúdo local não produz nem receita para o governo e nem rendas de contingenciamento. Em vez disso, a diferença entre os preços das mercadorias importadas e nacionais na realidade fica na média no preço final e é passada para os consumidores.


150 - Por fim, citam outras formas de intervenção, como as compras governamentais e subsídios de crédito à exportação (são juros razoavelmente subsidiados). Usa-se por aí até mesmo a barreira burocrática: criar exigências meio toscas pra limitar/atrasar as importações.


151 - Um bom resumo da coisa toda:



152 - No apêndice, lembram que, quando as políticas de comércio de um país limitam a possibilidade de concorrência estrangeira, fica mais fácil para alguma "monopolista" nacional exercer seu poder de mercado. Preços mais altos. Em seguida, fazem toda uma modelagem pra provar isso. Depois, outros exemplos para concluir coisas deste tipo: A tarifa aduaneira permite que a indústria monopolística aumente seu preço, mas o preço ainda é limitado pela ameaça de importações. Por fim, mais modelo para concluir que a quota leva à produção menor e preço maior por parte da monopolista mesmo em relação à proteção tarifária. Quando protegida por uma tarifa aduaneira, a indústria nacional monopolista comporta ­se como se fosse perfeitamente competitiva; quando protegida por uma quota, fica claro que não se comporta assim. (...) não importa o quão alto seja o preço nacional, as importações não podem exceder o nível da quota. Têm uma reserva de mercado garantida a qualquer preço, então vão no "ótimo" para eles.



Pgs. 205-234


"CAPÍTULO 10: "A Economia Política da Política de Comércio"


153 - RVE: A China concordou que em 2006 não mandaria mais do que 772,8 milhões de pares de meias para os EUA. Os preços subiram.


154 - Poucos países têm algo que se aproxime de um livre comércio por completo. A cidade de Hong Kong, que é legalmente parte da China, mas mantém uma política econômica separada, deve ser a única economia moderna sem tarifas aduaneiras ou quotas de importação.


155 - Estimativas atuais sobre protecionismo: Para o mundo como um todo, de acordo com essas estimativas, os custos de proteção custam menos de 1% do PIB. (Muito fraca essa panaceia. Liberais costumam culpar todos os males do Brasil no protecionismo).



156 - ...Porém, alguns economistas acreditam, ao que entendi, que a estimativa deveria levar em conta mais coisas: Mercados protegidos limitam os ganhos de economias de escala externas ao inibir a concentração de indústrias. (Sim, mas na perspectiva mundial. Se um país puder ser um bom protecionista contra o mundo, creio que ele não se importa). ...Com o rápido aumento de empresas em mercados nacionais restritos, a escala de produção de cada empresa torna ‑se ineficiente. Enfim, escala interna nacional sobe pra prejudicar a escala mundial. Uma fábrica montadora de escala eficiente deveria montar de 80 a 200 mil automóveis por ano. Contudo, em 1964 a indústria Argentina, que produzia somente 166 mil carros, tinha nada menos do que 13 empresas!


157 - Os ganhos adicionais do livre comércio discutidos aqui são, de vez em quando, chamados de ganhos “dinâmicos”, porque o aumento da concorrência e da inovação precisa de mais tempo para fazer efeito do que a eliminação da produção e as distorções de consumo. Alegam que as empresas nacionais vão aprendendo a entrar em mercados onde possuem vantagens exportadoras até, que desconheciam num sistema "dirigido". Isso também não estaria quantificado. (Não sei se estou vendo essa inovação toda desde que o Brasil reduziu suas tarifas não...)


158 - Distorções protecionistas: Um exemplo famoso envolveu a Índia nos anos 1950 e 1960. Naquela época, as companhias indianas recebiam o direito de comprar produções importadas na proporção de sua capacidade instalada. Isso criou um incentivo para sobreinvestir. Por exemplo, uma companhia de aço poderia construir mais altos‑fornos do que poderia precisar simplesmente porque isso lhe daria um número maior de licenças de importação. Os recursos utilizados para construir essa capacidade inútil representavam um custo de proteção muito acima dos mostrados na Figura 10.1.


159 - Outro ponto: Qualquer tentativa de buscar desvios sofisticados do livre comércio será subvertida pelo processo político.


160 - De união aduaneira a mercado comum: O incomum sobre 1992 era que a Comunidade Europeia já era uma união aduaneira, isto é, não existiam tarifas aduaneiras ou quotas de importação no comércio intraeuropeu. Então, o que sobrava para liberar? Os defensores do 1992 argumentaram que ainda existiam barreiras substanciais para o comércio internacional dentro da Europa. Algumas dessas barreiras envolviam os custos de atravessar fronteiras. Por exemplo, o simples fato de caminhões levando mercadorias entre a França e a Alemanha terem de ser parados para formalidades legais frequentemente resultava em longas esperas que dispendiam tempo e combustível. Custos similares eram impostos para empresários que viajavam, pois voava‑se de Londres a Paris em uma hora, mas esperava‑se mais uma hora para passar pela imigração e pela alfândega. As diferenças nas regras também tinham o efeito de limitar a integração dos mercados. Por exemplo, por causa de as regras de saúde sobre comida diferirem entre as nações europeias, uma pessoa não poderia simplesmente encher um caminhão com mercadorias britânicas e levá‑las para a França, ou vice‑versa. Harmonizaram as regras em centenas de áreas. (...) a Alemanha foi forçada a aceitar importações de cerveja que não atendiam a suas centenárias leis de pureza e a Itália teve de aceitar massa feita com o tipo errado de trigo (o horror do horrores!). A ideia era aumentar a concorrência e a escala.


161 - Perspectiva nacional do país grande que diminui o preço mundial da importação ao impor uma tarifa (queda da demanda e tal): ...é possível que, em alguns casos, os benefícios dos termos de comércio de uma tarifa aduaneira prevaleçam sobre seus custos. São os termos de troca agindo. Depende da magnitude da tarifa e uma baixa é que tende a cumprir a missão (remete ao apêndice matemático). (...) Enquanto a tarifa aduaneira aumenta, os custos eventualmente começam a subir de forma mais rápida que seus benefícios.


162 - A política da Arábia Saudita e de outros exportadores de petróleo tem sido a de taxar suas exportações de petróleo, aumentando o preço para o resto do mundo. Apesar de os preços do petróleo terem flutuado ao longo dos anos, é difícil argumentar que a Arábia Saudita esta‑ ria em melhor situação sob o livre comércio. É como um monopólio extraindo ganhos do resto. Sempre há risco de "retaliações", porém.


163 - Lembram que o argumento dos termos de troca servem pra pouca gente: A maioria dos países tem pouquíssima capacidade de afetar os preços mundiais, tanto de suas importações quanto de suas exportações, e, portanto, os termos do argumento de comércio são de pouca importância prática para eles.


164 - Argumento do benefício social marginal: transbordamento de conhecimento; dificuldade de realocar recursos em caso de abertura, com mão-de-obra subutilizada ou incapacitada etc. Justificariam tarifas caso não se olhe apenas para a contagem de custo-benefício do produtor e consumidor.



165 - ...Seria meio que intervir para corrigir falhas internas de funcionamento de mercado. Os autores parecem preferir, porém, soluções como "salários mais flexíveis". Existem duas linhas de defesa para o livre comércio: a primeira argumenta que as falhas de mercado interno deveriam ser corrigidas pelas políticas nacionais voltadas diretamente para as fontes dos problemas. A segunda defende que os economistas não podem diagnosticar falhas de mercado bem o bastante para prescrever a política.


166 - ...Sobre a primeira linha, exemplificam com a política de proteção á indústria automobilística dos EUA: Os defensores da quota de importação argumentam que os mercados de mão de obra norte‑americanos são muito inflexíveis para esses trabalhadores permanecerem empregados, tanto ao diminuir seus salários quanto ao tentar encontrar emprego em outros setores. Agora considere uma política puramente nacional voltada para o mesmo problema: um subsídio para empresas que empregam esses trabalhadores. Tal prática encontraria oposição política massiva. Por um lado, para preservar os níveis atuais de emprego sem proteção seriam necessários grandes pagamentos de subsídio, o que aumentaria o déficit orçamentário do governo federal ou necessitaria de um aumento de imposto. Além disso, os trabalhadores da indústria de automóveis estão entre os mais bem pagos no setor manufatureiro. O público em geral com certeza se oporia a subsidiá‑los. É difícil de acreditar que um subsídio para emprego desses trabalhadores passasse no Congresso. Ademais, uma quota de importação seria ainda mais cara porque enquanto traria mais ou menos o mesmo aumento no emprego, também distorceria a escolha do consumidor. A única diferença é que os custos seriam menos visíveis, tomando a forma de preços de automóveis mais caros em vez de gastos diretos de governo.


167 - ...Sobre a segunda, meio que só repetem: ...se as falhas do mercado não são muito ruins, um compromisso com o livre comércio pode, no fim, ser uma política melhor do que abrir a caixa de Pandora de uma abordagem mais flexível.


168 - Citam modelos eleitorais para concluir que os partidos tentarão alcançar o eleitor mediano com sua "tarifa mediana", seja qual for. Objetivam vitória eleitoral e não bem-estar da nação.


169 - Derrubar proteções é difícil pois o ganho per capita dos prejudicados por vezes não vale nem a curiosidade/tempo de saber sobre o assunto. Três dólares anuais de prejuízo? 


170 - O NAFTA opôs sindicatos e patrões nos próprios EUA. Na votação do NAFTA, o resultado era incerto até o último minuto e a margem de vitória, 34 votos na Câmara dos Deputados, não foi muito grande. Criaram até um modelo para estimar o quanto as contribuições de campanha influenciavam a votação (a proposta precisava de ao menos 214 votos):



171 - ...os efeitos tenderam a se cancelar. Os congressistas meio que já estavam pré-dispostos à aprovação, mas sem as contribuições patronais a coisa poderia ter melado. Os políticos estão à venda.


172 - Dilemas da política: O ponto inicial dessa análise é óbvio: enquanto os políticos vencem eleições parcialmente por defenderem políticas populares, uma campanha de sucesso exige dinheiro para publicidade, votação e assim por diante. Portanto, pode ser de interesse de um político adotar posições contra o interesse do eleitor comum se ele receber uma contribuição financeira suficiente‑ mente grande para mudar de posição. O dinheiro extra pode valer mais do que os votos que ele vai perder por tomar uma posição não popular.


173 - Os agricultores nos países ricos - 1 ou 2% da mão-de-obra - são poucos mas organizados. No Japão, o governo tradicionalmente baniu as importações de arroz, fazendo que os preços internos do alimento básico do país aumentassem mais do que cinco vezes acima do preço mundial. Essa proibição foi levemente relaxada diante das péssimas colheitas no meio da década de 1990, mas no fim de 1998 (sob protestos de outras nações, incluindo os Estados Unidos) o Japão impôs uma tarifa aduaneira de 1.000% nas importações de arroz


174 - ...Já os EUA são fortes na agricultura, então poucos setores precisam de proteção (açúcar e laticínios são exemplos). Colocam que a indústria têxtil americana era bastante protegida até pouco tempo. 


175 - O que fez, historicamente, caírem as tarifas? Negociação internacional. Acordos e mais acordos entre os países. Observação sobre imagem abaixo: ...a medida que utilizamos na Figura 10.5 mostra a taxa só nas importações “tributáveis”, isto é, exclui as importações que por alguma razão foram isentas das tarifas aduaneiras. Em seu pico, as taxas das tarifas aduaneiras norte‑americanas eram tão altas que mercadorias sujeitas às tarifas representavam somente um terço das importações; em 1975, essa parcela tinha aumentado para dois terços. Como resultado, a taxa média da tarifa aduaneira em todas as mercadorias caiu muito menos do que a taxa em mercadorias tributáveis. Os números mostrados na Figura 10.5, entretanto, mostram uma imagem mais precisa da maior liberalização do comércio que foi de fato vivenciada pelos Estados Unidos.



176 - As negociações internacionais podem trazer exportadores nacionais como contrapeso. Lobby contra lobby.


177 - Do ponto de vista dos governos nacionais, colocam que opera certo "dilema do prisioneiro". Os dois governos estariam em melhor situação se nenhum deles se protegesse. É confiar no acordo para evitar retaliações. Ao agirem unilateralmente no que parece ser seus melhores interesses, os governos fracassam em alcançar o melhor resultado possível. Se os países agem unilateralmente para protegerem‑se, existe uma guerra comercial que deixa os dois em pior situação.


178 - Em 1930, nos EUA, houve a "Smoot‑Hawley Act" e desfazê-la parcialmente, anos depois, deu trabalho. Para reduzir as taxas de tarifa, a redução precisava ser acoplada a alguns benefícios concretos para os exportadores. A solução inicial para esse problema político foi a de negociações bilaterais da tarifa. Os Estados Unidos abordariam algum país que fosse um grande exportador de uma mercadoria (digamos, de açúcar) e ofereceria tarifas menores sobre o açúcar se aquele país baixasse suas tarifas em algumas exportações norte‑americanas. (...) Tais negociações bilaterais ajudaram a reduzir a média tributável nas importações norte‑americanas de 59%, em 1932, para 25% logo após a Segunda Guerra Mundial


179 - ...Do bi ao multilateralismo: As negociações multilaterais começaram logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1974 surge o Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio ou GATT. Era uma organização disfarçada de acordo, enquanto não se criava a OMC. Tinha até secretariado. Usam "vinculações" para impedir retrocessos (aumentos médios de tarifas). Aumentos parciais são negociados quando é o caso.


180 - ...As novas quotas de importação geralmente são proibidas, exceto como medidas temporárias para lidar com “ruptura de mercado”, um termo indefinido e normalmente interpretado como surtos de importações que ameaçam colocar fora da economia um setor nacional de forma repentina


181 - ...Os progressos do GATT/OMC vêm das rodadas de negociação. Existiam desde muito antes. Ano de 1967, por exemplo: ...No geral, a Rodada Kennedy reduziu as tarifas médias em torno de 35%.


182 - Rodada Uruguai: ...Na verdade, a taxa média de tarifa caiu de 6,3% para 3,9%, o suficiente para produzir somente um pequeno aumento no comércio mundial. Porém, mais importante do que essa redução geral da tarifa foram os movimentos para liberalizar o comércio em dois setores fundamentais: agrícola e de tecidos. No primeiro setor, achei os avanços bem tímidos. Já o comércio de vestuário foi enfim liberalizado a partir de 2005. Bom para as exportações chinesas. (...)  Nos Estados Unidos, os ganhos para os exportadores agrícolas e os ganhos em perspectiva para os exportadores de serviços se o GATT abrisse a porta para a liberalização substancial ajudariam a compensar as reclamações da indústria de vestuário. Muitos países em desenvolvimento apoiaram a rodada por causa das novas oportunidades que ofereceriam às suas próprias exportações de têxteis e vestuário.


183 - O quão diferente é a OMC do GATT? De um ponto de vista legal, o GATT era um acordo provisório, ao passo que a OMC é uma organização internacional completamente estabelecida. Entretanto, a burocracia continua pequena (uma equipe de 500 pessoas). Uma versão atualizada do texto original da GATT foi incorporada às regras da OMC. O GATT, no entanto, era aplicado somente para o comércio de mercadorias; já o comércio mundial em serviços — isto é, coisas intangíveis como seguro, consultoria e comércio bancário — não estava sujeito a qualquer conjunto de regras acordadas. Como resultado, muitos países aplicaram regulamentos que discriminavam abertamente fornecedores estrangeiros.


184 - ...OMC é mais formal que o GATT e tende a faze valer mais suas decisões. Muito mais rápida que os anos ou décadas de litígio dos tempos anteriores. Mesmo com apelações, o procedimento não deve levar mais do que 15 meses. Tem um porém nesses órgãos. A OMC por si própria não tem poderes para fazer com que isso se cumpra. O que ela pode fazer é conceder ao país que prestou queixa o direito de retaliar. (...) A esperança e a expectativa é que poucas disputas cheguem tão longe.


185 - Em março de 2002, o governo norte‑americano impôs tarifas aduaneiras de 30% em uma variedade de produtos importados de metal. A razão oficial para essa ação foi que a indústria estadunidense enfrentou um surto nas importações e precisava de tempo para reestruturar‑se. Mas a razão real, quase todo mundo concordou, era política: esperava‑se que West Virginia, Ohio e Pensilvânia, onde a indústria do aço estava concentrada, fossem os “estados de balanço” cruciais na eleição de 2004. OMC foi contra a safadagem, mas especula-se que talvez os EUA tenham "aceitado" a decisão mais pelo medo de retaliação dos europeus, o que prejudicaria outras atividades.


186 - Minimizam o fracasso da rodada de Doha: Na verdade, o aparente fracasso de Doha deve muito ao sucesso das negociações comerciais anteriores. Como as negociações anteriores foram tão bem‑sucedidas em reduzir as barreiras de comércio, as barreiras remanescentes são bem baixas, de modo que os ganhos com novas liberalizações do comércio são modestos. Meio que só sobrou a agricultura nos desenvolvidos, por exemplo. No mundo moderno, as mercadorias agrícolas representam menos de 10% do total do comércio internacional. No entanto, de acordo com a estimativa do Banco Mundial, a liberalização do comércio agrícola produziria 63% do total de ganhos mundiais advindos do livre comércio para o mundo como um todo.


187 - É curioso que subsídios agrícolas à exportação em países ricos possam ajudar os pobres. Desde que sejam importadores do produto subsidiado. As estimativas mostradas na Tabela 10.6 indicam que uma Rodada Doha bem‑sucedida prejudicaria, de fato, a China. Por quê? Porque a China, que exporta mercadorias manufaturadas e importa alimentos e outros produtos agrícolas, seria prejudicada com a remoção dos subsídios agrícolas.


188 - Os principais jogadores de Doha segundo os autores:  O resultado foi um impasse. Os Estados Unidos e a União Europeia culparam o Brasil e a Índia por não estarem dispostos a abrir seus mercados para mercadorias manufaturadas, enquanto o Brasil e a Índia acusaram os Estados Unidos e a União Europeia de fazerem muito pouco na agricultura.


189 - Existem alguns casos importantes nos quais as nações estabelecem acordos de comércio preferencial, pelos quais as tarifas que eles aplicam entre seus produtos são menores do que as taxas dos mesmos produtos que vêm de outros países. O GATT proíbe em geral tais acordos, mas faz uma exceção um tanto estranha: é contra as regras o país A ter tarifas aduaneiras menores nas importações do país B do que nas importações do país C, mas é aceitável se os países B e C concordarem em ter zero tarifas entre seus produtos. Isto é, o GATT proíbe os acordos de comércio preferencial no geral, como uma violação do princípio NMF, mas permite‑os se eles resultarem no livre comércio entre os países que os acordam.


190 - O Acordo de Livre Comércio da América do Norte, que estabelece o livre comércio entre Canadá, Estados Unidos e México, cria uma zona de livre comércio: não existe nenhuma exigência no acordo de que, por exemplo, o Canadá e o México tenham a mesma taxa de tarifa aduaneira em produtos têxteis da China.


191 - Ao final, dão exemplos matemáticos bem simples de como uma união aduaneira pode desincentivar, a depender da tarifa, a importação de opções mais baratas fora dela. Um "desvio do comércio". Em alguns casos, as perdas podem superar os ganhos que havia antes da união (tarifa + produto produzido de forma mais eficiente, permitindo uma boa tarifa).


192 - UE: Isso vem sendo possível na Europa por inúmeras razões, incluindo a crença de que a união da economia vai ajudar a consolidar a aliança política pós‑guerra entre as democracias europeias. (Um dos fundadores da União Europeia brincou uma vez que iria erguer uma estátua de Joseph Stalin, sem cuja ameaça a União nunca teria sido criada.) Mas em outros lugares faltam essas condições. As três nações que formaram o NAFTA teriam muita dificuldade em ceder controle sobre tarifas aduaneiras para qualquer órgão supranacional.


193 - O ruim de ser só "livre-comércio" é que as alfândegas continuam burocráticas, a fim de checar as "regras de origem". Essa camiseta que vai sair do México para os EUA é mesmo um produto mexicano (livre-circulação)? Ou é uma importação de Bangladesh que veio por uma tarifa menor (México) e está tentando driblar a maior (EUA). Suposição.


194 - Banana como símbolo de liberdade na Alemanha realmente me surpreendeu. Brigou com a UE pelo direito de importá-las da América Central (40% mais barato). Os demais países da zona queriam proteger suas ex-colônias, digamos assim. Certamente por acordos por lá. Quando finalmente convenceram a Alemanha, outro problema: Em 1995, os Estados Unidos entraram na briga, alegando que ao se intrometerem com o sistema de preferências já existente, os europeus estavam prejudicando os interesses não só das nações da América Central, mas também os de uma poderosa corporação norte‑americana, a Chiquita Banana Company, cujo CEO havia doado grandes quantias tanto para políticos democratas como para republicanos. OMC se inclinou para os EUA. Viu como violação. Em 2001, a Europa e os Estados Unidos concordaram com um plano para acabar com as quotas de importação da banana ao longo do tempo. (Detalhe: teve mais briga depois disso).


195 - Desvio do comércio e Mercosul: ...um estudo preparado pelo economista de comércio chefe do Banco Mundial concluiu que apesar do sucesso do Mercosul em aumentar o comércio regional (quer dizer, porque esse sucesso veio à custa de outros comércios), o efeito líquido nas economias envolvidas foi provavelmente negativo. Citam como problema, por exemplo, o aumento das vendas da "indústria de automóveis brasileira altamente protegida e um tanto ineficiente".


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