Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva - Capítulos 11 e 12

                                                                                                                                                                    

Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva



Pgs. 114-125


"CAPÍTULO 11: "O Grande Ataque"


94 - Os primeiros socialistas: Este ataque se deu especialmente na França, liderado por Claude Henri Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e Pierre Proudhon. Pouco depois, na Alemanha, Ferdinand Lassalle (1825-1864) e Ludwig Feuerbach (1804-1872) fizeram críticas semelhantes.


95 - Fato curioso da parte mais avançada da vida de Marx: Marx sustentou-se graças ao The New York Tribune, genitor do futuro New York Herald Tribune e baluarte dos republicanos americanos - um fato que todo membro decentemente ardoroso do Partido Republicano moderno deveria estar ciente.


96 - Os amigos do jovem Marx pertenciam à elite social local; seu casamento com Jenny von Westphalen, filha do barão Ludwing von Westphalen, o cidadão mais proeminente da cidade, foi coerente com a sua posição, e a família von Westphalen foi uma com a qual ele estabeleceu um relacionamento íntimo e afetuoso.


97 - Influência de Hegel: De Hegel, ou mais precisamente do formidável, e por vezes estarrecedor, agregado do pensamento de Hegel, surgiu uma ideia de suma importância, uma que já vimos em forma bastante elementar na obra de Friedrich List: a noção de que a vida econômica, social e política sofre um processo de transformação constante. ... mudança continua à qual os economistas e as ideias econômicas têm que se adaptar. Este é o legado de Hegel e de Marx. Não haveria a tendência ao equilíbrio final imutável que tanto agrada aos clássicos e neoclássicos.


98 - Lembra que o jornal do jovem Marx foi fechado por diversas "heresias cumulativas", digamos assim. Vai citando algumas lá.


99 - Outro fato curioso é que, antes de ir para a Inglaterra, no pós-revolução de 1848, pensou em ir aos Estados Unidos. Porém faltava-lhe dinheiro para a passagem. Galbraith observa que a história do mundo poderia ter sido de algum modo bem diferente em razão de alguns dólares ou libras. No seu refúgio em Londres, ainda tinha 31 anos de idade.


100 - Schumpeter: Joseph Schumpeter, que decididamente não foi um dos seus discípulos, escreveu que ”ele era acima de tudo um homem muito erudito", acrescentando que “nas páginas de Marx, o frio metal da teoria econômica está imerso em tamanha riqueza de frases fervilhantes que adquire uma temperatura que não é naturalmente a sua".


101 - Marx advertia ainda os trabalhadores que o primeiro objeto de sua atenção revolucionária deveria ser não os grandes capitalistas que eram a fonte deste poder de produção, mas os ”remanescentes da monarquia absolutista, os proprietários de terras, o burguês não-industrial, a pequena burguesia" que São os inimigos do poderio e das realizações do capitalismo.


102 - As críticas fundamentais segundo Galbraith: distribuição desigual do poder e da renda; suscetibilidade do sistema às crises e desemprego e a tendência ao monopólio (aqui acho que mais desenvolvida por Lênin). O poder, nesta sociedade, pertence ao capitalista e sua propriedade. Ao trabalhador, só resta segui-lo. A renda dela proveniente compra a obediência e a submissão de pessoas que não têm propriedade e, portanto, nenhuma forma alternativa de renda. O poder burguês chega ao Estado e mesmo aos teóricos sociais. São as "ideias dominantes" da época.


103 - Leis de produção podem ser dadas pela natureza - leis de retornos decrescentes, por exemplo -, mas as de distribuição são criadas pelos homens (embora escondam isso). Achei curioso que Galbraith dá uma linguagem marginalista à teoria de Marx. O capitalista se apropria, segundo ele, do excedente produzido pelos trabalhadores mais produtivos que o trabalhador marginal. Bem, é uma forma de ver as coisas. 


104 - A tendência à concentração do capital levaria ao monopólio e colapso. Crises constantes também., O trabalhador, cada vez mais "socializado" pelo próprio mecanismo do capital, seria o responsável por enterrar o modo de produção capitalista.


105 - Coloca que o capitalismo mudou e se adaptou. O "Manifesto" defendia, por exemplo, como reformas: imposto de renda progressivo, fim do trabalho infantil e educação gratuita. De certa forma, tudo isso veio. Outros pontos vieram parcialmente. 


106 - Segundo Galbraith, as reformas sociais ajudaram a salvar o capitalismo. Juntamente com as reformas contrarrevolucionarias que ele foi obrigado a defender — mesmo em sua época — reformas que incluíam pagamentos de seguridade social (renda proveniente de fora do sistema produtivo) para os velhos, os desempregados, os incapacitados e os jovens —— havia o efeito ainda maior da tremenda força produtiva do capitalismo, uma força que o próprio Marx costumava ressaltar. Com isso poderia haver uma grande efusão de mercadorias, que acabariam chegando até as massas trabalhadoras e agiriam como um manto sobre a miséria e a insatisfação.


107 - ...Por fim, diz que talvez Marx não tenha enxergado o potencial da burocracia (gestores):  ...talvez o capitalista implacavelmente agressivo cedesse lugar a uma organização mais branda, mais disposta a concessões: uma burocracia empresarial. O poder dominante não seriam então os capitalistas, mas os tecnocratas e os funcionários de organizações, os burocratas.



Pgs. 126-139


"CAPÍTULO 12: "A Personalidade Distinta do Dinheiro"


108 - No início, só para relembrar, a moeda era uma mercadoria como qualquer outra, exceto pelo fato de suas características físicas permitirem que fosse dividida em partes com pesos diversos mas determinados, e de ter um valor suficientemente elevado para poder ser facilmente transportada em pequenas quantidades. Era um meio de troca e, de certa forma, um armazém prático de valor.


109 - Já nos tempos antigos, começou-se a pensar formas de tirar mais "poder" do dinheiro, digamos assim.  A expressão “adulteração da cunhagem" tornou-se sinônimo de depravação pública. Esta prática, nos últimos Séculos do Império Romano, era vista como sintomática da decadência moral que levaria ao seu declínio e queda. Porém, o papel do dinheiro continuaria tímido. Os bancos só começam a surgir na Idade Moderna.


110 - Banco de Amsterdam: Este banco, a partir de 1609, começou a aceitar moedas não só das mais diversas cunhagens como também as intencionalmente adulteradas. Estas eram pesadas e os seus verdadeiros teor e valor deterrninados, recebendo seus donos uma estimativa honesta para fins de depósito. Logo surgiam outros bancos depositários em outras cidades holandesas — Roterdam, Delft, Middelburg - e, com o passar do tempo, também outros bancos semelhantes em outros países. Inicialmente, não havia alavancagem, mas isso durou pouco. Logo logo, os bancos estariam emprestando/criando dinheiro novo e enriquecendo com os juros. 


111 - ...Depósitos e notas bancárias passaram, juntos, a exceder o valor do metal que os lastreava, o que só seria problema em caso de pânico e corrida bancária. Para que os bancos não abusassem desse poder, foram surgindo as regulamentações. (Infelizmente Galbraith não dá muitas datas).


112 - Os primórdios da senhoriagem/imposto inflacionário: O último grande passo que conferiu a moeda sua personalidade própria e distinta foi dado quando reis, príncipes e parlamentos perceberam que a criação de dinheiro poderia ser usada como substituto de impostos ou como alternativa para os empréstimos negociados com financistas exageradamente petulantes ou relutantes. Já na antiga Roma viu-se indícios , desta mesma descoberta, quando a cunhagem do Império foi adulterada para permitir um volume maior de pagamentos com um dado lote de metal - isso como alternativa à cobrança de impostos para suprir as necessidades dos imperadores e do Império. Mais tarde, o Estado passaria a emitir títulos públicos.


113 - ...Na Grã-Bretanha, as emissões de notas do Banco da Inglaterra ajudaram a financiar as guerras contra Luís XIV nas últimas décadas do século XVII. O mesmo ocorreu na França de 1716 a 1720, quando John Law, talvez o canalha financeiro mais inovador de todos os tempos, salvou o endividado e incompetente regente, Philippe, duque de Orléans, com as notas do Banque Royale.


114 - Na prática, revoluções modernas - como a americana, a francesa e a russa - e guerras (Secessão, por exemplo, com as "Greenbacks") já foram financiadas por títulos governamentais antes mesmo da existência de qualquer banco central.  E se o valor das notas emitidas ultrapassasse qualquer lastro possível em moeda metálica disponível, a conversão de notas em moeda era simplesmente suspensa. Ao léxico econômico acrescentou-se uma nova frase: “Eles abandonaram o padrão-ouro".


115 - Galbraith vai mais longe. Várias colônias americanas praticavam nítido expansionismo monetário (embora houvesse divergências internas), emitindo cédulas com maior ou menor afinco. Rhode Island, para falar a verdade, “agiu com incontrolado desvairio: suas notas eram vistas com desprezo, ou talvez alarme, até mesmo em Massachusetts. Isso duraria até a reação da metrópole, que pareceu julgar tudo um "carnaval": Em 1751, o Parlamento em Londres, expressando o ponto de vista mais respeitável, proibiu a emissão de papel-moeda na Nova Inglaterra e cerca de dez anos depois estendeu a proibição às outras colônias


116 - Os quatro anos de guerra civil (Secessão) levariam a uma duplicação dos preços. Tendo em vista a farra da emissão monetária e os prejuízos à economia real, Galbraith achou até pouco.


117 - Coloca que, no interior dos EUA, até barbeiro e comerciante emitia cédula. O First e o Second Bank, que tentaram disciplinar os bancos menores/dos estados até por volta de 1828, enfrentaram forte oposição política e acabaram não vingando. Só depois de oitenta anos o cenário político americano permitiria uma terceira tentativa de estabelecer uma força disciplinar, neste caso o Federal Reserve System.


118 - ...Que os bancos livres tenham sido bons para a expansão dos negócios no interior é algo que o pensamento clássico honrado recusou-se a admitir até hoje.


119 - Após a Guerra de Secessão, só os bancos nacionais podiam emitir notas e devidamente lastreadas em títulos governamentais. Finalmente, em 1873, numa outra medida que na época pareceu inócua, o país voltou a adotar o padrão-ouro.


120 - A deflação foi comum em boa parte da segunda metade do século XIX. Especialmente os preços agrícolas acumularam grandes quedas.  Em 1878, o Partido Greenback, que opunha—se à retirada total das cédulas e instava, ao invés, que mais delas fossem impressas, obteve mais de um milhão de votos em dezesseis Estados, conseguindo eleger nada menos que 14 congressistas. Nunca antes na história uma política monetária trouxera tamanha força política. O partido não conseguiu aumentar a circulação das Greenbacks como pretendia, mas a eliminação das cédulas foi interrompida e estas, num total de cerca de um terço de bilhão de dólares, continuaram circulando até depois da Segunda Guerra


121 - ...Interessante que esse "monetarismo" - termo usado por Galbraith - queria combater era a deflação. Foram atrás do Partido Democrata. As dívidas - crescentes em valor real - também incomodavam. Como a prata tornara-se barata e fartamente disponível, acreditava-se que a sua “livre cunhagem" - para usarmos um slogan premente da época - incrementaria munificentemente a oferta de dinheiro. (...) Três séculos depois que a prata efetuará uma revolução nos preços do capitalismo mercantil, esperava-se que o mesmo metal efetuasse novamente a mesma maravilha. Referência à prata das colônias espanholas. Enfim, não houve vitória eleitoral. 


122 - Depreciação da moeda, de qualquer modo que fosse, era algo extremamente nas universidades estadunidenses, ainda que elas fossem bem menos influentes que no final do século (creio que se refere ao XIX). 


123 - Fisher era dos EUA. ...Um eugenicista; um ardoroso defensor da Lei Seca, que ele concebia como um artifício poderoso para aumentar a produtividade da mão-de-obra; e, igualmente importante, um especulador pessoalmente calamitoso no mercado de ações. Com a TQM, o que antes "se sentia" virou "teoria oficial", digamos assim.


.


Comentários