Livro: Fernando Carvalho ... and Sicsu - Economia Monetária e Financeira - Capítulos 15 e 16
Livro: Fernando Carvalho, Luiz Fernando De Paula and Joao Sicsu - Economia Monetária e Financeira (2007)
Pgs. 223-235
"CAPÍTULO 15: "RELAÇÕES E MERCADOS FINANCEIROS"
201 - Schumpeter, como já dito, localiza no desenvolvimento de sistemas organizados de crédito a libertação do empreendedor da necessidade de nascer rico.
202 - O capítulo, no geral, é mera conceitolândia dos tipos de mercado.
203 - A mera possibilidade de colocação do ativo em um mercado secundário contribui para acalmar os temores dos investidores, permitindo aos emissores do papel pagar uma remuneração menor ao comprador. Deste modo, mercados secundários líquidos e organizados contribuem indiretamente para o financiamento da atividade de investimento.
204 - Mercados públicos versus mercados privados: Mercados de balcão são bastante importantes no segmento de crédito, por exemplo, onde critérios de alocação sejam aplicados a clientes de forma diferenciada pela instituição financeira. São também importantes em segmentos dos mercados em que é importante a personalização das condições contratuais, como no caso de muitos derivativos. A existência de mercados de balcão permite a coexistência de contratos caracterizados por termos amplamente diferentes entre si. Exemplo de público: bolsa de valores.
205 - Mais conceito: ...relações desintermediadas são aquelas em que o emprestador último retém consigo diretamente obrigações do tomador final, como, por exemplo, na colocação de commercial papers junto a fundos de mercado monetário, ou de bônus emitidos por empresas ou governos junto a fundos de pensão, ou de ações de empresas junto a famílias ou fundos de investimento. Nesse tipo de relação financeira o papel da instituição financeira é diverso do anterior, limitando-se à promoção da colocação de papéis, isto é, à corretagem de valores, portanto.
206 - A separação do risco do retorno: A partir dos anos 80, ..., emergiu com muita força uma inovação financeira de fundamental importância no sistema financeiro: os contratos derivativos. Estes são contratos cujo valor se deriva de outros contratos. Os riscos de um contrato são separados e negociados. Há os mercados de derivativos de crédito, onde os riscos dessas operações são negociados entre instituições financeiras.
207 - Há basicamente dois tipos de derivativos: os negociados em bolsa e os negociados em balcão, conhecidos pela sigla inglesa OTC (over the counter). (...) Os principais tipos de derivativos negociados em bolsa são os contratos futuros e opções. (...) Os derivativos de balcão mais conhecidos são os contratos a termo e os swaps. (...) Assim, em um swap de juros, a parte pode trocar um perfil de pagamentos de juros a uma taxa fixa por um perfil de taxas de juros flutuantes. Em um swap de câmbio, a parte troca a moeda em que sua obrigação está contratada pela moeda em que a contraparte tem a sua obrigação registrada.
208 - ...Como tal, derivativos permitem que os agentes façam políticas defensivas (chamadas de hedge) de forma mais eficaz. Mas toda operação com derivativos sempre envolve dois lados: para que alguém faça um hedge, é preciso que uma contraparte esteja disposta a assumir aquela aposta. Deste modo, derivativos podem ser também instrumentos de especulação, em que uma contraparte aposta ser capaz de manejar riscos melhor que os outros participantes do mercado. Envolve níveis de aversão ao risco diferentes também.
Pgs. 236-251
"CAPÍTULO 16: "BANCOS COMERCIAIS"
209 - Um estudo publicado pela OECD em 1995 mostra que, nas maiores economias de mercado, a porcentagem dos ativos detidos pelos bancos dentro do total de ativos das instituições financeiras em 1990 variava entre 37% nos Estados Unidos e 77% na Alemanha. No passado, esta proporção era ainda maior.
210 - Das notas bancárias e das letras de câmbio, a atividade criadora de meios de pagamento evoluiu para a aceitação de depósitos à vista. O banco moderno resultou da unificação dos dois tipos de instituição em uma única firma, capaz de criar meios de pagamento sob a forma de depósitos à vista, ao mesmo tempo em que faz a intermediação de recursos financeiros para tomadores finais. Em sua função de criador de meios de pagamento, pode-se dizer que bancos são instituições únicas dentro do sistema financeiro, ao passo que, enquanto intermediários financeiros, bancos concorrem com outros tipos de instituição.
211 - O banco comercial cria depósito à vista. Ele pode multiplicar juntando os "pouquinhos" de cada pessoa/empresa. Como é preferível manter saldos monetários transacionais em depósitos do que em papel-moeda, em princípio todos aceitarão “comprar” o passivo oferecido pelos bancos, isto é “aplicar” em depósitos apenas para ter o direito de fazer pagamentos pela simples transferência desses depósitos, desde que haja confiança nas instituições bancárias. A remuneração dos depositantes não se dá pelo pagamento de juros, mas pelo oferecimento da conveniência e da segurança das operações com depósitos. A garantia dessas aplicações, portanto, por meio do emprestador de última instância e dos seguros de depósitos, implica uma vantagem para os bancos enquanto intermediários financeiros em competição com outras instituições financeiras que não gozam das mesmas regalias. O outro lado da moeda, contudo, é que, em troca dessas garantias, os bancos comerciais ficam sujeitos a restrições de natureza regulatória normalmente mais duras do que aquelas que cercam a ação de outros tipos de intermediários.
212 - As regulações são para evitar irresponsabilidades. Apostas de alto risco. Moral hazard, confiando-se no emprestador de última instância (BC/Estado).
213 - Além dessas duas contas, a de empréstimos de capital de giro no ativo e a de depósitos à vista no passivo, os bancos mantêm ainda pelo menos outras duas em seu ativo. A primeira delas é o caixa. (...) Essa conta serve, assim, para o banco como uma conta de reservas voluntárias para fazer face a eventuais retiradas por parte do público. (...) A segunda conta típica dos balanços dos bancos comerciais existe por questões similares; é a conta de reservas compulsórias.
214 - Voltando especificamente às voluntárias...: Na verdade, os bancos podem manter reservas voluntárias sob duas formas. Reservas primárias são aquelas mantidas sob a forma de moeda em caixa (ou depósitos voluntários no Banco Central), disponíveis para uso imediato. A vantagem desse tipo de ativo é sua liquidez, sua disponibilidade. Sua desvantagem é não render juros. Reservas secundárias, em contraste, minimizam esta desvantagem, pois são aquelas mantidas em títulos de alta liquidez, como papéis de dívida pública para os quais exista um mercado secundário bem organizado. Esses papéis podem ser vendidos com facilidade, sendo substitutos próximos da moeda em caixa como forma de precaução contra retiradas de depósitos. Sua vantagem é oferecer algum rendimento, embora baixo, por conta de sua alta liquidez.
215 - Banco não gosta de manter reservas, pois não rendem juros. Logo, a exigência de compulsório pode evitar que os bancos se arrisquem demais às custas do emprestador de última instância.
216 - Explica lá bem e em detalhes o poder de multiplicação (criando mais meios de pagamento). O sistema de reservas fracionárias em si. A cada nova rodada, novos cálculos: ...Face ao novo valor dos depósitos, agora de R$ 190 o banco terá de recalcular suas reservas. As reservas voluntárias serão agora de R$ 9,50 (5% de R$ 190). Além disso, o banco tem de acrescentar mais R$ 4,50 às suas reservas compulsórias, para atingir R$ 9,50 (5% de R$ 190). Restarão disponíveis para reempréstimo, portanto, R$ 81, reiniciando-se o ciclo de empréstimos e redepósitos... Finaliza com a fórmula do multiplicador bancário, a qual irá variar com o tamanho das reservas (compulsórias ou mesmo voluntárias). (...) Se o banco pudesse ter de certeza que o público jamais resgataria efetivamente qualquer parte de seus depósitos, não seria preciso manter pelo menos as reservas voluntárias.
217 - Detalhe:...é importante ao banco constituir reservas, mesmo quando exista a possibilidade de apelar a um emprestador de última instância. ("Apelar ao emprestador de última instância passa ao público uma imagem de dificuldades, o que, por si só, pode contribuir para corroer a credibilidade da instituição.") O problema é deixar de ganhar juros. Há, assim, um dilema entre ser lucrativo (maximizando o volume de empréstimos) e ser seguro (maximizando a liquidez de seus ativos).
218 - O grande risco da reserva baixa: ...No caso dessas retiradas serem maiores que as reservas, isto é X>R, o banco poderá apelar ao emprestador de última instância, que vai lhe impor uma taxa de juros punitiva, p. É exatamente para evitar pagar essa penalidade que o banco mantém reservas. A teoria neoclássica resume assim a questão: ...a distribuição entre R e E se fixa no ponto em que o retorno sobre o empréstimo marginal é igual ao custo marginal de se sacrificar reserva:
219 - ...Entretanto... A teoria keynesiana quer complicar um tanto a questão: ...nesta abordagem a atenção está voltada para situações em que as incertezas são cambiantes e nem sempre são passíveis de descrição por uma função de distribuição de probabilidades.
220 - ...Inclusive Keynes escreveu: ...“O problema ante o banco não é quanto emprestar ... mas que proporção de seus empréstimos pode ser feita com segurança nas formas relativamente menos líquidas.” (...) A questão, assim, para o banco é buscar uma composição de carteira que atinja um equilíbrio entre a rentabilidade total e a liquidez do portfólio como um todo. Muita coisa dependerá do cenário macro: ...as escolhas ativas dos bancos dependem do estado de expectativas dos dirigentes dessas instituições.
221 - ...A natureza/composição do passivo é outro forte fator de influência: ...Se estes captam, por exemplo, principalmente por intermédio de depósitos à vista, sua necessidade de liquidez é maior do que se captasse através de depósitos a prazo, que permitem ao banco saber quando e quanto terá de pagar a seus depositantes. Deste modo, dependendo da natureza dessas obrigações, certos ativos serão preferíveis a outros, independentemente de qual seja o estado de expectativas dos banqueiros a respeito do retorno de cada um. Enfim, o quadro keynesiano é mais completo:
222 - Como se verá na seção seguinte, em uma economia capitalista como as que existem há pelo menos três séculos, o banco comercial nunca foi realmente um mero intermediário de poupança. A função bancária sempre foi melhor aproximada como sendo a de criador de crédito (e de moeda). Colocam, porém, que são, sobretudo hoje em dia, administradores de risco.
223 - .... Como administrador de riscos em geral, um banco comercial se distingue cada vez menos de um banco de investimento, de uma companhia financeira ou de uma cooperativa de crédito. Sua especificidade repousa no caráter único do seu passivo marcado pela existência de dívidas à vista e pela necessidade que isto coloca do estabelecimento de uma estratégia de defesa (hedge) que enfatize a disponibilidade de, ou a facilidade de acesso a, meio circulante. Assim, as reservas em moeda ou em ativos de alta liquidez, apesar de seu baixo rendimento, são características intrínsecas às estratégias de hedge dessas instituições. A preocupação com liquidez é, assim, inerente à natureza da instituição bancária.
224 - Depósito primário é dinheiro novo de certa forma. Não veio transferido de outro banco. ...se a preferência entre meio circulante e depósitos é dada, o volume de depósitos primários só pode crescer se o governo cria mais meio circulante. Pode-se, portanto, dizer que a criação de depósitos primários é exógena ao sistema bancário. (...) Depósitos secundários são aqueles criados endogenamente pelo sistema bancário, isto é, em resultado da operação dos próprios bancos. (...) Depósitos são “promessas” de entrega de meio circulante. Se o público aceita estas promessas como substitutos perfeitos do próprio meio circulante, é possível criar depósitos mesmo sem se ter em caixa o meio circulante correspondente aos depósitos existentes. Este é, como vimos, aliás, o princípio em que se baseia o sistema de reserva fracionária.
225 - ...Reservas compulsórias funcionam como freios que limitam a capacidade que um banco tenha de criar depósitos, que, de outra forma, seria infinita.
226 - Conclui-se que a política monetária dependerá muito do que os bancos farão também. Até pela questão das reservas voluntárias.
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