Livro: Fabio Giambiagi... - Desenvolvimento Econômico... (2013) - Capítulo 2
Livro: Fabio Giambiagi, Veloso, Pedro Cavalcanti and Pessoa - Desenvolvimento Econômico, Uma Perspectiva Brasileira (2013)
Pgs. 60-83
"CAPÍTULO 2: "DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA BREVE INCURSÃO TEÓRICA"
39 - Texto de Carlos Eduardo Soares Gonçalves.
40 - Na verdade, o modelo de Harrod-Domar precede Solow, mas no julgamento ele não tem a mesma importância para o desenvolvimento subsequente da literatura de crescimento.
41 - Solow: Nesse modelo, a produtividade total dos fatores (PTF), que capta a eficiência com que os insumos são utilizados, é tomada como exógena, ou seja, é determinada fora do escopo do modelo.
42- Mudando de modelo, o clássico modelo de Ramsey, popularizado pela sua versão Cass-Koopmans, nada mais é que um modelo de Solow mais sofisticado, no qual a taxa de poupança advém endogenamente de um problema de maximização intertemporal da utilidade de um agente econômico representativo.
43 - Aqui temos a mesma discussão do capítulo passado, que talvez tenha nascido neste evento: ...A análise econométrica realizada por Mankiw, Romer e Weil (MRW), no início dos anos 1990, testou o modelo de Solow (com capital humano) em um arcabouço estatístico simples de mínimos quadrados ordinários. Esse artigo ficou famoso ao sugerir que uma regressão múltipla das mais simples seria capaz de explicar cerca de 80% da variação de nível de renda observada numa amostra relativamente grande de países. (...) Mas o otimismo logo esvaneceu. Em artigo divisor de águas nessa ramificação empírica da literatura, Islam, usando técnicas de econometria de painel, demonstra que o achado daqueles autores não é válido. (...) países mais produtivos tendem também a poupar e investir mais, e, portanto, se a PTF de cada país não estiver “controlada” no modelo estimado, seu efeito aparecerá, indiretamente, na forma de um coeficiente artificialmente elevado do parâmetro de investimento. PTF influencia, talvez fortemente, a taxa de poupança/investimento. Um rodapé critica também a medida de capital humano usada por MRW, mas diz que essa discussão é aprofundada no capítulo 7.
44 - Paul Romer e o modelo AK: Para obter crescimento endógeno de longo prazo – em oposição ao crescimento exógeno de Solow e Ramsey –, o autor postula que os investimentos em capital físico de cada firma individual em dada economia geram externalidades positivas para o conjunto de todas elas. Nessa formulação, o progresso tecnológico vem então acoplado, ou melhor, indistinguível do processo de acumulação de capital. A intuição econômica subjacente é que realizar investimentos em máquinas e equipamentos acaba gerando aprendizado tecnológico que, de alguma forma, transborda para todos os agentes da economia. (...) Com essa estrutura, Romer consegue gerar um modelo de crescimento no qual desaparecem os retornos decrescentes de escala no nível da economia: os ganhos de produtividade global associados aos investimentos individuais contrabalançam os rendimentos decrescentes de escala no nível das firmas
45 - ...Nessa categoria de modelos em que investimento e PTF são quase sinônimos, o crescimento é função de tudo o que afeta a taxa de poupança líquida da economia (pois ela tem ligação íntima com o investimento), como: grau de impaciência do agente representativo (ou seja, suas preferências em relação ao consumo futuro e ao consumo presente), tributação, taxa de depreciação etc. Segue-se que medidas de política econômica que incentivem a poupança e o investimento podem, nesse universo teórico, afetar permanentemente a taxa de crescimento do PIB.
46 - ...esse tipo de modelo prevê que países com maior taxa de poupança apresentam mais rápida expansão da PTF, o que, porém, não se verifica empiricamente.
47 - Não explica muito, mas os novos modelos teriam começado ainda com Romer: O “pulo do gato”, em termos de estratégia de modelagem, está no fato de as firmas produtoras de inovação, diferentemente das do setor de bens finais, não estarem inseridas em um ambiente de competição perfeita. É justamente essa característica de monopolista-inventor de certa variedade de insumo produtivo que as possibilita colher lucro econômico positivo, o qual por sua vez financia o custo fixo associado à atividade de inovar. E com uma função de produção de bens finais do tipo Dixit-Stiglitz, maior número de variedades é sinônimo de maior produtividade. (...) Os modelos dessa classe, incluindo os de natureza schumpeteriana a la Aghion e Howitt e similares – em que variedades novas de insumos deslocam variedades antigas e de menor qualidade para fora do mercado, em um processo de destruição criativa –, respondem, portanto, a uma das principais críticas feitas a seus antecessores, tornando endógena a evolução do parâmetro tecnológico. O problema é que, empiricamente, essa maior variedade de insumos no P&D não está associada, segundo Jones, a taxas de crescimento maiores.
48 - ...O consenso sobre esses modelos parece ser de que são úteis para explicar a expansão da fronteira tecnológica, mas não as divergências de renda entre os países. Note-se que não há contradição no parágrafo precedente, dado que um país não precisa produzir domesticamente sua própria matriz tecnológica para crescer, podendo importar ideias através das fronteiras, adaptando-as às circunstâncias locais a baixo custo. Um rodapé faz um complemento bem breve: ...para países desenvolvidos, diferenças em gastos com P&D parecem mais relevantes para explicar diferenciais de renda por habitante. Ver Helpman (2004).
49 - Economia Política (acho que Acemoglu dá explicações para isso... Do que eu lembro do fichamento): Edward Prescott e Stephen Parente formulam sua tese de economia política a partir da constatação empírica de que alguns países deixam de adotar tecnologias e práticas de produção mais eficientes e amplamente disponíveis em escala mundial sem aparente motivo econômico que justifique tal escolha.
50 - ...Seria falta de capital humano para lidar com as melhores "matrizes"? ...“Desníveis de capital humano explicam a inabilidade de alguns países em adotar técnicas sofisticadas, ainda que elas estejam em princípio acessíveis a qualquer um.” O problema com essa linha de raciocínio é que, mesmo em países ricos, com nível de capital humano similar, existe enorme variabilidade de produtividade setorial.
51 - ...A tese de Prescott e Parente é de que "insiders", temendo que suas habilidades se tornem obsoletas, organizam-se contra a mudança tecnológica. Quase um ludismo. (Pois bem, sei não... Podem ser elites locais temendo desestruturações sócio-políticas trazidas por inovações. A não ser que ele não esteja falando só de trabalhadores...). A adoção da inovação passa a implicar elevado custo de transação adicional.
52 - ...Soluções propostas: (i) políticas públicas de incentivo à entrada (competição exante) no mercado de bens, como, por exemplo, restrições burocráticas leves à abertura de novas firmas e simplificação de procedimentos (por exemplo, concessão de licença ambiental); e (ii) flexibilização do mercado de trabalho, permitindo rápido e fluido processo de destruição de vagas e concomitante geração de novos postos.
53 - ..Trazem um exemplo do início do século XX: ...decisão indiana de subutilizar maquinário já existente nas operações do chão de fábrica para impedir aumento do desemprego setorial.
54 - Barreiras à entrada e proteção demais ao emprego criariam baixa produtividade. A crítica que se faz a essa concepção é que os "insiders" (seja quem esse grupo abranger) poderiam muito bem simplesmente adotar a nova tecnologia e reduzir as horas de trabalho. Um acordo talvez. Mas por que respeitá-lo? No caso de Prescott e Parente, uma vez diminuído o poder de barganha dos “insiders” em vista de sua menor importância para o processo produtivo, por que o dono da firma optaria por seguir empregando um número muito alto de pessoas?
55 - ...Quando se chega as análises de Acemoglu, acho que temos um quadro mais completo, como imaginei: ...A ideia é que grupos politicamente bem organizados barram reformas que têm potencial de aumentar o tamanho do bolo econômico (e, portanto, em tese, poderia também beneficiá-los) porque maior “poder econômico” por parte dos “entrantes” os capacita, a posteriori, a tomar de assalto também o poder político formal. (Creio que há outras variáveis também, como o pensamento "curto-prazista" da próxima eleição ou coisas do tipo).
56 - PTF versus Tecnologia: Por fim, é importante enfatizar que a chamada PTF não é apenas uma medida de qualidade tecnológica a la Parente e Prescott, mas um índice mais amplo e geral de eficiência econômica. Essa distinção é também empiricamente relevante, visto que a pesquisa recente sugere que uma parcela importante das diferenças de PTF resulta de ineficiências na alocação dos fatores de produção (capital e trabalho) entre as firmas da economia.
57 - Cita trabalhos relacionando a PTF à qualidade institucional. Ainda que elaborada de forma distinta, o cerne da ideia de diferenças institucionais associadas à presença de colônias de povoamento e de exploração na América já pode ser encontrado em Prado Júnior. Os fatores relevantes para a escolha do tipo de colonização: ...(i) às vicissitudes do ambiente natural; (ii) à presença de recursos facilmente capturáveis e populações nativas bem organizadas que poderiam servir de mão de obra escrava; ou ainda (iii) a um tipo de solo propenso a culturas em que grande escala das propriedades/escravidão era a escolha tecnologicamente eficiente (...). Nas colônias de povoamento, foi criado o fértil solo institucional para o desenvolvimento futuro.
58 - Coloca que Cuba era duas vezes mais rica - renda por habitante, creio - que os EUA em 1700. O que mudou? Enquanto a vantagem comparativa associada à produtividade bruta do solo manteve-se como o fator econômico mais relevante, instituições ruins não levaram a baixo nível de desenvolvimento (mas “apenas” a extrema desigualdade). O grande descolamento só veio depois, com a chegada da Revolução Industrial, que muda a importância relativa dos fatores e gera a famosa reversão das fortunas. (...) Sociedades até então ricas por causa de sua abundância de fatores naturais, mas pobres institucionalmente (extremamente desiguais, com estrutura de poder centralizado e vertical, frágil garantia de direitos de propriedade, aversão à competição e baixo capital humano), não foram capazes de absorver para seu proveito o salto descontínuo associado à descoberta de novas tecnologias e às mudanças radicais nos processos produtivos. Já as sociedades menos ricas, mas com boa qualidade institucional, rapidamente copiaram o sucesso inglês, testemunhando enormes saltos de renda a partir do século XVIII.
59 - Henry e Conrad Miller colocam que o passado institucional está longe, porém, de ser tudo. Cita Barbados e Jamaica. Histórias parecidas até meados dos anos 60-70. Após, a independência dessas colônias, uma cresceu - renda per capita - à taxa de 0,8% (Jamaica) e outra à 2,2% (Barbados). Em 40 anos, 75% a mais de renda. De um lado, em Barbados, houve prudência fiscal, combate inflacionário e ajuste ao choque do petróleo através de uma política de “apertar cintos”; do outro, o jamaicano, houve populismo macroeconômico sob a forma de protecionismo crescente, aumento da intervenção estatal direta na economia, expansão gigantesca do déficit público (em média, igual a 16% do PIB entre 1973 e 1980) e surtos de depreciação cambial/inflação. Seria a importância da macroeconomia. Pode levar a muitos anos perdidos. Ou até décadas.
60 - Cita que há "evidências empíricas" dos seguintes fatos (segundo lembro, a literatura não-mainstream contesta alguns deles, como o da abertura comercial): Maior abertura comercial gera maiores níveis de desenvolvimento econômico, via ganhos de escala, importação de insumos intermediários de melhor qualidade, aprendizado tecnológico etc. (...) Inflação muito alta (acima de 20% em termos anuais) é prejudicial ao crescimento da economia, possivelmente por gerar migração de recursos escassos para atividades defensivas destinadas à proteção contra a perda inflacionária e também por nublar os sinais emitidos dos preços relativos da economia. (...) Déficits públicos elevados por muito tempo estão negativamente associados ao crescimento do PIB, possivelmente pela instabilidade econômica associada (mudanças de taxação inesperadas, inflação alta e volátil) etc. (...) Desigualdade elevada está associada a crescimento subsequente mais baixo. (...) Maior desenvolvimento dos mercados de crédito causa crescimento econômico mais acelerado, possivelmente por permitir melhor diversificação e, assim, assunção maior de riscos associados à atividade de inovar; alocar eficientemente a poupança da economia e, finalmente, atenuar os impedimentos à acumulação de capital humano e físico associados à desigualdade de renda.
61 - Enfim, vai pela linha das instituições e macro arrumado para explicar os diferenciais de PTF. Apresenta poucos dados, especialmente quanto à questão macroeconômica. Logo, creio que faltou desenvolver um pouco. Não coube no capítulo.
62 - Por fim, há um apêndice matemático, que demonstra algumas coisas que, intuitivamente, já dá pra saber (pra quem lê há mais de vinte anos sobre).
.
Comentários
Postar um comentário