Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto" - Capítulo 2

                                                                                      

Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto"


Pgs. 69-104


"CAPÍTULO 2: "A ossada dos tecelões manuais"


30 - Concorrer com a indústria têxtil inglesa? França e outros, de certa forma, tentavam pela fiação e tecelagem manual mesmo. Estados Unidos e outros apostavam em tecidos mais rústicos, que exigiam menor experiência e qualificação da mão-de-obra. Fato é que, antes da Segunda Guerra, nenhuma estratégia dessa foi suficiente para competir com os ingleses.


31 - Kuznets estima que a indústria francesa já representava 20% da renda nacional em 1815. Os artesanatos foram rapidamente modernizados. Teares a vapor iam substituindo os manuais aos poucos. Mesmo o que permanecia artesanal ganhava instrumentos mais eficientes. A ênfase era na qualidade, sendo um capitalismo "mais pessoal do que administrativo". No decorrer do século, foi ficando mais parecida com EUA e Alemanha. 


32 - Coloca que, ao contrário do que Marx pretendeu, os tecelões orientais ainda durariam mais do que o esperado, já que usavam fios importados para baratear seus tecidos. Amsden chama isso, porém, de uma vitória "pirrônica", já que concorriam mais por "baixos salários" que por "altas habilidades" (como era o caso nas inovações têxteis francesas). 


33 - Os tecidos importados ainda deixavam espaço para os feito à mão. Não eram substitutos perfeitos. Ao menos para quem podia pagar um pouco mais. Ademais, a produtividade "à mão" pode não ter ficado estagnada (Amsden, porém, é cética com tal hipótese e dá razões lá). China... Índia... Império Otomano... Todos passaram a importar muito mais. Porém, ainda existia a produção local. Estimativas diferem no quanto de cada coisa. Muitos desses países viram, ainda, o número de empregos no setor decair ou crescer de forma insuficiente. Amsden especula que a produção manual local continuou a partir de um empobrecimento - queda da remuneração real - do tecelão/artesão mesmo, que estaria aumentando a intensidade e/ou duração do trabalho para "competir" enquanto os preços dos produtos e até dos transportes (mais para o final do século XIX) ia caindo. Pra piorar, a queda do preço do fio importado não era superior à queda do preço dos tecidos.


34 - EUA: Na década entre 1814 e 1824, a indústria americana de tecidos de algodão já não se limitava a tomar emprestado processos de produção britânicos. Inovaram no tear a vapor, por exemplo. Cita outras. A má cópia de tecnologias inglesas gerava problemas, resolvidos muitas vezes com inovações. Resultado final: a produtividade cresceu continuamente durante o século, num ritmo até superior ao inglês. Porém, como "largaram atrás", não chegaram a alcançar o custo unitário de lá. Os investimentos ainda assim continuaram, pois havia proteção tarifária garantindo a competitividade.


35 - Ao analisar o México do período, constata maus administradores, pouco interessados em inovações ou mesmo em cópia/adaptação eficiente. Isso mesmo depois que o México melhorou seu horrível sistema de transportes (porém, tecidos contrabandeados de fora faziam sucesso mesmo nele). Afirma que os empresários mexicanos contratavam gerentes estrangeiros caros e não investiam em formação de habilidades e capacidades organizacionais necessárias pra diversificar a produção (ao que entendi, criavam holdings improvisadas/mal feitas). 


36 - ...Sugestão sobre os capitalistas mexicanos: ...era mais lucrativo (...) manipular os preços do algodão bruto e do tecido feito à mão sob barreiras tarifárias do que aspirar a se tornarem internacionalmente competitivos em tecidos ou fios. A proteção tarifária, porém, era vulnerável ao contrabando, de modo que a produção para o mercado interno era uma coisa morna.


37 - Tarifas eram irrisórias na China, Índia e Império Otomano, em razão do domínio colonial do início do século XIX. A produção dos indianos, por exemplo, é que sofria com impostos consideráveis de todo tipo. Só os britânicos eram isentos de alguns. 


38 - Os países independentes todos foram de "tarifa alta" e protecionismo, digamos, no pós-guerra (napoleônicas). Até na França, onde talvez não fossem necessárias, foram usadas por longo tempo. Entre 1781 e 1854, a França praticamente não importou fios ou tecidos. Traz tabela - págs. 94 e 95 - mostrando que as tarifas médias altas eram a regra em praticamente todo mundo menos o Reino Unido. Ao menos até 1950. EUA eram bem protecionistas, chegando a picos de 50%. Piso de 35% antes de 1950.


39 - As tarifas mexicanas não foram eficientes em barrar importações nem em promover o aprendizado interno. O preço no mercado interno foi quase sempre o dobro do praticado internacionalmente. 


40 - Há muito debate sobre a proteção tarifária dos EUA no Século XIX. Teria durado demais? Para alguns - havendo estudo até com inferência econométrica -, um livre-comércio teria dizimado a maior parte do valor agregado da indústria têxtil estadunidense. 


41 - China, Índia e Império Otomano não necessariamente prosperariam mais se tivessem tarifas, vide o exemplo mexicano. O déficit de habilidade pode ser muito amplo para que seja compensado apenas por esse instrumento. 


42 - Sobre déficit de habilidades no "resto", Amsden afirma que se davam em todos os três âmbitos: produção, execução de projetos e inovação. Havia previsão imprecisa de demanda; planejamento financeiro nulo e aquisição rudimentar de tecnologia. O custo inicial se tornava muito elevado nesses países. 


43 - Vai dando exemplos de fábricas mal geridas no "resto". Brasil em 1945: "raras as fábricas têxteis com uma contabilidade de custos sistemática".


44 - As fábricas japonesas não eram um ideal de eficiência, mas eram melhores, por exemplo, que as chinesas. Japoneses compraram usinas de algodão na China e apresentaram, lá, produtividade bem maior que as comandadas por chineses. Havia melhor administração. As condições eram as mesmas, mas usinas japonesas na China prosperavam enquanto as chinesas iam decaindo ou estagnando.


45 - ...Os principais cargos administrativos e técnicos eram ocupados por japoneses. Tudo isso dificultava a transferência de tecnologia pra China. Japão chegou a abocanhar 40% do mercado interno de têxteis da China, prejudicando também as exportações que da Índia para a China.


46 - Amsden coloca que havia uma série de conhecimentos difíceis de aprender para "copiar a produtividade". Isso em vários níveis. Do chão de fábrica aos proprietários, passando pelos gerentes médios, havia know-how que garantia os padrões mundiais de eficiência e implementação das decisões de investimento.


47 - A autora conclui que a "vitória" dos artesãos, proclamada pelos revisionistas, é falsa. Concorriam abaixando o próprio ordenado e recuando para mercados regionais de baixa renda geograficamente inacessíveis. Não houve "inventividade" da pequena empresa aqui.


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