Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto" - Capítulo 9
Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto"
III - Preparando-se para o confronto, a partir de aproximadamente 1980
Pgs. 431-486
"CAPÍTULO 9: "De mecanismos de controle a mecanismos de resistência"
270 - Brasil entre 1980 e 1995: as firmas estrangeiras (mínimo de 10% de patrimônio externo) aumentaram sua parcela em várias indústrias modernas, se tornando a maioria na produção total das mesmas.
271 - O que se fez antes das crises das dívidas foi crucial para determinar a vida ou morte do Estado "neodesenvolvimentista". Quem desenvolveu ativos baseados em conhecimento pôde evitar a aquisição pelos estrangeiros e continuidade de suas indústrias de alta tecnologia.
272 - Amsden coloca que as economias avançadas se especializaram na prestação de serviços, especialmente os financeiros, e, por isso, pressionaram, via "Washington", pela queda dos controles de capitais em países em desenvolvimento. Tudo isso teria levado a uma superexpansão (oferta com alta previsão de demanda que não se confirma) com posterior crise. Era o "livre comércio em serviços".
273 - ...A Coréia achou melhor ceder à liberalização financeira que ceder à pressão para valorizar o won (que operava desvalorizado) e prejudicar suas exportações.
274 - Amsden coloca que a taxa de investimento atingiu pico em todos os países, latinos e asiáticos, antes de suas respectivas crises. Seria o mercado financeiro reforçando a superexpansão inerente aos estados desenvolvimentistas. Quem mais teria escapado das crises no ano 2000 foram justamente os mais estatistas (creio que no sentido da não-liberalização financeira): China, Índia e Taiwan.
275 - ...Industriais internos também veem com bons olhos a liberalização, a fim de poderem ter acesso a crédito estrangeiro barato. México entre 1978 e 1982 (idem para Argentina e Brasil no período) e Coréia entre final de 1993 e final de 1997 tiveram um boom de endividamento externo.
276 - Imperialismo de livre-mercado: coloca que os EUA abriam mercados alheios ou por vias multilaterais (acordos e tal) ou unilaterais (processos judiciais visando liberalizar as importações em países que estariam supostamente cometendo infrações comerciais - casos de "Super 301", seja o que for isso...).
277 - Consenso de Washington e FMI: em tese, a política de "errar" (distorcer) os preços geraria má alocação de recursos, promovendo ineficientes indústrias de substituição de importações. Assim, a liberalização imposta nos programas de ajuda na balança de pagamentos alavancariam, também, crescimento econômico. Amsden resolveu testar a tese, calculando as mudanças alocativas num cenário de tarifas baixas.
278 - ...A liberalização, em tese, deveria ter levado a uma enorme mudança alocativa. Ou seja, no mínimo haveria contração de industrias ineficazes em resposta às forças de mercado. Os estudos econométricos mostraram, porém, mudança estrutural extremamente baixa. Aparentemente, não havia grande "misallocation". Nem mesmo no México ou Argentina. Aparentemente, os estados desenvolvimentistas do "Resto" não promoveu ramos ineficientes. Amsden adiciona, em outra comparação, que os setores líderes promovidos pelo Estado inclusive continuaram, no geral, a se expandir entre 1980 e 1995.
279 - Não usou PTF nas análises porque mesmo cuidadosas estimativas costumam apresentar resultados contraditórios sobre um mesmo país. Seria muito difícil estimar precisamente as mudanças em capital, produtividade e mesmo mão-de-obra...
280 - Afirma que Argentina, Chile e México careciam de um setor dinâmico o bastante para servir de motor do crescimento. Não envolviam alto grau de habilidades.
281 - A parte sobre regras da OMC e Gatt achei meio confusa. Não fica claro, pelos termos, pra leigo, o que exatamente podia e não podia entre 1980 e 2000. China e Taiwan, como não aderiram na época, podiam usar de maior gama de mecanismos de proteção industrial. Porém, segundo entendi, as regras da OMC, visando atrair cada vez mais membros, também não eram lá rigorosas. Abolia subsídio, mas permitia "subsídio seletivo", para desenvolver P&D. As tarifas baixaram, mas continuavam alta e poderiam ser aumentadas por alguns longos oito anos em situações "especiais". Havia um tal "RVE" que podia ser usado para proibir importações de vizinhos... E por aí vai. Até o México neoliberal (1995) fazia isso.
282 - ...Também havia muita polêmica - queixas/casos abertos antidumping - sobre o dumping. Índia, Brasil e México eram os maiores queixosos ao que entendi.
283 - ...Conteúdo local e ZEE's continuaram valendo. Pleito dos países em desenvolvimento.
284 - Está claro que o valor absoluto das fusões e aquisições e a extensão da propriedade estrangeira majoritária tendem a ser muito mais altos no países que "compram" (latinos na maioria) que nos que "fazem". A tecnologia e a "escala" "veem" do exterior. São os "integracionistas". Nos "indepedentes" - maioria asiática - as fusões e aquisições eram mais locais, afirma Amsden.
285 - Cita exemplo de diversificação de grupo comercial local em Taiwan. Expansão por vários setores, seja com aquisições ou por meio de joint-ventures com empresas de outro país. PEWC. Os cem maiores grupos industriais de Taiwan aumentaram sua participação no PIB entre 1986 e 1996 de 28,7 para 4,2%.
286 - O grupo comercial diversificado, do tipo zaibatsu, virou política oficial da China após Congresso do PC de 1997. No mesmo ano, 3000 empresas chinesas se fundiram. Mesmo antes já havia políticas de concentração "na marra", como os fechamentos de empresas de menor escala no setor das bicicletas. Havia um "ministérios das indústrias leves".
287 - Em 1997, uma das principais reações da Coréia do Sul a crise foi "forçar" os "grandes acordos", a fim de reestruturar os chaebol. Queriam combater investimentos sobrepostos/duplicados em vários ramos e a "concorrência excessiva". Houve fusões em vários ramos envolvendo os grandões (Samsung, Hyundai, LG...). A concentração se aprofundou em vários setores. Fusões levaram sete bancos a formar quatro megabancos, por exemplo. Os parceiros estrangeiros e empresas a serem fundidas "protestaram" contra essa solução, mas não adiantou.
288 - Sistemas de inovação e P&D na América Latina: bem fracos se comparável à Ásia. Setor privado gasta muito mais lá. Até a Índia se destaca com alguns centros de excelência. Traz tabelas. Coréia além de ter 2,8% do PIB (Brasil 1,2%) em gastos do tipo possuía 74% desse investimento como parcela privada. Na AL, a parcela privada não passava de um terço.
289 - ...Em meados da década de 1980, apenas 12% dos gastos totais do Brasil com P & D se deram no setor manufatureiro, enquanto 55% se deram em recursos naturais e agricultura, e 33% em serviços. Argentina? 4% no manufatureiro...
290 - Não aprofunda muito, mas narra políticas de incentivos a indústria/setores estratégicos na Coréia e depois na China, tudo baseado em ciência e tecnologia. (Ficou meio solto no livro). Abatimentos fiscais... juros especiais... aumento dos limites de endividamento. Exemplos de políticas chinesas. Eram "sistemas de inovação nacionalista".
291 - Enfim, a distinção fundamental dos anos 80 pra frente entre os países do "resto" seria entre independentes e integracionistas. Os segundos teriam apostado não em "fazer", mas em comprar tecnologia para fins de transbordamentos e transferências tecnológicas. Coloca que até meados dos anos 80 as instituições desenvolvimentistas eram bem parecidas e voltadas para os mesmos setores. Depois é que a coisa teria se diferenciado, digamos assim. Já a Argentina... Teria usado pouco ou errado o desenvolvimentismo desde sempre.
292 - ...O passo adiante do "resto" exigia tecnologia mais implícita e exclusiva. Quem optou por P&D próprio a fim de superar esse desafio teria se dado melhor. Volta a mencionar que a desigualdade pode ter exercido papel fundamental nessa escolha, pela necessidade de concentração de vultosos recursos em líderes nacionais, o que poderia agravar o problema onde ele já era bem grave.
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