Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto" - Capítulo 8 (PARTE "B")
Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto"
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Pgs. 395-430
"CAPÍTULO 8: "Empresas líderes nacionais"
247 - Não agravar a distribuição de renda era uma meta explícita do BNDES brasileiro. Com isso, não criou líder nacional em manufatura, afirma Amsden. O mesmo para a Argentina, que favoreceu dispersão e empresas de pequeno e médio porte. Até o percentual das empresas de capital aberto caiu entre os anos trinta e os cinquenta. O período de apoio a grandes grupos foi pequeno, em meados dos anos 70. A crise de energia, na verdade, começou um processo de desindustrialização. 20% das maiores indústrias fecharam entre 1975 e 1982.
248 - Cita a debilidade/pequenez da Argentina em diversos ramos industriais. Mesmo indústrias com décadas de história não cresciam.
249 - Afirma que o México também restringiu o porte de suas empresas nacionais. Entretanto, nos anos Salinas (1987-1991), apesar de alta abertura ao investimento estrangeiro, as privatizações impulsionaram muito mais os grandes grupos locais, sendo um período de concentração industrial, o que gerou, segundo entendi de um rodapé de Amsden, demissões, preços mais altos e ganhos de produtividade. Ainda assim, a concentração nem chegava perto da de Taiwan ou Coréia. Cita dados. Enfim, México também era um país de dispersão. A "Nafinsa" era quase tão radical quanto o BNDES.
250 - ...Dos dez grandes grupos do México que se destacavam nos anos 90, apenas um tinha competência central em manufaturas e tornou-se líder em P & D. Como os grupos brasileiros, os mexicanos haviam sido excluídos por padrões de desempenho vinculados ao crédito preferencial como pelo investimento estrangeiro.
251 - Índia combinou forte nacionalismo (investidores estrangeiros não eram exatamente bem vindos) e apoio a pequenas empresas. Enfim, a grande empresa nacional era negligenciada por um lado e beneficiada por outro - não era engolida pelo capital estrangeiro. Os bancos foram nacionalizados e direcionados a apoiar empresas de pequena escala. A produção de eletrodomésticos e componentes era feita principalmente por empresas ineficientes e com escala abaixo do ideal. Na maioria dos ramos, essa "reserva de mercado" foi um desastre.
252 - ...Entretanto, Amsden coloca exemplos de apoio concomitante a grandes grupos diversificados. A grande indústria também crescia e tirava vantagem dos incentivos governamentais para a promoção de exportações. Os grupos alcançaram as manufaturas, exceto no setor de eletrodomésticos em que a proteção governamental às pequenas era muito forte.
253 - Nos anos 90, a Índia aumentou a abertura. Simbólico: a IBM voltou ao país, por meio de uma joint-venture.
254 - Cita criação/difusão de estatais em países do leste asiático a fim de conter ebulições sociais decorrentes de desigualdades sociais ou raciais. Na Malásia, os conflitos raciais aceleraram a nacionalização de agências britânicas.
255 - As instituições financeiras de Taiwan, bancárias ou não, estavam totalmente nas mãos do governo. Controlavam os empréstimos e os endividamentos privados, logo, determinavam o porte das empresas. Amsden constata, por fim, que, quando o antagonismo entre taiwaneses e chineses continentais se abateu internamente, a concentração de mercado subiu (a "estatal mediadora" foi declinando como modelo).
256 - Malásia era o "grande" asiático mais aberto ao capital estrangeiro segundo entendi. Porém, também ambicionava emular a estratégia coreana de desenvolvimento, incluindo políticas de substituição de importações. Não se tratava apenas de abertura.
257 - Grupos familiares chineses prosperaram, internamente, tanto na Malásia como na Indonésia. Ou seja, os conflitos raciais não impediram a empresa privada nacional.
258 - A Coréia era o país mais racialmente homogêneo entre todos esses asiáticos. Também foi o que apresentou maior grau de concentração econômica. Park era um entusiasta explícito (traz escrito) da força do Estado formando empresas privadas mastodônticas. Não se tratava do caminho da livre-concorrência. O zaibatsu japonês era o modelo. Grandes empresas privadas e nacionais.
259 - Coréia dava tudo, mas exigia difíceis metas de exportação. Nos anos 90, como resposta à crise, governo coreano "obrigou" fusões e aquisições, aumentando ainda mais a concentração econômica. Amsden defende que a Coréia só pode se dar a esse luxo justamente por ser bastante igualitária.
260 - Traz dados de 1994 pra trás comparando PIB per capita e matrículas em universidade dos países do resto. Brasil só perdia para Argentina, Coréia e Taiwan em renda per capita, mas seus cerca de 10% de matrículas terciárias dava um índice inferior ao de Chile (uns 15%), Tailândia, México e Turquia. E era só um pouco acima da Indonésia. Enfim, vai ver foi por isso que fomos ultrapassados por todo mundo aí.
261 - ...Argentina e Coréia possuíam índice de 40%! Coréia já tinha bem mais PIB per capita porém. Nem tudo é educação.
262 - Brasil tinha um índice muito baixo de matrículas em engenharia para o seu PIB per capita. Cerca de 1%. China, por exemplo, mesmo lá atrás na época, já tinha quase 2% de matrículas em engenharia (do pessoal em idade universitária). Coréia e Taiwan tinham cerca de 8%! Chile e Argentina entre 4 e 5%.
263 - P&D: México e Argentina, pioneiros da industrialização entre o resto, tinham índices baixíssimos de investimento em P&D. Seja o público ou o privado. Na outra ponta, Coréia e Taiwan, que rivalizavam com Japão e o Atlântico Norte até. Brasil, Turquia e China também não chegaram a apresentar nada muito vistoso (1995 pra trás). Mesmo a Índia, terceira colocada, não chegou a 1% do PIB em pesquisa. Tailândia, Indonésia e Malásia também foram "quase nada" aqui.
264 - Percentual de engenheiros entre terciários/universitários. Cresceu em todos os asiáticos e no Chile entre 1960 e 1990. Nos países latinos e mesmo no Atlântico Norte, caiu.
265 - Critica os grandes grupos e empresas argentinas por falta de perícia administrativa, cenário em que investimento em P&D seria inútil até.. O grupo comercial Siam foi à falência por baixa produtividade. Produziam em duas vezes o tempo socialmente necessário.
266 - No Brasil, 62% do P&D, que já não era grande, vinha do Estado. Nos anos 90, mais ainda. A própria tentativa de criar uma indústria da computação envolveu investimentos fracos em pesquisa.
267 - Coréia e Taiwan começaram cedo e ganharam impulso rápido. Havia "coerção" para que as empresas investissem em P&D e incentivos fiscais/tributários. Havia também colaboração com agências do governo a fim de "desenvolver maestria tecnológica, com vistas à expansão no mercado global." O próprio governo investia bastante.
268 - ...A pressa pra investir em P&D veio do temor de que os salários se elevasse com o tempo e as empresas fossem perdendo competitividade. Anteciparam-se ao "problema". Ademais, temiam que as empresas estrangeiras passassem a se negar a vender tecnologia avançada (pra impedir engenharia reversa?). Os salários nas manufaturas - Coréia e Taiwan - subiram cerca de 8% ao ano entre 1969 e 1990. Enquanto isso, caíram ligeiramente na Argentina e México... Outros países: Brasil 5,6%. Chile 4.2%. China 3.1%. Índia 2,2%. Indonésia 5,1%. Os demais países asiáticos não passaram de 2,5%. Japão 3%. EUA 0,3%. Reino Unido 2,2% e Itália 3,4%.
269 - ...Aumentar o P&D e se globalizar foi a estratégia de reação a esse aumento. Incentivou-se a "fuga reversa de cérebros". Muitos laboratórios de P&D na Coréia e em Taiwan foram abertos por ásioamericanos. Houve subsídios financeiros e oferta de prestigiosos empregos para cientistas e engenheiros. Argentina e México não tiveram algo do tipo. Tinham altos índices de não-regresso dos estudantes.
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