Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto" - Capítulo 8 (PARTE "A")
Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto"
Pgs. 335-394
"CAPÍTULO 8: "Empresas líderes nacionais"
213 - Amsden coloca que as multinacionais praticamente nada investiam em inovação (P & D) nos países do "resto".
214 - Em 2000, somente a China, Índia, Coréia e Taiwan haviam investido substancialmente em seus próprios ativos baseados no conhecimento. Histórico comum? Ruptura no padrão da propriedade estrangeira após a descolonização e experiência manufatureira colonial. Ademais, tinham distribuição de renda igualitária.
215 - A propriedade familiar tem as vantagens da lealdade e possível criação, desde cedo, de altos administradores. Porém, pode ter limitações de acesso a fundos de capital (para não diluir o controle familiar) e ser reticente quanto a jogadas arriscadas e necessárias (medo de comprometer o patrimônio da família). Ademais, gestores podem ser desincentivados pela inacessibilidade dos cargos mais altos e os familiares mais novos podem interesses na empresa ou terem habilidade menor. O zaibatsu esteve entre os primeiros a flexibilizar para atenuar as fraquezas, oferecendo cargos de alta administração a gerentes assalariados.
216 - ...De toda forma, Amsden coloca que a propriedade familiar no "resto", além de comum, ainda tendia a manter os altos cargos com membros da família.
217 - As líderes nacionais no "resto", fossem públicas ou privadas, compartilhavam uma característica: elas tendiam a ser um produto da promoção do governo (a "seleção" [targeting]). Amsden chega a usar os termos "patronato governamental" e "spin-off estatal" para tratar do histórico das líderes nacionais privadas.
218 - Os governos do "resto" controlavam, por meio de licenças industriais e padrões de desempenho, a estrutura de mercado, porte, nacionalidade e organização das empresas. Escolhiam os ramos e as empresas que obteriam benefícios. Dá exemplo com a política industrial de Taiwan.
219 - O "resto" não tinha muitas empresas entre as 500 maiores do mundo mesmo em 1999. Porém, não eram exatamente pequenas. Faturavam de centenas de milhares de dólares da época até os bilhões em receita. Entre as 50 maiores do resto, incluindo alguns tipos de filiais e mesmo multinacionais, tínhamos faturamento de 6 a 74 bilhões de dólares (Hyundai) em 1993. Mais da metade da lista é de empresas coreanas. Traz tabela.
220 - ...Quanto à estrutura industrial do "resto", o Atlântico Norte e Japão possuíam notadamente mais participação de indústrias intensivas em capital e habilidades. Porém, a diferença, ainda relevante, vinha diminuindo entre 1980 e 1995 (traz figura). Indústrias intensivas em mão-de-obra e as de substituição de importações com grandes economias de escala na produção, como a refinação de petróleo, o aço e os produtos químicos industriais eram o ponto forte da estrutura industrial do "resto".
221 - Anatomia das 50 maiores empresas manufatureiras do "resto": umas 31 eram "grupos diversificados" (espécies de holdings ao que entendi); apenas 4 eram nacionais especializadas em um setor; empresas estatais e multinacionais completavam as 15 restantes. Os grupos iam adquirindo "habilidades genéricas de execução de projetos". Se a lista pudesse incluir as não-manufatureirasm o Brasil apareceria com inúmeros bancos e algumas construtoras. Só Bradesco, Itaúsa e finado Bamerindus faturavam, juntos, quase 50 bilhões de dólares. Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez apareceriam também.
222 - Taiwan possuía enorme poder de mercado em toda a indústria de hardwares. O país tinha tantas representantes entre as duzentas maiores empresas do "resto" que o Brasil, sendo que a população brasileira é 17 vezes maior. Tinha forte representação proporcional nas listas mais restritas também, pegando só as grandes. Na lista das 500 maiores do Financial Times (2000), o "resto" da Ásia (não entram Japão e China, porém) tinha 24 empresas e a América Latina apenas três. Quando se tratava apenas das empresas de alta e média tecnologia, Coréia, Ìndia e Taiwan tinham 63 empresas contra 19 da América Latina, em 1985, entre as 200 maiores empresas industriais do "resto".
223 - ...Mesmo com grande mercado interno, países como México e Brasil não conseguiram desempenho similar à "Ásia" em formar indústrias de grande porte.
224 - O investimento NO exterior de empresas asiáticas ("resto") também eram o dobro ou mais que o da América Latina. Esta última não operava no setor de alta tecnologia e nem ia muito além do investimento em países vizinhos. Trouxe tabela com os dados.
225 - Afirma que a presença desde sempre das multinacionais na América Latina - por volta de 1910 - inibiram o surgimento de grandes líderes nacionais em razão da "vantagem do primeiro lance" (mais à frente, Amsden ressaltará que não é, porém, em todo setor que há essa relação negativa). O IED manufatureiro chegou antes nos países latinos, via EUA especialmente, que na Ásia (via Japão, especialmente, já pelos anos 30).
226 - ...Grandes desigualdades de renda fora do setor manufatureiro também explicariam a diferença Ásia-AL. A família vivendo de quase-renda da terra. Acusa ainda a política industrial de países desiguais, como os latinos, de difundir recursos mais do que concentrar. Concentração seria temida por razões políticas. (Não explica muito além disso. Cita exemplo da exigência de dívida-capital baixa). Comprar tecnologia e "usar" multinacionais era, aqui, mais importante que aprender a fazer por si mesmo.
227 - ...Uma economia mais igualitária toleraria mais concentração em poucas indústrias submetidas a padrões de desempenho, o que leva a mais aprendizado. Fazer por si mesmo ganha importância em relação a comprar tecnologia.
228 - IED não servia para aumentar o P&D de um país. Na verdade, a tendência era até o contrário. Países com menos IED, possuíam maior investimento em pesquisa e inovação.
229 - Pós-guerra: Amsden coloca que a Ásia controlava muito mais a entrada de investimento estrangeiro. Até tetos de propriedade estrangeira existiam em alguns países. Coréia e Taiwan tentaram atrelar o capital externo aos objetivos nacionais: joint-ventures e afins, intencionando não perder o controle de suas empresas. Na América Latina, em contraste, os controles... sobre as empresas multinacionais eram fracos ou erráticos.
230 - Canadá era o único país com mais estrangeiros no controle (51%) do setor manufatureiro que todos os países do "resto". 39% na Malásia; 32% no Brasil; 29% na Argentina ; 27% México e Indonésia; 19% Coréia; 18% Tailândia e 8% Turquia. Índia 7%. Entre as cinquenta maiores empresas do "resto", apenas sete eram multinacionais, mas todas elas estavam na América Latina. Média e alta tecnologia era bastante estrangeira. Automobilística nacional relevante foi algo bem raro pelas bandas de cá, ao contrário do que ocorria na Ásia.
231 - Elogia as estatais do "resto". Por mais que não buscassem unicamente maximizar o lucro, serviram para realizar transferência tecnológica, fortalecer a administração profissional, investir em P & D e se tornaram campo de treino para o pessoal técnico e os empresários que posteriormente ingressaram na indústria privada.
232 - Cita CSN como mau exemplo. Inchada, sinais de compadrio. Usiminas, também estatal e do mesmo setor, trabalhava com só 2/3 do número de funcionários da CSN. Ambas tinham a mesma capacidade de produção.
233 - Problematiza que o financiador/projetador estrangeiro de algumas indústrias de base escolhesse também toda a tecnologia. A Índia teria uma experiência ruim assim com a URSS, por exemplo. Atrasos, tecnologia atrasada e "sem transferência", digamos.
234 - Cita "cases de sucesso", como a ex-estatal japonesa Shin Nippon Steel, que produzia com bastante eficiência. A Usiminas, segunda siderúrgica brasileira, foi criada como uma joint venture entre um consórcio japonês liderado pela Shin Nippon, que detinha inicialmente 40% do capital, e o BNDE, com 25%. Depois esses percentuais meio que se inverteriam, mas, de toda forma, a Shin Nippo continuou como principal influência de trabalho, dificultando os compadrios dos militares, que eram obrigados a focar na CSN e Cosipa. O experiente gestor Lanari Jr. focava nos ganhos de produtividade, mesmo quando isso envolvia contratar sistemas de controle administrativo que contrariasse o interesse japonês ("superemprego" a fim de garantir o perfeito funcionamento das máquinas deles, como propaganda).
235 - A Posco coreana também teve a Shin Nippon como professora, tendo ocorrido brilhante transferência tecnológica. Exportava 30% da produção mesmo havendo forte demanda interna. As reservas externas ajudavam a criar certa independência em relação ao governo. Na China também houve uma boa empresa-aluna da Shin Nippon.
236 - Na Usiminas, entre 1966 e 1976, 380 especialistas (243 de nível superior, 137 de nível médio) foram enviados ao exterior para treinamento ou cursos que duravam entre três e 24 meses. Isso era 6,5% dos investimentos totais em tecnologia. China e Coréia faziam o mesmo. Na época em que a China era mais fechada, isso era mais difícil e prejudicava a produtividade nas fábricas, devido ao aprendizado lento.
237 - As petroquímicas estatais serviam de treino para capital humano para as próximas "camadas de produção". Surgiam empresários gerindo químicas privadas. Plásticos e fibras sintéticas a serem vendidas pra uma "terceira camada".
238 - Proteção tarifária de petroquímicos: foi importante para o nascedouro na Rússia, EUA e Japão. Do contrário, a Europa continuaria sendo a fornecedora.
239 - A Coréia enfrentou "contra-recomendações" tanto referentes à Posco quanto ao programa de instalações petroquímicas. Não haveria mercado.
240 - Amsden coloca que Brasil e outros países produziram empresas grandes privadas de segunda camada (cita, por exemplo, o grupo Ipiranga), graças ao processo desencadeado pelas grandes estatais, segundo entendi. As estatais "difundiram capacidades para as empresas privadas".
241 - Coloca-se que mesmo as privatizações nos anos 90 foram feita de modo a preservar alguma força decisória dos governos, por meio de fundo de pensão dos funcionários e etc.
242 - Taiwan e Brasil adotaram liderança estatal no desenvolvimento de artigos eletrônicos, mas apenas o primeiro se deu bem. Não explica os porquês. No caso da Coréia - exceção que confirma a regra, afirma - a liderança foi privada mesmo. O governo ajudava com institutos de pesquisa - formação de capacidades.
243 - Coloca que poucos países foram efetivos na promoção de indústrias de ponta. Argentina, Chile, Malásia e México não tinham qualquer representante de alta tecnologia entre as duzentas maiores empresas nacionais do "resto".
244 - Coréia, Malásia e Taiwan tiveram superávits na balança comercial em artigos eletrônicos. Os países latinos tiveram significativos déficits. Porém, no caso da Malásia, havia muita operação de montagem. Não se tratava exatamente de projetos criativos de alta tecnologia ou algo do tipo.
245 - Volta a criticar o teto baixo dívida-capital imposto pelo BNDES. Menores que 1:1. Isso, em vez de concentrar, difundia recursos. Em média ficava uns 66% - dados de 1973 a 1982 - a relação dívida/capital. Já o Banco da Coréia financiava manufaturas com relação dívida-capital média de 373%! Enfim, coloca que o BNDES não servia para deixar as empresas realmente grandes. O grande mercado interno brasileiro não era explorado ao máximo pelas empresas nacionais.
246 - Coloca que o Brasil não era restritivo, como os asiáticos, com os investimentos estrangeiros. Nada de padrões de desempenho proibitivos. Multinacionais prosperavam em solo brasileiro.
(...)
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