Livro: Kahneman - Rápido e Devagar - Duas Formas de Pensar - Apêndices A e B

                                                                          

Livro: David Kahneman - Rápido e Devagar - Duas Formas de Pensar (2011)



Pgs. 294-302


"APÊNDICE A: JULGAMENTO SOB INCERTEZA: HEURÍSTICAS E VIESES"


483 - Trata-se de um artigo de 1974 dele com Amos Tversky. Ao que lembro, meio que foram as primeiras conclusões que balizariam todo um programa de pesquisa subsequente. 


484 - A avaliação subjetiva de probabilidade assemelha-se à avaliação subjetiva de quantidades físicas como distância ou tamanho. Esses julgamentos estão todos baseados em dados de validade limitada, que são processados de acordo com as regras heurísticas.


485 - Algumas partes são quase exatamente iguais a alguns capítulos do livro, logo, mesmo interessantes, deixei de anotar.


486 - A heurística da representatividade basicamente: ...quando A é altamente representativo de B, a probabilidade de que A se origine de B é julgada alta. Por outro lado, se A não é similar a B, a probabilidade de que A se origine de B é julgada baixa. Pode levar à negligência com a taxa-base ao julgar uma probabilidade. (Exemplo do "fulano é tipicamente de tal profissão bem específica). Cita experimento em que grupos desconsideraram quase que totalmente probabilidades iniciais dadas. Tipo a história do táxi.


487 - Aqui é e não é. Creio que colocam de uma forma meio exagerada a crítica à "falácia do jogador": Após observar uma longa série de vermelho numa roleta, por exemplo, a maioria das pessoas erroneamente acredita que a seguir deve dar preto, presumivelmente porque a ocorrência de preto resultará numa sequência mais representativa do que a ocorrência de um vermelho adicional. A possibilidade é comumente vista como um processo autocorretivo em que um desvio numa direção induz um desvio na direção oposta para restaurar o equilíbrio. Na verdade, desvios não são “corrigidos” à medida que um processo fortuito se desenrola, eles são meramente diluídos


488 - (Vai citando praticamente os capítulos do livro ao tratar dos efeitos negativos da representatividade.)


489 - Já foi comumente observado que os psicólogos que conduzem entrevistas de seleção frequentemente experimentam considerável confiança em suas previsões, mesmo sabendo da vasta literatura que existe para demonstrar como entrevistas de seleção são altamente falíveis.


490 - Negligência com a fatal regressão á média: Sugerimos que o fenômeno da regressão permanece elusivo porque é incompatível com a crença de que o resultado previsto deve ser em máximo grau representativo do input e, logo, que o valor da variável resultante deve ser tão extremo quanto o valor da variável de input.


491 - Estimativas/previsões não são afetadas apenas pela imparcial observação estatística, digamos assim. A recuperabilidade das ocorrências cria todo um painel na cabeça do sujeito. Mídia noticia mais algum tema e coisas do tipo... Ter "visto algo" também pode mudar erroneamente toda a impressão probabilística de algo acontecer.


492 - Experimento levemente diferente sobre ancoragem: Um estudo de estimativa numérica intuitiva ilustra esse efeito. Dois grupos de estudantes do colegial estimaram, em 5 segundos, uma expressão numérica que foi escrita no quadro-negro. Um grupo estimava o produto 8 x 7 x 6 x 5 x 4 x 3 x 2 x 1 enquanto outro grupo estimava o produto 1 x 2 x 3 x 4 x 5 x 6 x 7 x 8. (...) Pois bem: A estimativa mediana para a sequência ascendente foi 512, enquanto a estimativa mediana para a sequência descendente foi 2.250. A resposta correta é 40.320.


493 - Superestimamos eventos conjuntivos e subestimamos eventos disjuntivos (comprovou com um experimento). A conclusão bem-sucedida de uma empreitada, como o desenvolvimento de um novo produto, tipicamente tem um caráter conjuntivo: para que a tarefa seja bem-sucedida, cada um de uma série de eventos deve ocorrer. Mesmo quando cada um desse eventos é muito provável, a probabilidade global de sucesso pode ser muito baixa se o número de eventos é grande. A tendência geral de superestimar a probabilidade de eventos conjuntivos leva ao otimismo injustificado na avaliação da probabilidade de que um projeto será bem-sucedido ou de que um projeto será completado a tempo.


494 - ...Um sistema complexo, tal como um reator nuclear ou um corpo humano, funcionará mal se qualquer um de seus componentes essenciais falhar. Mesmo quando a probabilidade de falha em cada componente for pequena, a probabilidade de uma falha global pode ser elevada se muitos componentes estiverem envolvidos. Devido à ancoragem, as pessoas tenderão a subestimar as probabilidades de fracasso em sistemas complexos. Assim, a direção do viés de ancoragem às vezes pode ser inferida a partir da estrutura do evento. A estrutura em encadeamento das conjunções leva à superestimativa, a estrutura afunilada das disjunções leva à subestimativa.


495 - Especialistas e superconfiança: ...os participantes dos estudos declaram intervalos de confiança excessivamente estreitos que refletem mais certeza do que é justificada por seu conhecimento acerca das quantidades aferidas.


496 - Esses vieses não são atribuíveis a efeitos motivacionais tais como o wishful thinking (perseguir quimeras) ou a distorção de julgamentos por recompensas e penalidades. De fato, vários dos graves erros de julgamento relatados anteriormente ocorreram a despeito do fato de que os indivíduos foram encorajados a ser precisos e foram recompensados pelas respostas corretas. 


497 - Sobre todas as três heurísticas apresentadas no artigo, finaliza dizendo: Essas heurísticas são altamente econômicas e normalmente eficazes, mas levam a erros sistemáticos e previsíveis.



Pgs. 303-311


"APÊNDICE B: ESCOLHAS, VALORES E QUADROS"


498 - Este artigo é de 1983. Também é meio que repetição de alguns capítulos do livro. Claro que veio antes. 


499 - Assim como a concavidade do valor dos ganhos acarreta aversão ao risco, a convexidade do valor das perdas acarreta atração pelo risco. (...) A atração pelo risco no domínio das perdas foi confirmada por diversos pesquisadores (Fishburn e Kochenberger, 1979; Hershey e Schoemaker, 1980; Payne, Laughhunn e Crum, 1980; Slovic, Fischhoff e Lichtenstein, 1982). Também foi observada com resultados não monetários, como horas de dor (Eraker e Sox, 1981) e perda de vidas humanas (Fischhoff, 1983; Tversky, 1977; Tversky e Kahneman, 1981).


500 - Escolha "racional": A invariância exige que tais mudanças na descrição dos resultados não devem alterar a ordem de preferência. O seguinte par de problemas ilustra uma violação dessa exigência. O número total de participantes respondendo cada problema é indicado por N e a porcentagem que escolheu cada opção é indicada entre parênteses. Dá o exemplo da "doença asiática" de um dos capítulos. Perder ou salvar vidas humanas com certeza. Quando é apresentado em termos de "perda", as pessoas vão pra aposta. Variância conforme a descrição. A falha de invariância é tão difundida quanto robusta. É tão comum entre indivíduos sofisticados quanto entre os ingênuos, e não é eliminada nem quando os mesmos participantes respondem ambas as questões em alguns minutos. (...) efeitos de enquadramento se parecem mais com ilusões de percepção do que com erros computacionais.


501 - Bilhete de loteria de prêmio total x: A intuição sugere que o valor do bilhete não é uma função linear da probabilidade de ganhar, como acarretado pela regra da expectativa. Em particular, um aumento de 0% para 5% parece exercer um efeito maior do que um aumento de 30% para 35%, que também parece menor do que um aumento de 95% para 100%.


502 - ...os pesos de decisão são mais baixos do que as probabilidades correspondentes na maior parte da faixa. O subpeso atribuído a probabilidades moderadas e altas relativamente a coisas seguras contribui para aversão ao risco em ganhos ao reduzir a atratividade das apostas positivas.


503 - ...A exceção: Probabilidades baixas, porém, são superpesadas, e probabilidades muito baixas são bastante grosseiramente superpesadas ou completamente negligenciadas, tornando os pesos de decisão altamente instáveis nessa região


504 - ...O superpeso para probabilidades baixas reverte o padrão descrito acima: ele acentua o valor de apostas arriscadas e amplifica a aversividade de uma pequena possibilidade de perda grave. Consequentemente, as pessoas são em geral atraídas pelo risco ao lidar com ganhos improváveis e avessas ao risco ao lidar com perdas improváveis. Assim, as características dos pesos de decisão contribuem para a atratividade tanto de bilhetes de loteria como de apólices de seguro.


505 - A não linearidade dos pesos de decisão inevitavelmente leva a violações de invariância.


506 - Suponha que você esteja indeciso quanto a adquirir ou não um seguro contra terremoto porque o prêmio é muito elevado. Como você hesita, seu cordial corretor de seguro aparece com uma oferta alternativa: “Por metade do prêmio regular você pode ficar completamente coberto se o tremor ocorrer em um dia ímpar do mês. Esse é um bom negócio porque pela metade do preço você está coberto por mais do que a metade dos dias.” Por que a maioria das pessoas acha esse tipo de seguro probabilístico decididamente pouco atraente? A figura 2 sugere uma resposta. Começando em qualquer ponto da região de baixas probabilidades, o impacto no peso de decisão de uma redução de probabilidade de p para p/2 é consideravelmente menor do que o efeito de uma redução de p/2 para 0. Reduzir o risco pela metade, então, não vale a metade do prêmio.


507 - Médicos e os "10% de mortalidade/90% de sobrevivência": Um médico, bem como um conselheiro presidencial, talvez pudesse influenciar a decisão tomada pelo paciente ou pelo presidente, sem distorcer ou suprimir informação, meramente pelo enquadramento de resultados e contingências. Efeitos de formulação podem ocorrer fortuitamente, sem ninguém ter consciência do impacto do quadro na decisão final. Eles também podem ser explorados deliberadamente para manipular a atratividade relativa das opções.


508 - Aquele experimento do ingresso perdido para um show/teatro/cinema e a perda de dinheiro equivalente ao mesmo (uma nota que caiu, digamos) no caminho: Um efeito interessante foi observado quando as duas versões do problema foram apresentadas para os mesmos indivíduos. A disposição de substituir um ingresso perdido aumentou significativamente quando esse problema acompanhou a versão de perda de dinheiro. Por outro lado, a disposição de comprar um ingresso após perder dinheiro não foi afetada pela apresentação prévia do outro problema. A justaposição dos dois problemas aparentemente capacitou os indivíduos a perceber que faz sentido pensar no ingresso perdido como uma perda de dinheiro, mas não vice-versa. (...) Propomos (...) que o exame sistemático de enquadramentos alternativos oferece um dispositivo reflexivo útil que pode ajudar os tomadores de decisão a estimar os valores que devem ser vinculados às consequências primárias e secundárias de suas escolhas.


509 - Em geral, a aversão à perda favorece a estabilidade em detrimento da mudança. Imagine um par de gêmeos hedonicamente idênticos que acham dois ambientes alternativos igualmente atraentes. Imagine ainda que por força da circunstância os gêmeos são separados e colocados nos dois ambientes. Assim que eles adotam seus novos estados como pontos de referência e consequentemente avaliam as vantagens e desvantagens dos ambientes recíprocos, os gêmeos não mais ficarão indiferentes entre os dois estados, e ambos vão preferir ficar onde calharam de estar. De certa forma, é uma preferência pela certeza. Algum valor é atribuído a isso, talvez pra encerrar logo um trabalhoso processo mental comparativo? Colocam mais no seguinte sentido: ...Desse modo, a instabilidade de preferência gera uma preferência pela estabilidade. Além de favorecer a estabilidade sobre a mudança, a combinação de adaptação e aversão à perda fornece proteção limitada contra arrependimento e inveja, ao reduzir a atratividade de alternativas perdidas e de dotações alheias.


510 - Engraçado: Considere, por exemplo, a escolha entre uma perda segura de 50 dólares e uma possibilidade de 25% de perder 200 dólares. Slovic, Fischhoff e Lichtenstein (1982) relataram que 80% dos participantes de seus experimentos expressaram uma preferência atraída-pelo-risco pela aposta em detrimento da perda segura. Porém, apenas 35% dos indivíduos recusaram-se a pagar 50 dólares pelo seguro contra um risco de 25% de perder 200 dólares. Resultados similares também foram relatados por Schoemaker e Kunreuther (1979) e por Hershey e Schoemaker (1980). Sugerimos que a mesma quantia de dinheiro que foi enquadrada como um prejuízo incompensado no primeiro problema foi enquadrada como a despesa da proteção no segundo. Perdas são mais aversivas que custos.


511 - Dá mais exemplo de inconsistências nas preferências geradas pelo poder do enquadramento.


512 - Alguns problemas da utilidade: O ponto de referência hedônico é amplamente determinado pelo status quo objetivo, mas ele também é afetado pelas expectativas e comparações sociais. Uma melhoria objetiva pode ser vivenciada como uma perda, por exemplo, quando um empregado recebe um aumento menor do que todos os demais no escritório. (...) O conceito de Brickman e Campbell (1971) de uma esteira ergométrica hedônica sugere a hipótese radical de que a rápida adaptação fará com que os efeitos de qualquer melhoria objetiva tenham vida curta.


513 - A prevalência dos efeitos de enquadramento e violações de invariância complica ainda mais a relação entre os valores de decisão e os valores de experiência. O enquadramento de resultados muitas vezes induz valores de decisão que não possuem contrapartida alguma na experiência real. Por exemplo, o enquadramento de resultados de terapias para câncer do pulmão em termos de mortalidade ou sobrevivência tem pouca probabilidade de afetar a experiência, embora possa ter uma influência pronunciada na escolha. 


514 - Enfim, livro fantástico.


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FIM!


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